Indústria Garante Ajuste Externo de 2002
Indústria Garante Ajuste Externo de 2002
Valor Econômico - 11/11/2002
Comércio Exterior - Déficit do setor industrial cai de US$ 7,0 bilhões para US$ 718 milhões entre 2001 e 2002
Denise Neumann, De São Paulo
A indústria de transformação é a grande responsável pelo ajuste das contas externas do Brasil em 2002. O setor respondeu, sozinho, por 95% da virada do saldo comercial brasileiro nos primeiros nove meses do ano. No total, a balança comercial aumentou seu saldo em US$ 6,6 bilhões na comparação entre janeiro e setembro de 2001 e o mesmo período de 2002. A indústria garantiu US$ 6,3 bilhões deste total, segundo dados da Secretaria de Acompanhamento da Produção do Ministério do Desenvolvimento (Mdic).
A indústria fez um expressivo ajuste nas suas importações e com isso reduziu, em 90%, o tamanho do seu déficit comercial. Ele despencou de US$ 7,0 bilhões para US$ 718 milhões entre janeiro e setembro de 2001 e o mesmo período de 2002. Enquanto fazia esse brutal ajuste, a produção industrial se manteve constante: queda de 0,2% no acumulado de janeiro a setembro de 2002 em relação ao mesmo período do ano passado.
A economia da indústria com a queda das importações somou US$ 6,3 bilhões. "A indústria caminha para encerrar o ano com superávit, o que é uma grande novidade para um segmento que já teve déficits comerciais superiores a US$ 10 bilhões", avalia Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Essa diferença foi construída com uma queda de 19% nas importações (que caíram de US$ 38 bilhões para US$ 30,6 bilhões) e uma retração de 3,3% nas exportações, que recuaram de US$ 30,9 bilhões para 29,9 bilhões na comparação do acumulado de janeiro a setembro de 2002 e 2001.
O profundo ajuste nas importações industriais está suscitando o debate sobre sua consistência. Quanto desta retração indica substituição de importação e quanto reflete, apenas, queda no produto da indústria?
Entre os 19 principais setores da indústria de transformação, apenas sete registraram crescimento em 2002 na comparação com 2001. Nestes, a importação caiu em quatro e cresceu em três (fumo, alimentação e farmacêutica).
A produção cresceu simultaneamente à queda da importação nas indústrias mecânica (máquinas e equipamentos), química, do mobiliário e de papel e celulose. Mas os percentuais de ganho de produto nestes setores são muito pequenos, com exceção da indústria mecânica. A indústria de máquinas e equipamentos acumula, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um aumento de 5,5% na produção até setembro. No período, as importações recuaram 15% e as exportações diminuíram 5%, em valor.
A contração das importações em quatro setores explica 75% do ajuste da indústria. A compra externa de bens dos setores metalúrgico, mecânico, químico e de material elétrico e de comunicação diminuiu US$ 4,8 bilhões entre 2001 e 2002. Na metalurgia, a ajuda também veio do aumento de 11% nas exportações (mais US$ 470 milhões), totalizando um ganho de US$ 5,2 bilhões nestes segmentos.
A comparação entre o ritmo da produção industrial e a movimentação das importações é o primeiro sinal para identificar se há ou não substituição de importações, embora a indústria de um setor muitas vezes consome insumos de outros segmentos industriais. Nestes quatro setores, dois aumentaram a produção em 2002 ao mesmo tempo em que cortavam importações. Nos outros dois, o sinal foi negativo nas duas pontas.
A produção de material elétrico e de comunicações caiu 12% em 2002 na comparação com 2001, enquanto as importações caíram 29,5% e as exportações recuaram 1,3%. A indústria metalúrgica está repetindo a produção de 2001, mas as exportações cresceram 11% e as importações de siderúrgicos recuaram 18% até setembro.
Apesar de saldar a contribuição expressiva - e inédita - da indústria para o saldo de 2002, Almeida, do Iedi, não avalia que ela indique substituição de importações. "É para pensar se uma tamanha dependência do aumento do saldo na redução de importações e a sua grande concentração em poucos setores não refletem uma precariedade quanto à sustentação dessa melhora", questiona.