Carta IEDI
Indústria no Primeiro Bimestre: Produção Regional e Emprego com Resultados Desfavoráveis
No primeiro bimestre do ano, o desempenho da indústria brasileira foi bastante desfavorável e projeta um crescimento de cerca de 2,0% para 2012, uma estimativa muito modesta, sobretudo ao se considerar que, no ano passado, a produção do setor ficou quase estagnada (aumento de 0,3%). O resultado fraco do primeiro bimestre vale tanto para a produção quanto para o emprego industriais. No primeiro caso, a queda de 1,5% da produção industrial registrada em janeiro foi seguida de um aumento de 1,3% em fevereiro (ambas as taxas relativa ao mês imediatamente anterior com ajuste sazonal). Vale observar que esse resultado de fevereiro decorreu, sobretudo, do desempenho positivo das atividades industriais no Rio de Janeiro (3,7%), em Minas Gerais (3,0%) e em São Paulo (1,5%).
À primeira vista, parece que a indústria nacional começou uma retomada de sua produção, mas os resultados supracitados devem ser interpretados com muito cuidado, pois o desempenho recente da produção industrial nesses estados não é nada favorável. No caso de São Paulo, a alta de 1,5% em fevereiro “devolve” a queda de 1,0% registrada em janeiro. Já, para o Rio, isso não ocorreu, pois a retração em janeiro foi de 6,2% (após um recuo também expressivo em dezembro de 2011, que foi de 3,4%). No caso de Minas, apesar de o crescimento de 3,0% mais que compensar a queda de 1,1% registrada em janeiro, ele não repõe a retração de 2,6% de dezembro último.
É cedo para dizer que há uma retomada da produção industrial no País a partir dos dados de fevereiro. Os números do IBGE ainda apontam para uma trajetória de retração das atividades produtivas da indústria nacional. Ao se tomar as taxas de variação de determinado mês contra o mesmo mês do ano anterior, por exemplo, observa-se que a evolução da produção industrial está piorando no Brasil (–1,6%, –2,2%, –2,7%, –1,3%, –2,9%, –3,9%, respectivamente de setembro de 2011 a fevereiro deste ano) e, particularmente de modo mais sensível, nos seus três principais estados industriais. Mantendo o mesmo período de setembro de 2011 a fevereiro deste ano, a atividade industrial vem caindo fortemente em São Paulo (–3,9%, –4,5%, –5,0%, –3,3%, –5,4%, –6,6%), no Rio de Janeiro (0,2%, –2,0%, –3,4%, –2,1%, –9,2%, –8,9%) e em Minas (–5,8%, –3,6%, 2,5%, –2,8%, –2,5%, –1,1%).
Ao se comparar a variação acumulada no primeiro bimestre deste ano com a do último trimestre de 2011, também é possível observar uma piora do desempenho da produção industrial nesses três estados. Em São Paulo, passou-se de uma taxa de –4,3% no quarto trimestre de 2011 para –6,0% no acumulado de janeiro e fevereiro deste ano; no Rio, de –2,5% para –9,1%; e em Minas, de –1,3% para –1,8% – todas as taxas calculadas com relação a igual período do ano anterior.
Quanto ao emprego industrial, o número de ocupados na indústria brasileira apresentou ligeiro aumento de 0,1% em fevereiro com relação a janeiro, a partir da série de dados com ajuste sazonal publicada pelo IBGE. É um resultado tímido, que não se opõe fortemente à evolução desfavorável do emprego industrial observada nos últimos meses (–0,4%, –0,5%, –0,1%, 0,1%, –0,2%, respectivamente, de setembro de 2011 a janeiro deste ano) e que não aponta, de forma inequívoca, para uma retomada da ocupação na indústria. Portanto, ainda que positivo, o comportamento do emprego industrial em fevereiro também deve ser tratado com cautela.
O fato é que, em outras comparações, a evolução da ocupação na indústria vem piorando. Ao se comparar determinado mês com igual mês do ano anterior, observam-se as seguintes variações: –0,3%, –0,5%, –0,4%, –0,4%, –0,7%, nessa ordem, de outubro de 2011 a fevereiro último. Em outra comparação, observa-se que, no primeiro bimestre deste ano, o emprego industrial acumula queda de 0,6%, resultado que é pior do que o registrado no quarto e último trimestre de 2011, que foi de –0,4% – ambas as taxas calculadas com relação ao mesmo período do ano anterior.
Para os próximos meses, os indicadores de evolução do emprego não são claros. O número de horas extras, por exemplo, apresentou um bom crescimento em fevereiro com relação a janeiro, de 1,3% – com ajuste sazonal. Mas, ele havia caído em janeiro (–0,1%) e não vinha apresentando bons resultados desde setembro do ano passado. Um crescimento mais persistente do número de horas extras nos próximos meses poderá indicar o começo de uma retomada do emprego industrial no País. No entanto, como exposto acima, a trajetória recente da ocupação industrial não é nada favorável e não permite apontar para uma reação do mercado de trabalho ligado à indústria, sobretudo ao se considerar o que vem ocorrendo em São Paulo.
Produção Industrial Regional. De acordo com os dados divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal Regional do IBGE, na passagem de janeiro para fevereiro a produção industrial avançou em sete dos catorze locais pesquisados. O Pará, com crescimento de 6,2%, apontou o avanço mais acentuado, eliminando parte da queda de 13,3% verificada em janeiro. Acompanharam tal tendência os estados do Rio de Janeiro (3,7%), Minas Gerais (3,0%), Ceará (2,5%) e São Paulo (1,5%). Com média inferior a média nacional (1,3%) os estados do Espírito Santo e região Nordeste obtiveram altas de 1,3% e 0,8%, respectivamente. Já os estados do Paraná (–7,7%), Goiás (–3,9%), Rio Grande do Sul (–3,5%), Bahia (–0,6%), Pernambuco (–0,5%), Amazonas (–0,4%) e Santa Catarina (–0,2%) apresentaram movimento contrário, isto é, apresentaram taxas de variação negativa da produção industrial na passagem de dezembro para janeiro.
Na comparação mês contra mesmo mês do ano anterior, os estados de Rio de Janeiro (–9,0%), Amazonas (–8,3%), São Paulo (–6,6%), Ceará (–6,0%) e Santa Catarina (–4,5%) registraram quedas maiores do que a média nacional (–3,9%). As demais taxas negativas foram assinaladas por Rio Grande do Sul (–2,1%), Espírito Santo (–2,0%) e Minas Gerais (–1,1%). Por outro lado, o destaque positivo foi registrado no estado da Bahia (20,1%), refletindo, em grande parte, a maior produção do setor de produtos químicos (91,4%). Também registraram resultados positivos: região Nordeste (10,6%), Goiás (7,0%), Pernambuco (6,5%), Paraná (0,5%) e Pará (0,1%).
A produção industrial acumulada entre janeiro e fevereiro apresentou queda em oito das quatorze localidades. Cinco locais recuaram acima da média nacional (–3,4%): Rio de Janeiro (–9,1%), Ceará (–6,9%), Santa Catarina (–6,3%), São Paulo (–6,0%) e Pará (–4,5%). Amazonas (–3,3%), Espírito Santo (–2,4%) e Minas Gerais (–1,8%) também completam os estados com taxa de variação negativa no primeiro bimestre do ano. Por outro lado, os estados que obtiveram alta em seu crescimento foram: Goiás (15,6%), Bahia (12,7%), Pernambuco (8,7%), região Nordeste (6,9%), Rio Grande do Sul (2,6%) e Paraná (2,6%).
A redução no ritmo de crescimento do setor industrial no índice acumulado nos últimos doze meses na passagem de janeiro para fevereiro (de –0,1% para –1,0%) refletiu a queda em 7 dos 14 locais pesquisados. Os destaques negativos da taxa anualizada em fevereiro são: Ceará (–11,4%) e em Santa Catarina (–6,4%). As positivas são: Goiás (9,3%), Paraná (5,4%) e Espírito Santo (4,5%).
Pará. Em fevereiro, frente janeiro, com dados já descontados dos efeitos sazonais, a produção industrial paraense apresentou avanço de 6,2%. No confronto com fevereiro de 2011, constatou-se avanço de 0,1%, taxa influenciada pelos setores: metalurgia básica (9,6%), celulose, papel e produtos de papel (15,9%) e alimentos e bebidas (7,7%). Em sentido oposto, aparecem os setores de: madeira (–42,4%) e indústrias extrativas (–4,9%). No acumulado no ano de 2011, a produção industrial no Pará obteve queda de 4,5%. Os setores de metalurgia básica (6,0%) e alimentos e bebidas (5,0%) destacaram-se positivamente na produção. Por outro lado, os setores de indústria extrativa (–10,2%) e madeira (–34,9%) apresentaram as maiores quedas em termos de produção.
Bahia. Em fevereiro frente janeiro, com dados já descontados dos efeitos sazonais, a produção industrial baiana apresentou recuo de 0,6%. No confronto com fevereiro de 2011, constatou-se avanço de 20,1%, taxa influenciada pelos setores: produtos químicos (91,4%), alimentos e bebidas (12,3%) e celulose, papel e produtos de papel (10,1%). Já a principal contribuição negativa foi observada pelo setor de veículos automotores (–27,2%).
Paraná. Em fevereiro com relação a janeiro, a indústria paranaense apresentou queda de 7,7%, com dados livres de efeitos sazonais. Na comparação mensal (mês/ mesmo mês do ano anterior), o estado registrou alta de 0,5%, taxa impulsionada pelos setores de edição impressão e reprodução de gravações (126,2%) e madeira (21,1%). Por outro lado, as principais contribuições negativas para a taxa mensal vieram dos setores de produtos químicos (–46,5%) e veículos automotores (–18,0%).
Emprego Industrial. Em janeiro, o total dos ocupados na indústria geral avançou 0,1% em relação ao mês anterior, a partir de dados livres dos efeitos sazonais, após apontar variação negativa de 0,2% em janeiro. No confronto entre fevereiro 2012 e fevereiro 2011, verificou-se queda dos ocupados assalariados em 0,7%, a quinta variação negativa consecutiva. No acumulado em 2012 a variação foi negativa na ordem de 0,6%. Em 2012, frente aos 12 meses de 2011, a ocupação na indústria total cresceu apenas 0,5%, e prosseguiu com a trajetória descendente iniciada em fevereiro de 2011 3,9%.
Regionalmente, em fevereiro frente ao mesmo mês do ano anterior, houve decréscimo do pessoal assalariado ocupado na indústria em oito dos quatorze locais pesquisados. O principal impacto negativo sobre a média global foi observado em São Paulo (–2,9%), no Nordeste (–1,4%), em Santa Catarina (1,3%) e no Ceará (–3,6%). Por outro lado, Paraná (4,2%), Minas Gerais (1,5%) e Rio Grande do Sul (1,3%) registraram as principais contribuições positivas.
No acumulado no ano, frente o mesmo período de 2011, oito locais apresentaram alta da ocupação industrial, com destaque para Paraná (4,4%), Minas Gerais (2,0%), Rio Grande do Sul (1,2%) e região Norte e Centro-Oeste (1,1%). Por outro lado São Paulo (–2,9%), região Nordeste (–0,9%), Santa Catarina (–1,4%) e Ceará (–3,2%), se destacaram negativamente.
Em termos setoriais, nove dos dezoito setores industriais pesquisados pelo IBGE observaram queda no total de ocupados em fevereiro de 2011. Destacaram-se: Vestuário (–7,4%), produtos de metal (–5,6%), calçados e couro (–6,3%), madeira (–10,4%), têxtil (–5,1%), borracha e plástico (–4,1%) e papel e gráfica (–3,8%). Por outro lado, os destaques positivos foram assinaladados pelos setores de alimentos e bebidas (4,9%), máquinas e equipamentos (2,1%), indústrias extrativas (4,7%), meios de transporte (1,4%) e máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (2,0%).
Número de Horas Pagas. O número de horas pagas na indústria, na passagem de janeiro para fevereiro, apresentou resultado positivo (1,3%) após registrar queda de 0,1% em janeiro, em comparação feita a partir de dados livres de efeitos sazonais. No confronto com igual mês do ano anterior, o número de horas pagas recuou 0,8% (a sexta taxa negativa consecutiva nesse tipo de confronto) em fevereiro. No acumulado no ano, frente o mesmo período de 2011, a queda foi na ordem de 1,1%.
Folha de Pagamento Real. Na passagem entre janeiro para fevereiro de 2012, a folha de pagamento real registrou alta de 1,3%. O indicador mensal (mês/mesmo mês do ano anterior) assinalou acréscimo de 5,4%, 26º resultado positivo consecutivo nesse tipo de comparação, com ritmo superior ao observado no último trimestre de 2011 (2,4%). O índice acumulado nos últimos 12 meses mostrou ligeira redução na intensidade de crescimento entre dezembro/2011 (4,3%), janeiro/2012 (4,1%) e fevereiro/2012 (4,0%) e prosseguiu com a trajetória descendente iniciada em maio de 2011 (7,3%).