Carta IEDI
A Deterioração Persistente da Balança Comercial
Apesar da depreciação cambial nominal recente (desde 2011, pela taxa R$/US$), as exportações brasileiras não têm dado sinais de recuperação: no primeiro trimestre de 2014, as exportações totais se retraíram em 2,5% frente a igual período de 2013, ficando em US$ 49,6 bilhões. Tal queda foi puxada pela retração das vendas externas dos bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação, de 6,2%, fazendo o montante exportado cair para US$ 29,7 bilhões. O aumento de 2,5% nas exportações dos demais bens – agropecuários e minerais principalmente – esteve longe de contrabalançar esse recuo.
Desse modo, as balança comercial se deteriorou uma vez mais, atingindo déficit de US$ 6,1 bilhões, recorde para primeiro trimestre. O déficit foi ainda maior nos produtos da indústria de transformação, de US$ 18,8 bilhões. As importações dos bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação concorreram para tanto, crescendo 1,1%.
Tomando o intercâmbio de produtos da indústria de transformação pela classificação por intensidade tecnológica, a saber, alta, média-alta, média-baixa e baixa, há pontos relevantes a destacar:
- A faixa de baixa intensidade, a única superavitária das quatro nos últimos anos, registrou queda das exportações no trimestre inicial de 2014, de 5,8% em relação a igual período de 2013, ficando em US$ 12,6 bilhões. As importações cresceram 3,1%, levando a um superávit de US$ 7,6 bilhões, o menor observado para primeiro trimestre que essa faixa experimentou desde 2009. Tais variações nas exportações e nas importações foram em muito ditadas pelos alimentos industriais, bebidas e fumo, cujas exportações recuaram 10,4%. Como ponto positivo, houve o incremento nas vendas externas de produtos madeireiros, de papel, celulose e impressões gráficas – aumento de 5,7% - e de produtos têxteis, de vestuário, artigos de couro e calçados – incremento de 12,3%.
- Dentre os quatro segmentos, só o conjunto dos bens da faixa de alta intensidade logrou aumento nas exportações, de 8,0%, atingindo US$ 2,0 bilhões. Todavia, trata-se de um acréscimo sobre uma base baixa, além de ter sido concentrado principalmente nas aeronaves e afins. Logo, o aumento de 7,1% das importações propiciou um déficit ainda maior em janeiro-março de 2014, de US$ 8,3 bilhões, o maior da série para tal período do ano. Ressalte-se que as exportações de produtos eletrônicos recuaram sobremaneira.
- A faixa de média-alta intensidade apresentou ligeira retração do déficit, mas continuando a ser a mais deficitária das faixas, saldo negativo de US$ 13,9 bilhões. Mas a aparente melhora ocorreu com suas exportações retrocedendo 3,5%, ou seja, houve retrocesso nas importações. Apesar de tanto, as vendas externas de máquinas e equipamentos, sejam os elétricos, sejam os mecânicos ou os não especificados noutras atividades cresceram 6,9% e 4,2%, respectivamente. Já as exportações da indústria automotiva diminuíram 13,1%.
- A faixa de média-baixa intensidade presenciou novo déficit, de US$ 4,2 bilhões, devendo-se tanto a uma queda de 13,0% nas exportações. Esse recuo se deveu ao menor montante exportado de produtos metálicos, taxa de -10,4%, além do superlativo retrocesso da indústria naval, de 86,3%. Desse modo, os produtos metálicos que normalmente contribuem para contrabalançar o déficit em derivados de petróleo, combustíveis e afins, não têm exercido tal papel. Ironicamente, as vendas externas desses últimos cresceram 22,1% em janeiro-março.
Tais resultados asseveram tanto a insuficiência da depreciação cambial para a promoção das exportações e (re)inserção nas cadeias globais de valor. Os atrasos na melhoria da infraestrutura e a continuidade de um sistema tributário extremamente complexo agravaram as dificuldades criadas durante o período em que a taxa de câmbio permaneceu apreciada. Tais óbices dificultam mesmo segmentos intensivos em escala que não conseguem fazer valer a vantagem da depreciação cambial à medida que outros fatores encarecem a produção doméstica
Bens Típicos da Indústria de Transformação: Exportando Menos, Importando Bem Mais. No primeiro trimestre de 2014, as exportações de bens tipicamente provenientes da indústria de transformação declinaram 6,2% na comparação com igual acumulado de 2013. O País exportou US$ 29,7 bilhões no ano passado desses produtos, menos do que vendera também em janeiro-março de 2008, de 2010, 2011 e de 2012.
Já as importações de produtos típicos da indústria de transformação, cresceram 1,1% no período, chegando a US$ 48,5 bilhões, patamar recorde medindo-se pelo dólar em valor corrente. Como consequência, a balança comercial dos bens em questão também experimentou déficit sem igual, de US$ 18,8 bilhões, um incremento de US$ 2,5 bilhões na magnitude do déficit. No contraponto entre acumulados no ano para primeiro trimestre, o saldo comercial dessas mercadorias vem se deteriorando desde 2006, depois de se ter chegado ao superávit recorde em 2005, de US$ 6,9 bilhões. Em 2008, a balança deixou de ser superavitária.
Com tal deterioração, a balança dos demais bens, sobretudo oriundos das indústrias extrativas e da agropecuária, não conseguiram contrabalança-la. Seu superávit de US$ 12,7 bilhões nesse começo de 2014 representou acréscimo de US$ 3,6 bilhões frente ao mesmo período de 2013, mas aquém do registrado em janeiro-março de 2012 e 2011, ano de superávit recorde, de US$ 15,7 bilhões. As exportações dos demais bens cresceram 3,6%, enquanto as importações recuaram 10,7%.
Desse modo, a balança comercial registrou seu pior saldo para primeiro trimestre de toda a série, iniciada em 1989. Antes de janeiro-março do ano passado, quando a economia brasileira voltou a registrar déficit, a última vez em que o saldo ficara deficitário nesse período do ano fora em 2001, resultado negativo de US$ 673 milhões. Dez anos antes, no quarto inicial de 2004, a balança apresentou superávit de US$ 6,2 bilhões. Em igual acumulado de 1993, o superávit fora de US$ 2,8 bilhões.
Tais resultados asseveram tanto a insuficiência da depreciação cambial para a promoção das exportações e (re)inserção nas cadeias globais de valor. Os atrasos na melhoria da infraestrutura e a continuidade de um sistema tributário extremamente complexo agravaram as dificuldades criadas durante o período em que a taxa de câmbio permaneceu apreciada. Tais óbices dificultam mesmo segmentos intensivos em escala que não conseguem fazer valer a vantagem da depreciação cambial à medida que outros fatores encarecem a produção doméstica
A Balança por Intensidade Tecnológica. Tomando a classificação da indústria de transformação por intensidade tecnológica, usada pela OCDE, pode-se abordar a balança comercial de outra maneira, estabelecendo quatro segmentos: de alta intensidade, de média-alta, média-baixa e de baixa intensidade tecnológica. Essa segmentação se encontra na tabela a seguir.
O comércio dos bens produzidos por atividades tidas pela OCDE como de alta intensidade tecnológica percebeu déficit de US$ 8,3 bilhões nesse início de ano, o maior já registrado na série para tal grupo de produtos. Em que pese tanto, as exportações em dólares correntes cresceram mais do que as importações na comparação entre primeiros trimestres de 2014 e de 2010: 8,0% ante 7,1%. As exportações dos produtos em pauta atingiram US$ 2,0 bilhões e as importações, US$ 10,3 bilhões, magnitude sem igual para o acumulado em tela. Porção significativa dos bens típicos dessa faixa de intensidade é montada em extensas cadeias produtivas globais.
O segmento de média-alta intensidade até observou recuo no déficit dos produtos típicos dele. O que não o impediu de continuar como a faixa com maior déficit dentre as quatro, de US$ 13,9 bilhões em janeiro-março. O Brasil vendeu para o exterior US$ 8,3 bilhões em mercadorias tipicamente produzidas por atividades de média-alta intensidade, 3,5% menos do que no mesmo acumulado de 2013, sendo a segunda queda seguida nas exportações para tal comparativo. Esta faixa abarca os materiais de transporte terrestre, parte expressiva dos bens de capital, além de produtos químicos.
Passando para as mercadorias tipicamente provenientes de atividades de média-baixa intensidade tecnológica, estas experimentaram déficit pela quinta vez seguida, déficit de US$ 4,2 bilhões, configurando-se no pior resultado da série para o acumulado até março, iniciada em 1989. As exportações caíram 13,0%, o pior desempenho no contraponto com igual período do ano anterior dentre as quatro faixas. As importações cresceram 2,4%. Tais números refletem modificações nos dois principais tipos de bens desta faixa: derivados do petróleo, combustíveis e afins; e produtos metálicos, com destaque para commodities industriais.
Quanto ao grupo produtos típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica, como de costume, registrou o único superávit dentre as quatro faixas, de US$ 7,6 bilhões. As exportações caíram 5,8% em relação ao primeiro trimestre do ano passado, ficando em US$ 12,6 bilhões. As importações cresceram 3,1%. Daí o menor superávit para primeiro trimestre desde 2009. Tal grupamento comporta grosso modo dois tipos de mercadorias: aquelas cujos processos de produção são intensivos em recursos naturais abundantes no Brasil; e bens cuja fabricação emprega intensivamente recursos humanos.
Bens de Alta Intensidade Tecnológica. Conforme antes visto, o conjunto de bens produzidos por indústrias intensivas em tecnologia percebeu seu maior déficit na série para primeiro trimestre, de US$ 8,3 bilhões. Aliás, os cinco subgrupos que dão forma a essa faixa tiveram resultado deficitário. O Brasil até exportou 8,0% a mais, porém essa variação representou um acréscimo menor do que US$ 200 milhões nas vendas externas, realçando o baixo montante desse fluxo. As importações alcançaram US$ 10,3 bilhões, valor sem igual na série, significando aumento de 7,1%.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais começaram 2014 com déficit de US$ 83 milhões. Suas exportações cresceram 25,4% frente a janeiro-março do ano passado, chegando a US$ 1,1 bilhão. As importações, a seu turno, ficaram praticamente estáveis, com queda de 0,8%, ficando em US$ 1,2 bilhão.
Os três segmentos de produtos fabricados por indústrias do complexo eletrônico, como de costume, concorreram uma vez mais de modo contundente para o resultado deficitário das mercadorias da indústria de alta intensidade tecnológica. Destes, dois experimentaram queda superlativa nas vendas externas acompanhadas de incremento de montas nas importações na comparação entre primeiros trimestres. Houve queda de 35,6% nas exportações de equipamentos de áudio, vídeo e telecomunicações (inclusive componentes eletrônicos), enquanto as aquisições do exterior aumentaram 18,8%, resultando em déficit recorde para o período, de US$ 3,4 bilhões. Já os materiais de escritório e informática tiveram recuo de 28,7% nas exportações, com ampliação de 24,1% nas importações, também provocando déficit recorde em sua série para janeiro-março, de US$ 1,8 bilhão. Mesmo sendo o ano de 2014 de Copa do Mundo de Futebol, a grandeza dessas variações chama a atenção. Ademais, desde 2007 as exportações de áudio, vídeo e telecomunicações têm caído tomando-se o contraponto entre primeiros trimestres. O terceiro segmento do complexo eletrônico, de equipamentos e instrumentos médico-hospitalares, ótico e de precisão, o desempenho comercial foi melhor: suas exportações cresceram 7,1% e suas importações retrocederam 3,6%. Isso não impediu um déficit de monta, de US$ 1,6 bilhão.
Os produtos farmacêuticos perceberam resultado negativo de US$ 1,5 bilhão, ligeiramente menor do que o déficit observado no acumulado até o terceiro mês de 2013. Porém esse recuo não decorreu de incremento nas vendas para fora do País: estas ficaram em US$ 415 milhões, diminuição de 6,8% frente a igual período do ano anterior. Foi a terceira taxa negativa seguida. As importações declinaram ainda mais, 7,6%.
Bens de Média-alta Intensidade Tecnológica. No primeiro trimestre do ano, as exportações de bens das atividades de média-alta intensidade tecnológica diminuíram 3,5% em relação ao acumulado equivalente de 2013, ficando em US$ 8,3 bilhões. Cabe lembrar que em janeiro-março do ano passado, as vendas externas já haviam recuado 12,6% pela mesma base comparativa. As importações, por sua vez, recuaram 2,5%. Embora a queda tenha sido menor do que a das exportações, foi o suficiente para um déficit menor – de US$ 13,9 bilhões – do que aquele observado em igual período de 2013.
Os produtos químicos (exclusive farmacêuticos) registraram as mesmas taxas negativas para as exportações e para as importações, de 2,7%, no confronto entre primeiros trimestres de 2014 e de 2013. Esses bens continuam tanto com o maior déficit comercial, de US$ 5,4 bilhões, quanto com o maior montante importado, US$ 7,8 bilhões, dentre todos os grupamentos de produtos tipicamente oriundos da indústria de transformação. Isso mesmo com a retração nas aquisições externas e com o menor déficit registrado em janeiro-março do ano corrente. As exportações perfizeram US$ 24, bilhões no trimestre em comento.
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de médio-alta intensidade tecnológica somaram déficit de US$ 2,7 bilhões nesse começo de 2014. Os produtos automobilísticos responderam por si só por um déficit de US$ 2,4 bilhões, recorde para acumulado até março. As vendas externas de produtos automobilísticos declinaram 13,1%, ficando em US$ 2,8 bilhões, enquanto as importações estagnaram: variação positiva de 0,4%. Quanto ao grupo dos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), suas exportações cresceram 13,6%, com as importações aumentando 12,0%. Ainda assim, o saldo negativo de US$ 373 milhões foi o maior já registrado na série iniciada em 1989 para esses produtos em se tratando de primeiro trimestre.
Já as máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos e as máquinas elétricas, guardaram semelhanças entre si: ampliação das exportações e diminuição das importações, com ambos apresentando déficits menores do que no primeiro trimestre de 2013. As exportações de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados aumentaram 6,9%, resultando em montante de US$ 2,2 bilhões, contra uma queda de 5,1% das importações. Quanto às máquinas elétricas, suas exportações cresceram 4,2%, enquanto as importações declinaram 3,6%.
Os dois agrupamentos de máquinas e equipamentos acima compreendem ampla gama de bens de capital, embora de estejam restritos a eles. Assim, a melhora do resultado de ambos pode ser decorrência de compasso de espera em ano de Copa do Mundo e de eleições presidenciais, além da desconfiança empresarial externada ao longo de 2013 e que não cessou no ano vigente.
Bens de Média-baixa Intensidade Tecnológica. As exportações de bens típicos de ramos de média-baixa intensidade tecnológica declinaram 13,0% em janeiro-março de 2014, na comparação com igual período de 2013, ficando em US$ 6,8 bilhões. Tal recuo e o aumento de 2,5% levaram a balança comercial desses itens a observar seu maior déficit para primeiro trimestre em toda a série, de US$ 4,2 bilhões. Vale lembrar que, até 2009, esses bens registravam superávit no trimestre inicial, tomando-se a série com início em 1989.
O segmento de média-baixa intensidade tecnológica é caracterizado por relações de troca amplamente ditadas por dois conjuntos de bens: produtos metálicos, sobressaindo-se a siderurgia; e bens derivados de petróleo refinado, outros combustíveis e afins.
O Brasil exportou 22,1% a mais de produtos de petróleo refinado e afins nesse início de ano, somando US$ 1,0 bilhão. Todavia esse acréscimo se deveu em larga medida à baixa base de comparação, posto que no contraponto entre primeiros trimestres de 2013 e de 2012, houve queda de 44,6% nas vendas externas. As importações, a seu turno, declinaram 4,5%. Com isso, o déficit caiu de US$ 4,4 bilhões em janeiro-março de 2013 para US$ 4,0 bilhões em igual período de 2014. Ainda assim, este foi o segundo maior déficit registrado para os bens em questão.
As grandezas dos déficits em produtos de petróleo refinado e afins costumavam ser mais do que contrabalançadas pelos superávits de produtos metálicos, mormente da siderurgia. Situação que mudou em 2010. No quarto inicial de 2014, o superávit dos produtos metálicos e da siderurgia, ficou em US$ 1,1 bilhão, retrocesso de US$ 667 milhões frente a igual acumulado de 2013. Suas exportações caíram 10,4%, ficando em US$ 4,6 bilhões, exportando, portanto, menos do que no mesmo acumulado de 2013, 2012, de 2011, 2008 e 2007. Já as importações, aumentaram 4,1% frente a janeiro-março do ano passado.
Passando para os grupos de bens de menor expressão, os produtos de minerais não-metálicos tiveram novo déficit, de US$ 107 milhões, o quarto déficit seguido considerando o acumulado até março, sendo tais anos os únicos a registrarem déficit para primeiro trimestre em toda a série iniciada em 1989. As exportações até se recuperaram, crescendo 7,0% e chegando a US$ 449 milhões, patamar abaixo do já logrado em janeiro-março de 2006, 2007 e de 2008. As importações desses bens declinaram 1,0%, levando a um déficit menor do que o registrado no mesmo acumulado dos dois anos anteriores.
Já os produtos plásticos e de borracha, por sua vez, viram suas exportações diminuírem 1,1% no trimestre inicial de 2014, enquanto as importações cresceram 3,2%. Tais variações concorreram para que o saldo desses itens tivesse déficit de US$ 933 milhões, recorde para primeiro trimestre na série iniciada em 1989.
O intercâmbio de embarcações, navios etc. registrou déficit de US$ 298 milhões em janeiro-março, o maior desde 1989 para o período em questão, com exportações de US$ 112 milhões, representando queda de 86,3% dessas vendas.
Bens de Baixa Intensidade Tecnológica. Os bens típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica experimentaram uma queda de 5,8% nas vendas externas nesse começo de ano, exportando US$ 6,8 bilhões. Na comparação entre janeiro-março de 2013 e igual período de 2012, as exportações também haviam retrocedido. Quanto às importações, estas cresceram 3,1%. Desse modo, o superávit dessa faixa de produtos caiu de US$ 8,5 bilhões no primeiro trimestre do ano passado para US$ 7,6 bilhões em igual acumulado de 2014.
O fato de ser o único dos quatro segmentos por intensidade tecnológica a lograr superávit se deve, como é sabido, aos bens industriais de alimentação, bebidas e fumo, cujo superávit chegou a US$ 7,0 bilhões em janeiro-março de 2014. Todavia, a exemplo do segmento de baixa intensidade como um todo, tal superávit ficou aquém do registrado em igual período de 2013. De fato, as vendas externas desses gêneros caíram 10,1%, ficando em US$ 8,8 bilhões, enquanto as importações cresceram 1,1%.
O intercâmbio de produtos do segmento madeireiro, de papel e celulose, impressão gráfica e afins teve superávit de US$ 1,7 bilhão no quarto inicial de 2014, o maior de toda a série para primeiro trimestre. Suas exportações cresceram 5,7% nessa base de comparação, alcançando US$ 2,2 bilhões, enquanto as importações declinaram 4,5%. Em que pese tal desempenho, não foi o suficiente para manter o patamar do superávit dos bens de atividades de baixa intensidade tecnológica.
Os dois outros grupos de bens típicos da indústria de baixa intensidade têm registrado déficit nos últimos anos. As exportações produtos diversos ou reciclados declinaram 2,4%, sendo a terceira vez consecutiva na qual as vendas externas recuam na comparação entre janeiro-março e igual período do ano anterior. As importações aumentaram 11,2%. Daí o déficit de US$ 286 milhões, o maior já registrado para esses bens em um primeiro trimestre. Os produtos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, por sua vez, tiveram comportamento distinto: suas exportações cresceram 12,3%, uma variação superior ao acréscimo das importações, de 4,7%. Com isso, o País exportou US$ 1,3 bilhão desses produtos, como o déficit ficando em US$ 783 milhões. Resta saber se esse melhor desempenho exportador será contínuo.
Ambos os conjuntos de bens logo acima e aqueles que vêm logrando superávits têm importantes diferenças entre si. Os produtos têxteis, vestuário, calçados e artigos de couro, são intensivos em mão-de-obra, apesar de parte deles ser sujeita a estratégias de diferenciação de produtos. Tais bens sentiram mais os efeitos do câmbio apreciado do passado recente, a ponto da depreciação frente ao dólar não significar uma automática recuperação. Os gêneros das indústrias de alimentos, bebidas, madeireiras, por sua vez, empregam intensivamente recursos naturais, nos quais o Brasil é abundante.