Introdução. Esta
Carta IEDI analisa a situação
atual de vulnerabilidade externa da economia
brasileira, um dos fundamentos macroeconômicos
considerado pelas agências de rating
na classificação de risco de
crédito soberano. Na conjuntura atual,
avaliar essa situação é
importante não somente em função
do rebaixamento da nota do Brasil pela S&P
para a categoria “grau especulativo”
no início de setembro, mas também
devido ao contexto internacional vigente,
caracterizado por três fatores inter-relacionados
que afetam negativamente as condições
de financiamento externo do país. Em
ordem cronológica (e não de
importância), o primeiro fator é
a queda dos preços das commodities,
que se acentuou no corrente ano devido à
sua interação com o segundo
fator, qual seja, com o segundo fator, qual
seja, a desaceleração da economia
chinesa e as incertezas sobre eficácia
das medidas anticíclicas em resposta
ao estouro da bolha acionária. O terceiro
fator refere-se à perspectiva de início
de uma nova fase de alta da taxa de juros
básica nos Estados Unidos a partir
do seu piso histórico (0,25%) nos próximos
meses. Na reunião de setembro, o banco
central estadunidense (Federal Reserve
– Fed) optou por adiá-lo exatamente
em função dessas incertezas
e dos seus impactos potenciais sobre as demais
economias emergentes.
Para avaliar a vulnerabilidade externa da
economia brasileira no contexto atual, examina-se
a evolução dos estoques, isto
é, do passivo externo líquido
(PEL) e dos seus componentes a partir de 2010,
quando se inicia o primeiro governo da presidente
Dilma Roussef, até julho de 2015, último
dado disponível. Em seguida, analisa-se
um conjunto de indicadores que são
influenciados por essa evolução
e sintetizam a situação de vulnerabilidade
no curto (liquidez externa) e médio
e longo prazos (solvência externa).
A Evolução do Passivo Externo.
O passivo externo líquido (PEL) é
o resultado da diferença entre o passivo
externo bruto (PEB) e o ativo externo bruto
(AEB). Esses três termos tradicionais
na literatura econômica são sinônimos,
respectivamente, dos conceitos “Posição
internacional de investimento”, “Posição
internacional de investimento – Passivo”
e “Posição internacional
de investimento – Ativo”, utilizados
na metodologia atual do Balanço de
Pagamentos, que a partir de abril de 2015
passou a seguir a sexta edição
do Manual de Balanço de Pagamentos
e Posição Internacional de Investimento
(BPM6) do Fundo Monetário Internacional
(FMI). As estatísticas da Posição
internacional de investimento – Ativo”
e “Posição internacional
de investimento – Passivo” também
sofreram alterações e estão
consolidadas nos Quadros 31 e 31A da Nota
para Imprensa do Setor Externo (respectivos
Quadros 60 e 60A da metodologia anterior).
Com base nesses dois quadros, calculou-se
o PEL total e seus componentes. Como são
dados de estoque, as informações
referem-se à posição
de final de período: dezembro de cada
ano entre 2009 e 2014 e julho no caso de 2015.

No caso da economia brasileira, que tem PEL
positivo, a posição internacional
de investimento é negativa. Sua dimensão
depende não somente do desempenho dos
fluxos ao longo dos anos (acúmulo dos
déficits em conta corrente), mas também
pelas variações dos preços
dos ativos (por exemplo, valorização
das ações que compõem
o portfólio dos investidores não-residentes)
e da taxa de câmbio, que afeta o valor
em US$ dos estoques de IDE e do investimento
estrangeiro de portfólio no país.
Ou seja, variações cambiais
e nos preços dos ativos, que foram
recorrentes no período analisado –
em função, em grande medida,
das fases do novo ciclo de fluxos de capitais
para as economias emergentes que emergiu após
a crise financeira global – também
afetaram a evoluçao do PEL.
Além do tamanho desse passivo, sua
composição também é
relevante por duas razões principais.
A primeira, importante para a situação
de liquidez externa, refere-se aos diferentes
graus de volatilidade de cada mobilidade do
PEB, quais sejam: Investimento Direto Estrangeiro
(IDE); Investimento de Portfólio Estrangeiro
(IPE); e Outros Investimentos Estrangeiros
(OIE). A segunda, que afeta a situação
de solvência externa, diz respeito à
taxa de remuneração (ou serviço
financeiro) de cada modalidade do PEL (ou
seja, remessas líquidas de juros, lucros
e dividendos e amortizações
da dívida), que também é
bastante heterogênea.
No período dez/09-jul/15 (ou seja,
nos 5,5 anos de governo Dilma), o PEB cresceu
31,4% (de US$ 1.080 bilhões para US$
1.419 bilhões), em função
do aumento de 111% do estoque de OIE (sobretudo,
dívida externa bancária) e de
69,9% do IDE. Já o estoque de IPE recuou
18,5% (de US$ 561,8 bilhões em dez/09
para US$ 457,7 bilhões em jul/15) devido,
exclusivamente, à depreciação
do real e à queda dos preços
das ações brasileiras detidas
por não-residentes, já que no
acumulado do período houve ingresso
líquido nessa modalidade de capital
estrangeiro. Já na comparação
entre dez/09 e dez/13 (10 governo Dilma),
o crescimento do PEB foi maior, de 39,5%.
Isso porque entre dez/14 e jul/15 o PEB recuou
8,9% em função da queda do IDE
(-9,8%) e do IPE (-13%) como reflexo, sobretudo,
dos efeitos patrimoniais mencionados acima,
ou seja, da alta da taxa de câmbio no
período (que reduz o valor em dólares
do estoque de investimentos diretos e de portfólio
denominados em reais) somada à deflação
dos cotações no bolsa de valores
no caso dos IPE.

Assim, a composição atual do
PEB, com a maior importância dos investimentos
estrangeiros diretos e portfólio relativmente
à dívida externa (denominada
em dólar), além de reduzir o
problema do chamado descasamento de moedas
(currency mismacht), faz com que
movimentos de depreciação cambial
tenham um impacto positivo na sua evolução
(ou seja, de queda) e, assim, nos indicadores
de vulnerabilidade externa, analisados na
próxima seção.

Outro dado que chama atenção
é o aumento da participação
do IDE no período em tela, a modalidade
menos volátil de capital externo. Esse
resultado explica-se tanto pelos fatores de
atração – investimentos
“resourse seeking” nos
setores produtores de commodities, com preços
em alta até 2011, e investimentos “market
seeking” nos setores de comércio
e serviços beneficiados pelo crescimento
da massa de rendimentos até 2013 –,
como por fatores que evitaram uma expansão
mais expressiva dos ingresso de IPE: os mecanismos
de gestão dos fluxos de capitais vigentes
entre outubro de 2009 e maio de 2013 e a turbulência
nos mercados financeiros internacionais que
têm marcado o contexto pós-crise
financeira global.
Esses mecanismos também contribuíram
para a redução do passivo externo
de curto prazo PECP (que pode ser regatado
num curto período), que inclui a dívida
externa de curto prazo (que recuou entre dez/10
e dez/13, mas voltou a crescer a partir de
2014) e o estoque de IPE no país. Esse
estoque, atualmente o principal componente
do PECP, registrou queda de 37% entre dez/10
e jul/15 (passando de US$ 560,5 bilhões
em dez/2010, valor recorde no período,
para US$ 354,7 bilhões, uma retração
de 37%) em função dos dois efeitos
patrimoniais já mencionados: depreciação
cambial e quedo do preço das ações.
Esse passivo, que somou US$ 410,6 bilhões
em jul/15 (valor inferior inclusive ao observado
dez/09, quando o boom de fluxos de
capitais do pós-crise estava se iniciando),
é uma das variáveis fundamentais
para a análise da situação
de liquidez externa realizada a seguir, já
que equivale aos recursos que podem sair rapidamente
do país (interrupção
da rolagem dos empréstimos externos
e/ou resgate pelos não-residentes das
aplicações financeiras no país).

Já a solvência externa reflete
a vulnerabilidade externa no médio
e longo prazos e depende da trajetória
do PEL e do seu serviço financeiro
(a taxa de remuneração do PEL).
Para não entrar numa trajetória
insustentável de acumulação
de passivos externos em termos líquidos,
a economia brasileira precisa gerar divisas
– assim como no caso dos demais países
em desenvolvimento, mediante exportações,
sua fonte de geração autônoma
de divisas – num montante suficiente
para honrar o pagamento desse serviço.
Assim, um país que incorreu sucessivamente
em déficits em transações
corrente e acumulou PEL pode ser solvente
(se a condição acima for cumprida)
e, ao mesmo tempo, enfrentar uma situação
de iliquidez externa (insuficiência
de divisas no curto prazo para fazer frente
aos compromissos em moeda estrangeira), que
culmina numa crise cambial.

O PEL da economia brasileira atingiu US$ 782
bilhões em jul/15, cifra 63,3% maior
que a registrada em dez/09 (US$ 479 bilhões).
Esse crescimento foi resultado do avanço
de 54,4% do investimento direto (ID) e de
211,9% dos outros investimentos (OI). Já
o investimento de portfólio (IP) recuou
21% devido, sobretudo, à redução
do IPE entre dez/14 e jul/15 e, em menor medida,
ao aumento em 64,7% no acumulado do período
(dez/09 a jul/15) dos investimentos de portfólio
brasileiros (IPB), um dos componentes do AEB.
Os demais componentes desse ativo também
aumentaram nesse período, com destaque
para o Iinvestimento Direto Brasileiro (IDB)
e as reservas internacionais (92,3% e 54,4%,
respectivamente). A internacionalização
dos capitais produtivos brasileiros, cujo
estoque no exterior atingiu US$ 300,7 bilhões
em jul/15 contribui para a melhora da situação
de solvência externa pois resulta no
recebimento de lucros e dividendos por residentes
no Brasil e, com isso, reduz a taxa de remuneração
líquida do PEL (questão retomada
na próxima seção). Já
a estratégia defensiva de acúmulo
de reservas contribui tanto para a solvência
como para a situação de liquidez
externa, na medida em que constituem o estoque
de moeda estrangeira que pode ser imediatamente
utilizado frente a um aumento súbito
da saída de recursos externos. Vale
mencionar que essa estratégia foi mais
intensa no biênio 2010-2011, perdendo
ritmo a partir de então em função
do aumento do seu custo de oportunidade, qual
seja: o gasto com juros decorrente das operações
de esterilização do impacto
monetário das intervenções
do BCB no mercado de câmbio à
vista (equivalente à diferença
entre a taxa paga nessas operações
e a taxa de remuneração das
reservas no mercado externo).

Para completar a análise da situação
atual de liquidez e solvência externa
da economia brasileira, a próxima seção
apresenta um conjunto de indicadores de vulnerabilidade
externa, bem mais abrangente que o utilizado
nas análises recentes sobre o tema.
Estas têm priorizado indicadores relacionados
à dívida externa – que
é comparada às reservas ou ao
PIB (para mensurar, respectivamente, a liquidez
e a solvência externas) –, os
quais, na perspectiva aqui adotada, fornecem
uma visão incompleta da vulnerabilidade
externa de uma economia. Isso porque, a dívida
externa de curto prazo é atualmente
uma fração muito pequena do
PECP e a dívida externa líquida
é negativa desde 2007 (devido à
redução da dívida externa
pública e ao acúmulo de reservas
internacionais).
Indicadores de Vulnerabilidade
Externa. Um indicador sintético
de liquidez externa (ou da vulnerabilidade
externa no curto prazo) é a razão
entre o PECP e as reservas internacionais
do país (ou seja, os recursos em divisas
que podem ser mobilizados no curto prazo frente
a uma saída súbita de capitais
externos). Além deste indicador, também
foram calculados três indicadores, cuja
característica comum é a utilização
das reservas internacionais no denominador,
se diferenciando somente na composição
do numerador, quais sejam:
- Dívida externa de curto prazo/reservas: visa avaliar se há ou não possibilidade de crise de liquidez externa por falta de moeda estrangeira para honrar a dívida externa a vencer num prazo inferior a 360 dias;
- Indicador utilizado pela agência de classificação de risco de crédito Standard & Poors: considera no numerador as Necessidades Brutas de Financiamento Externo (NBFE), que equivalem à soma do saldo em transações correntes, com o principal vencível da dívida externa de médio e longo prazo nos próximos 12 meses e o estoque da dívida de curto prazo;
- Indicador amplo de liquidez externa: elaborado pelo IEDI, consiste na soma das NBFE com o estoque de IPE; este indicador mede a pressão potencial sobre as reservas internacionais do País no curto prazo.

O significado de todos indicadores de liquidez
que utilizam as reservas no denominador é
semelhante: se o valor da razão for
igual a 1, as reservas são suficiente
para cobrir o estoque em questão (PECP
ou dívida externa de curto prazo) e/ou
as NBFE; se for inferior a 1, as reservas
são mais que suficientes para cobrí-los
(por exemplo, um indicador igual a 0,20 significa
que somente 20% das reservas serão
utilizadas); se for superior a 1, as reservas
são insuficientes (por exemplo, um
indicador igual a 1,20 significa que as reservas
precisariam ser 20% maiores para fazer frente
à pressão cambial).
Na comparação entre dez/09 e
jul/15, três indicadores diminuíram,
o que significa melhora da situação
de liquidez externas; se adotarmos como ponto
inicial dez/10, os quatro indicadores atingiram
um patamar mais baixo em jul/15. Eles podem
ser divididos em dois grupos com patamares
bem distintos. No primeiro grupo, estão
os indicadores 1 e 2, que não superaram
0,22 em todo o período. Ou seja, as
reservas foram suficientes em todos os meses
considerados para fazer frente aos compromissos
de curto prazo: dívida externa de curto
prazo no Ind.1 e NBFE no Ind.2. Esse último,
utilizado pela agência S&P, retornou
ao patamar de dez/09 em jul/15 (0,18).
Assim, do ponto de vista da vulnerabilidade
externa no curto prazo, não haveria
motivo para o rebaixamento da classificação
de risco de crédito do Brasil para
grau especulativo. Também vale
destacar a mudança positiva na composição
das NBFE em jul/15 em relação
ao biênio 2012-2013 (quando o Ind.2
atingiu seu piso no período em tela):
a redução do déficit
em transações corrente associada,
principalmente, à melhora da balança
comercial nos primeiros setes meses de 2015
em função tanto da depreciação
cambial como da recessão doméstica.
Contribuíram no mesmo sentido a queda
dos gastos com viagens internacionais e das
remessas de lucros e dividendos.

O segundo grupo engloba os indicadores 3 e
4, cuja característica comum é
a inclusão, no numerador, do estoque
de IPE no país. Ambos indicadores indicam
uma situação menos confortável
de liquidez externa do que os indicadores
1 e 2, pois continuavam maiores que 1 em jul/15,
ou seja, as reservas eram insuficientes para
fazer frente seja ao PECP (Ind.3), seja à
soma desse passivo com o saldo em conta corrente
e o principal vencível da dívida
de médio e longo prazo (Ind.4). Contudo,
nos dois casos, a trajetória foi de
queda praticamente ininterrupta até
atingir o patamar de 1,1 no final do período.
Ou seja, em meados de 2015, as reservas eram
praticamente suficientes para fazer frente
à demanda potencial de divisas. O adjetivo
potencial decorre da composição
atual do PECP, no qual predominam os IPE (86%
do total PECP em jul/15, percentual um pouco
menor que os 94% registrados em dez/09).
Em primeiro lugar, embora o comportamento
de manada predomine em mercados financeiros
liberalizados e líquidos, não
necessariamente ocorrerá liquidação
em massa das posições dos investidores
estrangeiros em moeda doméstica. No
caso do Brasil, o elevado diferencial de juros
proporcionado pelo patamar exorbitante da
taxa de juros doméstica tem atuado
como um importante fator de desestímulo
a essa liquidação no caso das
aplicações em títulos
públicos, que representavam 39% do
total do IPE no país em jul/15, recorde
histórico. Em segundo lugar, quando
há liquidação de posições
dos investidores estrangeiros em moeda doméstica
num regime de câmbio flutuante, o valor
em moeda estrangeira dessa modalidade de passivo
externo diminui em função da
depreciação cambial e, no caso
das ações, da queda dos preços,
como já ressaltado. Esses efeitos patrimoniais
têm um impacto positivo nos indicadores
de liquidez externa que incluem o IPE no numerador
exatamente em momentos de ataque especulativo
contra a moeda nacional, como o vivenciado
agora em setembro.
Já a dívida externa de curto
prazo gera compromissos fixos em divisas e
envolve descasamento de moedas. Mas, em contrapartida,
essa composiçao do PECP também
tem uma implicação negativa:
ela reforça as correias de transmissão
da instabilidade gerada nos mercados financeiros
internacionais para o mercado financeiro doméstico.
Já para avaliar a situação
de solvência externa de um país,
um indicador fundamental é a razão
entre o PEL e as exportações.
Isto porque, no caso dos países em
desenvolvimento, como o Brasil, as exportações
são a fonte de geração
autônoma de divisas, necessárias
para pagar a taxa de remuneração
do PEL. Para que essa razão não
tenha uma trajetória explosiva, o ritmo
de expansão das exportações
precisa ser superior a essa taxa. O valor
da razão indica o número de
anos, dado um determinado fluxo de exportação
(acumulado em 12 meses), necessário
para o pagamento do PEL. Vale mencionar que
várias analises utilizam o Produto
Interno Bruto (PIB) ao invés das exportações
no denominador dos indicadores de solvência
externa, o que carece de sentido pois o PIB
não equivale à capacidade de
geração de moeda estrangeira
de um país.
No caso do Brasil, cujo desempenho exportador
nos últimos anos ancorou-se nas vendas
externas de commodities, também é
importante incluir na análise a capacidade
de geração de divisas pela indústria
de transformação (IT). Diante
da deflação das cotações
internacionais desses bens e das mudanças
em curso na China – desaceleração
e mudança no padrão de crescimento,
com maior participação do consumo
na composição da demanda agregada,
que resultarão em menor demanda por
esses produtos, sobretudo os minerais –,
a trajetória futura das exportações
brasileiras (e nossa capacidade de geração
de divisas) será mais dependente do
desempenho das vendas externas da IT. Assim,
além do indicador tradicional PEL/exportações,
três indicadores adicionais de solvência
externa foram calculados:
- Indicador 1: PEL/exportações;
- Indicador 2: PEL/exportações da IT;
- Indicador 3: Serviço do PEL/exportações: este é um indicador alternativo ao PEL/exportações para avaliar a sustentabilidade ou não de uma trajetória de acúmulo de passivos externos, que depende exatamente da relação entre as exportações e o serviço do PEL;
- Indicador 4: Serviço do PEL/exportações da IT.
A evolução dos indicadores mostra que, ao contrário da
situação de liquidez externa,
a de solvência sofreu deterioração
na comparação entre dez/09 e
jul/15, que foi mais intensa no caso dos indicadores
que consideram as exportações
de IT no denominador. Esse resultado era esperado
diante do impacto negativo do longo período
de apreciação cambial sobre
a competitividade externa dessa indústria,
bem como do menor ritmo de crescimento do
comércio mundial e do acirramento da
concorrência nos mercados internacionais
no contexto pós-crise. Embora o ind.1
(PEL/exportações totais) tenha
avançado 0,62 pontos percentuais (p.p),
atingindo 2,84 no final do período,
o ind. 2 (PEL/exportações da
IT) avançou 1,36 p.p., para 5,3. Isso
quer dizer que, em jul/2015, enquanto seriam
necessários 2,8 anos para pagar o PEL
com o fluxo em 12 meses das exportações
de bens e serviços, considerando somente
as exportações da IT, seriam
necessários mais de 5 anos. Os indicadores
3 e 4, que consideram o serviço do
PEL no numerador, também sugerem piora
nas condições de solvência
externa, com destaque para o ind. 4, que atingiu
0,95 em jul/15; ou seja, o serviço
do PEL “consumiu” neste mês
95% das exportações da IT.

O pior desempenho (entre 2009 e 2015) dos
indicadores que consideram as exportações
da IT no denominador é explicado pela
sua menor taxa de crescimento (26,2%) em relação
às exportações totais
(32,7%), ao PEL (69,9%) e ao serviço
do PEL (56,7%)., Esse aumento expressivo da
taxa de remuneração do PEL –
que é motivo de preocupação,
assim como o baixo dinamismo das vendas externas
da IT – está associado, entre
outros fatores, ao aumento das remessas de
lucros e dividendos pelas filiais da ETs,
pressionadas pela redução da
rentabilidade nos países de origem
no contexto da grande recessão, que
ainda não foi superada.

Como já destacado pelo IEDI, para garantir
uma trajetória sustentável de
expansão das vendas externas da IT
– fundamental para evitar uma situação
de insolvência externa –, ações
de política econômica são
necessárias. O movimento recente de
depreciação da moeda doméstica
é condição necessária,
mas não suficiente para atingir esse
objetivo. O governo deve promover uma melhor
coordenação junto à iniciativa
privada para estimular investimentos
em infra-estrutura e a reindustrialização
do país, simultaneamente à intensificação
das negociações comerciais para
a inserção da indústria
brasileira nas cadeias globais de valor. Ademais,
vale lembrar que as vantagens para o país
das exportações de produtos
da IT comparativamente às commodities
(inclusive industriais): geram efeitos positivos
e cumulativos sobre a produtividade da indústria,
são menos sujeitas às oscilações
de preços nos mercados internacionais
e têm maior elasticidade-renda da demanda.
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