Análise IEDI
Fraca evolução do crédito à indústria
Os dados divulgados hoje pelo Banco Central mostram que as concessões de crédito continuaram se expandindo a uma taxa de dois dígitos em set/21: +19,8% frente ao mesmo mês do ano passado, já descontada a inflação medida pelo IPCA. Como tem sido a regra em 2021, o crédito novo às empresas cresceu menos que o total geral.
Este ritmo pode vir a perder força diante dos sinais de enfraquecimento do nível de atividade econômica e da elevação da taxa básica de juros (Selic), que já começa a impactar os juros dos empréstimos. A taxa média de juros para o crédito livre, que reflete melhor as condições de mercado, chegou a 30,6% ao ano em set/21, uma alta de +20% em relação à taxa de dez/20.
Os juros sobem mais fortemente no crédito corporativo, cuja média passou de 11,6% a.a. em dez/20 para 17,1% a.a. em set/21, isto é, uma alta de quase 50%. A taxa média de juros dos empréstimos às famílias, ainda considerando as operações livres, passaram de 37,2% a.a. em dez/20 para 41,3% a.a. em set/21, um avanço em torno de +10%.
Embora seja possível haver alguma desaceleração na virada de ano, o dinamismo das concessões acumuladas até o presente (+17% em jan-set/21) ajudou para que o estoque total de crédito da economia aumentasse +15,4% na comparação de set/21 com set/20, já descontada a inflação.
O impulso maior foi registrado no estoque de crédito às famílias (+18,8%), com influência positiva do financiamento habitacional, para aquisição de veículos e de outros bens. Como mostram as variações interanuais a seguir, o estoque real de crédito às empresas também teve avanço significativo.
• Estoque total de crédito às empresas: +16,7% em mar/21; +14,4% em jun/21 e +11,1% em set/21;
• Estoque de crédito à agropecuária: +28,3%; +25,7% e +25,7%, respectivamente
• Estoque de crédito à indústria: +13,0%; +7,8% e +4,4%;
• Estoque de crédito aos serviços: +20,9%; +19,5% e +14,1%, respectivamente.
Em 2021, as empresas do setor agropecuário são as que mais tem tido acesso a empréstimos. O saldo real de operações de financiamento contratadas por elas em set/21 era 25,7% superior ao de set/20 e 14,7% maior do que no final do ano passado.
Em seguida, são as empresas de serviços que mais conseguiram alavancar recursos por meio do crédito bancário. Seu estoque de financiamentos aumentou 14,1% em set/21 em comparação com set/20. Em relação ao final do ano passado, isto é, a dez/20, a alta foi de +7,4%, em termos reais. Muito disso deve-se ao crédito às empresas do comércio (+23,1% ante set/20 e +13,4% ante dez/20).
Já o financiamento à indústria foi o que menos cresceu em 2021. Seu estoque real variou apenas +4,4% ante set/20 e +2,6% em relação a dez/20. Os ramos que mais contribuíram para esta fraca evolução foram as indústrias automobilística, de petróleo, álcool e gás e de açúcar. Já os que tiveram forte alta no seu estoque de crédito foram alimentos, bens de consumo duráveis, embalagens, metalurgia e química e farmacêutica.
Os dados de crédito apresentados hoje pelo Banco Central do Brasil registraram que o saldo das operações alcançou R$4,4 trilhões em setembro de 2021, apresentando crescimento de 2,0% em relação ao mês imediatamente anterior. Por sua vez, o saldo de crédito para pessoas físicas alcançou variação positiva de 1,9% (R$2,5 trilhões) frente ao mês imediatamente anterior e a carteira de pessoas jurídicas apresentou variação positiva de 2,3% na mesma comparação, alcançando R$1,9 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (setembro de 2020), o saldo total de crédito registrou incremento de 16,0%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$2,6 trilhões, com variação positiva de 2,4% em relação ao mês anterior e expansão de 18,5% quando comparado com setembro de 2020. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$1,4 trilhão, aferindo expansão de 2,0% em relação ao mês imediatamente anterior e crescimento de 21,1% quando comparado com o mês de setembro de 2020. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se montante de R$1,2 trilhão, expansão de 2,9% em relação ao mês anterior e variação positiva de 15,5% na comparação com o mesmo período de 2020.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$1,8 trilhão em setembro de 2021 em termos nominais, indicando expansão de 12,6% frente ao mesmo mês do ano anterior e variação positiva de 1,5% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$1,1 trilhão, apresentando incremento de 17,4% quando comparado ao mês de setembro de 2020. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$691,3 bilhões, acréscimo de 5,5% frente ao mesmo mês do ano anterior.
No mês de setembro de 2021 foram concedidos R$445,1 bilhões em novas operações de crédito, apresentando variação positiva de 20,5% frente ao montante de R$369,5 bilhões observado em setembro de 2020. Deste volume apresentado em setembro de 2021, R$387,5 bilhões foram originados de recursos livres e R$57,6 bilhões de recursos direcionados, o que representou, frente ao mesmo mês do ano anterior, incremento de 27,4% para recursos livres e retração de 11,9% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$141,6 bilhões), cartão de crédito (R$137,8 bilhões), crédito não rotativo (R$52,0 bilhões), crédito pessoal (R$36,6 bilhões) e cheque especial (R$30,0 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$63,6 bilhões), capital de giro (R$22,5 bilhões), cheque especial (R$18,2 bilhões), conta garantida (R$11,0 bilhões) e cartão de crédito (R$8,2 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$17,5 bilhões), financiamento imobiliário (R$16,6 bilhões), BNDES (R$1,7 bilhão) e microcrédito (R$1,3 bilhão). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$8,5 bilhões), o BNDES (R$4,7 bilhões) e os financiamentos imobiliários (R$1,2 bilhão).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$1,1 bilhão, acréscimo nominal de 14,7% frente a setembro de 2020, com as maiores expansões verificadas em: serviços financeiros (62,7%), varejo – bens duráveis (31,7%), comércio geral – bens intermediários (25,0%), comércio varejo – bens não-duráveis (24,2%), comércio atacado – bens duráveis e não duráveis (23,9%), comércio (23,7%), outros serviços (21,3%), transporte via terrestre (16,5%), demais serviços prestados às famílias (16,4%) e transporte (9,8%).
Para o setor da indústria aferiu-se valor de R$744,4 bilhões, variação positiva de 5,0% frente ao mesmo mês do ano anterior. O setor agropecuário registrou crédito de R$38,4 bilhões no período, variação positiva de 26,3% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mês de setembro de 2020.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$1,911 trilhão, representando 43,2% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$1,834 trilhão, representando 41,4%, e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$682,3 bilhões, representando por sua vez 15,4% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em setembro alcançou 21,6% a.a., aumento de 0,5 p.p. no mês e variação positiva de 3,5 p.p. em doze meses. O spread geral das taxas das concessões situou-se em 14,5 p.p., permanecendo estável no mês e elevando-se em 0,2 p.p. em comparação a setembro de 2020.