IEDI na Imprensa - Empresas Elevam Investimento em 2007
Empresas Elevam Investimento em 2007
Folha de São Paulo - 26/12/2006
Enquete do Ciesp em novembro com 590 indústrias de SP mostra que 31% pretendem investir mais, ante 6% há um ano
Perspectiva positiva reflete sinalização do presidente Lula de que serão tomadas medidas para elevar taxas de crescimento do país
Fátima Fernandes
O discurso pós-segundo turno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o governo vai trabalhar mais para o crescimento do Brasil elevou as perspectivas de investimentos dos empresários para 2007.
Consulta feita pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) em novembro com 590 empresas paulistas mostra que 31% delas pretendem elevar os investimentos no ano que vem. Há um ano, esse percentual era de apenas 6%.
Para 47% das empresas, os investimentos serão mantidos em 2007, e, para 10%, diminuídos. No levantamento feito em novembro do ano passado, esses percentuais eram de 39% e 36%, respectivamente.
A perspectiva de investir mais, segundo economistas e representantes de associações de indústrias, é reflexo, principalmente, de declarações pós-eleições do presidente Lula de que o país deve crescer 5% em 2007 -hoje o governo já trabalha com um percentual mais próximo de 4%- e que haverá medidas para estimular o consumo e os investimentos.
"Os empresários vivem de sonho e de crédito. E tudo indica que o governo optou pelo crescimento em 2007. Se isso vai se concretizar ou não, vamos saber mais para a frente, mas a indicação do presidente Lula trouxe esperança de expansão do país", diz Claudio Vaz, presidente do Ciesp.
Os investimentos previstos para 2007 têm como foco o mercado interno. Aumentar e defender participação no mercado doméstico aparecem como as principais prioridades de investimentos no ano que vem, seguidas de melhora na qualidade das mercadorias, lançamentos e expansão de presença no mercado internacional.
Os empresários pretendem investir mais em 2007 porque prevêem aumento do consumo doméstico, redução da taxa básica de juros da economia, a Selic, inflação sob controle, desvalorização, ainda que tímida, do real e manutenção da oferta de crédito ao consumidor.
Aquecido
O levantamento do Ciesp constatou que o aquecimento do mercado doméstico foi apontado por 32% das empresas consultadas como a principal oportunidade para 2007. Há um ano, só 10% das empresas viam o consumo interno como oportunidade para 2006.
"Houve mobilização para o crescimento a partir das declarações do presidente Lula. Isso está refletido na consulta feita às empresas. Mas, se analisarmos os dados da economia tal como eles estão hoje, e não como podem vir a ser, não há evidências, mantidos os atuais parâmetros, de que a atividade econômica vá se alterar no ano que vem", afirma Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
No levantamento feito pelo Ciesp, as empresas citam também os riscos que devem enfrentar em 2007. Falta de demanda, principalmente de produtos que mais concorrem com os importados, disputa com produtos chineses e manutenção da taxa de câmbio no patamar atual aparecem como os principais entraves ao crescimento da economia brasileira.
"E factível o país crescer até 5%, como gostaria o presidente Lula. Em 2004, o país cresceu 4,9%. Mas crescer a essa taxa de forma permanente é que é muito difícil. Isso só é possível com uma taxa superior de investimentos", diz Pereira. Essa taxa sobre o PIB (Produto Interno Bruto) é de 20%. Na sua avaliação, precisaria subir para 25%.
A expectativa dos empresários é que o governo aumente os investimentos em infra-estrutura, como em estradas, e que isso puxe também investimentos no setor privado. "O empresário está otimista porque há consenso de que é preciso destravar a economia e que algo será feito para solucionar o problema da falta de crescimento do país", diz Newton Melo, presidente da Abimaq, associação que reúne os fabricantes de máquinas.
Se a economia continuar como está, na avaliação de Melo, o faturamento real da indústria de máquinas deve crescer 0,7%, e o emprego, cair 1% no setor em 2007 sobre 2006. Isso se o dólar ficar entre R$ 2,15 e R$ 2,25, a Selic, em 12% no final de 2007, e não houver alteração na carga tributária brasileira.
Uma das principais preocupações dos empresários para o ano que vem é enfrentar a concorrência com as mercadorias importadas, especialmente da China. A indústria de embalagens, considerada termômetro da atividade econômica, identifica substituição de produtos nacionais por estrangeiros em vários setores da indústria.
"O consumo está descolado da produção. Nós do setor de embalagens temos observado que os produtos vêm de fora já embalados nos setores de brinquedos, têxtil, eletroeletrônico e de alimentos. Se a taxa de câmbio se mantiver do jeito que está, a demanda será cada vez mais suprida com produção de fora do país", diz Paulo Peres, presidente da ABPO, que reúne os fabricantes de papelão para embalagens. "E o pior é que as exportações também perdem fôlego. Isto é, há menos venda no país e lá fora."