Indústria Retoma Alta no Fim do Ano
Indústria Retoma Alta no Fim do Ano
Valor Econômico - 13/11/2002
Conjuntura - Quarto trimestre será melhor do que se esperava, por ajuste externo e consumo de duráveis
Cláudia Trevisan, De São Paulo
O ajuste externo e o aumento do consumo de bens duráveis indicam que a produção industrial no quarto trimestre será melhor do que se esperava, apesar de ainda estar longe de um patamar que mereça celebração.
O comportamento da economia nas últimas semanas indica que a compra de produtos como veículos cresceu, apesar da elevação da taxa de juros determinada pelo Banco Central (BC) há quase 30 dias. Outubro foi o melhor mês do ano para a indústria automobilística, com produção de 169,9 mil carros, 42 mil a mais que em igual período de 2001.
No terceiro trimestre, a compra de bens duráveis, que inclui ainda eletrodomésticos, teve alta de 10,6%, bem acima da média de 4,2% de todos os setores da indústria. Dados sobre nível de emprego da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostram melhoria do indicador em outros segmentos de bens duráveis, como eletroeletrônicos.
Mas Clarice Messer, diretora do Departamento de Pesquisas e Estatísticas Econômicas da entidade, diz que é cedo para saber se o movimento é permanente ou um reflexo do fim de ano.
De qualquer forma, a produção industrial deverá ter nos últimos três meses uma expansão próxima de 4%, em relação a igual período de 2001. No ano, o crescimento deverá variar de 1,8% a 2,0%. "Os dados que estão aparecendo indicam que o quarto trimestre será melhor do que se esperava", diz Clarice.
Julio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) prevê expansão de 3,9% da indústria entre outubro e dezembro e aposta em crescimento de 5% no próximo ano, estimativa que parece exagerada diante do 1,8% que ele espera como resultado de 2002.
A principal razão para o otimismo de Gomes de Almeida é a expectativa de que o processo de substituição de importações vai se acelerar em 2003, principalmente no setor de bens de capital. O economista também aposta na manutenção da alta de consumo de bens duráveis, que em sua opinião reflete um ciclo que independe do aperto no crédito. "Chegamos a pensar que a alta dos juros poderia frustrar a 'bolha' do quarto trimestre, mas isso não ocorreu."
O resultado dos três últimos meses do ano também será mais positivo do que Juan Jensen, da consultoria Tendências, esperava até poucas semanas. "O terceiro trimestre veio melhor do que estimávamos, o que aumentou a expectativa para o último período do ano", destaca. Para ele, o resultado do quarto trimestre vai ser "bom" se comparado com igual período de 2001, e "razoável" diante do terceiro trimestre.
O principal eixo dessa mudança é o ajuste externo, com o aumento de exportações e redução de importações. Entre julho e setembro, o resultado da balança comercial da indústria ficou US$ 2,8 bilhões acima do registrado no terceiro trimestre de 2001. Como houve queda do consumo no período, o aumento da produção é justificado pela alta das vendas ao exterior. Jensen acrescenta que a diminuição das compras externas, com aumento da produção, reflete o processo de substituição de importações.
Com a alta do consumo de bens duráveis, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) espera terminar o ano com uma produção próxima a de 2001, de 1,8 milhão de veículos. Para 2003 ainda não há previsões -só a de que deverá ser melhor que 2002.
Os fabricantes de produtos eletroeletrônicos deverão encerrar o ano com expansão de 1,0% a 1,5% em relação a 2001, ano marcado pela crise de energia e a queda de vendas no setor. Paulo Saab, diretor-presidente da Eletros, é cauteloso quanto às previsões para 2003 e diz que o segmento ainda está longe de recuperar o nível de produção de 98.
Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq, afirma que o faturamento do setor deverá crescer entre 6% e 7% em razão de encomendas realizadas em 2001. Mas no primeiro semestre de 2003 haverá queda de até 3%, em conseqüência da retração dos pedidos.