Maioria dos Economistas Acredita em Queda Temporária das Importações
Maioria dos Economistas Acredita em Queda Temporária das Importações
Valor Econômico - 11/11/2002
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investimentos.|left>>Dez entre dez economistas concordam que a desvalorização cambial em janeiro de 1999 abriu espaço e permitiu uma primeira rodada de substituição de produtos e de matérias-primas e insumos importados por bens produzidos localmente. Foi a chamada substituição "fácil", que abrangeu principalmente bens de consumo duráveis e não-duráveis.
O debate agora, é se está ocorrendo ou não um movimento estrutural de substituição de produtos importados por nacionais. Se ele estiver em curso, o país pode voltar a crescer e ainda gerar saldos comerciais expressivos. Senão, o crescimento da produção industrial será acompanhado de uma retomada de importações e de menores saldos na balança comercial.
No departamento econômico do BBV Banco está cristalizada a idéia de que há um processo de substituição de importação em curso que vai além do segmento de bens de consumo e que ajuda a explicar os saldos comerciais crescentes. "Toda redução da importação não é explicada pela queda do produto", avalia Fernando Honorato Barbosa, economista do BBV.
O BBV projeta superávits comerciais crescentes (US$ 11 bilhões em 2002 e US$ 14 bilhões em 2003) porque avalia que há uma correção importante dos preços relativos e porque há investimentos domésticos e externos no setor de bens que podem ser comercializados com o exterior (tradebles).
O BBV criou uma série acompanhando a relação entre a produção física total e as importações de matéria-prima em quantidade. A correlação entre os dois indicadores foi sempre superior a 94% (de 1996 até 2000). A partir do primeiro trimestre de 2000, contudo, caiu para cerca de 61%. "Desde então, a produção industrial se descolou do produto importado", explica Barbosa. Na sua avaliação, esse descolamento tão expressivo é um dos indícios de que o movimento atual de substituição das importações não é apenas temporário.
A Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) também tem se dedicado ao tema. Fernando Ribeiro, economista da Funcex, cruzou a produção industrial com a quantidade importada em todas as categorias de uso (bens de capital, intermediários, duráveis e não-duráveis).
Ribeiro tomou 1998 como base 100 e concluiu que há redução em bens de capital e nos bens de consumo, mas não nos intermediários. Estes cresceram. "Esse segmento só cai recentemente, em 2002, quando a produção industrial diminui fortemente. Por isso nada garante que essa retração não seja esporádica", pondera.
Mônica Baer, economista da MB Associados, não identifica um movimento generalizado de substituição de importações. Ela vê investimentos localizados sendo maturados e permitindo a troca de alguns bens importados por nacionais. "Substituição de importação não se faz só com câmbio", diz ela. Para que haja um processo consistente, observa, é preciso que ocorra um ajuste dos preços relativos (que está ocorrendo) e agregação tecnológica. Além disso, esse movimento depende das estratégias das empresas multinacionais.
O comércio intrafirma, diz ela, representa quase dois terços do comércio mundial. "O Brasil precisa atrair grandes players internacionais para produzir aqui", defende.
Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, do Iedi, uma menor presença de importados depende do aumento de investimentos. "O núcleo duro da indústria não mudou, para que haja substituição nestes setores é preciso que ocorra, antes, um ciclo de investimentos", avalia.
Dados preliminares de um estudo que será divulgado pelo Iedi mostram que em bens de consumo o espaço para substituição está se esgotando. Entre 2002 e 2001 (sempre no período janeiro-setembro), a importação de bens de consumo diminuiu US$ 800 milhões. Deste total, US$ 600 milhões foi queda em automóveis. "Há bens de consumo que nem com o dólar a quase R$ 4,0 deixaram de ser importados", pondera.
Na opinião do professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas Mariano Laplane, a substituição de importação que ocorre agora nos segmentos de bens de consumo se deve à forma como foi feita a abertura comercial na década de 90. De acordo com o economista, setores como o de transformados plásticos e autopeças, principalmente em pequenas empresas, tiveram que parar algumas linhas de produção em que a competição com os produtos importados estava perdida.
Com a desvalorização cambial e a conseqüente queda das importações, abriu-se espaço para a volta das linhas de produção que estavam fora de funcionamento. No caso da indústria de produtos plásticos, essa dinâmica se concentra principalmente no segmento de utensílios domésticos que havia perdido mercado para produtos da China e Taiwan.
A empresa catarinense Plasvale, por exemplo, uma das líderes do mercado de plásticos para uso doméstico, retomou uma linha de potes para geladeira e microondas que antes era dominada pelos chineses. Outro espaço reconquistado foram os produtos de plástico vendidos em lojas de R$ 1,99, que também eram predominantemente asiáticos.
"É uma substituição improvisada, sem eficácia duradoura", diz Laplane. Para ele, o processo de nacionalização deve ser extraído com políticas planejadas e meios de financiamento. Um órgão governamental para coordenar um projeto de substituição de importação criaria um horizonte de investimento para a indústria, avalia.
Já José Augusto Savasini, sócio-diretor da Rosenberg & Associados questiona. "Não é possível falar em substituição de importação quando não há investimento. A taxa de formação bruta de capital fixo está caindo. Se a indústria não está ampliando sua capacidade, como vai substituir importados?" .
As encomendas de máquinas e equipamentos mostram retração de investimentos. O setor acumula crescimento de 8% no faturamento de 2002, mas há queda de 27% nas encomendas à indústria. Em agosto de 2001, os pedidos em carteira garantiam 22,5 semanas de produção. Agora, representam apenas 16,5 semanas, segundo a Abimaq. (DN e GF)
Foto: Júlio Bittencourt/Valor