Carta IEDI
Pouca energia
A economia começou o ano de 2019 com pouca energia, a despeito das expectativas em alta. Se as esperanças em relação ao futuro foram revigoradas nos últimos meses, ainda estamos para ver uma trajetória de crescimento mais consistente que possa nos levar à superação da crise de 2015-2016.
Janeiro foi mais um mês de retrocesso para a indústria, algo que tem ocorrido desde final do ano passado, e também trouxe resultado adverso para o setor de serviços, cujos primeiros sinais de recuperação surgem com muita parcimônia. O comércio varejista, por sua vez, manteve-se no azul, não sem registrar alguma desaceleração.
Consequência de uma virada de ano muito anêmica para a economia é que as projeções para o crescimento do PIB em 2019 já perderam 0,5 ponto percentual entre janeiro e março, segundo a pesquisa Focus do Banco Central. Isto é, em apenas dois meses e meio o dinamismo esperado para 2019 foi reduzido em 1/5, passando de 2,5% para 2%.
Em boa medida, isso se deveu ao saldo geral dos grandes setores da economia em jan/19: -0,8% para a produção industrial, -0,3% para o faturamento real de serviços e apenas +0,4% para as vendas reais do comércio (+1% se consideradas as vendas de veículos, autopeças e material de construção), sempre em relação a dez/18, com ajuste sazonal. Deste modo, o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do crescimento do PIB, assinalou variação -0,4% nesta mesma comparação.
Nada disso é por acaso. Os resultados acima mencionados correspondem a um quadro de pouco dinamismo do emprego, da quase paralização da queda das taxas de juros do crédito bancário, da baixa capacidade de o setor público organizar projetos fundamentais de investimento em infraestrutura, bem como da ausência de horizonte para que os obstáculos impostos à indústria sejam removidos (como na área tributária, na inovação e na modernização do parque industrial). Além disso, também continuamos assistindo o declínio muito acentuado dos investimentos relacionados com o futuro do país, notadamente no campo de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
A atual situação é a seguinte: quem saiu na frente na recuperação, parece encontrar dificuldades para dar continuidade ao movimento; quem saiu por último, ao contar com bases de comparação muito baixas, consegue reforçar seu dinamismo.
A indústria se encaixa neste primeiro caso. Depois de crescer +5% no 4º trim/17, registrou queda de -1,1% no 4º trim/18 e, a depender do resultado de jan/19, a piora pode se aprofundar: -2,6% frente ao mesmo período do ano anterior. Os serviços, em contrapartida, se encaixam no segundo caso, já que há muito pouco tempo começaram a se recuperar. Assim, a alta de +2,1% ante jan/18 aponta para um crescimento mais robusto do que no 4º trim/18 (+0,9%). Ou seja, enquanto a indústria vai deixando de crescer, os serviços vão deixando de cair.
O comércio varejista, por sua vez, encontra-se no meio termo, apresentando uma acomodação no ritmo de venda. Isso significou passar de +4,4% no 4º trim/18 para +3,5% em jan/19, em seu conceito ampliado, isto é, considerando as vendas de veículos, autopeças e material de construção. Em seu conceito restrito, há maior preservação de dinamismo: +2,2% no 4º trim/18 e +1,9% em jan/19, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
No caso da indústria, os entraves estão concentrados principalmente na região Sudeste, com destaque negativo para São Paulo, que vem apresentando perda de produção, em um ritmo acentuado, desde setembro do ano passado. Do ponto de vista setorial, porém, o perfil do retrocesso é difundido, mas atinge mais quem vinha melhor se saindo, especialmente, bens de consumo duráveis (-2,7% ante 4º trim/17 e -5,5% ante jan/18) e, mais recentemente, bens de capital (+3,5% e -7,7%, respectivamente).
Nos serviços, o maior obstáculo à recuperação do setor é o segmento de serviços profissionais, administrativos e complementares, isto é, aqueles geralmente demandados pelas empresas. Tal segmento, que já vinha debilitado, caiu sistematicamente nos últimos cinco meses na comparação interanual, ainda que a retração de jan/19 (-0,5%) tenha sido menos intensa que a do 4º trim/18 (-1,7%).
Já no varejo, são as vendas de móveis e eletrodomésticos e de tecidos, vestuário e calçados que preocupam mais. No primeiro caso, o sinal é de piora continuada: -2,0% no 4º trim/18 e -2,8% em jan/19 frente ao mesmo período do ano anterior. No segundo caso, jan/19 (-1,2%) pode estar apontando para o retorno da fase de declínio que havia sido interrompida no 4º trim/18 (+1,6%). Outros segmentos importantes, como veículos e autopeças, também começaram 2019 com menor dinamismo.
Indústria
A virada de 2018 para 2019 levou a indústria brasileira de volta ao vermelho. Por três meses seguidos, o setor perdeu produção, inclusive janeiro do corrente ano, quando registrou -2,6% ante jan/18. Em relação a dezembro do ano passado, já descontados os efeitos sazonais, a variação também foi negativa, em -0,8%.
Este movimento de retrocesso tem sido relativamente difundido tanto do ponto de vista setorial, como regionalmente, ainda que venha sendo liderado por seus principais parques industriais da região Sudeste do país.
Ainda que alguns ramos tenham contribuído mais para a queda registrada, como a indústria farmacêutica e de máquina e equipamentos, as variações negativas foram numerosas neste início de 2019, qualquer que seja a comparação. Frente a dez/18, já descontados os efeitos sazonais, houve perda em 13 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE, enquanto na comparação frente a jan/18 o saldo foi ainda pior: 18 dos 26 ficaram no vermelho.
Os macrossetores industriais também registraram majoritariamente resultados negativos: apenas bens de consumo duráveis fugiram à regra e cresceram (+0,5%) frente a dez/18, com ajuste, e todos os quatro macrossetores recuaram em relação a jan/18: -7,7% em bens de capital; -5,5% em bens de consumo duráveis; -2,9% em bens de consumo semi e não duráveis e -1,3% em bens intermediários.
Em termos regionais, por sua vez, São Paulo se destaca por apresentar um quadro ainda mais adverso que o total Brasil. Na comparação frente ao mesmo período do ano anterior, há quedas sistemáticas desde setembro do ano passado, isto é, nos últimos cinco meses. Para uma economia industrial tão dependente de São Paulo, diante desta evolução, o resultado para o agregado do país não poderia ser outro que não uma nova etapa recessiva.
Mas não é apenas a sequência de variações negativas que preocupa. Outros aspectos que chamam atenção são: a força nada desprezível com que a indústria paulista pisou no freio (-5,3% em jan/19 ante jan/18, por exemplo) e a disseminação das quedas dentre seus ramos (em média, 67% deles entre nov/18 e jan/19), sobretudo alimentos, informática e eletrônicos, veículos e outros equipamentos de transporte.
Outras localidades também têm se saído mal nos últimos meses. Ainda na comparação interanual, 10 das 15 localidades pesquisadas pelo IBGE registraram resultados negativos em jan/19, mas houve casos reincidentes.
Assim como São Paulo, o Rio de Janeiro também só apresentou retração desde set/18, embora em intensidade menor. Agora em janeiro de 2019, a perda de produção foi de -1,5% frente ao mesmo mês do ano passado. Com as indústrias paulista e carioca no vermelho, assim como a do Espírito Santo, e Minas Gerais crescendo pouco, a região Sudeste está no centro do recente retrocesso industrial do país.
Há, contudo, forças adicionais a puxarem a indústria brasileira para baixo. É o caso do Nordeste, com três meses consecutivos de perda (-5,7% em jan/19 ante jan/18), e também do Amazonas, em situação ainda pior: à exceção de out/18 (+2,2%), vem caindo desde agosto do ano passado, atingindo um resultado de nada menos do que -10,5% em jan/19.
Se o Sudeste e o Nordeste claramente contribuíram para a interrupção da recuperação industrial, a região Sul, por sua vez, caminhou na direção oposta. Ainda que alguns de seus estados tenham passado recentemente por períodos de menor dinamismo, vêm conseguindo com certo sucesso preservar resultados positivos, desde que saíram da crise no final de 2016. Em janeiro de 2019, Paraná cresceu +8,1%, Rio Grande do Sul +5,7% e Santa Catarina +1,2% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Comércio
Diferentemente da indústria, o comércio varejista começou 2019 crescendo. Suas vendas reais apresentaram um desempenho positivo tanto em relação a dezembro do ano passado (+0,4%, com ajuste sazonal) como na comparação com janeiro de 2019 (+1,9%). Consideradas as vendas de automóveis, autopeças e material de construção, o quadro é ainda mais favorável (+1% ante dez/18 e +3,5% ante jan/18).
Deste modo, o nível de atividade do setor na entrada de 2019 permaneceu muito próximo daquele registrado no final do ano passado, muito embora, devido ao segmento de veículos e autopeças, tenha havido alguma desaceleração no varejo ampliado.
O contraste do resultado obtido no 4º trim/18 e o de janeiro de 2019, em relação ao mesmo período do ano anterior, ilustra bem este ponto. Em seu conceito restrito, alta de +1,9% em jan/19, como mencionado anteriormente, e de +2,2% no 4º trim/18. Em seu conceito ampliado, essas variações são de +3,5% e +4,4%, respectivamente.
Ao continuar avançando, o desempenho do varejo tem descolado ainda mais daquele da indústria, que voltou a enfrentar uma nova etapa de recessão na virada de 2018 para 2019. O diferencial em favor do varejo ampliado já vinha ocorrendo desde o início da recuperação econômica em 2017, mas ao se intensificar já aparece na comparação 12 meses, que capta tendências de mais longo prazo.
Assim, entre fev/18 e jan/19, enquanto o varejo ampliado acumulou alta de +4,7% frente aos doze meses anteriores, a indústria variou somente +0,5%, isto é, uma diferença de 4,2 pontos percentuais. Essa diferença de ritmo para o período fev/17 e jan/18 era de apenas 1,7 p.p.. Não é de se estranhar, então, que as importações de manufaturados venham crescendo mais fortemente nos últimos meses.
Apesar deste comportamento geral, muitos segmentos do comércio não só tiveram seus resultados reduzidos com a entrada de 2019, mas chegaram a voltar ao vermelho. Pioraram seu desempenho de jan/19 a ponto de ficarem no negativo, o segmento de tecidos, vestuário e calçados, que também tinha perdido vendas reais em dez/18 (-1,5% ante dez/17), e o segmento de móveis e eletrodomésticos. Neste último caso, ocorre retração das vendas desde julho do ano passado, com exceção do mês de outubro (+1,5%), por isso, seu 4º trim/18 também já tinha sido ruim. Os juros do crédito às famílias, que pararam de cair, são fator importante para esta trajetória.
Outros também reduziram seu ritmo de expansão em relação ao último trimestre de 2018, mas ainda assim mantiveram taxas bastante positivas em jan/19, como o segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico (+6,4% ante jan/18) e veículos e autopeças (+8,8%).
Em linha com o varejo total, isto é, com relativa manutenção do crescimento na virada do ano, estão segmentos de peso, como o de supermercado, alimentos, bebidas e fumo, na faixa de +2%, e o de material de construção, na faixa entre +2% e +2,5%.
Serviços
Em janeiro de 2019, o setor de serviços compensou parcialmente o avanço obtido em dezembro do ano passado, ao recuar -0,3% ante o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Esta foi a primeira taxa negativa depois de três meses no azul. Mais do que uma reversão de trajetória, porém, este resultado na entrada de 2019 indica a continuidade da fase de estancamento da crise pela qual o setor vinha passando até pouco tempo atrás.
Como os sinais de melhora são ainda muito recentes, as bases de comparação de um ano atrás são baixas e ajudam na obtenção de resultados positivos na comparação interanual. De fato, o faturamento real dos serviços cresce sistematicamente desde agosto de 2018. Agora em janeiro de 2019, a alta de +2,1% ante jan/18 foi a mais expressiva desta sequência.
Há, contudo, um dado ainda muito preocupante na evolução recente do setor. Trata-se da ausência quase absoluta de recuperação para o segmento de serviços profissionais, administrativos e complementares, isto é, aqueles geralmente demandados pelas empresas. Como o IEDI vem afirmando há algum tempo, este segmento permanece um obstáculo para a melhora dos serviços como um todo e, ademais, é um sintoma de que o quadro das empresas no país ainda é bastante adverso, trazendo perspectivas pouco favoráveis para o emprego de melhor qualidade.
Neste primeiro mês de 2019, este segmento dos serviços até conseguiu crescer frente a dez/18, registrando +1,7%, já com ajuste sazonal. Este resultado, entretanto, apenas repõe a perda de -1,6% verificada no mês anterior. Em outros termos, estes serviços corporativos, cujo faturamento ainda se encontra 20% abaixo do pico pré-crise (jun/13), não saíram do lugar nos últimos meses.
Frente ao mesmo mês do ano anterior, o faturamento real dos serviços profissionais, administrativos regrediu mais uma vez. A queda de -0,5% foi a quinta taxa negativa consecutiva. A interpretação mais otimista que se pode tirar deste dado é que foi menos intenso que o recuo do último trimestre de 2018. Ou seja, pode-se estar abrindo a possibilidade para seu retorno à faixa positiva em breve.
A despeito da retração continuada dos serviços profissionais, administrativos e complementares, a indicação de jan/19 para o movimento geral do setor de serviços é de um reforço de seus resultados. O avanço de +2,1%, como mencionado anteriormente, representa o dobro do ritmo de crescimento do 4º trim/18 (+0,9%). A maioria dos segmentos do setor seguem na mesma direção.
É o caso dos serviços prestados às famílias, devido principalmente ao seu componente alojamento e alimentação, cujo faturamento real em jan/19 aumentou +5,1% ante jan/18. São também os casos de outros serviços, que congregam um número diversificado de atividades, e do segmento de informação e comunicação, dada a alta, em jan/19, de +1,2% de telecomunicações e de +13% de serviços de tecnologia da informação. Este último segmento tem se tornado um serviço essencial para famílias e empresas.
Já os serviços de transporte, correios e armazenagem apresentaram estabilidade do ritmo de crescimento. Variaram +1% no 4º trim/18 e +0,9% em jan/19. Seu componente de maior peso, o transporte terrestre, que costuma refletir com maior proximidade o nível geral de atividade econômica, cresceu mais fortemente em jan/19: +1,8% ante jan/18. Este resultado, porém, já foi muito melhor em meses atrás, como no 3º trim/18 (+4,6%).