Análise IEDI
Entraves ao crédito
Os dados divulgados hoje pelo Banco Central mostram que, passado o pico da concessão de crédito em março último, em função das estratégicas de grandes empresas para reforçarem seu caixa face à crise do coronavírus, o total de novas contratações em abril refluiu (-16%, com ajuste sazonal) a um volume de operações semelhante ao da segunda metade do ano passado.
Muito deste movimento deve-se às dificuldades de implementação das medidas emergenciais anunciadas, especialmente para as micro, pequenas e médias empresas. Sinal disso é que, em abr/20, o estoque do crédito contratado por estas empresas era apenas 1,4% superior àquele de dez/19, enquanto o das grandes empresas era 9,5% maior. Agora no final de maio ainda não está certa a superação de todos os entraves.
Em comparação com o mesmo período de 2019, as concessões totais de abr/20 registraram retração de -2%, já descontada a inflação medida pelo IPCA. Isso, contudo, foi derivado do acentuado declínio das novas contratações às famílias (-15,9%), cuja demanda recuou com o medo do desemprego e a redução do seu consumo, mas que também pode ter sentido efeitos negativos pelo lado da oferta, diante do aumento dos riscos dos bancos.
O crédito novo para as empresas, como mostram as variações interanuais a seguir, cresceu +15,2% frente a abr/19, em termos reais, com importante contribuição das linhas oficiais, isto é, do crédito direcionado, que foi 80% maior do que em abr/19. Já o crédito livre cresceu 11,9%.
• Concessões reais totais: +8,9% em fev/20; +34,3% em mar/20 e -2,0 em abr/20;
• Concessões reais às empresas: +9,3%; +59,5% e +15,2%;
• Concessões reais às famílias: +8,5%; +11,4% e -15,9%, respectivamente.
Embora o crédito esteja fluindo mais agora do que no mesmo período do ano passado, o valor total destas operações para as empresas permanece no mesmo padrão de contratação da segunda metade de 2019. Em abr/20 somaram R$ 155,5 bilhões contra uma média de R$ 160 bilhões no 2º sem/19, em termos reais.
Nas operações livremente pactuadas entre credores e empresas, a modalidade de maior crescimento em abr/20 ante abr/19 foi capital de giro (+184,6%), compensando o declínio de outras linhas de crédito corporativo de curto prazo, como conta garantida, desconto de cheques e cheque especial e a interrupção das operações de desconto de duplicatas.
No financiamento oficial, as concessões do BNDES aumentaram +147% em termos reais, interrompendo um longo processo de contração. Voltou, assim, a um volume mensal médio de novas contratações semelhante ao de 2017.
No caso das famílias, o crédito encolheu sobretudo devido a operações livres nas modalidades de cheque especial, aquisição de veículos e de demais bens e do cartão de crédito. Vale lembrar que a ampliação do seu financiamento vinha sendo uma importante alavanca do consumo nos últimos anos, favorecendo o dinamismo do PIB total.
Há que se notar também o esforço de renegociação de dívidas por parte dos bancos e das famílias, fazendo com que o valor do crédito renegociado crescesse +135% em mar/20 e +220 em abr/20 frente ao mesmo período do ano anterior.
Os dados de crédito divulgados pelo Banco Central hoje registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,6 trilhões em abril, apresentando estabilidade no mês. O saldo de crédito a pessoas físicas registrou retração de 0,9% na comparação do mês com o mês anterior (R$ 2,0 trilhões), e a carteira de pessoas jurídicas apresentou variação positiva de 1,2%, alcançando R$ 1,6 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito obteve incremento de 9,6% relativamente a abril de 2019.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 2,1 trilhões, com decréscimo de 0,5% em relação ao mês anterior e expansão de 17,4% quando comparado com abril de 2019. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$ 1,1 trilhão, aferindo decréscimo de 2,2% em relação ao mês imediatamente anterior e crescimento de 11,5% quando comparado com o mês de abril de 2019. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se R$ 993,2 bilhões, crescimento de 1,4% em relação ao mês anterior e variação positiva de 24,7% na comparação com o mesmo período de 2019.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$ 1,5 trilhão para abril, em termos nominais, indicando expansão de 0,3% frente ao mesmo mês do ano anterior e apresentando variação positiva de 0,8% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$ 925,0 bilhões, incremento de 7,6% quando comparado ao mês de abril de 2019. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 561,9 bilhões, decréscimo de 9,9% quando comparado com o mesmo mês do ano anterior.
Para o mês de abril de 2020, foram concedidos R$ 295,5 bilhões em novas operações de crédito, apresentando variação negativa de 2,9% frente ao montante de R$ 304,3 bilhões observado em abril de 2019. Deste volume, R$ 265,0 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 30,5 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, uma retração de 5,8% para recursos livres e um incremento de 31,5% para recursos direcionados.
Nas concessões de crédito para pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 86,0 bilhões), cartão de crédito (R$ 85,8 bilhões), crédito não rotativo (R$ 35,7 bilhões), cheque especial (R$ 24,7 bilhões) e crédito pessoal (R$ 17,4 bilhões). Para pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para capital de giro (R$ 44,5 bilhões), desconto de duplicatas (R$ 25,1 bilhões), cheque especial (R$ 14,0 bilhões) e, conta garantida (R$ 10,1 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 9,0 bilhões), financiamento imobiliário (R$ 8,0 bilhões), microcrédito (R$ 1,3 bilhão) e BNDES (R$ 572,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$ 4,6 bilhões), BNDES (R$ 4,4 bilhões) e os financiamentos imobiliários (R$ 1,2 bilhão).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 848,6 bilhões, o que significa um acréscimo nominal de 15,3% frente a abril de 2019, e as maiores expansões ficaram para: varejo – bens duráveis (25,6%), transporte via terrestre – carga e passageiro (23,2%), comércio geral – bens intermediários (R$ 22,8%), comércio varejo – bens não duráveis (21,8%), demais serviços prestados às famílias (20,9%), comércio atacado - bens duráveis e não duráveis (20,5%), transporte (16,5%) e, administração pública (11,1%).
Para o setor da indústria aferiu-se valor de R$ 666,4 bilhões, variação positiva de 4,4% frente ao mesmo mês do ano anterior. O setor agropecuário registrou crédito de R$ 28,4 bilhões, variação positiva de 1,3% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mesmo mês de abril de 2019.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,681 trilhão, representando 46,8% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,264 trilhão, representando 35,2% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 643,6 bilhões, representando por sua vez 18,0% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em abril alcançou 21,5% a.a., variação negativa de 1,2 p.p. no mês e declínio de 3,5 p.p. em doze meses. O spread geral das taxas das concessões situou-se em 17,2 p.p., o que representou variações de -0,8 p.p. e de -1,6 p.p., nas mesmas bases de comparação.