Carta IEDI
O Primeiro Semestre de 2014: A Deterioração Persistente da Balança Comercial
Apesar da depreciação cambial nominal recente (desde 2011, pela taxa R$/US$), as exportações brasileiras não têm dado sinais de recuperação: no primeiro semestre de 2014, as exportações totais se retraíram em 3,4% frente a igual período de 2013, ficando em US$ 110,5 bilhões. Tal queda foi puxada pela retração das vendas externas dos bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação, de 7,3%, fazendo o montante exportado cair de US$ 67,7 bilhões em janeiro-junho de 2013 para US$ 62,8 bilhões em igual período de 2014. O aumento de 2,2% nas exportações dos demais bens – agropecuários e minerais principalmente – esteve longe de contrabalançar esse recuo.
Dessa forma, a balança comercial teve seu segundo déficit seguido no acumulado em tela. A magnitude do déficit, de US$ 2,5 bilhões, até recuou frente ao mesmo período do ano anterior, mas o fato decorreu da retração das importações. Se dependesse apenas do saldo dos produtos da indústria de transformação, o resultado teria sido ainda pior: o déficit desses bens alcançou US$ 34,8 bilhões, o maior já registrado para primeiro semestre. Nem mesmo com o Brasil importando 3,3% menos desses produtos foi possível mitigar o saldo negativo.
Podem-se esmiuçar os números da balança de bens da indústria de transformação pela classificação por intensidade tecnológica, a saber, alta, média-alta, média-baixa e baixa, o que traz alguns destaques:
- Mesmo o segmento de baixa intensidade, o único dos quatro que desde 2009 (para primeiro semestre) logra superávit, viu suas exportações retrocederem 3,4% em relação a igual período de 2013, ficando em US$ 27,1 bilhões. As importações cresceram 3,3%, levando a um superávit de US$ 17,7 bilhões, menor do que o obtido no mesmo acumulado de 2013. Tais variações foram em muito ditadas pelos alimentos industriais, bebidas e fumo, cujas exportações recuaram 6,5%. De positivo, o aumento nas vendas externas de produtos madeireiros, de papel, celulose e impressões gráficas – acréscimo de 4,4% – e de produtos têxteis, de vestuário, artigos de couro e calçados – expansão de 9,0%.
- Dentre os quatro segmentos, só o conjunto dos bens da faixa de alta intensidade logrou aumento nas exportações, de 11,0%, atingindo US$ 2,0 bilhões. Porém é um incremento sobre uma base baixa, afora ter sido concentrado principalmente nas aeronaves e afins. As importações aumentaram apenas 0,5%, concorrendo para que o déficit no primeiro semestre de 2014, de US$ 16,2 bilhões, fosse um pouco menor do que o de igual acumulado de 2013. isto é, o segundo maior déficit da série para primeiro semestre. Ademais as exportações de produtos eletrônicos recuaram sobremaneira.
- A faixa de média-alta intensidade também registrou déficit menor em janeiro-junho de 2014, ficando em US$ 28,8 bilhões. O que não a impediu de permanecer como a mais deficitária das faixas. O déficit menor, todavia, foi acompanhado de exportações cadentes, queda de 9,6%. Apesar de tanto, as vendas externas de máquinas e equipamentos, sejam os elétricos, sejam os mecânicos ou não especificados noutras atividades cresceram 2,0% e 2,1%, respectivamente. Já as exportações da indústria automotiva diminuíram 2,1%.
- A faixa de média-baixa intensidade presenciou novo déficit, de US$ 7,6 bilhões, devendo-se a uma queda de 15,5% nas exportações. Esse recuo se deveu ao menor montante exportado de produtos metálicos, taxa de -5,0%, além do superlativo retrocesso da indústria naval, de 93,5%. Assim, os produtos metálicos que até 2009 contrabalançavam o déficit em derivados de petróleo, combustíveis e afins, não têm exercido tal papel. Ironicamente, as vendas externas desses últimos cresceram 13,3% em janeiro-junho.
Mesmo as indústrias cujos saldos melhoraram devem ser vistas com reservas, como no caso dos ramos produtores de bens de capital, espelhando retração nas importações, significando um evento de todo ruim, a redução dos investimentos. Os números também enfatizam o caráter inócuo de medidas protecionistas, quando estas são tomadas por si só, sem alinhamento com estratégias e projetos de longo prazo e exigência de contrapartidas. E se tornam mais inócuas à medida que a complexidade tributária se mantém e as melhorias de infraestrutura caminham lentamente, contrapondo possíveis desdobramentos positivos por conta da depreciação cambial nominal.
Bens Típicos da Indústria de Transformação: Déficit Sem Igual. Na primeira metade de 2014, as exportações de bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação declinaram 7,3% na comparação com igual acumulado de 2013. O País exportou US$ 62,8 bilhões nesse período, menos do que vendera também em janeiro-junho de 2008, de 2010, 2011, 2012 e de 2013.
Já as importações de produtos típicos da indústria de transformação, declinaram 3,3% no período, chegando a US$ 97,6 bilhões, patamar inferior apenas ao observado em igual acumulado do ano passado. Como consequência, a balança comercial dos bens em questão experimentou déficit sem igual, de US$ 34,8 bilhões, um acréscimo de US$ 1,6 bilhão na magnitude do déficit frente ao primeiro semestre de 2013. No contraponto entre acumulados no ano para primeiro semestre, o saldo comercial dessas mercadorias vem se deteriorando desde 2006, depois de se ter chegado ao superávit recorde em 2005, de US$ 14,6 bilhões. Em 2008, a balança deixou de ser superavitária.
Com tal deterioração, a balança dos demais bens, sobretudo oriundos das indústrias extrativas e da agropecuária, não conseguiram contrabalança-la. Seu superávit de US$ 32,4 bilhões na metade inicial de 2014 representou acréscimo de US$ 2,1 bilhões frente ao mesmo período do ano anterior, mas aquém do registrado em janeiro-março de 2011 e 2012, este último ano de superávit recorde, de US$ 34,9 bilhões. As exportações dos demais bens cresceram 2,2%, enquanto as importações recuaram 6,7%.
Desse modo, a balança comercial registrou seu segundo déficit seguido para primeiro semestre desde 2002. Dez anos atrás, no primeiro semestre de 2004, a balança apresentou superávit de US$ 15,1 bilhões. Em igual acumulado de 1993, o superávit fora de US$ 7,1 bilhões.
Mesmo nas indústrias cujos saldos melhoraram, deve ser visto com reservas, como no caso dos ramos produtores de bens de capital, espelhando retração nas importações, significando redução dos investimentos. Os números também enfatizam o caráter inócuo de medidas protecionistas, quando estas são tomadas por si só, sem alinhamento com estratégias e projetos de longo prazo e exigência de contrapartidas. E se tornam mais inócuas à medida que a complexidade tributária se mantém e as melhorias de infraestrutura caminham lentamente, contrapondo possíveis desdobramentos positivos por conta da depreciação cambial nominal.
A Balança por Intensidade Tecnológica. Considerando a classificação da indústria de transformação por intensidade tecnológica, usada pela OCDE, é possível esmiuçar de forma diferente os fluxos comerciais. São quatro faixas da indústria de transformação: de alta intensidade, de média-alta, média-baixa e de baixa intensidade tecnológica. A tabela seguinte especifica melhor cada segmento e como são formados.
O comércio dos bens produzidos por atividades tidas pela OCDE como de alta intensidade tecnológica percebeu déficit de US$ 16,2 bilhões nesse início de ano, o segundo maior já registrado na série para tal grupo de produtos, ficando abaixo do saldo negativo de igual período de 2013. Em que pese tanto, as exportações em dólares correntes cresceram mais do que as importações na comparação entre primeiros semestres de 2014 e de 2013: 11,0% ante 30,5%. As exportações dos produtos em pauta atingiram US$ 4,5 bilhões e as importações, US$ 20,7 bilhões, magnitude sem igual para o acumulado em tela. Porção significativa dos bens típicos dessa faixa de intensidade é montada em extensas cadeias produtivas globais.
O segmento de média-alta intensidade também observou recuo no déficit dos produtos típicos dele, mas se manteve como a faixa com maior déficit dentre as quatro, de US$ 28,8 bilhões em janeiro-junho. O Brasil vendeu para o exterior US$ 17,0 bilhões em mercadorias tipicamente produzidas por atividades de média-alta intensidade, 9,6% menos do que no mesmo acumulado de 2013, sendo a segunda queda seguida nas exportações para tal comparativo. Esta faixa abarca os materiais de transporte terrestre, parte expressiva dos bens de capital, além de produtos químicos.
Passando para as mercadorias tipicamente provenientes de atividades de média-baixa intensidade tecnológica, estas experimentaram déficit pela quinta vez seguida, de US$ 7,6 bilhões, configurando-se no pior resultado da série iniciado em 1989 para o acumulado até o sexto mês do ano. As exportações caíram 3,4%. As importações declinaram 1,7%. Tais números refletem mudanças nos fluxos comerciais dos dois principais tipos de bens desta faixa: derivados do petróleo, combustíveis e afins; e produtos metálicos, com destaque para commodities industriais.
Quanto ao grupo produtos típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica, como de costume, registrou o único superávit dentre as quatro faixas, de US$ 17,7 bilhões. As exportações caíram 3,4% em relação ao primeiro semestre de 2013, ficando em US$ 27,1 bilhões. As importações cresceram 3,3%. Daí o menor superávit frente ao primeiro semestre do ano passado. Tal grupamento abarca grosso modo dois tipos de mercadorias: aquelas cujos processos produtivos utiliza intensivamente recursos naturais abundantes no Brasil; e bens cuja produção são intensivas em recursos humanos.
Bens de alta Intensidade Tecnológica. O grupo de mercadorias fabricadas por indústrias intensivas em tecnologia presenciou déficit expressivo, o segundo maior na série para janeiro-junho, de US$ 16,2 bilhões, aquém apenas do déficit observado no mesmo período de 2013. Dos cinco subgrupos que conformam esse segmento, somente um logrou superávit. O Brasil até exportou 11,0% a mais, porém essa variação representou um acréscimo menor do que US$ 500 milhões nas vendas externas, realçando o baixo montante desse fluxo. As importações alcançaram US$ 20,7 bilhões, valor sem igual na série, significando aumento de 0,5%.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais lograram superávit de US$ 225 milhões. Suas exportações cresceram 29,4% frente a janeiro-junho do ano passado, chegando a US$ 2,6 bilhões. As importações, a seu turno, declinaram 2,9%, ficando em US$ 2,4 bilhões.
Os três agrupamentos de bens típicos do complexo eletrônico, como tem sido a tônica, contribuíram contundentemente para o saldo deficitário dos produtos da indústria de alta intensidade tecnológica. Destes, dois experimentaram queda nas vendas externas acompanhadas de incremento nas importações na comparação entre primeiros semestres. Houve queda de 21,1% nas exportações de equipamentos de áudio, vídeo e telecomunicações (inclusive componentes eletrônicos), enquanto as aquisições do exterior aumentaram 4,6%, resultando em déficit recorde para o período, de US$ 6,4 bilhões. Já os materiais de escritório e informática tiveram recuo de 27,6% nas exportações, com ampliação de 6,0% nas importações, provocando déficit de US$ 3,4 bilhões. Mesmo sendo o ano de 2014 de Copa do Mundo de Futebol, a grandeza dessas variações chama a atenção. Ademais, desde 2009 as exportações de áudio, vídeo e telecomunicações têm caído tomando-se o contraponto entre primeiros semestres. O terceiro segmento do complexo eletrônico, de equipamentos e instrumentos médico-hospitalares, ótico e de precisão, o desempenho comercial foi melhor: suas exportações cresceram 2,7% e suas importações retrocederam 4,5%. Isso não impediu um déficit de monta, de US$ 3,2 bilhão.
Os produtos farmacêuticos perceberam resultado negativo de US$ 3,4 bilhões, menor do que o déficit observado no acumulado até o sexto mês de 2013. Porém esse recuo não decorreu de incremento nas vendas para fora do País: estas ficaram em US$ 903 milhões, diminuição de 2,8% frente a igual período do ano anterior. As importações declinaram 3,3%.
Bens de Média-alta Intensidade Tecnológica. As vendas externas de produtos das atividades de média-alta intensidade tecnológica declinaram 9,6% em janeiro-junho de 2014 em relação ao período equivalente do ano passado, ficando em US$ 17,0 bilhões. Como agravante, o primeiro semestre de 2013, as exportações já tinham caído 4,6%. As importações, a seu turno, diminuíram 6,9%. Apesar dessa retração ter sido menor do que a das exportações, foi o suficiente para reduzir o déficit dos bens em questão – de US$ 30,4 bilhões para US$ 28,8 bilhões. Mas a faixa em pauta continua como a que percebe o pior caldo dentre as quatro.
Os produtos químicos (exceto farmacêuticos) registraram taxas negativas tanto para as exportações – queda de 6,6% – quanto para as importações – recuo de 4,3% – no contraponto entre os semestres iniciais de 2014 e de 2013. Esses bens continuam tanto com o maior déficit comercial, de US$ 12,0 bilhões, quanto com o maior montante importado, US$ 16,7 bilhões, dentre todos os grupamentos de mercadorias tipicamente produzidos pela indústria de transformação. As exportações ficaram em US$ 4,7 bilhões em janeiro-junho do ano em curso.
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de médio-alta intensidade tecnológica somaram déficit de US$ 5,8 bilhões na metade inicial do ano. Os produtos automobilísticos responderam por si só por um déficit de US$ 5,0 bilhões, recorde para acumulado até junho. As vendas externas de produtos automobilísticos declinaram 22,1%, ficando em US$ 5,7 bilhões, enquanto as importações retrocederam 8,8%. Quanto ao grupo dos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), suas exportações cresceram 5,7%, com as importações aumentando 28,4%. Ainda assim, o saldo negativo de US$ 784 milhões foi o maior já registrado na série iniciada em 1989 para esses produtos em se tratando de primeiro semestre.
Já as máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos e as máquinas elétricas, guardaram semelhanças entre si: ligeira ampliação das exportações e diminuição das importações, com ambos apresentando déficits menores do que no mesmo acumulado de 2013. As exportações de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados aumentaram 2,5%, resultando em montante de US$ 4,6 bilhões, contra uma queda de 10,2% das importações. Quanto às máquinas elétricas, suas exportações cresceram 2,0%, enquanto as importações declinaram 8,0%.
Os dois agrupamentos de máquinas e equipamentos acima abrangem grande leque de bens de capital, embora não se restrinjam aos mesmos. Logo o melhor resultado de ambos pode ser decorrência de compasso de espera em ano de Copa do Mundo e eleições presidenciais, afora a desconfiança empresarial externada ao longo de 2013 e que vem persistindo em 2014.
Bens de Média-baixa Intensidade Tecnológica. As exportações de produtos tipicamente oriundos de atividades de média-baixa intensidade tecnológica declinaram 15,5% no primeiro semestre de 2014 frente o acumulado equivalente de 2013, ficando em US$ 14,2 bilhões. As importações também recuaram, mas com pouca força, queda de 1,7%. Daí o déficit recorde dos bens em questão para primeiro semestre, de US$ 7,6 bilhões. Vale lembrar que, até 2009, esses bens registravam superávit para o período do ano em tela para a série iniciada em 1989.
O segmento de média-baixa intensidade tecnológica se caracteriza por relações de troca ditadas principalmente por dois conjuntos de bens: produtos metálicos, sobressaindo-se a siderurgia; e bens derivados de petróleo refinado, outros combustíveis e afins.
Em janeiro-junho, o País vendeu para o exterior 13,3% a mais de produtos de petróleo refinado e afins, exportando US$ 2,3 bilhões. Porém tal incremento decorreu em boa medida à baixa base de comparação, posto que no contraponto entre primeiros semestres de 2013 e de 2012, houve queda de 32,5% nas exportações. Quanto às importações, estas retrocederam 1,7%. Com isso, o déficit diminuiu de US$ 8,8 bilhões em janeiro-junho de 2013 para US$ 7,7 bilhões no mesmo acumulado de 2014. Mesmo com essas variações, este foi o segundo pior déficit observado para os bens em pauta.
As magnitudes dos déficits em produtos de petróleo refinado e afins costumavam ser mais do que compensadas pelos superávits de produtos metálicos, mormente da siderurgia. Essa situação mudou em 2010. O superávit dos produtos metálicos e da siderurgia ficou em US$ 2,4 bilhões na metade inicial de 2014, retrocesso de US$ 711 milhões diante do mesmo período do ano passado. Suas exportações diminuíram 5,0%, ficando em US$ 9,4 bilhões, exportando, portanto, menos do que no mesmo acumulado de 2013, 2012, de 2011, 2008 e 2007. Já as importações, cresceram 3,3% pela mesma base de comparação.
Passando para os grupos de bens de menor expressão, os produtos de minerais não-metálicos tiveram novo déficit, de US$ 135 milhões, o quarto déficit seguido tomando-se os seis meses iniciais do ano, sendo tais anos os únicos a registrarem déficit para primeiro semestre em toda a série iniciada em 1989. As exportações até se recuperaram, crescendo 2,2% e chegando a US$ 997 milhões, patamar abaixo do já logrado em janeiro-junho de 2007 e de 2008. As importações desses bens ficaram estáveis, permitindo uma redução no déficit frente ao mesmo acumulado dos dois anos anteriores.
Os produtos plásticos e de borracha, por sua vez, viram suas exportações diminuírem 4,6% no primeiro semestre de 2014, enquanto as importações recuaram 1,7%. Tais variações concorreram para que o saldo desses itens tivesse déficit de US$ 1,8 bilhão, recorde para primeiro semestre na série com começo em 1989.
O intercâmbio de embarcações, navios etc. registrou déficit de US$ 342 milhões em janeiro-junho, o maior desde 1989 para o período em questão, com exportações de US$ 163 milhões, representando queda de 93,5% dessas vendas.
Bens de Baixa Intensidade Tecnológica. As exportações de produtos típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica sofreram queda de 3,4% no primeiro semestre de 2014, exportando US$ 27,1 bilhões, contrastando com o incremente de 6,6% observado na comparação entre primeiros semestres de 2013 e de 2012. Quanto às importações, estas cresceram 3,3%. Assim, o saldo do segmento, embora positivo, caiu de US$ 18,9 bilhões em janeiro-junho de 2013 para US$ 17,7 bilhões no mesmo período de 2014.
O fato de ser o único dos quatro segmentos por intensidade tecnológica a lograr superávit se deve, como é sabido, aos bens industriais de alimentação, bebidas e fumo, cujo superávit chegou a US$ 15,7 bilhões nos seis meses iniciais de 2014. Todavia, a exemplo do segmento de baixa intensidade como um todo, tal superávit ficou aquém do registrado em igual período de 2013. De fato, as vendas externas desses gêneros caíram 6,5%, ficando em US$ 19,3 bilhões, enquanto as importações cresceram 6,8%.
O intercâmbio de produtos do segmento madeireiro, de papel e celulose, impressão gráfica e afins teve superávit de US$ 3,5 bilhões na primeira metade de 2014, o maior de toda a série para primeiro semestre. Suas exportações cresceram 4,4% nessa base de comparação, alcançando US$ 4,7 bilhões, enquanto as importações declinaram 6,4%. Em que pese tal desempenho, não foi o suficiente para compensar o recuo do superávit de alimentos, bebidas e fumo, fazendo com que a magnitude do superávit de toda a faixa de baixa intensidade caísse.
Os dois outros grupos de bens típicos da indústria de baixa intensidade têm registrado déficit nos últimos anos. As exportações produtos diversos ou reciclados declinaram 4,4%. As importações aumentaram 5,0%. Daí o déficit de US$ 494 milhões, o maior já registrado para esses bens em um primeiro semestre. Os produtos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, por sua vez, tiveram comportamento distinto: suas exportações cresceram 9,0%, uma variação superior ao acréscimo das importações, de 2,8%. Com isso, o País exportou US$ 2,6 bilhões desses produtos, como o déficit ficando em US$ 1,0 bilhão, déficit menor do que o registrado no mesmo período de 2012 e de 2013. Resta saber se esse melhor desempenho exportador será contínuo.
Ambos os conjuntos de bens logo acima se distinguem bastante dos superavitários dessa mesma faixa. Os produtos têxteis, vestuário, calçados e artigos de couro, são intensivos em mão-de-obra, apesar de parte deles ser sujeita a estratégias de diferenciação de produtos. Esses bens sentiram mais os efeitos do câmbio apreciado do passado recente, a ponto da depreciação frente ao dólar não significar uma automática recuperação. Os gêneros das indústrias de alimentos, bebidas, madeireiras, por sua vez, empregam intensivamente recursos naturais, nos quais o Brasil possui vantagem comparativa por conta de sua dotação de recursos naturais.