O Estado de São Paulo - 25/08/2002
Direto da Fonte - Sonia Racy
Dependência Nacional
"O Brasil tornou-se vítima de grave dissonância cognitiva: a defasagem entre o que acontece e o que se percebe."
Apesar da importância para o acerto emergencial das contas externas, o último acordo fechado com o FMI não colocará fim aos problemas do País no médio prazo, na avaliação de Ivoncy Iochpe, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Pior. Mesmo com esse acordo, as chances de uma nova crise no Brasil, no biênio 2004-2005, são reais.
"Enquanto o Brasil não resolver sua dependência externa, dificilmente sairá do fio da navalha", avalia. Segundo o empresário, para afastar o fantasma da crise externa, reduzir os juros e retomar a criação de emprego, o País teria de obter superávits comerciais gigantescos, de mais de US$ 20 bilhões.
Iochpe lembra que os países que passaram por crises econômicas nos anos 90 trabalharam em dois cenários específicos. Um bloco fez um grande ajuste externo e teve uma recuperação econômica rápida, casos da Coréia do Sul, México e Rússia. No segundo time, mesmo com a ajuda de organismos internacionais, ficam países que fizeram ajustes lentos e parciais e continuam "patinando". Como Argentina e Brasil. "Se o Brasil tivesse adotado políticas mais audaciosas de exportação e substituição de importações, desde que mudou a política cambial em 99, já estaria colhendo os frutos e teria uma situação externa muito mais confortável."
O presidente do Iedi defende um programa de exportação e de substituição de importações que deveria ser adotado de imediato pelo futuro presidente. Com três diretrizes. Primeira: a desoneração das exportações, fundamental para aumentar o volume de vendas no exterior, acompanhada da identificação de áreas em que pode atuar com produtos de maior valor agregado. E, com apoio governamental, o Brasil poderia adquirir redes de distribuição no exterior para facilitar a colocação de seus produtos. "Não se trata de criar a marca Brasil, que demoraria muito tempo e dinheiro para consolidar, mas de comprar marcas formadas e com forte presença no mercado internacional", diz Iochpe.
A segunda diretriz seria a elaboração, em parceria com o empresariado nacional, de um amplo programa de substituição de importações. E a terceira, a negociação, com as empresas internacionais, de um trabalho para a superação das dificuldades da economia. O objetivo é que elas exportem mais e acelerem planos de nacionalização de componentes.