O Capitalismo de Estado Chinês.
O papel central do Estado e
suas intervenções explícitas
no funcionamento dos mercados conferem à
atual economia chinesa uma configuração
específica, denominada capitalismo
de estado. Ainda que as interações
entre Estado e mercado constituam a coluna
dorsal de qualquer capitalismo moderno (Polanyi,
1944), a capacidade de pilotagem da acumulação
de capital pelo Estado, por meio do direcionamento
dos investimentos e do controle do mercado
de trabalho, caracteriza essa variante do
capitalismo.
Nesse sentido, o processo de industrialização
da China assemelha-se às trajetórias
de outros países asiáticos.
Segundo Johnson (1995), o desenvolvimento
dos setores industriais no Japão contou
com significativo suporte estatal, por meio
de políticas, postas em prática
por uma elite burocrática, que enfatizavam
a obtenção de elevadas taxas
de crescimento econômico, da produtividade
e da competitividade nacionais. As experiências
da Coreia do Sul, Taiwan e Singapura também
evidenciam a importância de seus Estados
no processo de desenvolvimento industrial
(Amsden, 1992; Deyo, 1987; Wade, 1990; Wong,
2004).
Duas principais dimensões integram
um capitalismo de estado: de um lado, a extensão
da propriedade estatal dos meios de produção
e, de outro, a capacidade do Estado de coordenação
do conjunto de empresas (Lin, 2011). Com efeito,
o Estado chinês é bastante ativo
na criação e no suporte de empresas,
detém participações majoritárias
em diversos grupos econômicos, controla
decisões críticas e mobiliza
capitais. As empresas estatais chinesas competem
com outras empresas no mercado e seus dirigentes
obtêm recompensas econômicas à
medida que conseguem atingir os objetivos
estabelecidos, no caso chinês, não
pelo conselho de administração
ou pelos acionistas, mas pelo Estado. Aquelas
estatais pertencentes a setores considerados
estratégicos e que são eleitas
como “campeãs nacionais”
são, contudo, favorecidas por incentivos
à fusão ou aquisição
de outras empresas, pelo acesso a fontes de
capital de baixo custo e pela restrição
da concorrência em seu mercado.
Tanto o governo central como os governos das
províncias chinesas dirigem, ainda,
todas as grandes instituições
financeiras do país. O vice-premier
do Conselho de Estado da China é responsável
pela gestão estratégica de 17
grandes bancos, que correspondem por 80% dos
ativos totais do sistema bancário nacional.
Dessa maneira, é possível alinhar
as atividades dessas instituições
financeiras às diretrizes governamentais
de mobilização de capital. O
controle sobre as fontes de financiamento
é um importante mecanismo de coordenação
dos mercados, assim como da inter-relação
entre o governo central e os governos locais,
que consistem nos principais agentes responsáveis
pela evolução do investimento
em ativos fixos, infraestrutura e construção.

Diferentemente do que se poderia supor, esse
dirigismo estatal da economia chinesa contemporânea
não é explicado, segundo Haley
et al. (2004), pelo passado comunista
do país. Trata-se, na verdade, de um
elemento estrutural da gestão econômica
e administrativa chinesa que, apesar da transformação
dos instrumentos, reproduz-se desde o período
imperial, estendendo-se pela era Maoísta
até o presente. Essa continuidade é,
assim, refletida na gestão das empresas
estatais e do ambiente de negócios
da China contemporânea.
É por essa razão que as teorias
sobre a transição das economias
socialistas para economias de mercado apresentam
limitações quando aplicadas
à evolução da China.
Segundo Nee (1989, 1996), um dos formuladores
dessa corrente, a passagem de uma economia
planejada para uma economia de mercado provocaria
uma transformação da hierarquia
da estrutura social, reduzindo o poder das
elites burocráticas em favor dos agentes
diretamente associados à produção
(sobretudo empresários). Dessa maneira,
sugere que o avanço das relações
mercantis corroeria gradualmente o poder estatal
e que a liberdade individual alavancaria transformações
importantes na China. À medida que
reformas estruturais fossem sendo realizadas,
os processos de desenvolvimento da China e
do Ocidente capitalista assumiriam uma trajetória
convergente. Entretanto, devido a obstáculos
políticos, o autor reconhece que as
reformas governamentais em prol da economia
de mercado teriam sido bloqueadas, exigindo
a adoção de alternativas do
tipo “second-best”, materializadas
na criação de empresas estatais,
na concessão massiva de subsídios
e na introdução da competição
externa.
Todavia, Haley e Haley (2013) mostram indícios
que contradizem esses argumentos. O
poder do Estado chinês, especialmente
a partir dos anos 1990, tem se expandido e
não retroagido. A razão do consumo
privado em relação ao consumo
do setor público sofreu uma queda entre
1996 e 2008, passando de um pouco mais de
4 para quase 2,5. As empesas estatais chinesas
cresceram exponencialmente, passando a constar
entre as maiores do mundo. Segundo o ranking
Global 500 do Financial Times, em
maio de 2010, a estatal PetroChina havia ultrapassado
a Exxon Mobil como a maior empresa por valor
de mercado, enquanto outras grandes companhias
públicas, tais como o Industrial and
Commercial Bank of China, China Construction
Bank e China Mobile apareciam entre as top
15.
Ademais, a tese da existência de um
processo gradual de transformações
que levasse à implantação
de uma economia de mercado na China também
parece contestável. A partir da análise
de documentos de empresas de atuação
regional, Huang (2008) mostra que foram os
anos 1980 que testemunharam movimentos de
liberalização e florescimento
do empreendedorismo na base da sociedade.
Os anos 1990 que, a priori, deveriam
apresentar o aprofundamento dessas transformações,
são caracterizados, na verdade, por
uma guinada capitaneada pelo governo central
em favor da urbanização acelerada
e da oligopolização das empresas.
Assim, Haley e Haley (2013) e Huang (2008)
argumentam que o crescimento econômico
chinês nos anos 1990 não é
resultado de mecanismos de mercado, apoiados
na propriedade privada, nos direitos de propriedade,
na liberalização financeira
e na reforma da institucionalidade política
do país. Ao contrário, reverteram-se
políticas e experiências altamente
produtivas, sobretudo, na agricultura, enquanto
sua a gestão administrativa foi centralizada.
Nesse período, os policy makers
chineses taxaram pesadamente as atividades
rurais e canalizaram investimentos e crédito
para as cidades, pondo em funcionamento um
finance estate-led urban growth.
Assim, a fonte de dinamismo econômico
que surgira nos anos 1980 com o empreendedorismo
no campo e de pequenas empresas privadas de
atuação regional foi substituída,
nos anos 1990, por uma política industrial
tecnocrática, com forte viés
urbano. A consequência dessa mudança
de direção foi o crescimento
do Estado chinês. Haley e Haley (2013)
argumentam que o número de funcionários
públicos e o valor de ativos fixos
controlados pelo Estado cresceram expressivamente
ao longo dos anos 1990 1.
A origem dessa nova estratégia de desenvolvimento
remete, segundo os autores, ao intenso e cuidadoso
estudo das trajetórias de desenvolvimento
da Coreia do Sul e do Japão pela elite
tecnocrática chinesa, no início
dos anos 1990. A conclusão tirada por
Pequim apontava para necessidade de criação
de grandes grupos econômicos que atuassem
em setores estratégicos e que fossem
capazes de concorrer nos mercados globais,
conforme confessou o então Vice Primeiro
Ministro Wu Banguo, em 1998.
In reality, international economic confrontations show that if a country has large companies or groups it will be assured of maintaining a certain market share and a position in the international economic order. America, for example, relies on General Motors, Boeing, Dupont and a batch of other multinational companies. Japan relies on six large enterprises groups and Korea relies on ten commercial groupings. In the same way now and in the next century our nation’s position in the international economic order will be to a large extent determined by the position of our nation’s large enterprises and groups (Apud Nolan, 2001, p. 17).
Para tanto, são mobilizados diversos instrumentos, dentre os quais empréstimos
a taxas de juros baixas, regime preferencial
de impostos, isenção tributária
para a importação de equipamentos
e concessão de subsídios diretos
e indiretos aos setores estratégicos
e às empresas consideradas “campeãs
nacionais”.
O Papel dos Subsídios. A teoria econômica
convencional aponta os efeitos distorcivos
dos subsídios específicos a
certos setores, porque redistribuem e realocam
recursos segundo critérios não
econômicos e, por essa razão,
são geradores de ineficiência.
Haley e Haley (2013) defendem, contudo, a
insuficiência das hipóteses de
concorrência perfeita, vantagens comparativas
e alocação eficiente de recursos
como arquétipo para a avaliação
do papel dos subsídios no processo
de desenvolvimento chinês. Segundo os
autores, também é necessário
levar em conta a racionalidade sócio-política
que permeia a concessão de subsídios
no país.
Mais do que distorções, na China,
os subsídios integram o núcleo
dos instrumentos de coordenação
político-econômico, a partir
do qual governos e empresários chineses
produzem, estabilizam e criam entendimento
comum sobre os mercados. Os subsídios
refletem, então, as interações
e conflitos entre os principais agentes, incluindo
as empresas, o governo central e os governos
locais (dos municípios e das províncias).
A evolução recente da China
mostra que os subsídios desempenham
três importantes papéis: instrumento
de uma estratégia de desenvolvimento
econômico, mecanismo de regulação
dos ciclos econômicos e mediador dos
objetivos e interesses do governo central
e dos governos locais.
Apesar da visão geral contrária
aos subsídios, algumas circunstâncias
específicas levam alguns economistas
a justificar sua existência. Muitos
dos argumentos favoráveis à
adoção de subsídios enfatizam
seu papel na redução de assimetrias
de informação, especialmente
dos mercados de capitais, e na geração
de spillovers. O crédito subsidiado,
por exemplo, pode garantir o acesso a recursos
financeiros a agentes cuja demanda seria recusada
em função de assimetrias de
informação. Adicionalmente,
os subsídios também podem ajudar
na coordenação de investimentos
interdependentes ou complementares, correspondendo,
por exemplo, a articulações
verticais na produção e economias
de escala. Porter (1990) reconhece a capacidade
de os Estados influenciarem a constituição
de vantagens comparativas de uma economia
por meio de investimentos consistentes e de
longo prazo em infraestrutura e em setores
estratégicos. Tais investimentos têm
a capacidade de gerar desdobramentos positivos
sobre outros setores econômicos, favorecendo
a economia como um todo.
Subsídios voltados às atividades
de pesquisa e desenvolvimento (P&D) podem,
ainda, viabilizar investimentos em novos conhecimentos
cujo retorno social excede os benefícios
privados que as empresas são capazes
de se apropriar. Essas externalidades positivas
viriam, então, a favorecer o conjunto
da economia. Esse tipo de subsídio
também é capaz de criar vantagens
comparativas em setores caracterizados por
elevadas economias de escala e sob mercados
de concorrência imperfeita, pois são,
geralmente, setores intensivos em P&D.
Ademais, subsídios às exportações
permitem aos países que os adotam a
conquista de grandes participações
na produção mundial de setores
lucrativos sob concorrência imperfeita,
viabilizando, assim, políticas de desenvolvimento
industrial baseadas na elevação
da lucratividade das empresas domésticas
em detrimento de suas congêneres estrangeiras.
É bem verdade, contudo, que se forem
introduzidos por “países grandes”,
como a China, esse tipo de subsídio
levará à redução
do nível de preços internacional
dos setores subsidiados, prejudicando os termos
de troca do país, mas enquanto os preços
excederem os custos de exportação
a elevação da produção
gerará ganhos para os setores beneficiados.
Ainda que todos esses aspectos façam
dos subsídios instrumentos de políticas
de desenvolvimento econômico, eles só
se verificam, como Haley e Haley (2013) apontam,
em circunstâncias específicas,
tais como na presença de assimetrias
de informação, e se bem utilizados.
Políticas de subsídio equivocadas
podem, por exemplo, reduzir vantagens comparativas
ao invés de criá-las. Ademais,
também podem reduzir a flexibilidade
das empresas, devido às contrapartidas
exigidas pelo Estado, e distorcer a estrutura
de incentivos, fazendo que os gestores das
empresas subsidiadas procurem garantir a permanência
ou a elevação dos subsídios
em lugar de desenvolver competências,
introduzir inovações e elevar
sua competitividade. A trajetória de
crescimento econômico de longo prazo
poderia ser, assim, comprometida. Nem mesmo
os subsídios à P&D estão
livres desses efeitos negativos, uma vez que
sua presença pode gerar uma superatividade
nessas atividades, reduzindo os retornos obtidos
com a introdução de inovações
e, consequentemente, desestimulando, no longo
prazo, novos investimentos em P&D.
As grandes empresas estatais, que operacionalizam
a estratégia de desenvolvimento assumida
nos anos 1990, são as principais beneficiárias
da política chinesa de subsídios,
seguidas por empresas privadas bem articuladas
aos objetivos governamentais. É o desempenho
dessas empresas que permitem a avaliação
do sucesso da política de subsídios.
Entretanto, conforme explicam Haley (2007)
e Haley e Haley (2013), a elevação
de eficiência no curto prazo e a geração
de lucro não são os únicos
critérios de desempenho dessas empresas
observados pelo governo. A incorporação
de tecnologia e o ganho de participação
no comércio internacional, por exemplo,
são objetivos da política de
subsídio que devem ser perseguidos
mesmo à custa da queda de lucro das
empresas.
Uma hierarquia é estabelecida entre
as empresas estatais, segundo seu papel na
política industrial chinesa, dando
direito ao acesso a subsídios mais
ou menos importantes. Os critérios
que definem essa hierarquia são: defesa,
criação de empregos, aquisição
de tecnologia e de vantagem competitiva. Diversos
setores industriais respondem a mais de um
desses critérios, tornando-os prioritários
no recebimento de incentivos. Segundo o 10°
e 11° Planos Quinquenais para o Desenvolvimento
Econômico e Social da China (2001 a
2010), os seguintes setores foram eleitos
como pilares da estratégia chinesa
de desenvolvimento (1) aeroespacial, (2) automobilística
e de autopeças, (3) bancos e seguradoras,
(4) biotecnologia, (5) design e produção
de chips de computadores, (6) hardware, (7)
tecnologia da informação, (8)
ferro e aço, (9) logística,
transporte e estocagem, (10) maquinário
e equipamentos mecânicos, (11) petróleo
e petroquímica, (12) software, (13)
equipamentos de telecomunicações,
(14) equipamentos de energia e (15) comércio
de varejo e de atacado. Em 2010, o comitê
do partido comunista para a formulação
do 12° Plano Quinquenal (2011-2015) incluiu
mais sete setores à lista: (16) novas
gerações de tecnologia da informação,
(17) proteção ambiental e eficiência
energética, (18) novas fontes de energia,
(19) biologia, (20) produção
de equipamentos de alta tecnologia, (21) novos
materiais e (22) veículos movidos por
novos tipos de energia. Em 2003, uma agência
foi criada pelo governo central, a SASAC (State-owned
Assets Supervision and Administration Commission)
para coordenar as empresas estatais, buscando
compatibilizar os objetivos de política
do governo ao aumento da eficiência
e dos retornos financeiros das empresas, bem
como promover fusões e aquisições.
Além do governo central, muitas províncias
também elegem seus próprios
setores estratégicos, garantindo a
muitas estatais incentivos adicionais. Dessa
maneira, não é raro que uma
mesma empresa receba subsídios tanto
do governo central como da província
onde desempenha suas atividades. À
semelhança do governo central, essas
províncias também contam com
agências semelhantes à SASAC
para controlar suas próprias estatais.
Os subsídios concedidos pelo governo
central e pelos governos provinciais com o
objetivo de suavizar os ciclos econômicos
também são canalizados por meio
das empresas estatais, como ilustra a reação
da China à desaceleração
da economia internacional, devido ao aprofundamento
da crise financeira internacional a partir
de 2008. Nessa ocasião, as grandes
empresas estatais foram as mais beneficiadas
pela política anticíclica do
governo Chinês. Por exemplo, do
montante de US$ 1,1 trilhão de empréstimos
governamentais concedidos no primeiro semestre
de 2009, apenas 8,5% foram direcionados a
pequenas e médias empresas, ainda que
elas fossem responsáveis por 70% do
emprego nas cidades. Em consequência,
ocorreram, em 2010, inúmeras operações
de aquisição pelas grandes empresas
públicas, beneficiadas com o aumento
dos subsídios, de empresas privadas
menores.
Como as estatais consistem em grandes exportadores,
a queda da demanda externa também foi
compensada por elevação dos
seus subsídios. Em novembro de 2008,
Pequim lançou um pacote de US$ 586
bilhões para evitar a falência
de empresas exportadoras e o impacto negativo
sobre o emprego. Em 2009, mais US$ 19 bilhões
foram injetados pelo governo central com o
mesmo objetivo.
Os recursos canalizados pelo governo central
para financiar medidas anticíclicas
consistem, na verdade, em apenas uma parte
do esforço total realizado. Ao lado
das estatais controladas pelo governo central,
os governos das províncias também
desempenharam um papel fundamental na operacionalização
dessas medidas. No quarto trimestre de 2008,
cerca de 2/3 do pacote de estímulo
econômico do governo central (2,7 trilhões
de yuan) foram transferidos às províncias.
A esses recursos, os governos locais somaram
mais 10 trilhões de yuan – levantados
junto a bancos oficiais – para integrar
seus pacotes de estímulo e apoiar suas
próprias empresas estatais.
A importância dos governos provinciais
na política anticíclica chinesa
a partir de 2008 remete às características
da própria organização
do Estado chinês. Mais do que uma entidade
política unificada, o Estado chinês
é composto por um conjunto de instituições
descentralizadas que, na maior parte das vezes,
defendem seus próprios interesses.
O fato de que as províncias chinesas
gozam, historicamente, de um grau elevado
de autonomia faz com que exista uma relativa
dissociação entre regras formais
(leis, contratos, direitos de propriedade
etc.) e regras informais (normas e condutas)
ou comportamento prático (Nee, 1998).
Assim, quando as regras formais estabelecidas
pelo governo central contradizem os interesses
ou preferências das províncias,
emergem situações em que os
governos locais permitem (ou incentivam) comportamentos
e ações divergentes.
Essa tensão entre o governo central
e os governos locais na defesa de seus interesses
se reflete também no volume de subsídios
concedidos na China. Por exemplo, a intenção
do governo central de eliminar empresas obsoletas
do setor do aço, promovendo a centralização
do setor e incorporação de novas
tecnologias, explicitada no 11° Plano
Quinquenal (2006-2010), ensejou forte reação
dos governos das províncias na defesa
de suas empresas. Assim, enquanto o governo
central concedia subsídios para que
suas diretrizes fossem cumpridas, os governos
locais também concediam subsídios
(nem sempre registrados em seus orçamentos
por razões políticas) para que
suas empresas, obsoletas ou não, crescessem
e ganhassem importância na produção
nacional, evitando, assim, serem liquidadas
ou adquiridas por outras empresas.
Por vezes, os objetivos das diferentes esferas
de governo se reforçam mutuamente,
como no caso da elevação do
conteúdo nacional da indústria
automobilística. Tanto o governo central,
em âmbito nacional, como os governos
provinciais, em âmbito local, concedem
subsídios para estimular as montadoras
a comprarem autopeças produzidas nas
suas jurisdições e para ampliar
a capacidade de produção nacional/local
desse setor. Os governos locais também
lançam mão de regulamentação
– como no caso dos táxis –
e da compra governamental para criar reserva
de mercado às empresas de automóveis
que operam em suas localidades.
É importante notar que, à semelhança
do governo central, os governos das províncias
também elegem setores estratégicos
e empresas consideradas “campeãs”,
para os quais são direcionados seus
subsídios. Ademais, como controladora
de empresas estatais, esses governos também
lhes impõem metas sociais a serem atingidas
– como geração de emprego,
assistência médica, oferta de
moradia, garantia de oferta de insumos para
outras empresas, etc. – e, em contrapartida,
concedem subsídios. Por isso, como
sugerem estudos de caso, cidades, como Guangzhou
e Shandong, foram capazes de realizar investimentos
sem respeitar a lógica de mercado e
sem avaliar os custos e os lucros decorrentes
de seus empreendimentos ao longo dos anos
1990 (Xu e Yeh, 2005; Liu, 2008). É
nesse sentido, então, que os subsídios
desempenham um papel de acomodação
dos conflitos entre os interesses de diferentes
esferas que compõem o governo chinês.
A Política Chinesa de Subsídios.
Devido à complexidade das relações
entre o governo central e os governos provinciais
e municipais, marcadas ora pela convergência
de interesses, ora pela competição
e ora pelo conflito, é difícil
a identificação dos contornos
da efetiva política de subsídio
chinesa. Além da miríade de
instituições com prerrogativa
de conceder subsídios, nem todos os
recursos transferidos como tal são
declarados, a fim de evitar confrontos intragovernamentais
(Lin e Jiang, 2011). Mesmo dentre os subsídios
reconhecidos, a subestimação
dos montantes é inevitável devido
à própria definição,
bastante restrita, do que é considerado
subsídio pelo governo chinês.

O Acordo sobre Subsídios e Medidas
Compensatórias da Organização
Mundial do Comércio (OMC) conceitua
subsídios como sendo transferências
financeiras de governos a empresas sob a forma
de pagamentos diretos de fundos, renúncia
de receitas que de outra forma seriam devidas,
provisão de bens e serviços
(exceto infraestrutura geral) ou de um esquema
de sustentação de preço
ou de receita que confira às empresas
algum benefício. A China, em contraste,
considera subsídio apenas os pagamentos
diretos sem contrapartida feitos pelos governos
às empresas.
Membro da OMC desde 2001, a China não
reconheceu a existência de nenhum subsídio
aos produtores domésticos em suas notificações
anuais sobre o tema que a OMC exige de seus
membros. Foi apenas em 2006 que o governo
chinês notificou tardiamente a existência
de 78 programas de subsídio entre 2001
e 2004 e reconheceu que diversos ministérios
e agências do governo central estão
autorizados, segundo as leis nacionais, a
conceder e monitorar subsídios. Nenhuma
informação estatística
que possibilitasse avaliar o impacto desses
subsídios sobre o comércio internacional
foi, contudo, fornecida. Os programas notificados
restringiram-se àqueles adotados apenas
pelo governo central e vinculados à
agropecuária e, sobretudo, às
joint ventures com empresas estrangeiras dos
setores identificados como estratégicos.
Foram, assim, ignorados os subsídios
concedidos pelos governos municipais e das
províncias, bem como as políticas
de empréstimos dos bancos públicos
e outras vantagens ao alcance das grandes
empresas estatais e outras empresas privadas.
Haley e Haley (2013) defendem que a maior
parte dos subsídios chineses permanece
omitida. Os subsídios à indústria
chinesa derivam da predominância do
Estado na economia e da compatibilização
dos objetivos das empresas, do governo central
e dos governos municipais e das províncias.
Os subsídios incluem componentes diretos
e indiretos que afetam o resultado das empresas
e suas exportações. Os subsídios
fluem no sistema econômico por meio
das empresas estatais 2 –
ainda que algumas empresas privadas bem articuladas
também se beneficiem de subsídios
indiretos – de todos os setores que
o governo central e os governos das províncias
julguem economicamente ou militarmente estratégicos.
As principais formas assumidas por esses subsídios
“escondidos” compreendem os empréstimos
a taxas de juros preferenciais, a redução
do custo da energia, de insumos, do preço
da terra e os incentivos à aquisição
de tecnologia.
O controle sobre os bancos, os mercados de
ações e a emissão de
títulos de dívida permite ao
governo chinês estruturar grandes empréstimos.
Entre 2002 e 2004, o volume de crédito
na China cresceu 58%, chegando a US$ 785 bilhões.
Apenas em 2003, as novas concessões
somaram quase 25% do PIB, sendo que metade
delas foi concedida a empresas estatais. Dados
do Banco Central da China mostram, entretanto,
que a maior expansão se deu nos empréstimos
off-balance-sheet, por meio de aceites
bancários, empréstimos entre
companhias não financeiras intermediados
por bancos (designated or entrusted loans)
e empréstimos de trust companies.
Em 2010, o total desses tipos de empréstimos
chegaram a 3,8 trilhões de yuan, mais
do que a soma do período de 2003 a
2008 (3,1 trilhões de yuan) e o dobro
do total de 2009 (1,6 trilhão de yuan).
Esses valores não consideram, ainda,
a securitização das carteiras
de crédito dos bancos e, por isso,
subestimam a magnitude do shadow banking
system chinês.
Os bancos controlados pelo governo central
e os governos locais concedem empréstimos,
a taxas de juros subsidiadas, às suas
empresas estatais para que elas persigam as
metas que lhes foram definidas. Um estudo
de 2011 da Unirule Institute of Economics
estimou que a taxa de juros média paga
pelas estatais chinesas era de 1,6% a.a.,
entre 2001 e 2008, enquanto as empresas privadas
pagavam, no mesmo período, uma taxa
média de 5,4% a.a.
Ademais, muitos desses empréstimos
às empresas estatais são reconhecidos
como impagáveis pelos governos. À
medida que a inadimplência pesa no balanço
de seus bancos, os governos controladores
encarregam-se de fazer aportes de capital,
consistindo em um subsídio implícito
às empresas inadimplentes, cujas dívidas
são perdoadas, e possibilitando que
novos empréstimos – que possivelmente
tampouco serão reembolsados –
sejam concedidos. Ferri e Liu (2009) estimam
que 65% dos empréstimos dos bancos
comerciais públicos foram concedidos
a empresas estatais, entre 2001 e 2005, a
taxas de juros bastante abaixo das de mercado.
Empresas chinesas de capital aberto, com acesso
ao mercado internacional de capitais, também
contam com linhas de financiamento preferenciais
junto aos bancos oficiais, o que reduz sua
dependência das oscilações
desses mercados e, consequentemente, da pressão
dos investidores por maior transparência
e rentabilidade.
Outro importante meio de subsídio da
produção doméstica é
o controle dos preços da energia. Enquanto
o índice chinês de preço
da energia às corporações
dobrou, entre 2002 e 2008, o índice
de preço mundial subiu mais de 400%
no mesmo período. Ainda que muitas
empresas de geração de energia
sejam listadas em bolsas de valores, o Estado
continua exercendo um forte controle sobre
elas, influenciando o processo de formação
de preços. Por isso, as tarifas para
a indústria de energia elétrica
e os preços do petróleo e de
água na China são cerca de 1/3
a 1/2 dos preços médios mundiais.
Ao manter o preço da energia abaixo
de seus custos de geração, o
governo chinês concedeu um subsídio
ao conjunto dos agentes econômicos domésticos,
segundo Lin e Jiang (2011), da ordem de 1,43%
do PIB (365,7 bilhões de yuan) em 2007,
sendo 0,55% do PIB (136,8 bilhões de
yuan) para consumidores não residenciais
(sobretudo para a indústria).
Uma estimativa acurada dos subsídios
energéticos na China continua, todavia,
enfrentando limitações decorrentes
na descentralização da geração,
da complexa fixação dos preços
e da multiplicidade de agentes que governam
a indústria energética do país.
A princípio, a National Development
Reform Commission (NDRC) é responsável
por definir o conjunto de regras que determinam
os preços dos diferentes tipos de energia;
entretanto, reguladores locais continuam exercendo
uma influência importante à medida
que cerca de 40% da energia é gerada
pelos governos locais. Dependendo da exata
estrutura de propriedade de minas de carvão
e dos ativos energéticos, as instâncias
locais de governo exercem maior ou menor controle
sobre a quantidade e o preço da energia
produzida. Em consequência, os custos
e os subsídios à energia variam
largamente de uma região para outra
na China.
Mesmo no nível do governo central,
diversos agentes são capazes de influenciar
o setor de energia do país, tais como
a National Development Reform Commission,
a State Electricity Regulatory Commission,
o Ministério de Recursos Fundiários
e o Ministério do Comércio,
além de grandes estatais do setor,
como a China Petroleum Corporation e China
Petroleum and Chemical Corporation. Por essa
razão, em setembro de 2007, a versão
preliminar da Lei de Energia da China sugeria
a criação de um Ministério
da Energia de maneira a unificar a supervisão
do setor. Os diferentes interesses e níveis
de poder das elites burocráticas vinculadas
ao setor dificultam, contudo, essa unificação.
O carvão continua sendo uma das principais
fontes energéticas da China, respondendo
por 2/3 do consumo de energia do país,
apesar da queda de sua participação
ao longo dos anos 1990. Desde os anos 1980,
os preços do carvão têm
sido gradualmente liberalizados, permitindo
o surgimento de um sistema dual de preços,
em que conviviam a fixação de
preços pela NDRC e a formação
de preços pelo mercado. No início
de 2007, esse sistema dual foi abolido e tanto
o mercado futuro como o mercado à vista
de carvão passaram a ter seus preços
definidos por forças de mercado. Como
o governo continua exercendo rígido
controle sobre as tarifas de energia elétrica
(destino da maior parte do carvão chinês),
na prática, também tem conservado
uma forte influência no processo de
precificação do carvão,
por meio da “persuasão administrativa”
das gestoras de minas de carvão controladas
pelo Estado e pela alocação
da capacidade de transporte, que pode representar
até 25% do preço do carvão
3.
Apesar do controle estatal, as tarifas de
energia elétrica têm subido expressivamente,
na esteira do acelerado crescimento econômico
do país. A indústria consome
cerca de 75% da eletricidade gerada e paga
tarifas mais elevadas que os consumidores
residenciais (em média, 10% maior,
em 2007 4). Em 2005, o Conselho
de Estado implementou um novo mecanismo de
precificação, tentando vincular
os preços da eletricidade aos do carvão
térmico (principal insumo da geração
de eletricidade): desde então, caso
o preço do carvão suba acima
de 5% em seis meses, o preço da eletricidade
ao consumidor final deve ser reajustado; no
caso de uma elevação menor
do que 5% no semestre, ela será acumulada
à variação de preço
do próximo semestre. Entretanto, paralelamente
à adoção desse novo mecanismo,
os subsídios às empresas de
geração de energia elétrica
foram elevados, sendo repassados aos consumidores
finais de energia.

De fato, o processo de racionalização
do preço e do consumo de energia elétrica
pela NDRC tem encontrado forte resistência
dos governos locais. Os objetivos econômicos
e sociais desses governos influenciam as recomendações
de suas agências sobre o preço
da eletricidade, que são utilizadas
pela NDRC para fixar as tarifas em cada uma
das províncias chinesas. Os governos
locais têm lançado mão
de subsídios sob a forma de “ajustamentos
de preço” para proteger suas
indústrias de aço (grandes consumidoras
de energia 5) contra aumento do
preço da eletricidade.
Em 2006, Pequim anunciou seu programa nacional
para elevar os preços da eletricidade
para os setores que são grandes consumidores
de energia (aço, ferroliga, alumínio
eletrolítico, carbonato de sódio,
cimento, fundição de zinco,
etc.). O objetivo era justamente inviabilizar
as empresas mais obsoletas e, consequentemente,
mais ineficientes. Os governos locais, contudo,
resistiram a implementar uniformemente a nova
diretriz. A província de Ningxia, por
exemplo, retirou a Qingtongxia Aluminium Group
– que corresponde por 10% do PIB da
província – do sistema nacional
de eletricidade e passou a lhe fornecer eletricidade
diretamente a preços subsidiados. Por
isso, em 2007, a NDRC exigiu que 14 províncias
revissem imediatamente suas políticas
de tarifação especial de energia
elétrica. Ainda assim, muitas delas
continuam a subsidiar custos energéticos
dos setores de aço, vidro, papel e
autopeças.
Em relação aos preços
de derivados de petróleo, existe, em
tese, uma vinculação dos preços
chineses à cotação do
barril Brent em Dubai, levando em consideração,
ainda, custos de processamento, distribuição
e as margens de lucro das refinarias. Entretanto,
devido a preocupações com a
inflação, dificilmente a NDRC
permite que os preços dos produtos
de petróleo oscilem junto com os preços
internacionais. Pesados subsídios fluem
pela cadeia produtiva do petróleo por
meio das duas gigantes chinesas do setor,
a China Petroleum and Chemical Corporation
(Sinopec) e a China National Petroleum Corporation
(CNPC). Segundo o governo central, esses subsídios
somaram 60 bilhões de yuan em 2007,
ou 0,2% do PIB. No primeiro trimestre de 2008,
Sinopec recebeu 7 bilhões de yuan do
governo para compensar suas perdas e, juntamente
com CNPC, foi reembolsada em 75% dos impostos
sobre valor adicionado pagos sobre a importação
de petróleo cru. Em 2008, os subsídios
totais às refinarias de petróleo
devem ter superado o montante de 70 bilhões
de yuan, o que somado aos subsídios
concedidos aos consumidores de produtos de
petróleo, chegou a algo como 130 bilhões
de yuan (ou US$ 20 bilhões).
Além da energia, outros insumos também
são subsidiados, como tecnologia, com
os incentivos às atividades de P&D,
e terrenos urbanos, já que o governo
fixa o preço da terra abaixo do valor
de mercado para empresas dos setores considerados
estratégicos. Matérias primas
e componentes também são subsidiados,
especialmente por meio de vendas cruzadas
entre empresas estatais ou empresas privadas
privilegiadas.
Subsídios aos Setores do
Aço, Papel, Autopeças e Vidro.
O maior obstáculo enfrentado
por qualquer estimativa do valor efetivo dos
subsídios na China consiste na ausência
ou na incompletude de informações
primárias. Além da complexidade
referente aos diferentes mecanismos de transferência
de recursos – que podem assumir a forma
de isenções fiscais, reduções
do imposto de renda, alocação
de crédito, taxas de juros preferenciais,
perdão de dívidas, e reduções
do custo de frete, etc. – o que por
si só dificulta a identificação
de subsídios, a infraestrutura institucional
para a coleta e sistematização
de informações também
é precária. A omissão
de informações assume, ainda,
um papel estratégico, diante dos conflitos
de interesse entre os governos locais e o
governo central e da concorrência da
China com seus parceiros no comércio
internacional.
Haley e Haley (2013) recorrem, então,
à abordagem do tipo price-gap
para estimar os subsídios recebidos
por quatro importantes setores industriais
na China: as indústrias de aço,
papel, autopeças e vidro. A escolha
desses setores justifica-se por se tratarem
de setores intensivos em capital, cujas empresas
gozam de níveis mais baixos de produtividade
em comparação com seus concorrentes
estrangeiros e cujo saldo comercial nos últimos
anos tornou-se fortemente superavitário.
Assim, as teses das vantagens comparativas
chinesas, em função do baixo
custo de sua mão de obra, e do papel
de sua política cambial não
conseguem explicar, a contento, a liderança
internacional da China nestes setores.
Segundo a abordagem price-gap, os
subsídios reduzem os preços
pagos pelos consumidores finais e, consequentemente,
eleva o consumo do produto subsidiado. O cálculo
do subsídio é feito, então,
a partir da comparação entre
o volume adicional de consumo e o preço
pago na presença de subsídios
e o par consumo e preço de referência,
isto é, na situação em
que não haja subsídios. A principal
vantagem desse método é sua
simplicidade. As dificuldades, por sua vez,
derivam de qual preço de referência
empregar, da escolha da taxa de câmbio
(a taxa de câmbio oficial ou a paridade
do poder de compra, por exemplo) e, na presença
de múltiplos preços para um
mesmo bem, como é o caso na China,
qual estimativa melhor reflete os preços
efetivamente pagos pelos consumidores finais.
Haley e Haley (2013) usaram em suas estimativas
a taxa de câmbio oficial para os anos
estudados e os preços de referência
consistem nos preços internacionais
de insumos (carvão térmico,
carvão de coque e gás natural)
declarados pelas associações
internacionais das indústrias de aço,
papel, autopeças e vidro. Os preços
dos insumos pagos efetivamente por essas indústrias
na China não incluem os custos de transporte,
já que costumam variar amplamente de
região para região e estão
sujeitos a expressivos ajustes de preços
por parte dos governos.
O Setor do Aço. A
participação da China na produção
mundial de aço saltou de 15,7%, em
1999, para 47%, em 2011, maior do que a soma
das participações dos tradicionais
maiores produtores de aço (EUA, União
Europeia, Rússia e Japão). Depois
de 2005, o ritmo de crescimento desse setor
tem ultrapassado reiteradamente as previsões
oficiais do governo chinês. Em 2011,
por exemplo, a produção de aço
chegou a 706 milhões de toneladas métricas,
enquanto o governo previa no início
do ano um volume de 660 milhões. O
ano de 2005 marcou também a inversão
do saldo comercial do setor, passando de importador
para exportador líquido. No ano seguinte,
a China tornou-se o maior exportador de aço
do mundo em volume. Ainda que não seja
reconhecido pelo governo chinês, esse
desempenho foi acompanhado pela elevação
dos subsídios à indústria
de aço a partir de 2004, depois de
uma breve redução nos anos de
2002 e 2003, logo após a entrada da
China na OMC.
A principal forma de subsídio ao setor
tem ocorrido, desde 2004, por meio da redução
dos custos de energia associados aos preços
do carvão térmico e de coque,
do gás natural e da eletricidade. Haley
e Haley (2013) estimam que, entre 2000 e 2007,
esses subsídios somaram US$ 27,1 bilhões,
concentrados, sobretudo, nos últimos
quatro anos (US$ 24,6 bilhões). Os
subsídios energéticos são
importantes devido ao peso que a energia tem
na estrutura de custos do setor, refletindo
a necessidade de operar altos-fornos. Juntos,
carvão e minério de ferro representam
entre 50% e 70% dos custos da indústria
chinesa de aço.

Esses subsídios explicam, em parte,
os custos mais baixos da produção
de aço da China. Em comparação
aos EUA e Europa, os custos da indústria
de aço chinesa são entre 20%
e 25% menores. Entretanto, parte dessa diferença
também se deve a distintos processos
de produção e à qualidade
inferior do aço produzido na China.
A evolução recente dos subsídios
energéticos à produção
de aço reflete os desdobramentos da
sua ratificação como setor estratégico
pelo governo chinês. Em julho de 2005,
a NDRC lançou a Política de
Desenvolvimento da Indústria Chinesa
de Ferro e Aço, com o objetivo de consolidar
e modernizar o setor. Esse mesmo objetivo
reapareceu no 11º Plano Quinquenal de
Desenvolvimento Econômico e Social.
A estratégia para atingir esses objetivos
passou, então, pela tentativa de reforçar
o controle do governo central sobre o setor,
proibindo aquisições estrangeiras
de grandes siderúrgicas e incentivando
a eliminação de plantas obsoletas,
a redução do consumo de matérias-primas,
a elevação da qualidade dos
produtos e a concentração do
mercado. Assim, as maiores empresas estatais
do setor, tais como Baosteel, Wugang e Angang,
receberam um firme e visível apoio
governamental para a expansão de suas
operações.
Entretanto, os governos das províncias
se opuseram a essas diretrizes do governo
central, liberando subsídios massivos
para proteger ou incentivar a expansão
de suas próprias siderúrgicas.
O fortalecimento das empresas de aço
possibilita não apenas a geração
de emprego e de receitas tributárias
aos governos locais, mas também permite
que aumente sua influência sobre as
decisões do governo central em relação
ao setor. As empresas, por sua vez, buscam
defender suas posições, evitando
que sejam compradas pelos concorrentes de
maior porte. Os subsídios recebidos
dos governos locais viabilizam, então,
a ampliação da produção
a um ritmo tal que não requeira a aprovação
do governo central. Ademais, como conclui
Xinhua News Agency (2010), os governos locais
relaxaram a supervisão de suas siderúrgicas,
reportando, sistematicamente, de forma defasada
a ampliação da capacidade das
empresas.
Dados da concentração da produção
de aço na China sugerem que o governo
central vem perdendo a queda de braços
com os governos locais. Os 15 maiores produtores,
que respondiam por 48% da produção
nacional de aço em 2004, tiveram sua
participação conjunta reduzida
para 43% em 2006. A despeito do esforço
do governo central, o setor continua, então,
fortemente fragmentado. Mesmo sendo o maior
produtor de aço do mundo, apenas uma
empresa da China (Shanghai Baosteel) pertencia,
em 2004, ao ranking das 10 maiores
empresas do setor e apenas duas produziram
mais de 10 milhões de toneladas no
ano (Shanghai Baosteel e Anshan 6).
Em termos geográficos, apesar de o
nordeste do país concentrar a maior
parte da produção, nenhuma província
representava, em 2005, mais de 18% da produção
anual de aço.
Esse cenário de divergência das
estratégias das diferentes instâncias
do governo chinês, que produziram a
forte expansão dos subsídios,
tem importantes implicações
para o setor. Em primeiro lugar, conservou-se
a fragmentação da indústria
chinesa de aço, o que sugere bloqueios
à geração de economias
de escala. Em segundo lugar, permanecem ativas
empresas obsoletas graças aos subsídios
concedidos pelos governos locais, dificultando
o aumento da eficiência do setor. E,
em terceiro lugar, o ambiente favorável
ao aumento da produção, devido
aos subsídios do governo central e
dos governos locais, gerou uma ampliação
da capacidade produtiva muito à frente
das necessidades internas do país.
O descompasso entre os ritmos de crescimento
da oferta e da demanda de aço na China
fizeram das exportações a saída
para a ocupação da capacidade
instalada do setor. Favorecidas pelos subsídios,
as empresas chinesas tornaram-se altamente
competitivas nos mercados internacionais,
apesar de seus níveis mais baixos de
eficiência e de economia de escala.
Poupadas da elevação do custo
de energia que prejudicava seus concorrentes,
as siderúrgicas chinesas foram capazes
de vender, em 2006, bobinas laminadas a quente
no mercado internacional por um preço
30% menor que as siderúrgicas americanas
e europeias e 16% menor que as empresas de
seus vizinhos asiáticos. O crescimento
das exportações já no
primeiro semestre de 2007 atingira 100% em
relação ao mesmo período
do ano anterior. Entre 2000 e 2007, as exportações
de aço chinês para os EUA aumentaram
610%, desacelerando-se em 2008, devido à
desvalorização do dólar,
e em 2009 e 2010, em função
da crise internacional. Em 2011, contudo,
voltou a crescer 83,3% em relação
a 2010, levando o déficit americano
nesse setor para o patamar de US$ 1,36 bilhão
(um aumento de 142% em comparação
com o ano 2000).
O Setor de Papel. A
produção da indústria
chinesa de papel e papelão tem crescido
sistematicamente desde 2000. Em 2008, a China
substituiu os EUA como o maior produtor mundial,
com uma produção de 83,7 milhões
de toneladas, chegando a 93,9 milhões
de toneladas no ano seguinte 7.
Em 2009, a participação chinesa
na produção mundial foi de 17%,
tornando o país um dos maiores exportadores
de papel e papelão do mundo. Em 2010,
o setor na China obteve a maior expansão
em comparação a seus concorrentes
estrangeiros. Esse desempenho foi obtivo a
despeito da fragmentação do
setor e da escassez de recursos florestais
da China.
Assim como no caso da siderurgia, a indústria
de papel também se encontra dispersa
geograficamente. Das 31 províncias
chinesas, 30 possuem produção
de papel e produtos derivados. Em 2007, as
4 maiores produtoras eram as províncias
de Shandong, Guangdong, Jiangsu e Zhejiang,
cujas participações chegavam,
respectivamente, a 21,3%, 15,8%, 12% e 11,4%.
Todas as demais províncias não
representavam individualmente mais do que
10% da produção nacional. Enquanto
as 15 maiores empresas de papel e papelão
do mundo controlam cerca de 1/3 da produção
total, na China, suas 10 maiores empresas
representam apenas 20% da produção
nacional do setor.
À exceção de poucas grandes
empresas, o setor de papel e papelão
da China é, então, caracterizado
por unidades relativamente pequenas, operando
com tecnologia obsoleta, economias de escala
e escopo pouco relevantes e baixa rentabilidade.
Ainda que esse quadro continue sendo a realidade
do setor, o governo central vem implementando
políticas para revertê-lo.
Em 2002, o governo central anunciou um plano
de oito anos para as indústrias de
papel e celulose e para a silvicultura. Foram
criadas, então, grandes corporações
com operações integradas nessas
três atividades. Além disso,
cinco grandes áreas para a produção
integrada de papel foram identificadas pelo
governo, que também incentivou o plantio
de florestas em áreas planas com pluviosidade
superior a 400 mililitros. O objetivo do governo
era claramente promover o surgimento de grandes
corporações com capacidade de
concorrer no cenário internacional
e de aproveitar economias de escala, de desenvolver
atividades de forma integrada, criando economias
de escopo, e reduzir a dependência do
setor de importações de matérias-primas,
por meio da expansão das áreas
florestais do país.
Em 2003, a 9ª Política do Conselho
de Estado reforçou as diretrizes anteriores,
estabelecendo um quadro legal para que empresas
privadas pudessem obter concessões
e subsídios para o plantio de florestas,
especialmente por meio de isenções
fiscais e empréstimos a taxas de juros
subsidiadas 8. Em 2006, a política
agrícola do 11º Plano Quinquenal
de Desenvolvimento Econômico e Social
enquadrou as atividades florestais, inclusive
o setor de papel, em um regime especial de
imposto durante o período de 2006 e
2010.
Simultaneamente, o governo chinês começou
a incentivar investimentos na indústria
de papel. Em 2005, o setor de papel e de produtos
derivados do papel foi incluído na
lista do Investment Guidance Catalogue for
Domestic Investors como um dos setores a serem
encorajados. O governo passou a incentivar,
inclusive, a internacionalização
do setor, com forte apoio à criação
de joint-ventures de empresas estrangeiras
com empresas nacionais do setor em projetos
direcionados à produção
de papel de alta qualidade e à ampliação
da produção nacional de celulose.
Em 2007, um grupo formado por ministérios
e comissões lançou a Main
Points of Forest Industry Policy, que
reunia um conjunto de medidas de apoio a uma
lista de empresas do setor que possuíam
florestas, tais como Yueyang Paper, Huatai
Stock e Chenming Paper. Os subsídios
criados nessa ocasião incluíam:
(1) isenção de imposto sobre
a renda de projetos florestais;
(2) aumentos dos empréstimos aos negócios
florestais a partir de bancos oficiais, como
o China Development Bank;
(3) expansão de 12 para 20 anos dos
empréstimos existentes para o financiamento
de unidades fabris de madeireiras e da expansão
de florestas cuja madeira pudesse ser usada
como matéria-prima industrial;
(4) transferir direitos de exploração
de florestas a empresas industriais;
(5) aumento dos subsídios de taxas
de juros para empréstimos ao setor
florestal e às empresas de papel integradas
verticalmente.
Também em 2007, a National Development
and Reform Commission (NDRC) promulgou a Industrial
Policy of China’s Papermaking Industry
para acelerar a transferência de produção
de papel da área norte para a área
sul do rio Yangtze e para aprofundar a integração
da cadeia floresta-celulose-papel. A medida
tratou ainda do uso de energia, proteção
ambiental e das condições de
entrada no mercado.
Em 2009, cinco agências governamentais,
a State Forestry Administration, a NDRC, o
Ministério das Finanças, o Ministério
do Comércio e a State Taxation Administration,
estabeleceram um plano para a revitalização
do setor florestal entre 2010 e 2012, subsidiando
mais de 100 empresas líderes do setor
e os 10 maiores clusters da indústria
madeireira. O objetivo era manter em torno
de 12% o crescimento anual da produção.
Os governos locais têm grande poder
na operacionalização de todas
essas diretrizes do governo central, inspecionando
e negociando o uso de áreas florestais
e os direitos de desmatamento. Ademais, são
os governos locais que determinam qual área
as empresas podem utilizar e a que preço
9.
Os governos locais tendem no caso do setor
de papel a reforçar as medidas do governo
central, concedendo terras sem nenhum custo
para o plantio de florestas, dando isenções
fiscais adicionais, bem como empréstimos
para financiar a instalação
de empresas em suas jurisdições.
Esses governos também têm solicitado
incentivos do governo central (especialmente
subsídios de taxas de juros) para suas
empresas locais.
Haley e Haley (2013) estimam que os subsídios
para a indústria de papel chinesa tenham
somado US$ 33,1 bilhões entre 2002
e 2009. Os subsídios mais expressivos
estão associados à aquisição
de celulose (66% em 2008), que tem um peso
importante na estrutura de custos do setor
(cerca de 31%). Como a maior parte desse insumo
é importada – representando 16%
dos custos do setor –, os preços
pagos são definidos no mercado internacional
e, por isso, o volume de subsídios
concedidos está associado à
flutuação desses preços.
Em anos de queda dos preços internacionais
desse insumo, como em 2009, os subsídios
dispendidos também tendem a cair. O
mesmo ocorre com o papel reciclado, cujo peso
na estrutura de custos é de 29%.

A existência desses subsídios
foi imprescindível para a competitividade
da indústria chinesa de papel, uma
vez que os preços internacionais de
seus principais insumos subiram expressivamente
entre 2000 e 2008: 150% no caso de papel reciclado
e 31% no caso da celulose. Em contraste, devido
à superprodução mundial
(pela qual a China é parcialmente responsável),
os preços dos produtos de papel caíram
no mesmo período. Apesar do prejuízo
de muitas empresas 10, a China
expandiu sua produção e foi
capaz de praticar preços mais baixos
que seus concorrentes americanos e europeus.

Como salientam Haley e Haley (2013), essa
estimativa dos subsídios para a indústria
de papel encontra-se bastante subestimada.
Além das razões já expostas
sobre a precariedade dos dados primários
e do incentivo à sua não divulgação,
as empresas do setor que são verticalmente
integradas conseguem ter acesso a insumos
por um custo muito baixo por meio de mecanismos
de transferência de preços. Mas
informações sobre essa prática
não são públicas. Ademais,
a aquisição de terra e o plantio
de florestas são pesadamente subsidiados
pelos governos locais, ampliando ainda mais
os subsídios à disposição
das grandes empresas do setor.
Informações sobre o uso de papel
reciclado também se restringem apenas
às grandes empresas. As atividades
de coleta de papel de pequenas e médias
empresas para reciclagem, por serem relativamente
custosas, devem receber subsídios importantes
especialmente de governos locais, mas não
existem dados a respeito. Informações
também são incompletas no que
diz respeito aos subsídios de taxas
de juros. Dos 43 projetos selecionados pela
NDRC para receberem esse tipo de subsídio
entre 2002 e 2010, apenas 13 tiveram reconhecidos
os subsídios concedidos, no valor de
US$ 2,1 bilhões. Entrevistas realizadas
por Haley e Haley (2013) com o Ministério
das Finanças da China apontaram que
o governo pode contribuir com cerca de 20%
do montante de um empréstimo para plantações
de florestas e renovação tecnológica
na forma de subsídios de crédito
e bancos oficiais podem prover 70% do capital
necessário para investimentos, empréstimos
estes que nem sempre são reembolsados.
Uma vez que a alavancagem média do
setor é superior a 60% dos ativos,
os subsídios de taxas de juros não
contabilizados podem ser expressivos.
Como consequência da concessão
massiva de subsídios e de financiamentos
sob condições especiais, testemunhou-se
a ampliação da capacidade instalada
e da produção da indústria
de papel chinesa. Assim como no caso das siderúrgicas,
o excesso de oferta em relação
à demanda doméstica tem levado
a um importante crescimento das exportações
do setor. A expansão da oferta mundial
tem contribuído para deprimir os preços
internacionais e, consequentemente, para exercer
pressão sobre a rentabilidade dos concorrentes
chineses. As importações americanas
de papel e produtos derivados de papel da
China têm crescido de maneira acelerada
(22% em 2010), fazendo do país um importador
líquido nesse setor. Por decorrência,
tem ocorrido uma redução do
setor nos EUA, com queda da produção,
do emprego, da receita e do número
de empresas.
O Setor de Autopeças. Em
janeiro de 2009, a China tornou-se o maior
mercado de automóveis do mundo em volume,
ultrapassando a então liderança
dos EUA. Em 2010, a participação
chinesa na produção de automóveis
foi cerca de 15% da produção
mundial, ocupando o segundo lugar no ranking
de maiores produtores de carros de passeio
(atrás do Japão) e no ranking
de veículos comerciais (atrás
dos EUA). A liderança chinesa depois
de 2008 é resultado não apenas
do aprofundamento da crise econômica
dos países desenvolvidos, que reduziu
suas vendas de automóveis, mas também
da política anticíclica chinesa.
Dois pacotes econômicos, lançados
em 2009, ajudaram o setor automobilístico
chinês a enfrentar a crise econômica
mundial. No mês de janeiro, o imposto
sobre a venda de veículos com motor
inferior a 1.6 foi reduzido pela metade, subsídios
foram concedidos para que os residentes das
zonas rurais trocassem seus automóveis
por modelos novos e o preço de varejo
dos combustíveis também apresentou
redução. O segundo pacote foi
lançado no mês de março
e previu a transferência de fundos para
atividades de pesquisa em fontes alternativas
de energia. O objetivo da medida era elevar
para 5% das vendas de carros de passeio os
modelos movidos a energias alternativas. O
pacote também previu incentivos para
que as instituições de financiamento
da compra de veículos reduzissem suas
taxas de juros e relaxassem seus parâmetros
de avaliação de crédito.
Além disso, o governo reiterou seu
desejo de consolidar as 14 maiores empresas
do setor em 10 grandes grupos.
Outros incentivos também foram concedidos
para elevar as exportações até
a fração de 20% da produção
nacional de automóveis, aumentar a
participação de marcas nacionais
de 34% (em 2008) para 40% do mercado e estimular
as atividades de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) do setor.
A evolução da indústria
automobilística é fundamental
para dinamizar o setor de autopeças.
Entre 2004 e 2008, a produção
chinesa de autopeças cresceu mais de
150%, atingindo um recorde de vendas de US$
136,5 bilhões. O número de empresas
do setor saltou de 4.205, em 2002, para 10.331,
em 2008. Estima-se, contudo, que existam ainda
mais 15 mil empresas de componentes automotivos
não registradas, muitas delas integrando
grupos empresariais mais diversificados ou
pequenas produtoras de peças para reposição.

Apesar do acelerado crescimento da indústria
automobilística chinesa na última
década, o setor de autopeças
continua relativamente pequeno. Em termos
de valor, a indústria de autopeças
chinesas representa apenas 1/5 da americana
e 1/12 do setor mundial. Essa diferença
sugere o papel secundário do setor
na cadeia produtiva da indústria automobilística
na China.
De fato, o modelo de negócios da maior
parte das grandes montadoras mundiais que
se estabeleceram na China previa a manutenção
de laços estreitos com os fornecedores
de autopeças de seus países
de origem, especialmente no que diz respeito
aos componentes mais sofisticados. Não
por acaso, são as joint-ventures
com montadoras estrangeiras que respondem
pela maior parte das importações
de autopeças da China (64%). Do total
das importações, 1/3 vem do
Japão e 1/4 vem da Alemanha –
refletindo as estratégias da Volkswagen,
BMW e Mercedes-Benz.
A exceção fica por conta das
montadoras americanas, que pressionaram seus
fornecedores a também transferirem
suas operações para a China.
Ademais, as montadoras americanas têm
trabalhado conjuntamente com empresas de autopeças
chinesas para capacitá-las a produzir
os componentes de que precisam, reduzindo
sua dependência de fornecedores americanos.
Em 2006, a Ford anunciou que dobraria suas
compras de autopeças de fornecedores
chineses como medida de redução
de seus custos. Em 2008, a General Motors,
que já usava uma rede de 190 fornecedores
de autopeças chineses, declarou sua
intenção de ampliá-la
e de elevar o nível de sofisticação
das peças compradas da China, inserindo
o produto chinês em sua cadeia global
de montagem de automóveis.
Assim, enquanto o saldo comercial do setor
de autopeças chinês é
negativo com a maioria dos países (Japão,
Coreia do Sul, Alemanha, França e Canadá),
ele é fortemente positivo com os EUA,
cujo valor em 2010 foi nove vezes superior
ao de 2000. Em 2008, a China tornou-se o quarto
maior exportador de autopeças para
os EUA, ultrapassando a Alemanha e ficando
atrás apenas do Canadá, México
e Japão.
As empresas americanas constituem, então,
um parceiro importante do governo chinês,
que tem procurado reestruturar o setor de
autopeças, de maneira a aumentar sua
capacidade de produzir itens tecnologicamente
mais avançados, elevar a parcela do
conteúdo nacional 11 nos
veículos montados na China, e inserir
a indústria de autopeças chinesa
na cadeia internacional de produção
de automóveis, expandindo as exportações
do setor.
Desde 1986, a indústria automobilística
é considerada pelo governo chinês
como um setor estratégico para o desenvolvimento
econômico do país. A atração
de montadoras estrangeiras e a constituição
de joint-ventures, depois de 1987,
tinham o objetivo de promover a assimilação
de tecnologia e não a simples atração
de capitais. Essas parcerias permitiram a
reestruturação e modernização
das empresas estatais do setor, que tinham
sido criadas nos anos 1950, com o auxílio
da União Soviética. Para evitar
a concorrência com o produto estrangeiro
no setor de autopeças, o governo estabeleceu
licenças compulsórias para a
importação de peças e
incentivou o investimento na produção
nacional. O Plano Quinquenal de 1991 ratificou
o setor automobilístico como pilar
estratégico. Em 1994, a State Planning
Commission elaborou uma política
industrial formalizando os objetivos do Estado
para a indústria de automóveis,
inspirada nas experiências da Coreia
e do Japão. Desde então, 24
províncias também elegeram o
setor automobilístico como setor estratégico.
As maiores empresas do setor de automóveis
na China são, consequentemente, estatais
que estabeleceram parcerias com montadoras
estrangeiras e nas quais muitos governos locais
têm participação relevante.
As joint-ventures controlam 73% do
mercado de veículos de passeio. A Shanghai
Automotive Industry Corporation (SAIC), que
estabeleceu parcerias com a General Motores
e a Volkswagen, recebe influência importante
do governo de Shanghai. A First Auto Works
(FAW), por sua vez, criou joint-ventures
com a Volkswagen e Toyota, e a Dongfeng, com
Citroën e Nissan. Essas três empresas
também aparecem como as maiores produtoras
de autopeças do país. O setor
de autopeças é, entretanto,
menos concentrado que a montagem de veículos.
As empresas estrangeiras, por meio de grandes
joint-ventures, respondiam, em 2009,
por 46% da receita do setor, enquanto a participação
das empresas privadas nacionais, geralmente
pequenas e familiares, chegava a 28%.

A Auto Industry Development Policy
(AIP) é elaborada pela NDRC e anexada
aos Planos Quinquenais de Desenvolvimento
da China, estabelecendo as diretrizes para
o desenvolvimento do setor de autopeças.
Em 2004, a AIP incentivou as empresas locais
a desenvolver suas atividades de P&D para
produzir veículos independentemente
e elevar as exportações do setor
de US$ 35 bilhões para US$ 40 bilhões
até 2010 – o que representaria
entre 40% e 50% da produção.
A política também buscou estimular
a formação de clusters,
onde empresas nacionais pudessem estabelecer
suas próprias marcas e alavancar sua
participação no mercado internacional,
incorporando tecnologia a seus produtos. A
meta de aumentar a participação
de exportações mais intensivas
em tecnologia do setor para 60% do total não
foi, contudo, totalmente cumprida.
As contrapartidas exigidas dos investidores
estrangeiros para entrar no mercado chinês
também estão formalizadas no
AIP de 2004. Foi estabelecido que projetos
de investimento estrangeiros no setor automobilístico
devem prever a criação de infraestrutura
de P&D de no mínimo 500 milhões
de yuan. A construção de novas
unidades produtivas também deve ser
acompanhada da assinatura de um acordo de
transferência de tecnologia. Em 2004,
duas leis restringiram as participações
do capital estrangeiro a 2 joint-ventures
e, no máximo, em 50% do capital de
cada uma delas. Em 2006, o 11° Plano Quinquenal
retirou essas restrições para
o setor de autopeças, com o objetivo
de permitir maior envolvimento das empresas
estrangeiras em P&D. Em 2010, diferentemente
das montadoras, as empresas de autopeças
podem ser 100% propriedade de estrangeiros
e iniciar produção sem aprovação
prévia do governo.
Em contraste com a política do governo
central para o setor automobilístico,
que segue diretrizes relativamente predefinidas,
as intervenções dos governos
locais costumam ser intempestivas. Em 1999,
por exemplo, 13 cidades baniram os veículos
movidos a diesel, quase sem nenhum aviso prévio
ou período de tolerância para
a decisão entrar em vigor. Para favorecer
suas empresas, os governos locais definem
as características que os veículos
devem apresentar para compor a frota oficial
de maneira a corresponder ao perfil dos automóveis
produzidos por elas.
Os governos dos municípios e das províncias
também recorrem a estratégias
de coordenação dos investimentos
por meio da criação de clusters.
A aproximação dos diferentes
elos das cadeias industriais permite que cada
uma das empresas possam compartilhar determinados
insumos, um conjunto de trabalhadores qualificados,
canais de comunicação e distribuição
e redes de contato.
Essas medidas das diferentes instâncias
do governo chinês a favor do avanço
tecnológico da indústria automobilística,
em geral, e do setor de autopeças,
em específico, com o objetivo de inseri-lo
na rede internacional de fornecedores das
grandes montadoras de veículos, foram
acompanhadas do aumento dos subsídios
ao longo dos anos 2000. A partir de 2008,
a esses subsídios somaram-se outros
decorrentes das ações anticíclicas
e de incentivos adicionais à P&D,
levando a um aumento anual de 125% dos subsídios
disponíveis à indústria
de autopeças em 2009 12.

Segundo Haley e Haley (2013), a volume de
subsídios concedidos entre 2001 e 2010
à indústria de autopeças
chegou US$ 27,5 bilhões. A estimativa
leva em conta os subsídios diretamente
recebido pelas empresas do setor e alguns
dos subsídios indiretos, por meio dos
principais insumos, tais como carvão
(térmico e de coque), gás natural,
eletricidade, vidro e aço laminado
a frio, além dos recursos transferidos
a título de suporte à P&D
e à reestruturação do
setor.

A expressividade dessa transferência
de recursos ajuda a explicar como as empresas
de autopeças chinesas conseguem ofertar
a preços de 30% a 50% mais baixos do
que seus concorrentes europeus, americanos
e japoneses, a despeito da pressão
de custos sentida nos anos 2000.
O Setor de Vidro.
Entre 1987 e 2007, a produção
total de vidro da China cresceu, em média,
18% ao ano. A receita total do setor em 2007
foi 213,6% superior à verificada em
2003. No segmento de vidro plano o salto foi
de 125% na comparação do mesmo
período. Em 2009, a China era o maior
produtor de vidro e de artigos de vidro do
mundo, tinha o maior número de empresas,
a maior produção de vidro float
e consistia no maior exportador mundial
de vidro plano e fibra de vidro. O segmento
de vidro plano constitui o núcleo do
setor no país, cuja produção
pode ter chegado a 30 milhões de toneladas
em 2007. A maior parte dela é absorvida
pela indústria de construção
civil, seguida pela indústria automobilística.
Ao lado do crescimento econômico chinês
e da introdução da tecnologia
do vidro float, a política
de subsídio do governo também
contribuiu para a obtenção desse
desempenho.

No setor do vidro, o envolvimento direto do
Estado na produção é
relativamente pequeno. Tanto as receitas como
os lucros estão fortemente concentrados
em empresas privadas nacionais ou de capital
estrangeiro. As empresas privadas respondem
por 38,8% das vendas e 39,4% do lucro do setor,
enquanto as empresas estrangeiras são
responsáveis por 28,8% das vendas e
por 33,4% do lucro.
Assim como no caso das siderúrgicas
e da indústria de papel, o setor do
vidro também é fragmentado.
Praticamente em todas as províncias
Chinesas encontra-se produção
de vidro, especialmente nas regiões
norte, leste e centro-sul do país.
A província de Jiangsu concentra a
maior parte da receita bruta do segmento de
vidros planos, com 15,3% do total. Em 2007,
as 10 maiores empresas respondiam por apenas
7,92% das receitas das vendas e 13,97% dos
lucros do setor. As pequenas e médias
empresas são não apenas a maioria
das empresas, como também as que mais
crescem. Os dados agregados do setor escondem,
contudo, elevada concentração
em alguns segmentos, como, por exemplo, na
produção de vidro para a indústria
automobilística em que apenas três
empresas representam 80% do mercado.
Entre 2004 e o terceiro trimestre de 2008,
Haley e Haley (2013) estimam que o segmento
de vidro plano tenha recebido subsídios
de US$ 4,8 bilhões. A importância
dos subsídios cresceu depois de 2006,
diante da escalada dos preços do petróleo
e do carvão que, juntos, representam
mais de 50% dos custos do setor. Ademais,
em 2006, também foi concedido subsídio
à aquisição de carbonato
de sódio (25% dos custos) no valor
de US$ 44,2 milhões. O valor da soma
dos subsídios está, contudo,
subestimado, uma vez que são considerados
apenas aqueles subsídios capazes de
serem rastreados e confirmados (petróleo,
carvão, eletricidade e carbonato de
sódio).

Essa tendência de aumento dos subsídios
ajuda a explicar porque tantas pequenas empresas
do setor continuaram lucrativas mesmo diante
de um cenário de reajustes insignificantes
do preço do vidro plano e de encarecimento
de vários insumos. Como proporção
da receita bruta do segmento, os subsídios
estimados por Haley e Haley (2013) saem de
7%, em 2004, para 34%, em 2008.
O segmento de vidro plano pode se tomado como
uma proxi do setor de vidro e artigos
de vidro como um todo. Além de sua
participação manter-se em torno
de 20% do setor, sua estrutura de mercado
e de custos é semelhante à do
conjunto do setor. Assumindo, então,
que os insumos à produção
total de vidro e artigos de vidro tenham recebido
subsídios em proporção
similar àquela encontrada para o segmento
de vidro plano, os subsídios ao setor
chegaram a pelo menos US$ 30,3 bilhões
entre 2004 e o terceiro trimestre de 2008.
Conclusão. O
conjunto de subsídios identificados
e estimados por Haley e Haley (2013) tem consistido
em uma peça fundamental da estratégia
chinesa para transformar a estrutura produtiva
nacional, coordenando o processo de migração
de uma indústria trabalho-intensiva
para uma indústria capital-intensiva.
Assim, mais do que suas vantagens comparativas
em relação ao custo do trabalho,
o elemento estratégico tem sido a disponibilidade
de capital de baixo custo para a ampliação
da capacidade produtiva e o avanço
tecnológico.
Os efeitos desse processo já podem
ser sentidos, por exemplo, na composição
das exportações chinesas. Em
2000, 37% dos produtos exportados eram intensivos
em trabalho; em 2010, a participação
desses produtos caiu para 14%. Entre 2004
e 2011, as exportações intensivas
em tecnologia da China para os EUA cresceram
16,5% ao ano, acima dessas exportações
dos EUA para a China (11% a.a.).
Usando informações de mais de
140 mil empresas, entre 1999 e 2005, Girma
et al. (2007 e 2009) encontraram
evidências de que o desempenho das empresas
exportadoras da China é favorecido
pela política de subsídios do
governo, especialmente quando já obtêm
alguma rentabilidade, pertencem a setores
intensivos em capital e não estão
localizadas na região costeira do país
(tradicional zona industrial). Esse resultado
ilustra a importância de uma política
estratégica de comércio exterior,
cujos efeitos podem ser mais benéficos
do que a simples liberalização
ou o total fechamento da economia de um país
ao comércio internacional, como sugerem
Yoffie e Milner (1989).
Yoffie e Milner (1989) argumentam que uma
política estratégica de comércio
exterior pode explorar três imperfeições
dos mercados de bens comercializáveis:
elevadas economias de escala, curvas íngremes
de aprendizagem, que concedem vantagens às
empresas pioneiras do setor, e requisitos
consideráveis de P&D para levantar
barreiras à entrada. Na presença
dessas falhas de mercado, o acesso das empresas
de um país a mercados estrangeiros
e o comportamento dos governos e das empresas
estrangeiras podem afetar diretamente o nível
dos lucros domésticos. Como Haley e
Haley (2013) mostram, os subsídios
concedidos pelo governo chinês agem
sobre essas três falhas.
A importância dos subsídios chineses
vai muito além dos valores estimados
por Haley e Haley (2013) e se estendem a muitos
outros setores, além do aço,
papel, autopeças e vidro. Os subsídios
concedidos à geração
de energia, por exemplo, têm uma elevada
capacidade de se difundir para o conjunto
da economia. Os subsídios dos governos
central, das províncias e dos municípios
têm como consequência inibir a
consolidação dos setores industriais,
a eliminação de unidades produtivas
obsoletas e, consequentemente, reduzir o excesso
de capacidade instalada, que normalmente resultaria
do esforço das empresas chinesas para
reduzir custos e elevar sua competitividade
no mercado internacional. Mesmo quando o governo
central decide restringir seus subsídios
e incentivar a racionalização
da estrutura produtiva de um setor, o processo
político intragovernamental leva os
governos das províncias e dos municípios
a atuar em direção oposta, compensando
os cortes realizados.
Ademais, a filiação da China
à OMC, em 2001, e seu comprometimento
em adequar-se às regras da organização
não significaram a abertura do mercado
chinês. O comércio e o investimento
em diversos setores continuam fortemente regulados
pelo governo, permitindo restrito acesso a
empresas estrangeiras. Em 2006, o Conselho
de Estado da China e a State-owned Assets
Supervision and Administration Commission
(SASAC) anunciaram conjuntamente o Guiding
Opinion on Promoting the Adjustment of State-Owned
Capital and the Reorganization of State-Owned
Enterprises, identificando sete indústrias
estratégicas sobre as quais o governo
deveria exercer absoluto controle: armamentos,
geração e distribuição
de energia, petróleo e petroquímica,
telecomunicações, carvão,
aviação civil e marinha mercante.
Todos esses setores estão fechados
às empresas estrangeiras. Ademais,
foram identificados outros cinco setores onde
o governo deveria manter participação
importante: automóveis, máquinas,
tecnologia da informação, construção,
ferro, aço e metais não ferrosos.
Esses setores estão sujeitos a restrita
regulamentação e a participação
estrangeira é limitada.
Um ambiente de liberalização
do comércio internacional, impulsionada
pela Rodada de Doha, conjugado com políticas
restritivas ao acesso do seu mercado interno
gerou vantagens importantes às empresas
chinesas, que conseguiram atingir níveis
mais eficientes de escala de produção,
por meio de vendas no mercado doméstico
e no mercado internacional, comprimindo as
participações de mercado das
empresas estrangeiras. O impulso adicional
vem justamente da concessão de subsídios
com o objetivo de auxiliar as empresas chinesas
a conquistar mercados externos. Uma vez sendo
ultrapassadas, as empresas estrangeiras teriam
dificuldade de conservar sua rentabilidade.
Por essa razão, o desenvolvimento de
uma estratégia de comércio exterior
por essas empresas deveria ser sua prioridade
13.
Como consequência, a China tem atingido
elevada penetração nos mercados
mais protegidos de seus parceiros comerciais.
No caso do Japão, a China representa
70% das importações de seus
setores mais protegidos. Essa participação
é em torno de 50% para os EUA, Canadá
e União Europeia, enquanto que nos
casos da Coreia e do Brasil chega a 60% e
55%, respectivamente.
Diante dessa situação, avolumam-se
ações contra a China na OMC.
Em março de 2012, o vice-ministro do
Comércio Exterior da China, Zhong Shan,
afirmou que nenhum país esteve mais
envolvido em conflitos comerciais nos últimos
17 anos do que a China. Entre 2008 e 2012,
600 queixas foram registradas na OMC contra
a China. Os países em desenvolvimento
encabeçam a lista de reclamantes. No
caso de ações de antidumping
contra a China, os países em desenvolvimento
respondiam por 19% em 2002, passando para
34% em 2009 (Mattoo e Subramanian, 2011).
Segundo Haley e Haley (2013), o desempenho
das exportações chinesas não
está baseado no baixo custo do trabalho
e na política cambial do país.
Os salários na China podem continuar
crescendo, como vem acontecendo nos últimos
anos, sem pôr em risco a expansão
dos produtos chineses nos mercados internacionais.
A manutenção de uma taxa de
câmbio desvalorizada, apesar de importante,
não é o único fator condicionante
das exportações chinesas, de
tal forma que a pressão dos seus parceiros
comerciais pode levar a uma valorização
marginal da moeda chinesa sem ocasionar o
encarecimento de suas exportações.
Os baixos custos das empresas chinesas decorrem
de extensivos e sistemáticos subsídios
governamentais, contribuindo substancialmente
para sua competitividade nos mercados globais.
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Notas
1 - Ademais, Huang (2008) também chama
atenção para o fato de que,
apesar das elevadas taxas de crescimento do
PIB tanto nos anos 1980 como nos anos 1990,
a participação dos salários
foi reduzida nessa ultima década, bem
como a produtividade total dos fatores. Indicadores
sociais também pioraram a partir da
década de 1990, como a desaceleração
da redução da pobreza, elevação
do numero de analfabetos (entre 2000 e 2005)
e o aumento da concentração
de renda (o índice de Gini saltou de
0,28 para 0,4 entre meados dos anos 1980 e
meados dos anos 2000).
2 - Liu (2001) calculou subsídios às
empresas estatais da ordem de 6,5% do PIB
em 1992, de 5,3% em 1993 e de 4,9%, em média,
entre 1990 e 1994. Brandt e Zhu (2000) chegaram,
a seu turno, a um valor de mais de 3% em 1993
para os mesmos subsídios. Ambas as
estimativas, entretanto, excluem os empréstimos
bancários a taxas de juros subsidiadas,
uma das formas mais importantes de subsídio
na China.
3 - E importante notar que as províncias
do leste concentram 75% da geração
de eletricidade da China e representam, então,
as maiores consumidoras de carvão térmico.
Contudo, mais de 70% das minas de carvão
estão localizadas em três províncias
do noroeste do país, Shanxi, Shaanxi
e Mongólia Interior, o que faz com
que os custos de transporte sejam expressivos.
Por essa razão e pela menor qualidade
do carvão chinês, a importação
de carvão térmico tem aumentado
expressivamente, representando em 2010 mais
de 20% do comércio mundial.
4 - Os consumidores comerciais pagam tarifas
ainda mais elevadas; em média, cerca
de 81% maior do que as tarifas residenciais,
em 2007 (China Electric Power Yearbook 2008).
5 - A indústria chinesa de aço
consome de 20% a 40% mais energia por tonelada
de aço produzido do que suas concorrentes
na OCDE. Essa mais eficiência energética
é compensada pelos subsídios
concedidos sobretudo pelos governos locais.
6 - Atual Anben.
7 - A produção chinesa
esta concentrada em segmentos menos sofisticados
do setor de papel. Em 2008, 56% da produção
e 56% das empresas pertenciam ao segmento
de papelão e machine-made paper.
Papel e recipientes de papel respondiam por
25% da produção e 39% das empresas,
enquanto a produção de papel
convertido e de papéis artesanais chegava,
respectivamente, a apenas 3% e 2% do total
da produção e empregavam 5%
e 1% das empresas. Os restantes 13% da produção
respondiam por outros tipos de papéis,
sendo produzidos por 19% das empresas.
8 - O Estado chinês é proprietário
de 40% das florestas naturais, sendo que 58%
delas pertencem a coletividades, que são
formas indiretas de posse do Estado. O setor
privado tem o controle de apenas 2% das florestas.
9 - As empresas arrendam terrenos para
o plantio de florestas por meio de contratos
de, em média, 40 anos. O Conselho de
Estado, por meio da State Forestry Administration,
estabelece quotas de desmatamento para um
período de 5 anos, mas são os
governos locais que as distribuem entre as
empresas. A SFA busca conceder quotas sempre
em volume menor do que a expansão das
florestas, mas os governos locais podem conceder
quotas especiais em certos casos.
10 - Em 2007, 7,6% das empresas chinesas
do setor tiveram prejuízos. Em 2008,
essa proporção subiu para 18,1%.
11 - Desde a entrada da China na OMC,
o governo chinês tem declarado que vem
tentando assiduamente remover de suas leis
todos os requerimentos de conteúdo
nacional proibidos pela OMC. Assim, oficialmente
a China não possui tais exigências
em nenhum setor. A prática no setor
de autopeças parece, contudo, divergir
da versão oficial. Até 2009,
veículos montados internamente, mas
cuja participação de peças
importadas ultrapassasse determinado teto
eram tarifados como se fossem importados.
O mesmo ocorria com certas combinações
entre peças nacionais e importadas.
A tarifa de importação de veículos
era de 25%, contra 10% para a importação
de autopeças. Por isso, EUA, Canadá
e União Europeia recorreram à
OMC contra essa prática chinesa, em
2006. Diante da recusa à sua apelação,
a China eliminou essa cobrança adicional
de impostos. Em 2012, Pequim removeu todas
as barreiras tarifárias do setor, mas
barreiras não tarifárias continuam
existindo. Exigências de conteúdo
nacional ainda ocorrem, ao menos informalmente.
Os critérios de aprovação
de investimentos estrangeiros no setor pelos
governos das províncias e de concessão
de financiamentos por bancos oficiais incluem
exigências de conteúdo nacional
ou regional, ainda que não sejam reconhecidas.
12 - Parte dos subsídios à
reestruturação e P&D ao
setor de autopeças foi concedido em
2009, levando os subsídios contabilizados
nesse ano ao patamar de US$ 5,4 bilhões,
frente aos US$ 2,4 bilhões de 2008.
13 - As empresas estrangeiras tem maior
probabilidade de se protegerem do avanço
de suas concorrentes chinesas em função
da intensidade e rapidez de suas reações,
o que, por sua vez, está condicionado
ao grau de integração das empresas
do mesmo setor. O caso das empresas produtoras
de painéis solares dos EUA é
ilustrativo. Enquanto a Coalition of Solar
Manufactures (CASM) – que reúne
empresas produtoras de painéis –
defende a adoção de uma política
estratégica de comércio exterior,
levando ações antidumping
contra a China na OMC, a Coalition for Affordable
Solar Energy (CASE) – que reúne
instaladores, importadores americanos e exportadores
chineses – defende o livre mercado de
painéis solares.
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