Perfil das Exportações
Brasileiras por Categoria e Setor. No
primeiro semestre de 2012 o Brasil exportou
menos do que no mesmo período do ano
passado em dólares FOB, pois apesar
do crescimento positivo no primeiro trimestre,
no segundo foi negativo em proporção
similar. Esse resultado segue a tendência
de arrefecimento das exportações
observada desde 2011, em contraposição
ao forte crescimento de 2007, 2008 e 2010.

Em apenas 5 anos, o perfil das exportações
brasileiras apresentou transformações
significativas. Após a crise de 2009,
os combustíveis e bens intermediários
(a categoria que concentra mais da metade
das exportações) incrementaram
sua participação na pauta, tomando
pontos percentuais das categorias industriais
de bens de capital, duráveis e não
duráveis.

Esse resultado reflete principalmente o fato
de que de 2007 para 2011 os níveis
em dólar de exportação
de bens de capital e de bens de consumo duráveis
se reduziram, apesar das exportações
totais terem crescido 60% (puxadas pelos bens
intermediários). Em 2012 também:
as principais quedas no segundo trimestre
de 2012, em relação ao mesmo
período de 2011, foram em bens de capital
(-13,7%) e bens de consumo não duráveis
(-12,2%).

Examinando o perfil das exportações
por setor, constata-se desde 2007 o incremento
da participação de produtos
primários, notadamente extração
de minerais metálicos e agricultura
e pecuária – que no segundo trimestre
de 2012 foi o principal setor de exportação
(17,2%). Em contrapartida, as maiores reduções
na participação foram em veículos
automotores, metalurgia, equipamentos de informática,
eletro e eletrônicos. Produtos alimentícios
mantiveram elevada parcela em cerca de 16%.
Entre o segundo trimestre de 2012 e o mesmo
período de 2011, o maior crescimento
na participação foi agricultura
e pecuária (2,7pp) a maior queda foi
em atividades de extração de
petróleo e gás (-0,7pp) e minérios
(-2,3pp).

A queda da participação de
veículos automotores, metalurgia, equipamentos
de informática, eletro e eletrônicos
é o reflexo da grande diminuição
das exportações desses setores
no segundo trimestre de 2012 em relação
ao mesmo período de 2011 (-14,1%, -11,7%
e -15,5%, respectivamente). Mais setores também
tiveram as exportações bastante
prejudicadas, a saber, outros equipamentos
de transporte (-30,8%), extração
de minérios (-20,8%), produtos alimentícios
(-10%). Contudo, os setores têxtil,
derivados de petróleo, agricultura
e pecuária e máquinas e aparelhos
elétricos registraram aumento nas exportações
em dólares.

Fica clara a desaceleração
das exportações dos setores
industriais de maior valor agregado relacionadas
a bens de capital e bens de consumo durável,
principalmente no último trimestre
medido.
Perfil das Exportações
Brasileiras por Destino. Nos
últimos anos a China se tornou o principal
destino das exportações brasileiras,
percorrendo uma trajetória ascendente
que partiu de uma participação
praticamente nula no início dos anos
noventa para 17,3% no primeiro semestre deste
ano. A América Latina e o Caribe constituem
o destino mais importante em termos de bloco
regional, respondendo por 24,5% das exportações
em 2012 (tendo sido quase 30% nos anos noventa).
O Mercosul é o destino de aproximadamente
40% das exportações para a América
Latina, contudo sua participação
vem se retraindo desde 2010 até os
dias de o segundo semestre de 2012. Também
experimentam retração na participação
a União Europeia, o Japão e
o NAFTA, que juntos importavam cerca de 68%
das exportações brasileiras
em 1990, e apenas metade disso em 2012.

Mercosul (3 países): Argentina, Paraguai
e Uruguai. Nafta (3 países): Canadá,
Estados Unidos (inclusive Porto Rico) e México.
União Europeia (15 países):
Alemanha, Áustria, Bélgica,
Dinamarca, Espanha, Finlândia, França,
Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo,
Países Baixos, Portugal, Reino Unido
e Suécia. Ásia/Pacífico
(8 países): Cingapura, Coréia
do Sul, Filipinas, Formosa, Hong Kong, Indonésia,
Malásia e Tailândia.
O crescimento dos mercados de cada país/
bloco regional foi muito heterogêneo,
conforme se depreende da tabela abaixo. O
primeiro ponto a ser ressaltado é justamente
o forte crescimento das exportações
para a China, inclusive em 2009, quando todos
os outros países retraíram suas
compras. O segundo ponto é o crescimento
negativo das exportações do
primeiro e segundo trimestre de 2012 em relação
aos de 2011 para o Mercosul (-14% no semestre),
América Latina e Caribe (-8,5%), Japão
(-13%), e União Europeia (-6,5%).

Analisando por categorias, nota-se que a União
Europeia e o Mercosul, particularmente a Argentina,
são os principais destinos de bens
de capital e bens de consumo duráveis.
Como visto anteriormente, estes bens foram
também os que registraram a maior queda
nas exportações no segundo trimestre
de 2012 em relação ao mesmo
período do ano anterior. E estas duas
regiões foram também as que
mais reduziram a aquisição de
exportações brasileiras. No
caso de bens de capital, o Mercosul no final
dos anos noventa chegou a adquirir 32% das
exportações do Brasil. Em 2011,
mantinha percentuais de participação
entre 21 e 28%, o que vem caindo nos últimos
três trimestres até atingir 15,6%
entre abril e junho de 2012. Essa queda se
deve basicamente à menor demanda da
Argentina – que juntamente com a União
Europeia são os parceiros comerciais
mais importantes desta categoria. O gráfico
abaixo mostra como as compras argentinas de
bens de capital tiveram uma variação
trimestral negativa (em relação
ao mesmo período do amo passado) cada
vez mais pronunciada desde o último
trimestre de 2010. Observa-se, também,
a queda do crescimento das exportações
no segundo trimestre de 2012 para EUA e União
Europeia.


Em bens de consumo duráveis, a importância
da Argentina e do Mercosul nas exportações
é tremenda, com participação
na pauta acima de 60% e se mostra mais estável
do que nas outras categorias. Ao invés
da União Europeia, o bloco mais importante
para duráveis é o NAFTA (13%,
tabela abaixo apresenta os números
para EUA e México). Mas isso é
um fenômeno recente. A União
Europeia chegou a representar 35% das exportações
brasileiras de bens de consumo duráveis
ao final dos anos noventa, o que caiu para
cerca de 10% em 2010 e finalmente 4,3% no
segundo trimestre de 2012.
Então, a variação das
exportações brasileiras destes
bens para a Europa foi de -40% nos dois trimestres
de 2012. Para o MERCOSUL, e para a Argentina
notadamente, a variação das
exportações também retraiu
consistentemente – como em bens de capital
– até se tornar negativa no segundo
trimestre deste ano (-14,6% em relação
ao mesmo período do ano passado). Aliás,
neste período quase todas as regiões
importaram menos – inclusive o Japão,
que vinha em forte trajetória ascendente
–, pois como visto acima as exportações
totais de bens de consumo duráveis
caíram 12,2%.


Em bens intermediários, observa-se
um perfil mais semelhante ao das exportações
totais: preponderância dos parceiros
que não pertencem à América
Latina. O Mercosul vem perdendo participação
na pauta, devido à menor demanda argentina.
As exportações para todos os
destinos estão, de forma bastante homogênea
com trajetória de crescimento em queda
desde 2010, tendo sido negativas em 2012 em
-18,6% no Mercosul (e Argentina -20,7%), em
-19,9% na União Europeia, em -3,8%
nos EUA e em -2,9% no Japão.


Entendendo as Perdas nos Destinos União
Europeia e Mercosul. Em números,
as exportações brasileiras de
reduziram em pouco mais de US$ 1 bilhão,
comparando o primeiro semestre de 2012 em
relação ao primeiro semestre
de 2011, ou quase US$ 5 bilhões, comparando
o segundo trimestre de 2012 ao mesmo período
de 2011. Ou seja, o segundo trimestre de 2012
apresentou resultados de exportação
bastante negativos, principalmente em relação
às exportações para a
América Latina e Caribe e para a União
Europeia, como mostra a tabela abaixo.

Com o agravamento da crise na Europa, as importações
dos 15 países (Alemanha, Áustria,
Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia,
França, Grécia, Irlanda, Itália,
Luxemburgo, Países Baixos, Portugal,
Reino Unido e Suécia) considerados
na classificação da Funcex passam
por uma contração na taxa de
crescimento significativa desde meados de
2011, tendo sido negativa no primeiro semestre
de 2012 em -4,5% (em relação
ao mesmo período de 2001). No segundo
trimestre a queda foi ainda pior, em -8,0%
no total, -4,3% em bens de capital, -8,5%
em bens intermediários e -9,6% em bens
de consumo.
A pauta de importações da União
Europeia se concentra em bens intermediários
(65,8% no segundo trimestre de 2012, notar
que nessa classificação, bens
intermediários incluem combustíveis),
seguida de bens de consumo (18,7%) e bens
de capital (14,0%). A composição
variou pouco desde 2010, com incremento da
parcela de bens intermediários.

Ao comparar as variações nas
importações da União
Europeia com as exportações
do Brasil para o bloco, conclui-se que seguem
tendência similar pois ambas as curvas
bastante descendentes. A tabela a seguir comprova
isso, mostrando que a participação
do Brasil nas importações da
União Europeia vem se mantendo estável,
tendo logrado um ligeiro aumento em 2011,
para depois voltar aos patamares de 2010.
No segundo trimestre de 2012, 2,34% das importações
totais da união Europeia_15 foram de
origem brasileira. Contudo a participação
do país em bens de capital aumentou
em 2012 em relação a 2011, alcançando
1,11% no segundo trimestre de 2012, tendo
sido 1,4% em bens de consumo e 2,9% em bens
intermediários.


Conclui-se, assim, que a redução
das exportações para a União
Europeia está bastante relacionada
à crise econômica do continente.
Por sua vez, na América Latina, e mais
precisamente no Mercosul as perdas refletiram
mais do que isso, estando associadas a problemas
políticos e de competitividade. Os
políticos são as controversas
recentes do grupo, que culminaram com a suspensão
do Paraguai e a entrada da Venezuela, mas
mais fortemente as barreiras informais argentinas,
com retenção de importados na
alfandega. Em termos de competitividade, os
problemas envolvem fatores sistêmicos
(como Custo Brasil e câmbio) ou internos
das firmas (baixo investimento, estancamento
da produtividade, defasagem tecnológica,
ineficiências de escala, etc.). De acordo
com o levantamento da CNI, “os bens
industriais que mais perderam participação
foram automóveis, pneus, escavadoras,
polímeros, tratores, partes e acessórios
para veículos e aços laminados.
Os empresários falam em "carnificina"
por parte dos concorrentes, que não
se resumem à China, principal ameaça
às vendas brasileiras: países
como Turquia, Coreia, México e até
nações ricas como a Alemanha
passam a ocupar o espaço que antes
era do Brasil” (VALOR, 28/08/2012).
O Mercosul teve um crescimento das exportações
com o resto do mundo de 7,5% entre janeiro
e março de 2012 em relação
ao mesmo período do ano anterior. Já
o comércio intrarregional caiu -5,5%
no mesmo período, de acordo com o último
boletim estatístico da CEPAL (julho/12).
Ressaltou-se acima a queda da participação
do Mercosul nas exportações
brasileiras, de 10,6% no segundo trimestre
de 2010 para 8,7% no de 2012. Entre os países
do bloco, houve um crescimento da participação
do Uruguai em detrimento da Argentina, mas
nela continua se concentrando as exportações
brasileiras para o Mercosul (78,7% no segundo
trimestre de 2012). As exportações
brasileiras para o bloco vem caindo de forma
generalizada entre seus integrantes, com crescimento
negativo no primeiro semestre de 2012 em relação
ao mesmo período de 2011, principalmente
no segundo trimestre: redução
de -24,5% para a Argentina, -14,2% para o
Paraguai e -5,3% para o Uruguai.


Particularmente na Argentina, o destino de
exportação mais importante para
o Brasil no Mercosul, constata-se clara desaceleração
do crescimento das importações
daquele país desde o terceiro trimestre
de 2010. A trajetória é muito
similar a das exportações brasileiras,
de modo que a correlação entre
as duas linhas de tendência é
0,92!

Em termos de participação, o
Brasil mantém a posição
de principal origem das importações
argentinas, apesar de pequena queda no primeiro
trimestre de 2012 (27,5%) em benefício
da União Europeia.

As importações da Argentina,
diferentemente da Europa, tem um elevado percentual
de bens de capital e acessórios, mas
vem se reduzindo desde 2007 de (41,3% para
36,4%). No primeiro semestre de 2012, a queda
nas importações foi generalizada,
mas mais contundente em bens de capital.

Como visto anteriormente, a Argentina vem
perdendo participação nas exportações
de bens de capital brasileiras, mas continua
sendo o principal destino como país
individual juntamente com os EUA (ambos cerca
de 13% - vide tabela 07). Contudo a tendência
de queda das exportações dessa
categoria para a Argentina é mais pronunciada
do que a própria queda das importações
totais argentinas desses bens, o que indica
perda de mercado brasileiro. No primeiro semestre
de 2012, a Argentina importou -21% em relação
ao mesmo período de 2011 em bens de
capital, enquanto as exportações
brasileiras destes bens para lá se
reduziram – 30,5%. Essas perdas se devem,
como comentado anteriormente, à problemas
de competitividade das manufaturas brasileiras
e à questão política
de retenção de mercadorias na
alfândega argentina (VALOR, 02/05/12).
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Disponível em, último acesso
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VALOR (02/05/12) “Barreira faz exportação
à Argentina cair 30%”. Valor
Econômico, por Sergio Leo, 02 de
maio de 2012.
VALOR (28/08/12) “Brasil perde US$
5,5 bilhões de mercado na América
Latina”. Valor Econômico,
por Sergio Leo, 28 de agosto de 2012.
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