Carta IEDI
A Indústria em Julho de 2018: mais um passo em falso
Passados os efeitos mais diretos da greve dos caminhoneiros, que causaram forte oscilação da produção no bimestre maio-junho, o setor industrial não conseguiu dar nenhum passo adiante em sua reativação no mês de julho. A segunda metade de 2018 começou no vermelho: -0,2% frente a junho, com ajuste sazonal.
Retomamos assim a sequência de resultados negativos ou muito próximos de zero que vinha ocorrendo desde a entrada de 2018 e que pouco contribui para que a indústria avance para um quadro efetivamente melhor. Neste sentido, cabe notar que, em 2018, depois de sete meses corridos, o nível de produção em julho encontra-se 0,8% abaixo daquele de dezembro de 2017, indicando a falta de dinamismo que ainda persiste.
Em julho, o declínio da produção total foi acompanhado por 10 dos 26 ramos industriais e por 8 das 15 localidades acompanhadas pelo IBGE. Em outras palavras, embora não tenha sido intensa a queda do começo do semestre não foi produto de fatores isolados, pois atingiu um número grande de setores e regiões.
O núcleo industrial do Sudeste, que é a região com maior renda, maior consumo e maior densidade industrial do país, registrou resultados desfavoráveis, sobretudo São Paulo, cuja queda de -1,1% superou muito aquela do total Brasil (-0,2%). Rio de Janeiro e Minas, além de outros parques industriais regionais, também não se saíram bem.
Dentre seus macrossetores, a perda mais intensa ficou a cargo de bens de capital (-6,2% ante jun/18, com ajuste sazonal), cujo desempenho pode estar refletindo a deterioração das expectativas vindas do cenário político, mas também do próprio ritmo de recuperação da indústria, que tem deixado muito a desejar.
Vale enfatizar que bens de capital foram um dos macrossetores mais atingidos pela crise recente e, por esta razão, ainda tem um longo caminho a trilhar para se restabelecer integralmente. Seu atual nível de produção permanece mais do que 30% abaixo do pico pré-crise do último trimestre de 2013 e sequer conseguiu superar os efeitos negativos da paralisação recente dos caminhoneiros, dado que seu nível de produção em julho estava 4,2% abaixo daquele de abril de 2018.
Outros macrossetores igualmente no vermelho em julho foram bens de consumo duráveis (-0,4%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,5%), que já haviam registrado as quedas mais intensas no segundo trimestre do ano, de -5,6% e -3,0%, respectivamente, descontados os efeitos sazonais. Bens intermediários, por sua vez, foram a exceção: cresceram +1% frente a junho, mas isso depois de dois trimestres consecutivos de perda de produção.
Resultados da Indústria
Em julho de 2018, a produção industrial decresceu 0,2% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, retomando o padrão de variações muito próximas de zero, passados os efeitos imediatos da paralisação do transporte de carga rodoviário que implicaram forte volatilidade dos resultados nos meses de maio (-10,9%) e de junho (+12,9%). Dos sete meses de 2018 com resultados oficiais já conhecidos, 4 foram negativos e 3 positivos na série com ajuste sazonal. À exceção do resultado excepcional de junho, o único avanço digno de nota nesta comparação continuou sendo abril: +0,9%.
O desempenho da indústria em comparação com o mesmo período de 2017 apresenta desde meados do ano passado uma sequência de variações positivas, exceto maio (-6,6%). Em julho, o resultado ficou novamente no azul: +4,0%. Apesar disso, a evolução da média móvel trimestral, na comparação com o mesmo período do ano anterior, registrou o desempenho mais baixo do ano em julho, variando apenas +0,3%, isto é, muito abaixo do resultado de antes da greve dos caminhoneiros, quando havia chegado a +4,0% no trimestre findo em abril.
Em relação aos macrossetores, na comparação com junho, descontados os efeitos sazonais, os resultados foram majoritariamente negativos. A única exceção foi registrada por bens intermediários, que conseguiram crescer 1,0%. Vale observar, contudo, que este macrossetor vem demonstrando uma trajetória cheia de altos e baixos na série com ajuste, de modo a resultar em queda no acumulado tanto do primeiro (-1,3%) como do segundo (-1,0%) trimestre de 2018 frente ao trimestre imediatamente anterior. Dentre aqueles com perda de produção em julho, o caso mais grave coube a bens de capital, com queda de -6,2%, seguidos por bens de consumo semi e não duráveis (-0,5%) e bens de consumo duráveis (-0,4%).
Já na comparação de julho de 2018 com julho de 2017, todos os quatro macrossetores da indústria conseguiram crescer. O grande destaque nesta comparação coube a bens de consumo duráveis, com avanço de 16,9%, seguido por bens de capital, que aumentaram a produção em 6,5%. Bens intermediários registraram alta de 3,5% e bens de consumo semi e não duráveis, de 1,8%.
Em julho, o aumento interanual de 16,9% na produção de bens de consumo duráveis se deveu, em grande medida, aos resultados positivos obtidos na fabricação de automóveis (+29,9%), eletrodomésticos da “linha branca” (+4,1%), motocicletas (+34,2%) e outros eletrodomésticos (+16,4%). Os principais impactos negativos foram registrados em eletrodomésticos da “linha marrom” (-20,8%) e móveis (-1,2%).
O crescimento de bens de capital de 6,5% ante julho de 2017 foi produzido principalmente pela evolução positiva dos bens de capital para equipamentos de transporte (+10,5%), além dos grupamentos de construção (+29,4%), de uso misto (+8,4%), bens de capital agrícolas (+9,5%), bens de capital para fins industriais (+0,9%) e para energia elétrica (+1,9%).
Já bens intermediários, que apresentou variação positiva de 3,5% frente a julho de 2017, teve sua evolução condicionada, em grande medida, devido ao crescimento nas atividades de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+15,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+13,7%), indústrias extrativas (+3,8%), celulose, papel e produtos de papel (+10,5%), metalurgia (+4,8%), entre outros produtos. As pressões negativas vieram principalmente de produtos alimentícios (-11,3%) e de produtos têxteis (-2,4%).
Por fim, o macrossetor de bens de consumo semi e não-duráveis, que ampliou produção em 1,8% ante julho de 2017, teve desempenho explicado pelas expansões de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+2,5%), de carburantes (+3,2%) e de não duráveis (+1,9%). O subsetor de semiduráveis (-1,6%) registrou a única queda.
No acumulado de janeiro a julho de 2018, a indústria geral apresentou resultado de +2,5% frente a igual período do ano anterior, puxada notadamente por bens de consumo duráveis, cuja produção avançou 14,6% no mesmo período, e por bens de capital, com alta de 9,0%. Também ficaram no positivo, mas com um desempenho inferior à média geral da indústria os seguintes macrossetores: bens intermediários, com +1,3%, e bens de consumo semi e não duráveis, com apenas +0,8%.
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação de -0,2% da produção industrial geral em julho de 2018 foi acompanhada de retração de 0,6% na indústria de transformação, já realizado o ajuste sazonal. O setor extrativo, por sua vez, conseguiu crescer +0,6%. Em relação a julho de 2017, o resultado da indústria de transformação foi de +4,0%, enquanto o setor extrativista foi de +3,8%.
Frente a junho de 2018, na série com ajuste sazonal, o decréscimo de -0,2% da indústria geral foi acompanhado por: 10 dos 26 ramos pesquisados. As principais influências negativas vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,5%) e produtos alimentícios (-1,7%), seguidos por equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-7,2%), minerais não metálicos (-3,0%) e couro, artigos para viagem e calçados (-5,4%). Já entre os 16 ramos que ampliaram a produção, os destaques foram: outros produtos químicos (+4,3%), outros equipamentos de transporte (+16,7%), máquinas e equipamentos (+2,9%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,0%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou crescimento de 4,0%, variações positivas marcaram o desempenho de 19 dos 26 ramos, em 54 dos 79 grupos e 58,4% dos 805 produtos pesquisados. Os destaques positivos ficaram a cargo de: veículos automotores, reboques e carrocerias (+21,0%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+11,3%), além de indústrias extrativas (+3,8%), bebidas (+12,5%), celulose, papel e produtos de papel (+9,2%), máquinas e equipamentos (+7,4%), outros produtos químicos (+4,2%), metalurgia (+4,8%), entre outros. Quanto aos impactos negativos, as principais contribuições couberam a produtos alimentícios (-5,8%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,5%) e couro, artigos para viagem e calçados (-6,4%).
Já no acumulado do ano de janeiro a julho, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou expansão de 2,5%, com resultados positivos em 14 dos 26 ramos, em 45 dos 79 grupos e 52,2% dos 805 produtos pesquisados. Os principais resultados positivos foram verificados em veículos automotores, reboques e carrocerias (+18,7%), metalurgia (+5,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+2,6%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+13,4%), máquinas e equipamentos (+4,7%), celulose, papel e produtos de papel (+4,8%), bebidas (+4,0%) e produtos de borracha e de material plástico (+2,9%). Já entre as atividades em queda, as principais influências negativas vieram de produtos alimentícios (-1,8%), couro, artigos para viagem e calçados (-5,3%) e outros produtos químicos (-1,6%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de julho de 2018 caiu 10,5%. Com disso, o resultado no acumulado dos primeiros sete meses do ano foi de +2,9%, ainda superior àquele do mesmo período de 2017 (+2,5%).
Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria avançaram 20,5% em julho de 2018 frente a junho de 2017. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, houve expansão de 6,1% frente ao mesmo período do ano passado.
Utilização de Capacidade
O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, foi de 75,7% em julho de 2018, 0,5 p.p. menor do que o patamar de maio. O atual nível de utilização continua inferior à média histórica do próprio indicador (80,3%).
Já o indicador da CNI ficou em 77,3% em julho de 2018, já descontados os efeitos sazonais, nível superior ao de maio (75,9%), mas ainda razoavelmente abaixo daquele verificado em abril e março (78,1% e 78,2%, respectivamente). Vale lembrar que o indicador havia encerrado o ano de 2017 em 77,9%, o que significa dizer que os eventos excepcionais de maio fizeram a utilização da capacidade instalada perder tudo o que havia progredido nos primeiros meses de 2018, sem conseguir uma integral recomposição nos meses seguintes de junho e julho. Assim como no caso do indicador da FGV, a utilização da capacidade estimada pela CNI manteve-se abaixo de sua média histórica de 81,0%.
A permanência da utilização da capacidade em níveis historicamente baixos e sem uma trajetória inconteste de acentuada melhora não é um indício favorável para a evolução futura do investimento, isso porque máquinas e equipamentos atualmente ociosos deverão ser postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar sua capacidade de produção. Em contrapartida, a existência de capacidade ociosa significa que existem plenas condições de oferta para garantir uma recuperação da atividade econômica sem pressões inflacionárias.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, os estoques de produtos finais da indústria em julho de 2018 assinalaram índice de 50,4 pontos, voltando a ficar acima da marca dos 50 pontos, depois de ter atingido 48,4 pontos no mês de junho. Vale lembrar que o indicador acima de 50 pontos indica aumento dos estoques e abaixo, redução deles. Este resultado em julho de 2018 foi condicionado tanto pelo segmento da indústria de transformação, cujo indicador de estoques ficou em 50,6 pontos, como pela indústria extrativa que, por sua vez, ficou em 45,3 pontos.
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral continuaram acima do nível planejado (isto é acima de 50 pontos), como tem ocorrido desde o mês de março, atingindo o patamar de 50,8 pontos, o nível mais elevado do ano se for desconsiderado o mês de maio. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 46,9 pontos e 50,8 pontos, respectivamente.
No grupo industrial da indústria de transformação, 16 dos 27 ramos acompanhados pela CNI tiveram estoques iguais ou menores do que o planejado (50 pontos) em julho de 2018, como em outros equipamentos de transporte (38,5 pontos), impressão e reprodução (43,5 pontos), madeira (45,7 pontos) e derivados de petróleo (46,2 pontos). Cabe que na passagem de junho para julho o número de setores com estoques iguais ou abaixo do planejado caiu de 20 para 16 (-20%). Em contraste, ficaram com estoques efetivos acima do planejado os setores de máquinas e equipamentos (55,9 pontos), farmacêuticos (54,6 pontos) e limpeza e perfumaria (54,2 pontos), entre outros.
Confiança e Expectativas
Como indicativo da evolução futura da indústria, a evolução recente do Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI (ICEI) voltou a ficar acima do patamar de 50 pontos em agosto: em 53,5 pontos, depois de ter apresentado expressiva deterioração em junho (49,7 pontos). Este retorno a um quadro de confiança (acima de 50 pontos), não foi suficiente para uma recomposição completa, mantendo-se longe do nível em torno de 59 pontos verificado no primeiro trimestre de 2018. Em outros termos, os empresários do setor vinham se mantendo otimistas, porém cada vez menos, até junho, quando voltaram ao campo do pessimismo. Julho e agosto trouxe novamente o otimismo, mas menos intenso do que já havia sido no início do ano.
Este desempenho de agosto resultou do avanço de seu componente de expectativas para o futuro (de 56,4 pontos em agosto contra 53,6 pontos em julho), que permanece acima da faixa dos 50 pontos desde junho de 2016. Em relação o futuro, os empresários ainda estão otimistas, mas o indicador, que já registrou valores acima de 60 pontos no primeiro trimestre do ano, indica que houve deterioração do quatro. Já o componente de avaliação das condições atuais dos negócios, apresentou melhora, mas continua na faixa que indica pessimismo dos empresários (abaixo de 50 pontos), ao passar de 43,6 pontos em julho para 47,6 pontos em agosto. Vale notar que já são três meses consecutivos que este indicador fica abaixo dos 50 pontos, o que traz riscos para a evolução do componente expectacional do indicador, já que é preciso que o quadro corrente dos negócios vá validando pouco a pouco as expectativas em relação ao futuro.
Por sua vez, o Índice de Confiança da Indústria de Transformação da FGV, que voltou a indicar otimismo desde fevereiro de 2018 (100,4 pontos), permaneceu praticamente sobre a marca dos 100 pontos tanto em junho como em julho (100,1 pontos), para voltar a cair abaixo dela em agosto: 99,7 pontos, indicando um retorno à região pessimista. Seu componente de avaliação das condições correntes continuou abaixo da linha de 100 pontos em agosto (97,9 pontos), algo que ocorre desde junho. Seu componente expectacional, contudo, indicou em agosto, assim como em julho, um arrefecimento do otimismo: 101,4 pontos, contra 105 pontos em junho.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Seu nível vinha se mantendo acima de 50 pontos desde abril de 2017, indicando melhora das condições de negócio, caiu em junho de 2018 para 49,8 pontos e não se recuperou a contento nem em julho (50,5 pontos), nem em agosto (51,1 pontos), depois de ter oscilado em torno a uma média de 52,5 pontos no último trimestre de 2017 e no primeiro de 2018.
Os indicadores de confiança acima mencionados, notadamente seu componente referente às avaliações dos negócios correntes, sugerem que o desempenho industrial em agosto pode decepcionar, já que continuam apontando pessimismo dentre os empresários do setor, não trazendo, assim, o necessário reforço do dinamismo da produção para efetivamente superar as perdas sofridas ao longo da crise recente.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)