Expansão da Economia e
a Taxa de Investimento. A turbulência
pela qual o mundo vem passando, principalmente
devido às dificuldades econômicas
dos EUA e da União Européia
em se reerguerem após a eclosão
da crise em 2008, tem posto à prova
a capacidade de crescer das economias emergentes.
Dentre estas, os holofotes têm se direcionado
para o chamado BRIC - Brasil, Índia,
Rússia e China (ou mesmo BRICS, na
sigla em inglês, para incorporar a África
do Sul ou ainda a inclusão mais um
"I" para trazer ao grupo a Indonésia).
Tais países, de dimensões continentais,
populosos e com PIB de magnitude elevada,
poderiam oferecer o contrapeso ao menor fôlego
dos países avançados.
Obviamente, que o desempenho recente chinês,
mesmo em meio à crise internacional
e seus desdobramentos, tem se sobressaído
por conta das altas taxas de expansão
de seu produto interno. Processo este que
tem se alicerçado em taxas de investimento
fixo elevadas, condizente com sua estratégia
nacional de se tornar a "fábrica
do mundo".
O Brasil tem se destacado pelo aumento de
sua classe média, conformando um mercado
consumidor de monta. Ademais, em 2007 e 2008,
o Brasil mostrou dinamismo alicerçado
em investimento, o que foi interrompido pelo
início da fase aguda da crise internacional
no final de setembro de 2008. A inversão
fixa viria a se recuperar em 2010. Porém,
a recuperação no ano passado
pode ser apenas pontual ou se converter em
uma retomada de fato. O desafio que está
se impondo ao País é de fazer
com que prevaleça a segunda situação,
de retomada expansiva calcada no investimento
produtivo.
A economia do Brasil permite evidenciar a
interação entre formação
bruta de capital fixo e expansão do
produto. O período de maior crescimento
econômico do País desde 1947,
de 1968 a 1973, com taxas médias de
crescimento de 11,2% (PIB) e de 8,3% (PIB
per capita) registrou a segundo maior
taxa de investimento fixo média (medida
a preços de 2000). E, se as correlações
entre expansão econômica e taxa
de FBCF desde meados do século XX no
Brasil são evidentes, ganham maior
contundência quando são enfocadas
as taxas construídas a partir de um
dos componentes da FBCF: o investimento fixo
em máquinas e equipamentos. Pela segunda
das tabelas logo abaixo, as correlações
entre as taxas de variação do
PIB do País, em termos absolutos e
per capita, e a inversão fixa
em máquinas e equipamentos ficaram
em torno de 62%.
O biênio 2007-2008 marca o ápice
recente da taxa de investimento. Em 2008,
a razão FBCF/PIB, obtida a partir de
valores de 2000, logrou a maior taxa (18,4%)
desde 1989 (18,8%). Quanto à taxa de
investimento fixo em máquinas e equipamentos,
também calculada em valores de 2000,
atingiu 9,7% em 2008. Foi o maior patamar
alcançado desde 1981 (10,6%), às
vésperas da crise da dívida
externa de 1982.
Se até 2006, a preocupação
era em como ampliar a taxa de investimento
e, por conseguinte, conduzir a economia a
uma trajetória ascendente mais sustentada,
a crise internacional impôs novos condicionantes.
Os anos de 2007 e 2008 foram promissores,
mas em 2009, a taxa de inversão fixa
e a taxa de investimento em máquinas
e equipamentos recuaram para 16,6% e 8,5%,
respectivamente. No ano subsequente, a proporção
da FBCF no PIB atingiu 18,8% igualando o nível
de 1989 - mais precisamente, foi a maior taxa
desde 1988 (19,1%), pois a taxa de FBCF em
2010 foi de 18,80%, enquanto a de 1989, de
18,75%.
Mas os desdobramentos da crise internacional
sentidos em 2011 e a preocupação
com o aquecimento doméstico entre meados
de 2010 e início de 2011 assevera a
premência de estímulo ao investimento
em máquinas, equipamentos, instalações
e construção em bases distintas:
já não basta o mercado doméstico.
Além da premência de se verter
em prática o discurso de melhoria no
ambiente para o investimento e a produção,
cumpre reforçar o papel de formar engenheiros
e técnicos e estruturas de apoio e
de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Tornar
mais abundante tais recursos vai torná-los
menos caros dentro das fronteiras do País,
criando condições mais propícias
aos investimentos. Ademais, não se
pode perder a oportunidade propiciada pela
situação delicada no plano internacional
para a redução da taxa de juros.



Investimento e os Reflexos da Turbulência
Internacional. Enquanto processo,
a ascensão da taxa de investimento
fixo teve início em 2004, com a FBCF
representando 15,0% do PIB, ante 14,5% do
PIB em 2003 (considerando valores reais de
2000). Tal movimento ascendente ficou contínuo
de 2006, atingindo 15,5% (também a
partir de valores constantes de 2000; em 2005
foi de 14,8%), até 2008. Em se tratando
da taxa de inversão em máquinas
e equipamentos, esse processo teve início
também desde 2004 e se manteve contínuo
desde então até 2008.
Essa ascensão permitiu que, em 2006,
o montante de investimento fixo, de R$ 221
bilhões, a preços de 2000, ultrapassasse
a FBCF de 1980 (R$ 209 bilhões), a
maior marca conseguida no período de
1947 a 2008. A título de ilustração,
em 1997-1998, ápice do mini-ciclo de
investimento de 1995-1998, a inversão
fixa alcançou R$ 206 bilhões
em valores de 2000. Se, para ultrapassar tal
montante, a economia brasileira levou quase
uma década, 2007 e 2008 lograram patamares
superiores, configurando um incremento ininterrupto
desde 2003 e que culminou, em 2008, em investimento
fixo de R$ 289 bilhões em valores de
2000. Mas, em 2009, a FBCF recuou para R$
259 bilhões no rastro da crise. Em
2010, como reflexo das medidas anticíclicas
e de estímulo calcadas no mercado doméstico,
a inversão fixa não só
se recuperou como ultrapassou o patamar de
dois anos antes, alcançando R$ 316
bilhões.
No entanto, em termos per capita,
a FBCF de 2010, de R$ 1,6 mil per capita
em valores de 2000, ainda continua aquém
do ápice de 1980, quando chegou a R$
1,8 mil per capita deflacionado para
2000. De qualquer modo, o ano de 2010 registrou
o segundo maior resultado da história
por esse indicador.

Investimento Fixo, Seu Preço Relativo
e Deflatores. Simplificadamente,
para que um empreendedor em potencial se arrisque
a imobilizar sua renda ou riqueza em máquinas,
equipamentos e instalações,
faz-se mister que o mesmo possa vislumbrar
retornos futuros capazes de ampliar seu poder
aquisitivo amanhã frente ao que tem
hoje, isto é, capacidade para adquirir
futuramente mais bens e serviços do
que no presente.
Emerge de tanto a relevância de se monitorar
como tem evoluído o preço de
instalações, máquinas
e equipamentos vis-à-vis o
preço dos demais bens e serviços
da economia. Nesta direção,
optou-se por empregar duas medidas de preço
relativo da inversão fixa: a primeira
consistindo na razão entre o deflator
da FBCF e o deflator do PIB, e a outra, a
relação entre aquele e o deflator
do consumo final, i.e., o consumo das famílias
mais o consumo do governo. Procedimento equivalente
foi adotado para o preço relativo do
investimento fixo em máquinas e equipamentos.
Em todos os casos, o ano de 1970 foi usado
como base, de sorte que, em 1970, cada uma
destas relações seja igual à
unidade.
Considerando o exposto e aceitando a hipótese
de certa superestimação na evolução
dos preços relativos do investimento
fixo no final dos anos 1980, o preço
relativo da FBCF não mais retornou
aos patamares da metade inicial dos anos 1970,
período de altas taxas de expansão
econômica. Porém, em períodos
de crescimento da economia e aumento da taxa
de inversão no passado próximo,
tal conjunção teve em paralelo
a queda no preço relativo do investimento
fixo.
Detendo-se de partida nos deflatores da FBCF,
pode-se tomar o mini-ciclo de investimentos
de 1995 a 1998. Este período registrou,
na média, um acréscimo no deflator
abaixo daquele observado em todos os anos
que se seguiram a 1998, justamente o ano derradeiro
deste triênio de ligeira recuperação
dos investimentos. Tal registro é válido
seja para o deflator do investimento fixo
quanto para o deflator específico da
inversão em maquinaria.
Até 2003, o deflator de máquinas
e equipamentos cresceu a taxa de dois dígitos,
caindo desde 2004, até 2007, quando
o deflator ficou em 2,4%. O deflator do investimento
fixo em geral declinou continuamente de 2003
a 2007, quando variou em 3,5%. Ambos os indicadores
de preço cresceram em 2008, 10,7% em
maquinaria, 9,9% em inversão fixa.
Como decorrência da crise internacional,
os preços de máquinas e equipamentos
declinaram em 5,9% em 2009, contribuindo para
que o preço da FBCF não crescesse
tanto e ficasse em 3,8%, mesmo com o aquecimento
do mercado doméstico e incremento dos
preços na construção
civil. Em 2010, o deflator da FBCF cresceu
3,1%, menos da metade da variação
dos preços do consumo final, de 6,4%.
O deflator implícito do PIB ficou em
7,3%.
Preço Relativo do Investimento Fixo.
Passando para o preço relativo da FBCF,
tendo 1970 como ano-base, percebe-se claramente
seu incremento quase interrupto desde 1999,
quando preço relativo da FBCF era de
1,14, até 2005, ano em que tal razão
chegou a 1,31. Quanto à relação
entre os deflatores da FBCF e do Consumo Final,
o comportamento pouco se diferenciou, com
o cume, a partir de 1999, sendo 2004, permanecendo
praticamente estável no ano seguinte
(1,24, ante 1,05 em 1999 e 1,04 em 1998).
Implica afirmar que, de 1999 a 2005, investir
produtivamente foi se tornando relativamente
mais caro do que gastar em bens e serviços
finais.
Se a lógica de quem investe em instalações
e maquinaria reside em lograr um fluxo futuro
de recursos para fazer crescer sua cesta de
consumo, a pergunta decorrente seria porque
investir, posto que o intento de uma cesta
maior ou qualitativamente melhor estaria se
tornando mais difícil. À época,
o contexto teve como agravante a opção
dos títulos da dívida pública,
cujas remunerações cresceram
por conta das altas taxas de juros. Não
custa rememorar que 1999 marca o começo
do regime de metas inflacionárias.
As taxas de juros elevadas permitiam e ainda
tem possibilitado ganhos a seus detentores
com menor risco do que o incorrido por quem
se aventurava a imobilizar sua riqueza para
produzir.
Contudo, o comportamento mudou favoravelmente
em 2006-2007. A relação entre
deflator da FBCF e deflator do PIB recuou
de 1,31 em 2005 para 1,29 em 2006, ficando
em 1,25 em 2007. Na relação
entre deflatores da FBCF e do consumo final,
o preço relativo saiu de 1,24 em 2004-2005
para 1,17 em 2007. Com o estopim da crise
no final do terceiro trimestre do ano seguinte,
ambos os indicadores experimentaram ligeiro
sobressalto em 2008: o preço relativo
da inversão fixa total subiu para 1,27,
enquanto o preço relativo da FBCF em
termos do Consumo Final cresceu para 1,20.
O solavanco de 2008 foi seguido de retomada
da queda no preço relativo da FBCF
em 2009 e em 2010, situando-se em 1,19 (em
relação ao PIB) e em 1,14 (em
relação ao consumo final). Não
por menos o crescimento de 7,5% da economia
brasileira em 2010 teve no investimento fixo
um componente-chave para tanto.

Preço Relativo do Investimento
Fixo em Máquinas e Equipamentos.
Embora para a inversão fixa em maquinaria
não se disponha de dados para 2010,
pode-se fazer uma breve descrição
até 2009, balizando melhor os dados
do preço relativo da FBCF como um todo.
Assim, para o preço relativo dos investimentos
fixos específicos em maquinaria, os
pontos de inflexão em torno de seu
comportamento são praticamente os mesmos
do preço relativo da FBCF como um todo:
após declinar até 1998 (1,47),
em 1999 registrou alta (preço relativo
de 1,53), continuando até 2005 (1,99).
Notar que os patamares do preço relativo
da FBCF em maquinaria ficaram em nível
bem acima dos patamares dos anos 1990. Comparando
o preço relativo da inversão
em máquinas e equipamentos com o preço
relativo da FBCF como um todo no ano de 2005,
enquanto o primeiro chegou 1,99, a segundo
medida ficou em 1,31.
No biênio seguinte, o preço relativo
da FBCF em maquinaria declinou até
1,88 em 2007. Subiu para 1,92 no ano seguinte.
Mas, no rastro da apreciação
cambial, o indicador declinou em 2009, para
1,71, sua menor grandeza desde 1999.
Considerando o preço relativo do investimento
em maquinaria em termos do consumo final,
a alta iniciada em 1999 cessou em 2004, quando
atingiu 1,88. Passou a declinar até
2007, quando se situou em 1,76. Em 2008, voltou
a crescer, ficando em 1,82, igual ao patamar
de 2006. O novo recuo em 2009, fez com que
o preço relativo em questão
recuasse até 1,61, sua menor magnitude
desde 2000 (1,59).
Neste sentido, a crise internacional barateou
os bens capital, até por queda na demanda
global por "bens para produzir outros
bens". Isto favoreceu o comportamento
mais recente não apenas do preço
relativo do investimento em máquinas
e equipamentos, mas também do preço
relativo da FBCF como um todo.
O que se observa nitidamente é o caráter
favorável da apreciação
da taxa de câmbio do real ao preço
relativo da FBCF em máquinas e equipamentos.
O equívoco que pode se cometer a partir
daí é achar que, para se estimular
o investimento, o País necessita do
real valorizado. O caminho correto reside
em fomentar uma maior dotação
no Brasil de recursos aptos a consubstanciar
uma produção de bens de capital:
mão-de-obra qualificada, como engenheiros
e técnicos, oferta de estrutura de
medição e recursos típicos
de P&D. Uma maior abundância destes
fatores baratearia seus respectivos custos,
estimulando a produção fabril
de máquinas e equipamentos em bases
competitivas. A carência na oferta de
engenheiros mostra claramente este quadro
desfavorável e conducente a que o investimento
sujeite às flutuações
cambiais em demasia.
Projetando e Comparando. Na
mais recente edição de sua publicação
Worl Economic Outlook, de setembro último,
o Fundo Monetário Internacional (FMI)
reviu para baixo o incremento brasileiro em
2011. Segundo o Fundo, o Brasil deverá
crescer 3,8% em 2011 e 3,6% em 2012. Menos
mal que as projeções para os
anos de 2013 a 2016 são de expansão
anual de 4,2%. Pari passu, as taxas
maiores de 2013-2016 estão atreladas
a uma elevação na taxa de investimento
total projetada (proporção da
soma da FBCF com a variação
de estoque no PIB; não sendo portanto
uma medida igual à taxa de investimento
fixo usada anteriormente, com base nos dados
do IBGE). O FMI projetou uma taxa de investimento
total de 19,8% em 2011, que deverá
subir continuamente até 22,3% em 2016.
Notar que as taxas maiores projetadas para
2013-2016, embora maiores do que as projetadas
para as economias avançadas que estão
no olho do furacão, estão notavelmente
aquém daquelas dos integrantes asiáticos
dos BRIICS, China, Índia e Indonésia.
Na América Latina, Chile, Colômbia
e Peru deverão presenciar expansão
maior, conforme tais projeções.
O que se nota também é o elevado
patamar das taxas de inversão total
das economias asiáticas, mesmo as mais
avançadas como Coréia do Sul
e Cingapura, cujas taxas de expansão
não deverão ultrapassar a brasileira
em 2013-2016.
Assim, se as projeções asseveram
o papel do investimento para o crescimento
econômico sustentado, o barateamento
das máquinas e equipamentos como decorrência
da crise global e, no caso brasileiro, de
2006 a 2010, da apreciação do
real, podem significar uma oportunidade. Mas
os alicerces de fato residem no esforço
estratégico de melhor dotar o País
de recursos aptos a produzirem competitivamente
os bens de capital e as estruturas para o
investimento fixo. Assim, o preço relativo
da FBCF poderia declinar com consistência,
não a mercê de aumento de preços
nas commodities ou da apreciação
do real por conta do diferencial internacional
de taxa de juros.






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