Análise IEDI
Coronavírus e as exportações de manufaturados
A pandemia mundial de covid-19 tem agravado o quadro exportador da indústria brasileira. Por apresentar longas cadeias produtivas, com participação de insumos, peças e componentes importados, e por fabricar muitos bens cuja demanda exige confiança e acesso a financiamento, o setor industrial tem tido sua produção e comercialização drasticamente afetados pelo isolamento social, aumento da incerteza e redução da renda da população não só no Brasil, mas em todo mundo.
Os dados divulgados hoje pelo Ministério da Economia, mostram que, enquanto nossas exportações totais recuaram -4,2% em mai/20 frente ao mesmo período do ano anterior, as vendas externas de manufaturados do Brasil levaram um tombo de -34% quando aferidas pela média por dia útil. Em abril, a queda tinha sido de mesma intensidade (-34,4%).
Assim, o desempenho de manufaturados, que já não vinha se saindo bem desde o ano passado (-10,6% em jan-dez/19), tem encolhido cada vez mais: -16% no 1º trim/19 e -34,2% no bimestre abr-mai/20, sempre em comparação com o mesmo período do ano anterior e segundo a média por dia útil.
Resultado: as exportações de manufaturados são de longe as que mais retrocederam devido à crise mundial do coronavírus, como mostram a seguir as variações interanuais do acumulado em jan-mai/20. Segundo a Carta IEDI n. 1002, muito disso se concentra nos ramos industriais de maior intensidade tecnológica.
• Exportações totais: -3,6% em jan-mai/19 e -4,5% em jan-mai/20
• Básicos: +2,4% e +8,8%, respectivamente;
• Semimanufaturados: -2,1% e -5,5%
• Manufaturados: -5,5% e -23,2%, respectivamente.
Embora em menor intensidade, semimanufaturados também tiveram suas vendas externas diminuídas pela crise. Produtos básicos, por sua vez, formam o único grupo a reforçar seu crescimento, atingindo +8,8% no acumulado dos cinco primeiros meses do ano e +18,1% no bimestre abr-mai/20.
O desempenho positivo de básicos deve-se muito às exportações do setor agropecuário, cujas atividades não foram tão afetadas pela pandemia. Segundo os dados do Ministério da Economia, a alta das exportações agropecuárias chegou a +51,1% em mai/20, acumulando +23,8% em jan-mai/20.
Sobre as importações totais, o que temos visto é uma evolução negativa, embora bastante moderada. Em mai/20 sua média diária caiu -1,6% e no acumulado de jan-mai/20 somente -0,6%. O declínio do PIB nos próximos meses deve contribuir para ampliar a queda futura de nossas importações.
Com recuo mais acentuado das exportações do que nas importações, o superávit da balança comercial do país variou -11% ante mai/19, somando US$ 16,3 bilhões em jan-mai/20 contra US$ 20,3 bilhões em jan-mai/19 (-20%).
Conforme os dados divulgados pelo Ministério da Economia, no mês de maio de 2020 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 4,548 bilhões, retração de 11,1%, tomando por base as médias diárias, que consideram o número de dias úteis no mês, ao alcançado no mesmo período do ano anterior, US$ 5,624 bilhões.
As exportações registraram valor de US$ 17,940 bilhões, representando variação negativa de 4,2% em relação a maio de 2019, pela média diária. As importações totalizaram US$ 13,392 bilhões, o que significou decréscimo de 1,6% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
Para o mês de maio de 2020, as médias diárias das exportações alcançaram US$ 896,9 milhões e das importações registradas ficaram em US$ 669,6 milhões.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 11,260 bilhões no período, apresentando crescimento de 3,2% em comparação a maio de 2019. Os produtos industrializados alcançaram valor de US$ 6,679 bilhões, variação negativa de -31,0%, os manufaturados registraram US$ 4,097 bilhões, representando por sua vez decréscimo de 40,0% e os semimanufaturados somaram US$ 2,582 bilhões, retração de 9,3%, sempre na comparação com maio de 2019.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com maio de 2019 registraram-se retrações em quatro dos cinco segmentos analisados: operações especiais (-100,0%), produtos manufaturados (-34,0%), produtos industrializados (-24,1%), e produtos semimanufaturados (-0,2%). A categoria de produtos básicos apresentou variação positiva de 13,5%.
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com maio de 2019, cresceram as vendas principalmente de carne suína (+76,8%, para US$ 215 milhões), soja em grãos (+66,2%, para US$ 5,142 bilhões), carne bovina (+55,7%, para US$ 683 milhões), café em grãos (+32,6%, para US$ 468 milhões), minério de cobre (+25,6%, para US$ 202 milhões) e farelo de soja (+24,6%, para US$ 649 milhões).
No grupo dos manufaturados, quando comparado com maio de 2019, reduziram-se as vendas principalmente de máquinas e aparelhos p/ terraplanagem (-64,5%, para US$ 71 milhões), motores para veículos e partes (-64,5%, para US$ 60 milhões), partes de motores e turbinas p/ aviação (-61,7%, para US$ 58 milhões), laminados planos de ferro/aço (-24,9%, para US$ 106 milhões), suco de laranja não congelado (-24,3%, para US$ 60 milhões) e óleos combustíveis (-21,3%, para US$ 256 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com maio de 2019, diminuíram as exportações principalmente de couros e peles (-43,8%, para US$ 55 milhões), óleo de soja em bruto (-42,8%, para US$ 67 milhões), semimanufaturados de ferro/aço (-41,8%, para US$ 235 milhões), ferro fundido (-38,0%, para US$ 41 milhões), celulose (-23,9%, para US$ 586 milhões) e madeira serrada ou fendida (-7,3%, para US$ 58 milhões).
Ao analisar os mercados compradores, caíram as vendas, pelas médias diárias, para os seguintes destinos: Mercosul (-49,7%, sendo que para a Argentina diminuiu 51,2%, por conta de automóveis de passageiros, autopeças, minério de ferro, veículos de carga, veículos e materiais para vias férreas, óxidos e hidróxidos de alumínio, laminados planos de ferro/aço, pneumáticos, motores para veículos e partes); Estados Unidos (-43,5%, por conta de petróleo em bruto, aviões, semimanufaturados de ferro/aço, máquinas e aparelhos para terraplanagem, gasolina, óleos combustíveis, partes de motores e turbinas para aviação, motores e turbinas para aviação, laminados planos de ferro/aço); Oriente Médio (-26,4%, principalmente por conta de milho em grãos, açúcar em bruto, minério de ferro, farelo de soja, carne bovina, carne de frango, soja em grãos, bovinos vivos, cobre em barras, perfis, fios, etc.); América Central e Caribe (-17,9%, por conta de minério de ferro, soja em grãos, cobre em barras, perfis, fios, etc., pisos e revestimentos cerâmicos, óleos combustíveis, semimanufaturados de ferro/aço, calçados, chassis com motor para automóveis, éteres alcoólicos e derivados); Oceania (-16,7%, por conta de óleos combustíveis, suco de laranja congelado, calçados, celulose, pneumáticos, chassis com motor para automóveis, óleo de soja em bruto, óleo de soja refinado, bombas, compressores e partes); União Europeia (-8,5%, por conta de minério de ferro, tubos flexíveis de ferro/aço, aviões, celulose, petróleo em bruto, semimanufaturados de ferro/aço, motores para veículos e partes, fumo em folhas, milho em grãos) e África (-0,3%, em decorrência de óleo de soja em bruto, açúcar em bruto, milho em grãos, fumo em folhas, óleos combustíveis, máquinas e aparelhos para uso agrícola, tratores, minério de ferro, zinco em bruto).
Por outro lado, cresceram as vendas para a Ásia (+27,7%), sendo que China, Hong Kong e Macau cresceu 35,2%, para US$ 7,2 bilhões, por conta de soja em grãos, carne bovina, açúcar em bruto, carne suína, ferro-ligas, minério de ferro, catodos de cobre, semimanufaturados de ferro/aço).
Destaques importações. Na comparação frente ao mesmo período de 2019, considerando a média diária, houve retrações em todos os segmentos analisados: combustíveis e lubrificantes (-61,6%), bens de consumo (-24,3%) e bens intermediários (-11,0%). Por outro lado, cresceram as compras de bens de capital (+144,4%).
Com relação ao grupo dos combustíveis e lubrificantes diminuíram as compras, principalmente, de gasóleo (óleo diesel), petróleo em bruto, gasolinas exceto para aviação, hulha betuminosa não aglomerada, outros propanos liquefeitos, coques com granulometria <80MM, gás natural liquefeito, querosenes de aviação, gás natural no estado gasoso.
No segmento de bens intermediários, as principais quedas foram observadas nas importações de grupos eletrogêneos, naftas para petroquímica, partes para aparelhos de telefonia/telegrafia, caixas de marchas, álcool etílico não desnaturado com teor água <= 1% vol, catodos de cobre refinado/seus elementos em forma bruta, sulfetos de minérios de cobre, partes para aparelhos receptores de radiodifusão/televisão, partes e acessórios de carroçarias para veículos automóveis.
No segmento de bens de capital, o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento nas compras de plataforma de exploração de petróleo, aviões a turbojato 7000Kg < peso <= 15000Kg, guindastes de pórtico, motores elétricos de corrente alternada polifásicos de potência > 30.000KW, máscaras contra gases, conversores elétricos estáticos, unidades de processamento digital, dumpers para transporte de mercadoria >= 85T utilizado fora de rodovias.
No grupo dos bens de consumo, reduziram as aquisições de automóveis com motor a explosão até 6 passageiros, automóveis com motor a explosão até 6 passageiros, anticorpos monoclonais, medicamentos com compostos heterocíclicos, medicamentos para fins terapêuticos, salmão-do-Atlântico, automóveis com motor diesel capacidade superior a 6 passageiros, batatas preparadas ou conservadas congeladas, frações do sangue preparadas como medicamentos.
Observando as importações por mercados fornecedores, na comparação maio 2020/2019, caíram, pelas médias diárias, as compras originárias dos seguintes mercados, a saber: África (-62,9%, por conta de petróleo em bruto, naftas, carvão, gás natural liquefeito, ródio em bruto, paládio em bruto, minério de manganês); Oceania (-60,2%, por conta de carvão, coques e semicoques de carvão, artigos e aparelhos de prótese/ortopedia, máquinas de movimentação de carga, ligas de alumínio em bruto, instrumentos e aparelhos médicos, ácidos carboxílicos, níquel não ligado); Mercosul (-50,6%, sendo que da Argentina decresceu 51,2%, por conta de veículos de carga, automóveis de passageiros, autopeças, malte inteiro ou partido, ônibus e outros veículos para mais de 10 pessoas, produtos hortícolas preparados, pneumáticos, milho em grãos, aceleradores de reação); Oriente Médio (-49,6%, por conta de petróleo em bruto, óleos combustíveis, adubos/fertilizantes com nitrogênio, fósforo e potássio, cloreto de potássio, outras obras de alumínio, superfosfatos (adubos/fertilizantes), inseticidas, formicidas, herbicidas, etc., óleos lubrificantes, aparelhos elétricos de sinalização visual); Estados Unidos (-39,0%, por conta de óleos combustíveis, motores e geradores elétricos, gasolina, petróleo em bruto, etanol, naftas, gás propano liquefeito, medicamentos para medicina humana e veterinária, querosene de aviação); União Europeia (-16,4%, por conta de medicamentos para medicina humana e veterinária, autopeças, gasolina, naftas, paládio em bruto, cloreto de potássio, compostos heterocíclicos, helicópteros, máquinas e aparelhos para encher/empacotar) e Ásia (-11,1%, sendo que China, Hong Kong e Macau aumentou 2,3%, por conta de medicamentos para medicina humana e veterinária, dispositivos semicondutores, compostos organo-inorgânicos, compostos heterocíclicos, compostos de funções nitrogenadas, partes de aparelhos transmissores/receptores, aparelhos transmissores/receptores de telefonia celular, aparelhos de oxigenoterapia).
Em sentido oposto, cresceram as importações originárias da América Central e Caribe (+17,5%, por conta de minério de cobre, medicamentos para medicina humana e veterinária, amônia, borracha natural, artigos e aparelhos de prótese/ortopedia, meios de cultura de microrganismos, máquinas e aparelhos para tratamento de pedras, pastas, gazes e ataduras).