IEDI na Imprensa - Crescimento do País É Estimulado Pelo Consumo Maior das Famílias
Crescimento do País É Estimulado Pelo Consumo Maior das Famílias
Brasil Econômico - 27/12/2011
Enquanto o comércio pauta o crescimento, indústria amarga perdas e vê pouca ação para revitalizar o setor
Priscilla Arroyo e Rafael Abrantes
O crescimento da economia brasileira foi alavancado pelo consumo das famílias, que nos últimos 32 trimestres demonstrou ascensão e ocupa hoje a parcela de 60,6% do Produto Interno Bruto (PIB). “Em 2020 essa parcela deve chegar a 65%. O consumo das famílias evolui de forma mais acelerada que o PIB há uma década”, afirma Fabio Pina, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio/SP).
“Estamos com a menor taxa de desemprego da história, 5,2%. O país tem uma economia relativamente fechada, que depende pouco do exterior. Contamos ainda com um sistema bancário bastante sólido e líquido. Comesse quadro, o mercado interno ainda é muito relevante”, pondera Pina.
O setor de serviços, que ocupa a principal parcela do lado da demanda no PIB, tende a crescer 3,5% em 2012 na estimativa da Confederação Nacional do Comércio (CNC). “O aumento de renda da população alimentou a demanda por serviços principalmente em telecomunicações, saúde e educação, que são as áreas mais dinâmicas”, diz Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da CNC.
No varejo, os bens de consumo duráveis como computador e televisão estão puxando as vendas reais desde 2009. Segundo Freitas, a tendência é que o cenário se mantenha nos próximos anos com a ascensão das novas classes sociais. A previsão é que o segmento cresça 6,5% no próximo ano. “O aumento do volume de crédito (que deve ser de 10% a 15% em 2012) também deve estimular as vendas”, diz.
Na visão de especialistas, somente um sério agravamento da crise mundial pode barrar esse ciclo de alta. “São os impulsos de renda que garantem o consumo das famílias. Essa situação tende a ser duradoura, possibilitando que a economia continue crescendo acima da média mundial. O ciclo só poderia se quebrar com um cenário externo muito adverso”, afirma Flávio Serrano, analista do Espírito Santo Investment Bank.
Pina defende que somente a quebra da economia de algum país, como a Grécia por exemplo, poderia refletir de forma negativa no Brasil. “Nossa estabilidade e independência econômica faz com que seja muito difícil darmos um passo para trás.
Sustentabilidade
Em um ano marcado por resultados ruins, representantes do setor industrial apontam que, mesmo positivo, o atual desempenho econômico do país não terá sustentabilidade sem maior participação da indústria. “O Brasil continua a entender a indústria com pouca importância”, afirma Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica Eletrônica (Abinee). A comparação é imediata com o forte desempenho visto nos setores de serviços
e agropecuária.
Para Barbato, resultados como o alto saldo comercial puxado por commodities, contínuo aumento do salário mínimo, além da valorização do Real, não podem esconder o sucateamento da indústria brasileira observado nos últimos anos.
“Nos tornamos a sexta economia do mundo a despeito de um desempenho industrial que, infelizmente, deixa a desejar”, observa Júlio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). “A indústria continuará com baixa performance durante todo o ano que vem”, prevê, ao projetar alta de 1% na produção industrial neste ano e de 3% em 2012.
Entre as principais tarefas vistas como o “dever de casa” para revitalização da indústria no país há alguma unanimidade: maiores investimentos em infraestrutura e redução de tributos. Outra preocupação é atender a demanda crescente por empregos no país. “Serviços e agropecuária não conseguem absorvê-los”, alerta Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), que estima a perda de até 20 mil postos de trabalho no setor em 2011.