IEDI na Imprensa - Avanço da produção é gradual, mas constante
DCI
Apesar do ritmo lento, a recuperação chega a segmentos até então estagnados, como bens intermediários; desempenho verificado pelo IBGE é positivo em 19 dos 26 ramos pesquisados
Ricardo Casarin
Apesar do ritmo ainda lento, o avanço da produção industrial se mostra mais espraiado e atinge setores que estavam estagnados. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE) aponta crescimento na base anual em 19 dos 26 ramos.
“Observamos alguns segmentos se destacando, com desempenho forte em químicos, papel e celulose, alimentos e bebidas. Antes, a recuperação estava muito concentrada em bens duráveis e bens de capital”, avalia o economista da Pezco, Yan Cattani. Segundo ele, isso sinaliza que o efeito base de recuperação já ocorreu e agora está atingindo outros elos da cadeia. “A melhora em bens de capital ocorria em função da recuperação de perdas durante a crise. Já os bens duráveis estavam mais relacionados ao setor automotivo. Por enquanto, atinge poucos setores, mas traduz uma melhoria; deixou de concentrar só nesses dois itens”, destaca.
Para Cattani, a queda de 0,2% em relação a junho já era esperada. “Após a greve em maio, era natural que houvesse um forte avanço em junho. A retração sobre o mês anterior é um mero efeito estatístico. O que traduz melhor a realidade é o crescimento anual de 4%, mostrando que a produção retornou aos níveis anteriores ao da greve”, ressalta.
Para a professora de economia do Insper, Juliana Inhasz, embora a comparação com 2017 seja positiva, o resultado se dá sobre uma base fraca. “Quando levamos em consideração que o País passou por dois anos de PIB em queda e crescimento pequeno no ano passado, era de se esperar um desempenho mais forte. A indústria cresce pouco e sobre uma base fraca.”
Ela acredita em uma tendência de continuidade desse cenário. “É difícil acreditar em uma recuperação vigorosa, com melhoria do emprego. O País não vai conseguir realizar a virada econômica esperada nesse ano.”
Cattani acredita que a recuperação vai seguir nos níveis anteriores à paralisação dos caminhoneiros. “As elevações nos próximos meses devem ser fracas, as pessoas ainda não têm consumido de forma tão intensa. Segue a recuperação, o que é bom, mas num ritmo não tão animador.”
Balanço mensal
O economista do IBGE e gerente da pesquisa industrial mensal, André Macedo, destacou os efeitos negativos do desempenho do setor automotivo no resultado mensal. “O segmento de bens de capital foi diretamente afetado pela queda em transportes, em que os caminhões têm um peso importante para esse resultado negativo. Também observa-se um desempenho negativo em bens de consumo duráveis, também afetado pelo comportamento de menor intensidade da indústria automotiva.”
Na análise do MUFG, holding do Banco MUFG Brasil, o resultado, embora negativo, foi melhor que o esperado. “Apesar da contração na margem, observa-se que todas as categorias apresentaram aumento na produção nos últimos 12 meses, sendo que bens duráveis e de capital tiveram um crescimento mais acentuado.” Porém, o relatório destaca que essa melhora se dá sobre uma base fraca, afetada pela recessão em 2015 e 2016.
Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), a pesquisa do IBGE demonstra que o vigor da retomada da atividade em 2018 se mostra aquém do esperado. O relatório do Iedi dá ênfase à perda mais intensa em bens de capital, “cujo desempenho pode estar refletindo a deterioração das expectativas vindas do cenário político, mas também do próprio ritmo de recuperação da indústria, que tem deixado muito a desejar”. Juliana também vê o dado com preocupação. “É um indicador totalmente relacionada à produção, sinaliza que as empresas não estão apostando no crescimento. Após a recuperação das perdas da greve, era esperado que haveria um desempenho melhor em julho.”