IEDI na Imprensa - Após recorde em maio, balança acumula saldo próximo de US$ 30 bi
Valor Econômico
Fabio Graner e Marta Watanabe
Impulsionada pelos preços favoráveis de produtos básicos, a balança comercial brasileira registrou em maio superávit de US$ 7,66 bilhões. O resultado foi recorde para qualquer mês, na série iniciada em 1989, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). Em maio do ano passado, o superávit foi de US$ 6,43 bilhões.
No acumulado do ano, o superávit de US$ 29,03 bilhões também é recorde histórico para o período. O saldo no ano subiu 47,5% sobre o superávit de US$ 19,68 bilhões de janeiro a maio de 2016.
O crescimento do saldo comercial ocorre porque as importações, apesar de já estarem no terreno positivo, ainda crescem em ritmo inferior ao das vendas ao exterior, que ainda estão sendo beneficiadas pela melhora nos preços internacionais. Segundo o Mdic, o preço médio das exportações subiu 19,7% nos cinco meses deste ano.
Mesmo com variação positiva, a importação pressiona menos o saldo comercial porque os desembarques sofreram reduções maiores nos últimos anos, o que deixou a base de comparação menor. Em maio de 2016 a importação caiu 24,3% em relação a igual período de 2015, quando já havia recuado de 26,6% na comparação anualizada. As exportações também caíram na mesma comparação, mas em taxas bem menores, de 0,2% em maio de 2016 e de 15,2% no mesmo mês de 2015, sempre no critério da média diária.
Apesar de ser um número positivo da economia, a balança traz também alguns sinais preocupantes. Um deles é a queda na quantidade exportada de 0,8% no acumulado do ano, que indica pouco avanço em novos mercados. O outro dado é o recuo de 19,4% nas importações de bens de capital, que evidencia que o investimento ainda está longe de ter uma performance desejável.
De acordo com o Mdic, as exportações em maio somaram US$ 19,79 bilhões, com alta de 7,5% em relação a maio de 2016 e queda de 8,4% ante abril. As importações somaram US$ 12,13 bilhões, com alta de 4% sobre maio de 2016 e queda de 7,4% em comparação com abril.
Nos cinco primeiros meses do ano, as exportações somaram US$ 87,93 bilhões, com alta de 18,5% pelo critério de média diária. As importações totalizaram US$ 58,90 bilhões com alta de 8,4% ante igual período de 2016.
Quando olhado por categoria, os números da balança de maio também demandam moderação no otimismo. Por exemplo, as exportações de produtos manufaturados, que têm maior valor agregado e tendem a gerar mais desenvolvimento econômico, somaram US$ 6,87 bilhões em maio e recuaram 1,2% na comparação com igual período do ano passado.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a queda nos manufaturados em maio pode ser efeito do câmbio. Houve redução nessa classe de produtos, mesmo com altas em segmentos menos suscetíveis à cotação do dólar, como automóveis, e em setores com produtos que acompanham o ciclo de commodities, como açúcar refinado.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), avalia que a queda dos manufaturados requer atenção para os próximos meses. Ele não acredita, porém, que a redução em maio indique reversão da tendência. Ele ressalta que, mesmo com a queda em maio, os manufaturados tiveram desempenho satisfatório, com alta de 8,9% na média diária do acumulado até o quinto mês do ano. "Há uma mudança de cenário em relação ao ano passado, algo que não deve ser menosprezado."
O diretor do departamento de estatística e apoio à exportação do Mdic, Herlon Brandão, informou que as exportações de produtos manufaturados para a Argentina somaram US$ 6,2 bi de janeiro a maio, com crescimento de 23,6% ante igual período do ano passado. Ele lembrou que a Argentina voltou a ser o principal destino de manufaturado desde o mês passado. Segundo Brandão, no total, o Brasil tem um superávit comercial com o vizinho de US$ 3 bilhões nos cinco primeiros meses do ano.
Já o total de vendas de produtos básicos se expandiu 11,6% em maio, para US$ 9,70 bilhões, na comparação anualizada. As de semimanufaturados tiveram expansão de 16,4%, totalizando US$ 2,78 bilhões. No acumulado os básicos cresceram 27% e os semimanufaturados, 15,3%.
Brandão destacou que o impacto da alta de preços no resultado da balança foi acentuado em três principais produtos com alta de preços: petróleo, minério de ferro e soja. Ele salientou que neste ano a exportação desses produtos básicos tem sido favorecida pela base de comparação baixa em termos de preços, já que no ano passado os preços desses produtos estiveram nos níveis mais baixos em dez anos. O preço médio de exportação do minério de ferro, por exemplo, caiu 30,3% em maio contra abril, mas ainda está 19,2% mais alto contra igual mês de 2016. Em abril o preço estava 103,5% mais alto na comparação anualizada.
Brandão manteve a projeção de superávit comercial "acima de US$ 55 bilhões" para 2017. "Há demanda aquecida por produtos brasileiros e capacidade de oferta com safra recorde", disse, acrescentando que há contribuições importantes de setores como o automotivo.
Comentando o resultado do PIB do primeiro trimestre, Brandão destacou que o comércio exterior teve desempenho superior ao PIB, com alta de 4,8% das exportações líquidas no período, enquanto o PIB subiu 1%. Ele avaliou que a contribuição positiva deve arrefecer ao longo do ano, refletindo a menor contribuição dos preços no desempenho das exportações. Brandão explicou que os preços, que estavam muito baixos no início do ano passado, foram subindo ao longo de 2016, o que deve diminuir o peso desse indicador nos resultados das exportações brasileiras ao longo de 2017.