Carta IEDI
Convergindo para um baixo crescimento
Setembro de 2018 não pode ser considerado como um mês de recuperação para a atividade econômica, pois nenhum setor foi poupado de perdas em relação a agosto. A indústria e o comércio varejista registraram quedas não desprezíveis e reincidentes. Já os serviços, em que os sinais de dinamismo têm sido ainda mais rarefeitos, caíram, mas pelo menos de modo menos intenso que em meses anteriores.
A variação do faturamento real do setor de serviços ficou em -0,3% já descontados os efeitos sazonais, depois de um período de forte volatilidade em que resultados positivos e negativos se alternaram. No varejo restrito o declínio foi de -1,3%, compensando grande parte do avanço de 2% em agosto. Em seu conceito ampliado, o desempenho foi pior: -1,5% frente ao mês anterior.
A trajetória mais desfavorável coube à produção industrial, que acumula três meses seguidos de retrocesso na série com ajuste, algo que não ocorria desde final de 2015, um ano de crise aguda para o setor. Agora em setembro, a queda chegou a -1,8%, isto é, a maior entre os grandes setores da economia. Além de intensa, também atingiu praticamente todos os seus macrossetores e seus principais parques regionais, sobretudo a indústria paulista.
Assim, o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, que vinha apresentando um nível geral de dinamismo econômico em elevação nos últimos meses, também não conseguiu evitar a faixa negativa em setembro e variou -0,1% já corrigidos os efeitos sazonais, apontando para um quadro de virtual estagnação da economia neste mês.
Essa evolução pouco favorável, mês após mês, para muitos dos grandes setores da economia vem se traduzindo em trajetórias interanuais convergentes para um ritmo bastante moderado de crescimento. Enquanto indústria e comércio se desaceleram em direção à estabilidade, o setor de serviços parece ter atingido o fundo do poço e logra suas primeiras variações positivas, ainda muito próximas de zero.
Ilustrando, depois de uma alta de 5% no 4º trim/17, o dinamismo da produção industrial refluiu para apenas 1,2% no 3º trim/18. Algo semelhante ocorreu nas vendas reais do varejo, passando de 4,2% para 1% no mesmo período. Em seu conceito ampliado, a perda de ritmo é mais moderada, de 7,7% para 4%, devido às vendas de veículos e autopeças, que continuam avançando a uma velocidade de dois dígitos devido às baixas bases de comparação. Enquanto isso, o faturamento de serviços interrompeu uma sequência de 14 trimestres de retração e cresceu 0,7% em jul-set/18.
No setor industrial, todos os macrossetores contribuíram para o menor ímpeto ao longo de 2018, notadamente bens de consumo semi e não duráveis, que voltaram ao terreno negativo no 3º trim/18 (-0,2% frente a igual período do ano anterior). A única exceção foi a produção de bens intermediários, mas neste caso segue crescendo quase nada há dois trimestres (+0,6% e +0,7% no 2º e 3º trim/18).
Regionalmente, a indústria paulista chegou a apresentar recuo na produção em julho-setembro (-1%), tendo sido acompanhada por Minas Gerais (-1,1%), Amazonas (-5,5%), Bahia (-0,2%) e Goiás (-4%). A indústria do Rio de Janeiro também perdeu ritmo, embora de modo menos acentuado, evitando entrar no vermelho.
No comércio varejista, há segmentos que estão em uma situação mais grave que o agregado do setor, como o de combustíveis e lubrificantes (-5,2% no 3º trim/18), em declínio desde 2015, e o de tecidos, vestuário e calçados (-1,7%), cujas vendas reais encontram-se no vermelho desde o início do ano, depois de ter terminado 2017 com um nível razoável de dinamismo (+6,9% no 4º trim/17).
Segue este padrão o segmento de móveis e eletrodomésticos, que já somam dois trimestres de quedas em aprofundamento (-0,6% e -4,1% no 2º e 3º trim/18), implicando uma reviravolta importante frente ao 4º trim/17, quando era um dos que mais crescia (+11,3%). Outros segmentos do varejo não chegaram a resvalar para o terreno negativo, mas registraram igualmente forte desaceleração, tal como material de construção, artigos farmacêuticos e supermercados, alimentos, bebidas e fumo.
Contrariamente ao que vínhamos vendo, no 3º trim/18 é dos serviços que vêm alguns sinais de otimismo. A alta de 0,7% não só é a primeira depois de um longo período, como vem acompanhada de crescimento do faturamento na maioria dos segmentos do setor.
É o caso de transportes, correios e auxiliares, segmento que, inclusive, caminha para o segundo ano de expansão do faturamento (+2,3% em 2017 e +1,3% em 2018 até setembro) e de serviços de informação e comunicação (+0,4% no 3º trim/18). Outro ramo com bons resultados foi o de serviços prestados às famílias, com alta de 1,7%, após três trimestres de retração. O principal obstáculo para melhora mais substancial tem sido os serviços profissionais, administrativos e complementares, geralmente demandados pelas empresas, que permanecem em retração (-1,5% no 3º trim/18).
Indústria
A segunda metade de 2018 não começou nada bem para a indústria. Foram três meses de perdas recorrentes de produção na série com ajuste sazonal, o que não ocorria desde final de 2015, um ano de crise aguda para o setor. Em setembro, a retração chegou a -1,8% ante agosto e acabou contaminando o desempenho da maior parte de seus segmentos e dos parques industriais mais importantes do país. A indústria voltou, assim, a flertar com a recessão no terceiro trimestre do ano.
Assim, o nível de produção em set/18 encontra-se 3% abaixo daquele de jun/18 e 3,6% inferior ao de dez/17. Além disso, os sinais de piora também foram sentidos por todos os macrossetores industriais e pela maioria dos seus ramos: 16 dos 26 acompanhados pelo IBGE ficaram no vermelho em setembro. Os dados regionais conferem uma dimensão adicional à evolução pouco favorável do setor nos últimos meses: a produção caiu em 7 das 15 indústrias regionais pesquisadas, dentre as quais, São Paulo, que causa apreensão tanto pela trajetória que vem apresentando nos últimos meses como pela importância que tem sua indústria, mais diversificada e complexa.
A exemplo do total Brasil, os resultados de São Paulo apontaram perda de produção em todos os meses do terceiro trimestre, com piora adicional no último mês em questão: -1,9% em jul/18; -1,1% em ago/18 e -3,9% em set/18, na série com ajuste sazonal. O que distingue esta evolução da média brasileira é que as quedas em São Paulo foram muito mais intensas, contribuindo para que seu nível de produção em set/18 ficasse 8% abaixo daquele de dez/17.
A indicação de que a indústria enfrenta uma conjuntura cada vez mais complicada também se expressa na comparação interanual. Para o setor como um todo, o acumulado de janeiro a setembro de 2018 (+1,9%) já aponta um ano mais fraco do que 2017 (+2,5%). Em outras palavras, mal a indústria saiu da crise e já parece caminhar de volta para ela. O percurso que vem sendo trilhado fica evidente trimestre após trimestre: +5,0% no 4º trim/17; +2,8% no 1º trim/18; +1,7% no 2º trim/18 e +1,2% no 3º trim/18.
Ademais, praticamente todos os macrossetores sofreram desaceleração. A única exceção coube a bens intermediários, que nos últimos seis meses operaram em semi estagnação, como indica o resultado de apenas +0,6% no 2º trim/18 e de +0,7% no 3º trim/18. Isso significa uma perda de ritmo flagrante diante da alta de 4,2% no 4º trim/17.
Bens de consumo semi e não duráveis, que conseguiam evitar o terreno negativo até então, registraram queda de 0,2% no 3° trim/18, devido a quedas tanto em agosto como em setembro. Bens de capital e bens de consumo duráveis, por sua vez, continuam liderando o crescimento da indústria, mas não se livraram de uma forte desaceleração ao longo de 2018. No primeiro caso, o ritmo de crescimento passou de 11,5% no 4º trim/17 para 6,8% no 3º trim/17 e no segundo caso de +17,8% para +7,1% no mesmo período.
Regionalmente, enquanto para o Brasil houve desaceleração na evolução trimestral em 2018, a indústria paulista chegou a cair 1% no 3º trim/18, algo que não ocorria desde o 2º trim/17. Este é mais um dado que mostra que São Paulo entrou na segunda metade de 2018 em marcha ré. Cabe ainda observar que a retração de São Paulo não se deve a problemas localizados, já que cerca de metade de seus ramos industriais registrou perda, com destaque para alimentos (-17,2% ante 3º trim/17), vestuário e acessórios (-11,3%), produtos de limpeza, cosmético e perfumaria (-7,0%) e coque e derivados de petróleo (-4,0%).
Também é grave o fato de que outros importantes parques industriais tenham acompanhado São Paulo nesta fase de adversidades renovadas. Amazonas, por exemplo, saiu de uma alta de 24,2% no 1º trim/18 para uma retração de 5,5% no 3º trim/18, devido a resultados negativos em 70% de seus ramos. Minas Gerais teve pela terceira vez um trimestre negativo em 2018, resultado este acompanhado por 46% de seus ramos.
Rio de Janeiro, por sua vez, manteve-se no positivo, mas apresentou desaceleração em julho-setembro, enquanto Santa Catarina também cresceu e retomou o dinamismo do primeiro trimestre do ano.
O quadro é mais favorável para o Rio Grande do Sul (+12,4% no 3º trim/18) e o Nordeste (+2,8%), graças a Pernambuco, cujo desempenho no terceiro trimestre de 2018 foi bastante superior ao dos anteriores. Ambos os casos, contudo, vinham de uma sucessão de resultados bastante anêmicos, quando não negativos, desde o final do ano passado. Por isso, a continuidade desse maior ritmo de crescimento ainda está por ser comprovada.
Comércio
Não foi só a indústria que deu um passo atrás em setembro de 2018, as vendas reais do comércio varejista também recuaram e não foi pouco. A queda de 1,3% frente a agosto foi a mais intensa do ano na série com ajuste sazonal, anulando boa parte do crescimento mais substancial do mês anterior (+2%). Em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e material de construção, o resultado foi ainda pior: -1,5%.
Tal como o setor industrial, este mau desempenho não se deveu a fatores isolados, pois seis das dez atividades acompanhadas pelo IBGE ficaram no vermelho. Combustíveis e lubrificantes (-2,0%), supermercados, alimentos, bebidas e fumo (-1,2%), bem como material de construção (-1,7%), foram aqueles que registraram as maiores perdas na passagem de agosto para setembro, já descontados os efeitos sazonais.
Assim, depois de ter evitado a faixa negativa por quatro meses seguidos desde o começo de 2018, o varejo restrito parece ter descarrilhado a partir de maio, registrando uma sequência de quedas na série com ajuste, à exceção do mês de agosto, como mencionado anteriormente. Já o varejo ampliado, devido tanto às vendas de material de construção como às de automóveis e autopeças, assumiu uma trajetória bastante oscilante.
Em outras palavras, a contar por essas trajetórias o varejo não vem mostrando resultados compatíveis com uma recuperação consistente. Se, de um lado, os baixos níveis de inflação e a reativação do crédito às famílias aportam contribuições positivas, por outro, os juros altos cobrados dos empréstimos e o desemprego ainda muito elevado jogam contra uma reação vigorosa do setor.
Os resultados frente ao ano anterior também mostram uma evolução bastante restringida no comércio. Desde o final do ano passado, as vendas reais do varejo vêm sistematicamente perdendo dinamismo, ainda que a desaceleração tenha se tornado mais moderada recentemente: +4,2% no 4º trim/17; +3,8% no 1º trim/18; +1,6% no 2º trim/18 e +1,0% no 3º trim/18 para o varejo restrito e +7,7%; +6,6%; +4,7% e +4,0%, respectivamente, para o varejo ampliado.
Há, contudo, quem esteja em uma situação ainda mais grave que o agregado do setor. É notadamente os casos de combustíveis e lubrificantes, em declínio desde 2015, e de tecidos, vestuário e calçados, cujas vendas reais encontram-se no vermelho desde o início do ano. Ou seja, são três trimestres de retração depois de terem terminado 2017 com um nível razoável de dinamismo.
Algo semelhante ocorre no segmento de móveis e eletrodomésticos, que já somam dois trimestres de quedas em aprofundamento (-0,6% e -4,1% no 2º e 3º trim/18), implicando uma reviravolta importante frente ao 4º trim/17, quando era um dos que mais crescia (+11,3%).
Outros segmentos do varejo não chegaram a resvalar para o terreno negativo, mas registraram igualmente forte desaceleração, tal como material de construção (de +14% no 4º trim/17 para +2,2% no 3º trim/18), artigos farmacêuticos (de +7,1% para +4,9%, respectivamente) e supermercados, alimentos, bebidas e fumo (de +5,7% no 1º trim/18 para +2,4% no 3º trim/18). Equipamentos de escritório, informática e comunicação, por sua vez, alternam resultados positivos e negativos, sendo estes últimos mais intensos. Agora no 3º trim/18 variou apenas +0,4%, isto é, praticamente ficou estável.
Quem tem contribuído para manter certo dinamismo no varejo são as vendas de veículos, motos e autopeças, cuja desaceleração é pequena frente a seu ritmo de crescimento de dois dígitos, que atingiu +14,5% no 3º trim/18. Não é por outra razão que o varejo ampliado cresce mais no acumulado de 2018 até setembro (+5,8%) do que em 2017 como um todo (+4%), enquanto o varejo restrito caminha para repetir o mesmo resultado (+2,1% em 2017 e +2,8% em 2018 até setembro).
Serviços
O mês de setembro de 2018 não poupou nenhum dos grandes setores da economia. Além das perdas da indústria e do comércio varejista, que ademais não foram desprezíveis, os dados do IBGE mostraram que o setor de serviços também ficou no negativo. Seu faturamento real caiu 0,3% frente a agosto, já descontados os efeitos sazonais.
Passada a fase de forte volatilidade derivada da greve dos caminhoneiros, os serviços, a despeito da queda, voltaram a ter um resultado mais próximo da estabilidade na série com ajuste. Isso, contudo, não se aplica a todos os seus segmentos. Dos cinco acompanhados pelo IBGE, três registraram perda de faturamento real em setembro, sendo que o quadro não foi nada ameno para serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,2%), transportes (-1,6%) e o segmento de outros serviços (-3,2%).
Embora haja certa assimetria entre os segmentos do setor, com sinais de melhora relativa para alguns deles desde o ano passado, os serviços profissionais, administrativos e complementares é um dos que custam a mostrar algum progresso. Enquanto o faturamento dos serviços como um todo está 11,7% abaixo de seu pico anterior, o diferencial para este segmento específico é de -17,7%.
No acumulado do ano até set/18, por sua vez, serviços totais caminham para a estabilidade (-0,4%) enquanto os profissionais, administrativos e complementares registram o pior desempenho (-1,9%). Como estes são serviços corporativos, tal performance sugere uma situação ainda muito complicada das empresas no país, afetando sua demanda tanto de serviços de maior qualificação como daqueles auxiliares, em geral terceirizados.
Além das atuais assimetrias entre os diferentes segmentos dos serviços, há outros dois aspectos importantes para este setor que tem encontrado grandes dificuldades para iniciar sua recuperação.
O primeiro aspecto a ser destacado é que parece que os serviços finalmente chegaram ao fundo do poço. Diante de bases baixas de comparação, resultantes da prolongada recessão do setor, o 3º trim/18 registrou a primeira variação positiva depois de 14 trimestres seguidos de declínio. A alta, entretanto, foi de apenas 0,7% frente ao mesmo período do ano anterior e ainda há de provar que será o início de uma trajetória de reativação.
Conta a favor de dias melhores para os serviços o fato de que a maior parte de seus segmentos também registraram aumento de faturamento no 3º trim/18. Este é o segundo aspecto importante a ser mencionado. O melhor resultado foi registrado por transportes, correios e auxiliares, segmento que, inclusive, caminha para o segundo ano de expansão do faturamento (+2,3% em 2017 e +1,3% em 2018 até setembro). Serviços de informação e comunicação cresceram, mas foi pouco: apenas +0,4%.
Outro ramo com bons resultados foi o de serviços prestados às famílias, com alta de 1,7% frente a jul-set/17, após três trimestres de retração. Neste caso, porém, cabe aguardar o desempenho futuro antes de identificar uma tendência favorável, dado que este segmento já havia registrado dinamismo positivo antes de retornar ao vermelho na virada de 2017 para 2018.
Em oposição a estes resultados que inspiram algum otimismo, está, como já mencionamos anteriormente, o segmento de serviços profissionais, administrativos e complementares, que além de registrar a queda mais acentuada no 3º trim/18 (-1,5%), não teve nenhuma amenização de seu quadro em comparação com o trimestre anterior (-1,6% no 2º trim/18).
Por fim, o segmento de outros serviços, que reúne um conjunto amplo de atividades, como serviços imobiliários, financeiros, assistências técnicas etc., também não se saiu bem em julho-setembro deste ano, perdendo 0,6% de seu faturamento real em relação ao mesmo período do ano anterior. Os dois primeiros trimestres de 2018, porém, ao menos foram capazes de, por ora, assegurar um desempenho positivo no acumulado de janeiro-setembro (+1,6%).