IEDI na Imprensa - Para Economistas, É Inevitável o Ajuste dos Empregos pela Indústria
Para Economistas, É Inevitável o Ajuste dos Empregos pela Indústria
Valor Econômico - 09/12/2011
Arícia Martins
O segundo recuo consecutivo do emprego na indústria não é normal para um mês de outubro, avaliam economistas ouvidos pelo Valor, mas era inevitável, já que, após longo período de produção estagnada, forte correção de salários e produtividade patinando, o setor industrial não teria como escapar de um ajuste em sua mão de obra para recuperar competitividade.
O nível de emprego industrial caiu 0,4% entre setembro e outubro, feitos os ajustes sazonais, informou nesta sexta-feira a Pesquisa Mensal Industrial de Emprego e Salário (Pimes), do IBGE. Em setembro, o indicador também havia apontado retração igual nessa base de comparação. Entre outubro de 2010 e igual mês de 2011, o nível de ocupação das fábricas recuou 0,3%, primeira queda anual desde janeiro do ano passado.
Segundo cálculos do economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, a indústria eliminou 60 mil postos no período de um ano. “A queda do emprego é sempre algo ruim, mas pode ter um efeito positivo para a indústria”, diz Ramos, referindo-se ao comportamento decepcionante do setor em 2011.
Em análise interna enviada a clientes, o economista da Quest destaca que, descontando a inflação e a produtividade, o salário dos trabalhadores cresceu 10% desde meados de 2008, enquanto a atividade nas fábricas ainda não conseguiu superar o nível pré-crise. “Isso é um sinal claro de pressão de custos na indústria. Os preços não são repassados automaticamente devido à concorrência dos importados. A indústria passa a trabalhar com margens bastante apertadas”, explica.
Como Ramos espera que a indústria encerre o ano no zero, após o salto de 10,5% da produção em 2010, e cresça apenas 1,5% no ano que vem - na melhor das hipóteses - não há como antever uma recuperação do emprego nesse setor, ao menos no curto prazo, e provavelmente também em 2012, sustenta ele. “O cenário razoável é de estabilidade. Não faz sentido o emprego cair 0,4% todo mês, essa é uma queda forte, mas ainda pode continuar caindo a uma taxa mais próxima de zero ao menos por mais dois meses”, projeta.
Para Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada, o cenário é um pouco mais otimista para a indústria no ano que vem, o que não implica, contudo, em aumento considerável do emprego industrial, já que a herança estatística deste ano vai ser negativa para a produção industrial de 2012. Bacciotti calcula que, caso a produção registre crescimento zero no próximo ano, encerraria 2012 com queda de 1,3%. “A indústria precisa ter uma boa recuperação para crescer no ano que vem.”
Em análise, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) destaca que o número de ocupados nas fábricas não crescia desde agosto de 2010, trajetória de estagnação que ficou para trás e deve seguir negativa, tendo em vista o número de horas pagas no setor, que caiu 0,8% em setembro e 0,9% em outubro, na comparação com o mês anterior, já descontadas as sazonalidades.
“Esse é um indicador que pode ser considerado um antecedente do comportamento do emprego industrial. Quando ele começa a diminuir, imagina-se que as empresas estão reduzindo, em um primeiro momento, as horas extras trabalhadas, o que pode ser sucedido, num segundo momento, pela desativação dos postos de trabalho. É possível que este segundo momento já esteja vigorando”, afirma o instituto no relatório.