Análise IEDI
Reação com fragilidades
Os dados de hoje da PNAD contínua, divulgados pelo IBGE, mostram um primeiro sinal de crescimento da população ocupada no país: +0,9% no trimestre findo em mai/21 frente ao mesmo período do ano anterior. Foram treze resultados negativos antes de chegar a este aumento, mas não sem a ajuda de uma base muito deprimida de comparação, dado o choque inicial da pandemia a partir de mar/20.
Seja como for, houve uma interrupção das perdas, com 772 mil pessoas ocupadas a mais do que no trimestre findo em mai/20. O saldo da crise da Covid-19, contudo, permanece negativo, já que o último dado disponível indica um contingente de ocupados 7,5% abaixo do trimestre dez/10-fev/20, isto é, imediatamente anterior ao primeiro surto de coronavírus no país.
Já patamar de desocupados, de 14,8 milhões de pessoas em mar-mai/21, está 20% acima do pré-pandemia, deixando pouco espaço para a redução da taxa de desemprego, que desde o início do ano continua praticamente no mesmo lugar. Agora, foi de 14,6% ante 12,9% no mesmo trimestre do ano passado.
E é provável que a taxa de desemprego continue elevada, pois existe um número elevado de pessoas desalentadas que devem voltar a buscar emprego à medida em que a vacinação contra a Covid-19 avance. Em mar-mai/21, somavam 5,7 milhões as pessoas em desalento, correspondendo a 5,3% do total da força de trabalho do país. Esse número é 5,5% maior do que em mar-mai/20.
Vale ainda reforçar outro aspecto de fragilidade que o IEDI vem enfatizando há algum tempo: no contexto atual, estar ocupado não retira pressão do mercado de trabalho, dado o grande número de pessoas com insuficiência de horas trabalhadas. Isso significa que estas pessoas não trabalham o quanto poderiam e gostariam, recebendo uma renda inferior ao que consideram adequado. Nesta situação estão 7,36 milhões de pessoas, um nível recorde da série histórica iniciada em 2012.
Outro aspecto que prejudica a retomada do rendimento é o perfil das ocupações criadas recentemente. Como mostram as variações interanuais a seguir, as maiores taxas de crescimento em mar-mai/21 foram registradas por tipos de ocupação geralmente associadas a menores remunerações.
• Ocupação total: -9,4% em set-nov/20; -8,3% em dez/20-fev/21; +0,9% em mar-mai/21;;
• Ocupados por conta própria: -6,7%; -3,4% e +8,7%, respectivamente;
• Ocupados sem carteira: -17,6%; -15,9% e +6,4%;
• Trabalho doméstico: -24,6%; -21,0% e -0,1%;
• Ocupados com carteira: -10,3%; -11,7% e -4,2%, respectivamente.
O trabalho por conta própria, que reúne um conjunto diversificado de ocupações que, em boa medida, podem ser consideradas “bicos”, foi o tipo de emprego que mais cresceu: +8,7% frente a mar-mai/20 e o que mais se aproximou do patamar pré-pandemia (-0,4% ante dez/19-fev/20).
Em seguida, o melhor desempenho coube ao trabalho sem carteira assinada, cuja alta chegou a +6,4%, embora permanece longe dos níveis anteriores da pandemia. Já o trabalho doméstico, que dos que mais perdeu ocupações na crise da Covid-19, ficou praticamente estável frente ao mesmo período do ano anterior, conservando a pior marca em relação a dez/19-fev/20 (-19%).
A boa notícia é que, segundo a PNAD, o emprego formal, embora ainda não tenha conseguido reagir na comparação interanual, reduziu bastante seu ritmo de queda. Agora no trimestre findo em mai/21, sua variação de -4,2% é menos da metade do declínio da virada do ano (-11,7%). Muito disso, deve-se à indústria, que possui alta taxa de formalização em suas relações empregatícias. A ocupação na indústria registrou estabilidade em mar-mai/21 (-0,1% ante mar-mai/20).
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 14,6% no trimestre compreendido entre março e maio de 2021. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, dezembro de 2020 a fevereiro de 2021, houve expansão de 0,2 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação positiva de 1,7 p.p., quando registrou 12,9%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.547,00, apresentando retração de -1,0% em relação ao trimestre imediatamente anterior (dez-jan-fev), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve declínio de -3,2%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 215,5 bilhões no trimestre que se encerrou em maio, registrando estabilidade frente ao trimestre imediatamente anterior (dez-jan-fev) e variação negativa de -2,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 221,0 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 85,7 milhões de pessoas, apresentando variação positiva de 0,9% frente ao trimestre imediatamente anterior (dez-jan-fev) e incremento de 0,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (85,9 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação com o trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu expansão de 2,6%, com 14,8 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano passado observou-se expansão de 16,4%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 101,5 milhões de pessoas, representando crescimento de 1,2% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação positiva de 2,9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (98,6 milhões de pessoas).
Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, três dos dez agrupamentos analisados apresentaram variações positivas: Construção (11,8%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (9,6%), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,7%) e Serviços domésticos (0,2%). Na mesma base de comparação, os outros agrupamentos restantes apresentaram decréscimos: Outros serviços (-7,3%), Alojamento e alimentação (-4,6%), Transporte, armazenagem e correios (-4,4%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-1,8%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (-1,5%) e Indústria geral (-0,1%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação comparados frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se acréscimo nas categorias: trabalho privado sem carteira (6,4%), trabalho familiar auxiliar (7,9%) e trabalhador por conta própria (8,7%). Em sentido oposto, as demais categorias apresentaram retração: empregador (-7,7%), trabalho privado com carteira (-4,2%), setor público (-0,7%) e trabalho doméstico (-0,1%).