Carta IEDI
O Dinamismo Exportador do Brasil e a Ameaça das Exportações Chinesas no Após Crise
A queda dos preços das commodities ao longo do primeiro semestre, intensificada em junho pelo movimento global de valorização do dólar (suscitado pelas expectativas de redução da política de afrouxamento quantitativo pelo Fed), trouxe novamente à tona a elevada vulnerabilidade do superávit comercial brasileiro à evolução desses preços. Isso porque, o saldo comercial total do país ainda se mantém positivo devido, exclusivamente, ao expressivo superávit com commodities primárias. Como ressaltado recorrentemente pelo IEDI, o déficit comercial com produtos industrializados seguiu uma trajetória crescente desde 2007, em decorrência de taxas de crescimento das importações bastante superiores às das exportações.
O crescimento econômico e da demanda externa da China foi um dos principais condicionantes do perfil atual do comércio exterior brasileiro mediante dois efeitos antagônicos. Por um lado, o “efeito complementaridade”, que beneficiou as exportações brasileiras tanto de forma direta (impulsionando as vendas externas de commodities), como indireta (aumento das exportações de bens manufaturados para países latino-americanos exportadores de commodities). Por outro lado, o “efeito concorrência”, associado à consolidação da China como produtora e exportadora de produtos manufaturados, que afetou negativamente a indústria brasileira por dois canais: invasão de importações e crescimento das exportações para mercados tradicionais de fornecedores brasileiros de manufaturados, como o Mercosul e a Aladi.
Esses dois canais reforçaram-se após a crise financeira e econômica global de 2008-2009 devido à estratégia da China de aumentar sua presença em países periféricos para compensar a perda de dinamismo nas economias centrais. No âmbito dessa estratégia, as exportações chinesas para três importantes regiões de destino das vendas externas brasileiras de bens manufaturados (Mercosul, Aladi e Nafta) em 2012 superaram o valor registrado pelo Brasil.
Esta carta Iedi analisa o impacto do “efeito concorrência” das exportações chinesas após a crise sobre as exportações brasileiras para esses três mercados de destino (que respondiam por 38% do total em 2008 e 32% em 2012). Para tanto, as exportações dos dois países foram agrupadas em quatro categorias de dinamismo: Oportunidade Aproveitada, em que o produto em questão ganha participação na pauta da região e o país (Brasil ou China) também ganha participação neste mercado; Oportunidade Perdida, em que o produto ganha participação na região, mas o país em questão perde participação na exportação desse produto para essas regiões; Produto em Declínio, em que o produto está perdendo participação no mercado em questão e o país está ganhando participação com esses produtos nesse mercado; Produto em Retrocesso, em que o produto está perdendo participação na pauta da região e o país está perdendo mercado nesse produto.
Em seguida, foi calculada a ameaça das exportações chinesas às exportações brasileiras nessas quatro categorias: há Ameaça Direta quando, para um produto, há aumento de market-share da China para um país determinado, ao mesmo tempo em que o Brasil reduz seu market-share no mesmo país; há Ameaça Indireta quando o aumento do market-share da China em determinado produto for maior do que o aumento do market-share do Brasil nesse mesmo produto para o mesmo país. Os produtos que não estão sendo ameaçados pelas exportações chinesas foram classificados como Sem Ameaça. Finalmente, o estudo também detalhou por setor os produtos em termos de dinamismo e grau de ameaça.
Do ponto de vista do dinamismo, a comparação das exportações brasileiras e chinesas entre 2008 e 2012 revela que a China inseriu-se nas três regiões selecionadas, principalmente, no segmento de produtos com Oportunidades Aproveitadas, ou seja, naqueles mais demandados pelos respectivos países. Já o Brasil ganhou maior espaço nas exportações de produtos com demanda declinante, classificados como Produtos em Declínio.
Se essa tendência de queda da demanda se mantiver, hipótese mais provável, a especialização nesses produtos pode comprometer ainda mais o desempenho das exportações brasileiras nos próximos anos. Ademais, no caso dos produtos com Oportunidades Aproveitadas, o Brasil conseguiu ser competitivo em relação à China somente em bens com menor elaboração industrial, como os do setor de Alimentos e Bebidas, ou nos quais tem marcada vantagem competitiva, como produtos do setor de refino de petróleo.
Em suma, a comparação das exportações brasileiras com as exportações chinesas entre 2008 e 2012 para as regiões selecionadas revela que a China inseriu-se neste mercado, principalmente, no segmento de produtos com Oportunidades Aproveitadas, ou seja, naqueles mais demandados pela região. Já o Brasil ganhou maior espaço nas exportações de produtos com demanda declinante, embora também tenha aumentado a participação de produtos com demanda crescente.
Outro resultado preocupante refere-se ao grau de ameaça das exportações da China para as regiões selecionadas. Estas representaram uma expressiva ameaça direta (de 76%) principalmente nos produtos em que o Brasil perdeu oportunidades de mercado, ou seja, nos produtos classificados como Oportunidades Perdidas, que respondiam por 25% das exportações brasileiras para essas regiões em 2012. Esses produtos provavelmente se encontram no grupo de produtos com Oportunidades Aproveitadas pela China, no qual há aumento da demanda da região e das exportações chinesas.
Ademais, as exportações brasileiras que sofreram a menor ameaça das chinesas em 2012 foram as de produtos que tem perdido participação relativa no mercado da região (Produtos em Declínio). Ou seja, o Brasil logrou ser competitivo em relação à China nos produtos que têm sofrido redução da demanda nessas regiões. Também chama atenção a ameaça indireta significativa das exportações da China nos setores de veículos automotores e máquinas e equipamentos (55,5% e 41,5%, respectivamente), classificados no grupo de Oportunidades Aproveitadas.
Em termos de região de destino das exportações, os resultados são igualmente preocupantes. Em 2008, mais de 50% dos produtos exportados pelo Brasil que sofriam ameaça direta das exportações chinesas (exclusivamente, manufaturados) tinham como destino o Mercosul e a Aladi. O percentual dessa ameaça aumentou nas duas regiões em 2012, ultrapassando 60% do total. O mesmo foi observado para os produtos que sofreram ameaça indireta, sendo que aqueles destinados ao Mercosul os mais afetados. Somente no caso do Nafta, o percentual de produtos com ameaça direta e indireta recuou na passagem de 2008 para 2012, mas manteve em patamar elevado (39,5% e 29,6%, respectivamente).
Assim, “efeito-concorrência” das exportações chinesas – que já era expressivo em 2008 – aumentou ainda mais no contexto de maior disputa por mercados provocado pela crise, deslocando exportações brasileiras de produtos manufaturados em tradicionais regiões de destino, como o Mercosul e a Aladi. Nesse contexto, para deter e reverter o processo de perda de dinamismo e de market-share dessas exportações, além da manutenção dos preços macroeconômicos-chave (taxas de juros e de câmbio) em patamares competitivos para as exportações, é fundamental a adoção pelo governo brasileiro de uma estratégia de política que busque um modelo favorável de acordos internacionais de comércio e estimule a integração da indústria brasileira nas cadeias globais de valor mediante a diversificação da base industrial e investimentos no mercado regional. O detalhamento setorial dos produtos que perderam mercados e enfrentaram maior ameaça (direta ou indireta) das exportações chinesas em 2012, realizado no final desse trabalho pode contribuir para o desenho dessa estratégia.
Introdução. O saldo comercial total do Brasil ainda se manteve superavitário até 2012 devido ao expressivo superávit com commodities primárias, que está diretamente associado à trajetória de crescimento dos países emergentes nos últimos anos e à alta dos preços das commodities (decorrente dessa trajetória, assim como de outros fatores, como a especulação nos mercados de derivativos num contexto de taxas de juros historicamente baixas nos países desenvolvidos). Como ressaltado recorrentemente pelo IEDI, o déficit comercial com produtos manufaturados, registrado a partir de 2007, seguiu uma trajetória crescente, resultado de taxas de crescimento das importações bastante superior às das exportações.
O crescimento econômico e da demanda externa da China foi um dos principais condicionantes do perfil atual do comércio exterior brasileiro mediante dois efeitos antagônicos. Por um lado, o “efeito complementaridade”, que beneficiou as exportações brasileiras tanto de forma direta (impulsionando as vendas externas de commodities), como indireta (aumento das exportações de bens manufaturados para países latino-americanos exportadores de commodities). Por outro lado, o “efeito concorrência”, associado à consolidação da China como produtora e exportadora de produtos manufaturados, que afetou negativamente a indústria brasileira por dois canais: invasão de importações e crescimento das exportações para mercados tradicionais de fornecedores brasileiros de manufaturados, como o Mercosul e a Aladi.
Como destacam Cunha et. al. (2012), esses dois canais reforçaram-se após a crise financeira e econômica global de 2008-2009 devido à estratégia da China de aumentar sua presença em países periféricos para compensar a perda de dinamismo nas economias centrais. No âmbito dessa estratégia, as exportações chinesas para três importantes regiões de destino das vendas externas brasileiras de bens manufaturados (Mercosul, Aladi e Nafta) em 2012 superaram o valor registrado pelo Brasil.
Esta Carta IEDI detalha o impacto do “efeito concorrência” das exportações chinesas após a crise sobre as exportações brasileiras para esses três mercados de destino (que respondiam por 38% do total em 2008 e 32% em 2012), quais sejam: Mercosul (Argentina, Uruguai, Paraguai), Aladi (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela) e Nafta (Canada, Estados Unidos, México).
O Desempenho das Exportações Chinesas e Brasileiras Após a Crise. Brasil e China aumentaram o valor exportado total após 2008, porém o crescimento das exportações chinesas foi quase o dobro das exportações brasileiras (42,8% contra 23,3%). No caso das regiões analisadas, a diferença de desempenho foi ainda maior: enquanto o total exportado pela China avançou 47,6%, as exportações brasileiras aumentaram somente 1,9%, sendo que houve um pequeno recuo do valor exportado para o Nafta. No caso do Mercosul e Aladi, o valor exportado pelos dois países eram relativamente parecidos em 2008 e, em 2012, a China passou a exportar o dobro do Brasil para essas duas regiões. Além disso, as vendas externas chinesas parecem não ter sofrido contágio da crise financeira e econômica global, mantendo a trajetória de crescimento em 2010. Já no caso do Brasil, as exportações em 2010 foram menores para o Nafta e a Aladi, voltando a superar os valores registrados em 2008 somente no caso da Aladi. O crescimento verificado nas exportações para o Nafta em 2012 não foi suficiente para retomar o desempenho verificado em 2008.
As taxas médias de variação também evidenciam o crescimento mais acelerado das exportações chinesas para as três regiões. Enquanto no caso do Brasil, a variação foi de 1,1% a.a. de 2008 a 2012 para o Mercosul e para a Aladi, as vendas externas da China avançaram 15% a.a. no primeiro caso e 21% a.a. no segundo.
Como o crescimento das exportações brasileiras para o Mercosul e para a Aladi foi muito modesto, essas duas regiões perderam participação no total no período analisado, assim como o Nafta. O peso dessas três regiões no total das exportações brasileiras recuou de 38,5% em 2008 para 31,9% em 2012. No caso da China, apesar das elevadas taxas de crescimento, a participação relativa do Mercosul e da Aladi nas exportações totais avançou muito pouco devido aos valores ainda pequenos das vendas chinesas para essas regiões comparado ao total. Contudo, do ponto de vista dos países importadores, a China tem ganhado importante participação relativa. Assim, é fundamental avaliar se o aumento da participação da China nas importações dessas regiões tem afetado as exportações brasileiras para essas mesmas regiões.
Dinamismo da Pauta Exportadora do Brasil e da China. Seguindo a classificação de Marçal e Novais (2009), as exportações brasileiras e chinesas para os mercados de destino selecionados foram agrupadas em quatro categorias, considerando os produtos com a maior desagregação possível (na classificação HS da Comtrade é 6 dígitos). A primeira categoria é Oportunidade Aproveitada, em que o produto em questão ganha participação na pauta da região e o país (Brasil ou China) também ganha participação neste mercado. A segunda é Oportunidade Perdida, em que o produto ganha participação na região, mas o país em questão perde participação na exportação desse produto para essas regiões. A terceira é Produto em Declínio, em que o produto está perdendo participação no mercado em questão e o país está ganhando participação com esses produtos nesse mercado. E a quarta Produto em Retrocesso, em que o produto está perdendo participação na pauta da região e o país está perdendo mercado nesse produto.
No caso do Brasil, os produtos classificados como Oportunidade Aproveitada passaram de uma participação relativa de 17% no total das exportações em 2008 para 25% em 2012, um avanço nada desprezível de 8 pontos percentuais (p.p). Outro resultado positivo foi o declínio de 5 p.p da participação dos produtos classificados como Oportunidade Perdida, embora o percentual de 25% registrado em 2012 seja ainda expressivo. Em contrapartida, é preocupante o aumento (também de 5 p.p) da participação relativa das exportações de produtos classificados como Produto em Declínio, que atingiu 33% da pauta exportadora brasileira em 2012, contra 28% em 2008. Uma possível especialização nesses produtos, que tem menor demanda relativa, pode gerar problemas futuros consideráveis para as exportações brasileiras, se a tendência de queda da demanda se mantiver.
Já no caso das exportações da China, houve um aumento expressivo da participação de produtos com Oportunidade Aproveitada entre 2008 e 2012, quando esse grupo correspondeu a quase metade da pauta exportadora chinesa para a região. Já os produtos com Oportunidade Perdida, apesar do ligeiro aumento de participação (12% e 13%, respectivamente), tem pequeno peso relativo nas exportações chinesas para os países selecionados. Os Produtos em Declínio também tinham uma participação importante na exportação da China para a região em 2012 (de 30%), mas menor que a participação dos produtos com Oportunidade Aproveitada e também menor que o percentual registrado no caso das exportações brasileiras (33%).
A comparação das exportações brasileiras com as exportações chinesas entre 2008 e 2012 para os países selecionados revela que a China inseriu-se neste mercado, principalmente, no segmento de produtos com Oportunidades Aproveitadas, ou seja, naqueles mais demandados pela região. Já o Brasil ganhou maior espaço nas exportações de produtos com demanda declinante, embora também tenha aumentado a participação de produtos com demanda crescente.
A Ameaça das Exportações Chinesas às Exportações Brasileiras. Vários trabalhos debruçaram-se sobre o crescimento recente das exportações chinesas para a América Latina. Lall e Veis (2007) argumentam que a estrutura das exportações da China e dos países da América Latina, com exceção do México, é muito diferente e que, por isso, a China não seria uma forte concorrente da região. Santiso et.al. (2007) também concluem que o grau de concorrência entre a China e os países da América Latina é baixo, porém o Brasil estaria em uma situação intermediária, devido ao seu maior grau de industrialização. Moreira (2004), por sua vez, mostra um aumento da competição entre Brasil e China na região no período pré-crise. Considerando este resultado de Moreira (op. cit.), Hiratuka e Sarti (2009) verificaram um crescimento expressivo da ameaça chinesa às exportações brasileiras de 2000 e 2006 para todas as regiões analisadas.
Seguindo a classificação de Hiratuka e Sarti (2009), o grau de ameaça das exportações chinesas às exportações brasileiras é analisado nas quatro categorias classificadas anteriormente. Define-se como Ameaça Direta quando, para um produto, há aumento de market-share da China para um país determinado, ao mesmo tempo em que o Brasil reduz seu market-share no mesmo país. Define-se como Ameaça Indireta quando o aumento do market-share da China em determinado produto for maior do que o aumento do market-share do Brasil nesse mesmo produto para o mesmo país. Os produtos que não estão sendo ameaçados pelas exportações chinesas são classificados como Sem Ameaça.
As exportações da China para os países selecionados representaram uma ameaça direta principalmente nos produtos em que o Brasil perdeu oportunidades de mercado, isto é, os produtos classificados como Oportunidades Perdidas nos dois anos considerados (2008 e 2012). Esses produtos provavelmente se encontram no grupo de produtos com Oportunidades Aproveitadas pela China, no qual há aumento da demanda da região e das exportações chinesas. Essa ameaça direta é bastante preocupante para as exportações brasileiras já que os produtos com oportunidades perdidas representaram 25% das exportações brasileiras para a região em 2012, sendo a ameaça das exportações chinesas nesses produtos de 76% em 2012, percentual um pouco inferior ao registrado em 2008.
Outro fato preocupante refere-se às exportações brasileiras com Oportunidades Aproveitadas, nas quais a ameaça indireta das exportações da China foi de 36,4% em 2012, um pouco inferior ao percentual registrado em 2008 (39,9%). Apesar de o Brasil ter conseguido aumentar a participação desses produtos nas exportações, o crescimento das exportações da China desses mesmos produtos para a região foi superior, podendo no futuro se tornar uma ameaça direta para as exportações brasileiras. Vale ressaltar, contudo, que houve uma pequena queda do percentual de ameaça indireta na comparação de 2008 e 2012. Ou seja, tanto no caso da ameaça direta como indireta, a situação das exportações brasileiras não sofreu deterioração entre 2008 e 2012.
As exportações brasileiras que sofreram a menor ameaça das exportações chinesas em 2012 foram as de produtos que tem perdido participação relativa no mercado da região, ou seja, produtos classificados como Produtos em Declínio. Ou seja, o Brasil logrou ser competitivo em relação à China nos produtos que têm sofrido redução da demanda nessas regiões.
Em termos de região de destino das exportações, os resultados são ainda mais preocupantes. Nota-se que mais de 50% dos produtos exportados pelo Brasil que sofriam ameaça direta das exportações chinesas tinham como destino o Mercosul e a Aladi. Ambas as regiões aumentaram sua participação nos respectivos produtos em 2012. O mesmo acontece com os produtos que sofreram ameaça indireta. Em ambos os casos, os produtos destinados ao Mercosul foram os mais afetados. Somente no caso do Nafta, o percentual de produtos com ameaça direta e indireta recuou na passagem de 2008 para 2012, mas manteve em patamar elevado (39,5% e 29,6%, respectivamente).
Análise Setorial – Oportunidades Aproveitadas. As principais exportações brasileiras de produtos com Oportunidades Aproveitadas pertencem aos setores de alimentos e bebidas, refino de petróleo, produtos químicos, máquinas e equipamentos e veículos automotores. No caso dos produtos químicos, houve aumento de participação relativa nas exportações brasileiras para os países selecionados.
Nos dois anos analisados, dentre os produtos com Oportunidades Aproveitadas, os que pertencem ao setor de Refino de Petróleo são os únicos que não sofreram ameaça das exportações chinesas, porém esses produtos perderam participação relativa. Alimentos e Bebidas também enfrentaram pequena ameaça indireta das exportações chinesas e, neste caso, houve um aumento de participação relativa do setor nas exportações de produtos com oportunidades aproveitadas. Por outro lado, os produtos dos setores de Veículos Automotores e Máquinas e Equipamentos sofreram ameaça indireta das exportações chinesas bastante significativa (61% em 2008 e 55% em 2012).
Assim, o Brasil ganhou espaço e conseguiu ser competitivo em relação à China no grupo de produtos com Oportunidades Aproveitadas em bens com menor elaboração industrial, como os do setor de Alimentos e Bebidas, ou em produtos em que o país tem vantagem competitiva, como nos produtos do setor de refino de petróleo. Exemplos desses produtos seriam preparações utilizadas nas alimentações de animais e resíduos de óleos. Já nos setores de veículos automotores e máquinas e equipamentos, a ameaça das exportações da China é alta, podendo ocasionar um problema futuro as exportações do Brasil. Exemplos de produtos seriam peças para motores e amortecedores para veículos.
Oportunidades Perdidas. Os setores que tiveram maior participação no caso dos produtos com Oportunidades Perdidas na região foram veículos automotores, máquinas e equipamentos, produtos químicos e borracha e plástico. Embora tenham aumentado sua participação nas exportações de produtos com Oportunidades Perdidas, a participação desses setores nas exportações totais do Brasil diminui.
As exportações brasileiras de todos os produtos com Oportunidades Perdidas sofreram forte ameaça das exportações chinesas nos dois anos analisados. As exportações do setor de veículos automotores que perderam oportunidades na região, por exemplo, estão totalmente comprometidas pelas exportações chinesas. Exemplos de produtos seriam veículos de passageiros e veículos automotores para transporte de mercadorias. Os produtos dos demais setores, que também são setores industriais importantes, enfrentam, igualmente, ameaça significativa das exportações chinesas, como, por exemplo, compressores de equipamentos de refrigeração. O Brasil é um importante exportador desses bens manufaturados para os países selecionados e, assim, a ameaça das exportações chinesas nesses mercados pode se traduzir em problemas sérios para as exportações brasileiras.
Produtos em Declínio. O Brasil teve um aumento da participação de suas exportações em produtos em que a demanda da região diminuiu no período analisado. O principal setor é o de extração de petróleo, em que o Brasil tem vantagens competitivas, seguido pela metalurgia básica.
Esses produtos em declínio, nos quais as exportações brasileiras aumentaram sua participação, não foram ameaçados pelas exportações chinesas em 2012, como petróleo bruto e óleos de petróleo. Apenas uma pequena parte dos produtos do setor químico sofreu ameaça, como os antibióticos e seus derivativos, e da metalurgia básica, como tubos para óleodutos. Assim, novamente, o Brasil ganhou espaço e competitividade em setores em que possui vantagens competitivas em relação à China, mas que sofreram redução da demanda nos países selecionados.
Produto em Retrocesso. Os setores com maior participação de Produtos em Retrocesso foram os da Metalurgia Básica, Máquinas e Equipamentos e Outros Equipamentos de Transporte. Esses setores industriais importantes sofreram redução de demanda pela região e o Brasil perdeu participação nas importações. Mas, mesmo nesses casos, a ameaça das exportações chinesas foi bastante significativa.
Tanto em 2008 como em 2012, praticamente 100% das exportações de Produtos em Retrocesso do setor de outros equipamentos de transporte sofreram ameaça direta das exportações chinesas, como aviões e outras aeronaves com peso maior que 15 mil quilos. As exportações de produtos pertencentes ao setor de máquinas e material eletrônico também enfrentaram forte ameaça, sendo alguns exemplos antenas e refletores e aparelhos receptores de radiodifusão.
Bibliografia
Cunha, Lélis & Bichara (2012) O Brasil no Espelho da China: Tendências para o Período Pós-Crise Financeira Global. Revista de Economia Contemporânea. Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, pp. 208-236.
Hiratuka, C. e Sarti, F. (2009) Ameaça das Exportações Chinesas nos Principais Mercados de Exportações de Manufaturados do Brasil. Encontro Nacional de Economia Política, São Paulo.
Lall, S. e Weiss, J. (2007) “China and Latin America: Trade Competition 1990-2002”. In Santiso, J. (ed.) The Visible Hand of China in Latin America. Paris: OCDE.
Marçal & Novais (2009) O Desempenho do Comércio Exterior Brasileiro por Intensidade Tecnológica entre 2000 e 2008. In Biasoto Junior, Novais & Freitas (Org.) Panorama das Economias Internacional e Brasileira: Dinâmica e Impactos da Crise Global. São Paulo: Fundap.
Moreira, M.M. (2004) “Fear of China: Is There a Future for Manufacturing in Latin America?” IADB Discussion Paper.
Santiso, J., Blazquez-Lidoy, J. e Rodriguez, J. (2007) “Angel or Devil? China’s Trade Impacto n Latin American Emerging Markets”. In Santiso, J. (ed.) The Visible Hand of China in Latin America. Paris: OCDE.