Análise IEDI
Queda recorde
A pandemia do coronavírus provocou perdas semelhantes na indústria e no comércio varejista. Em ambos os casos as quedas de dois dígitos no mês de abril foram recordes: -18,8% para a produção industrial e -17,5% para as vendas reais do varejo ampliado, já descontados os efeitos sazonais. Em seu conceito restrito, que não considera os segmentos de veículos e material de construção, o resultado do varejo foi de -16,8% ante mar/20.
Além da intensidade da queda, a pior dos últimos vinte anos, outra semelhança entre indústria e comércio foi a disseminação de sinais negativos entre seus ramos. Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que todos os 10 segmentos do comércio caíram na passagem de março para abril e caíram muito na grande maioria dos casos.
Esta difusão de perdas deixa clara a amplitude da crise por que passamos. Não há quem se salve integralmente: atividades mais ou menos intensivas em mão de obra, consideradas mais ou menos essenciais, ou então com maior ou menor capacidade de recorrer ao teletrabalho ou a vendas online vêm tendo seu desempenho prejudicado pela pandemia.
Isso porque a crise impôs um choque de oferta provocado, principalmente, pelas necessárias medidas de isolamento social, mas também se desdobrou em choques de demanda, em função do medo do desemprego, perda de renda de muitas famílias, restrição ao acesso ao crédito, elevação da incerteza etc. A crise de Covid-19 já retirou quase 1/3 da atividade do varejo: -28,8% na comparação de abr/20 com fev/20, com ajuste sazonal.
Em abril, os piores resultados do varejo frente ao mês anterior couberam a ramos que comercializam bens duráveis, cujo consumo normalmente exige recurso ao crédito e pode ser adiado pelas famílias em momentos de recuo da confiança.
• Varejo restrito: +0,5% em fev/20; -2,1% em mar/20; -16,8% em abr/20;
• Varejo ampliado: +0,5%; -13,7% e -17,5%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +1,3%; +14,2% e -11,8%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +1,5%; -42,3% e -60,6%;
• Equipamentos e materiais p/ escritório, informática e comunicação: -2,3%; -14,3% e -29,5%;
• Veículos e autopeças: 0%; -36,7% e -36,2%;
• Material de construção: 0%; -17,3% e -1,9%, respectivamente.
As vendas de tecidos, vestuário e calçados; veículos e autopeças; materiais de escritório e informática e outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as vendas das lojas de departamento, registraram os retrocessos mais intensos em um quadro duas a três vezes mais grave que o varejo como um todo.
O ramo de livros, jornais, revistas e papelaria perderam -43,3% de suas vendas de mar/20 a abr/20, já descontados os efeitos sazonais. Neste caso, a crise de Covid-19 se sobrepõe a uma mudança estrutural destes mercados em função da digitalização de muitos dos seus produtos.
Já os segmentos que comercializam bens de consumo não duráveis, muitos deles considerados essenciais, caíram em ritmo semelhante ao varejo total. As vendas de supermercados, alimentos, bebidas e fumo registraram -11,8%, anulando a maior parte da alta de mar/20, produzida pelo pico de compras no início da quarentena. Combustíveis e lubrificantes perderam -15,1% e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e perfumaria, -17,0%.
O único ramo do varejo a apresentar declínio moderado em abr/20 foi o de material de construção, com -1,9%. Este resultado pode se justificar pelo fato de a construção civil ter sido considerada atividade essencial em muitas cidades, não tendo suas atividades interrompidas, e também pela dificuldade de suspenção de obras já iniciadas. Vale lembrar que o setor havia registrado -17,3% em mar/20.
A partir dos dados de abril de 2020 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional registrou decréscimo de -16,8% frente a março na série com ajuste sazonal. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior houve queda de -16,8%. Para o acumulado dos últimos doze meses aferiu-se incremento de 0,7% e para o acumulado do ano registrou-se retração de 3,0%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se variação negativa de -17,5% em relação a março de 2020, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao mesmo mês de 2019, houve decréscimo de -27,1%. Para o acumulado dos últimos 12 meses verificou-se acréscimo de 0,8% e o acumulado do ano registrou variação negativa de 6,9%
A partir de dados dessazonalizados, todos os oito setores analisados registraram variações negativas em comparação ao mês imediatamente anterior: tecidos, vestuário e calçados (60,6%), livros, jornais, revistas e papelaria (-43,4%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-29,5%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-29,5%), móveis e eletrodomésticos (-20,3%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-17,0%), combustíveis e lubrificantes (-15,0%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-11,8%). O comércio varejista ampliado registrou queda de -17,5%, com o setor de veículos, motos, partes e peças apresentando variação negativa de -36,2%, enquanto material de construção caiu -1,9%.
Em relação ao mês de março de 2019, registrou-se variação positiva somente na atividade de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,7%). Por outro lado, houve decréscimos nos outros sete setores: tecidos, vestuário e calçados (-75,6%), livros, jornais, revista e papelaria (-65,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-45,6%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-45,4%), móveis e eletrodomésticos (-35,9%), combustíveis e lubrificantes (-25,2%) e, artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-9,7%). Para o comércio varejista ampliado registrou-se variação negativa de 27,1%, sendo que o setor de veículos e motos, partes e peças apresentou retração de 57,8% e o setor de material de construção variação negativa de 20,8%.
Na análise do acumulado do ano (janeiro-abril de 2020), aferiu-se retração de 3,0% no comércio varejista, com crescimento em dois dos oito segmentos analisados: hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,2%) e, artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (4,3%). Por outro lado, os demais segmentos analisados apresentaram retrações: tecidos, vestuário e calçados (-28,5%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-21,9%), livros, jornais, revistas e papelaria (-19,1%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-12,3%) e, combustíveis e lubrificantes (-8,9%) e, móveis e eletrodomésticos (-6,0%). Para o comércio varejista ampliado houve variação negativa de 6,9% no período, sendo que para veículos e motos, partes e peças e material de construção registraram-se variações negativas de -17,8% e -7,1%, respectivamente.
Por fim, comparando abril de 2020 com o mesmo mês do ano anterior, todas as 27 unidades federativas apresentaram decréscimos no volume de comércio, sendo as maiores quedas: Amapá (-42,8%), Rondônia (-40,8%), Ceará (-33,8%), Acre (-25,9%), Bahia (-25,6%), Alagoas (-25,0%), Sergipe (-25,0%), Pernambuco (-22,5%), Distrito Federal (-22,3), Amazonas (-21,6%), Piauí (-21,6%), Goiás (-19,6%), Rio Grande do Norte (-18,1%), Roraima (-18,0%), Espírito Santo (-17,8), Rio Grande do Sul (-17,5%) e Maranhão (-17,3%).