Carta IEDI
As Tendências do Emprego e da Massa de Rendimentos no Brasil
As evoluções do emprego e do rendimento das famílias no final de 2015 reservam perspectivas bastante negativas para as compras de serviços e de bens do varejo de 2016, o que evidentemente afetará também a indústria. Como se sabe, tais compras dependem da combinação de dois principais determinantes: a evolução do crédito e da massa real de rendimentos da população, que sintetiza o comportamento do emprego e do rendimento.
O primeiro deles vem tendo uma regressão acentuada em função do medo por parte dos financiadores da inadimplência dos consumidores, os quais também relutam em assumir compromissos para o futuro temendo o desemprego. No caso do segundo determinante, o processo vem assumindo nos últimos meses uma deterioração digna de registro.
A massa de rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas foi estimada em quase R$ 50 bilhões para novembro último nas principais regiões metropolitanas do país. O fato preocupante é que esta soma, se comparada à sua correspondente para o mês de novembro de 2014, revela uma queda de nada menos que 12,2%.
Pior ainda: o quadro veio se agravando, com quedas cada vez maiores mês após mês ao longo do último ano. Basta comparar o último resultado para a evolução da massa de rendimentos – vale dizer, referente ao mês novembro – com a variação acumulada de apenas -3,5% nos onze meses de 2015.
A pesquisa mensal de emprego do IBGE também apurou que a taxa de desocupação atingiu 7,5% no conjunto das regiões metropolitanas monitoradas, com variação de +2,7 pontos percentuais em relação a novembro de 2014. Foram 858 mil pessoas ocupadas a menos (-3,7%), penalizando principalmente o emprego com carteira assinada (-540 mil), cuja contração em novembro chegou a 4,6%, frente ao mesmo mês do ano anterior.
Esse perfil do desemprego guarda forte relação com a crise da indústria, já que neste setor o emprego é predominantemente formal. Segundo a pesquisa industrial mensal de emprego e salário do IBGE, a ocupação na indústria vem em queda livre desde março de 2014 e só fez se aprofundar em 2015. Se no início do ano passado o patamar da involução do desemprego na indústria era de 4%, em março subiu para 5%, evoluiu para 6% em setembro, ultrapassando 7% em novembro.
A comparação do nível atual de pessoas ocupadas na indústria com o último pico histórico ocorrido em agosto de 2011 sugere o tamanho do problema. Considerando o mês de novembro de 2015, a queda do emprego industrial frente ao máximo foi da ordem de 15%, o que em nenhuma hipótese é pouca coisa. O mesmo patamar é obtido se considerarmos o pico de julho de 2008. Na raiz dessa trajetória encontra-se uma produção industrial com queda de 21% e de 19%, para essas mesmas comparações respectivamente.
Como muitos autores defendem, o intenso e progressivo fechamento de postos de trabalho na indústria é justamente um dos sintomas mais evidentes de um processo de desindustrialização no qual nos encontramos.
Nesse contexto, o emprego de alguns setores sofre mais do que outros. Alguns deles tiveram contração brutal em novembro, majorando suas já elevadas quedas acumuladas no ano: máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-15,8% frente a nov/14), meios de transporte (-14,1%), borracha e plástico (-12,5%), produtos de metal (-11,7%) e máquinas e equipamentos (-10,0%). Destacam-se, dessa forma, os setores de bens de capital, que lideram também o declínio da produção industrial e refletem a crise do investimento.
As estatísticas do Caged, que já cobrem os 12 meses de 2015, contabilizam a destruição de 1,625 milhão de empregos formais ao longo do último ano; algo sem precedentes na história recente do país. A maior contribuição para isso veio justamente da indústria, cujo corte foi de 606.121 postos de trabalho (37,3% do total), seguida pela construção civil (-414.092 empregos ou 25,5% do total).
Em suma, 2015, foi um ano nefasto para o emprego, particularmente para o emprego industrial e com carteira assinada. A grande diminuição do poder de compra agregado da população, daí resultante, inibirá o consumo de bens e serviços neste início 2016. Sofrerão em especial aqueles ramos que mais têm relação com a renda das pessoas, como, por exemplo, alimentos e bebidas e, no caso de serviços, os serviços prestados às famílias, como alimentação fora de casa, telefonia e comunicação.
Emprego e Massa de Rendimentos em 2015. Uma surpresa muito negativa o final de 2015 reservou para as perspectivas de compras de bens do varejo e de serviços de 2016. Como se sabe, tais compras seguem uma combinação de dois principais determinantes: a evolução do crédito e da massa real de rendimentos da população. O primeiro deles vem tendo uma regressão acentuada em função do medo por parte dos financiadores da inadimplência dos consumidores, os quais também relutam em assumir compromissos para o futuro temendo o desemprego. No caso do segundo determinante, o processo vem assumindo tal deterioração nos últimos meses que é digno de registro.
A massa de rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas foi estimada em quase R$ 50 bilhões para novembro último nas seis principais regiões metropolitanas do país. O fato preocupante é que esta soma, se comparada à sua correspondente para o mês de novembro de 2014, revela uma queda de nada menos que 12,2%. Pior ainda: este último índice parece ser uma mera escala da deterioração que se verificou ao longo do último ano.
Basta observar que na média dos meses de 2014 o aumento da massa de rendimento real habitual foi de 2,5% positivos. É também revelador de uma forte aceleração a comparação do último resultado para a evolução da massa de rendimentos – vale dizer, referente ao mês novembro – com a média de crescimento ao longo de 2015, -5%.
O final de 2015, portanto, assistiu a uma grande diminuição do poder de compra agregado da população das grandes metrópoles, o que deverá influir significativamente na compra de bens e serviços neste início de 2016, a menos que uma súbita e grande transformação econômica, que não está no radar, venha a ocorrer. Sofrerão em especial aqueles ramos que mais têm relação com a renda das pessoas, como, por exemplo, alimentos in natura e processados e bebidas e, no caso de serviços, os serviços prestados às famílias, como alimentação fora de casa, telefonia e comunicação. Menor consumo irá se traduzir em produção ainda menor na indústria e em serviços, retraindo o emprego e a capacidade de aumento de rendimentos do trabalho, ocasionando renovadas quedas na massa de rendimentos, em um círculo vicioso de reprodução da recessão da economia.
A região metropolitana de São Paulo liderou a queda da massa real de rendimentos, -13,4% em novembro com relação ao mesmo mês do ano anterior, seguida por Salvador, -13,3%, Belo Horizonte, -11,7%, Rio de Janeiro, -11,1%, Porto Alegre, -10,9%, e Recife, -10,7%. Assim, a contração da base de renda da população não poupou nenhuma das grandes regiões metropolitanas, acenando que a queda do consumo atingirá todas as grandes cidades do país.
A pesquisa mensal de emprego do IBGE também apurou que a taxa de desocupação atingiu 7,5% no conjunto das regiões metropolitanas monitoradas, com variação de 2,7 pontos percentuais sobre a taxa de 4,8% correspondente a novembro de 2014. No período, o número de desocupados aumentou 53,8%, ou o equivalente a 642 mil pessoas.
O número de pessoas ocupadas caiu 3,7%, ou 858 mil pessoas, devido, principalmente, ao desemprego entre as pessoas com carteira assinada (-540 mil ou -4,6%). Do ponto de vista setorial, foi a indústria o mais importante ramo que levou ao aumento da desocupação, -515 mil pessoas entre novembro do ano passado e novembro deste ano, ou -8,8%. A crise do emprego atinge todas as categorias de trabalhos e todos os segmentos econômicos, mas ela está mais associada ao trabalho formal e ao setor industrial. Devido a isso, é também da indústria o recorde do declínio do rendimento médio das pessoas ocupadas, -12,5%, muito embora vários outros setores tenham acusado reduções muito elevadas, entre 8% e 12%.
Resultados em Detalhes. Em novembro, a taxa de desocupação foi estimada em 7,5% para o conjunto das seis regiões metropolitanas investigadas. Frente a outubro, a taxa registrou queda significativa de 0,4 p.p.. No confronto com novembro de 2014, entretanto, a taxa de desocupação assinalou avanço de 2,7 p.p.. No acumulado de janeiro a novembro de 2015, frente a igual período de 2014, a taxa de desocupação registrou variação positiva de 2,0 p.p..
Para o resultado de novembro, a população desocupada (1,8 milhão de pessoas) apresentou recuo de 4,2% frente a outubro, porém crescimento de 53,8% frente a novembro de 2014. A população ocupada foi estimada em 22,5 milhões para o conjunto das seis regiões, não registrando variação estatisticamente significativa em relação a outubro (+0,3%). Frente a novembro de 2014, esse contingente caiu 3,7%. Já a população economicamente ativa (24,3 milhões de pessoas), ficou estável frente a outubro (0,0%) e apresentou pequena queda de 0,9% frente a novembro de 2014.
Regionalmente, a taxa de desocupação recusou em quase todas as regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE na passagem de outubro para novembro de 2015, exceto no Recife (+1,0 p.p., encerrando o mês com 10,8%). O recuo mais expressivo da taxa de desocupação foi observado em São Paulo (-0,7 p.p.), registrando uma taxa de desocupação de 7,4% da PEA. Os demais resultados foram: Salvador e Belo Horizonte, com queda de 0,5 p.p. e Rio de Janeiro e Porto Alegre, ambas com pequeno recuo de 0,1 p.p.. Em relação a novembro de 2014, a taxa avançou em todas as regiões. O destaque negativo novamente ficou para a RM de Recife, com as alta de 4,0 p.p.. Salvador (12,3% da PEA) e São Paulo tiveram alta igual a média nacional (+2,7 p.p.). Porto Alegre (+2,5 p.p), Belo Horizonte (+2,4 p.p.) e Rio de Janeiro (+2,3 p.p.) foram os demais resultados.
No mês de novembro, os 22,5 milhões de ocupados distribuíram-se majoritariamente em trabalhadores com carteira assinada (12,2 milhões), trabalhadores por conta própria (4,5 milhões) e empregados sem carteira assinada (3,0 milhões). Na comparação mensal (mês/mesmo mês do ano anterior), houve queda de 4,8% dos empregados sem carteira assinada. Os trabalhadores com carteira assinada assinalaram recuo similar (-4,7%), enquanto os trabalhadores por conta própria registraram alta de 0,9% nessa comparação.
Setorialmente, apresentaram desempenho mais expressivo na passagem de outubro para novembro os ocupados nos setores: construção (+1,9%), indústria (+1,6%) e comércio, reparação de veículos automotores e de objetos pessoais e domésticos (0,7%). O setor a apresentar maior queda foi o de administração pública (-1,3%), seguido por intermediação financeira (-0,9%). Na comparação entre novembro de 2014 e novembro de 2015, nenhuma das atividades assinalou avanço no número de ocupados. O destaque negativo ficou para a indústria (-8,8%), que já acumulou uma queda na ocupação de 5,4% no ano.
O rendimento médio real no total das regiões metropolitanas pesquisadas pela PME foi de R$ 2.177,20 em novembro de 2015, assinalando um recuo de 1,3% frente ao mês imediatamente anterior. Esse foi o terceiro recuo consecutivo dessa variável. Regionalmente, em relação a outubro, o rendimento cresceu apenas em Porto Alegre (+0,2%). Os resultados negativos foram: Rio de Janeiro (-3,0%), Belo Horizonte (-2,6%), Recife (-0,4%), São Paulo (-0,3%) e Salvador (-0,1%). Na comparação com novembro de 2014, o rendimento apresentou caiu 8,8% no total do Brasil, com recuo em todas as regiões metropolitanas. Rio de Janeiro (-10,0%) registrou a maior queda, seguida por São Paulo (-9,5%), Salvador (-8,0%), Recife (-7,8%), Belo Horizonte (-7,7%) e Porto Alegre (-6,3%).
Emprego Industrial. A pesquisa do IBGE sobre o emprego industrial mostrou que, em novembro, houve contração de 0,4% frente a outubro de 2015 (sem efeitos sazonais) e de 7,2% em relação a novembro de 2014. Já são 50 meses de variações negativas consecutivas frente ao mesmo mês do ano anterior.
O fechamento de postos de trabalho na indústria é justamente um dos sintomas mais evidentes da desindustrialização, como muitos autores defendem. A comparação do nível atual de pessoas ocupadas com o último pico histórico sugere o tamanho do problema em que nos encontramos.
Em novembro de 2015 frente a agosto de 2011, a queda do emprego industrial foi da ordem de 15%, o que em nenhuma hipótese é pouca coisa. O mesmo patamar é obtido se considerarmos o pico de julho de 2008. Para essas mesmas comparações, a produção industrial caiu 21% e 19%, respectivamente. Trata-se, portanto, de um processo pós crise global, cujas raízes encontram-se tanto no baixo crescimento das economias e do comercio internacional como em fatores domésticos.
Ao menos três etapas caracterizam esse período no Brasil, passado o choque inicial da crise externa. Na primeira metade de 2011 encontra-se o auge do emprego, seguido de um lento declínio entre setembro deste ano e fevereiro de 2014. Desde então, o emprego industrial entra em queda livre.
E existe ainda um agravante: este processo está em pleno progresso. Assim, se no início de 2015 o patamar da involução do desemprego na indústria era de 4%, em março sobe para 5% e evolui para 6% em setembro, até ultrapassar 7% em novembro.
A trajetória das horas pagas é igualmente preocupante, dado que sua contração de 7,7% é superior à do pessoal ocupado, indicando que o enxugamento dos quadros da indústria deve continuar.
Nesse contexto, alguns setores sofrem mais do que outros. Alguns deles tiveram contração brutal em novembro: máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-15,8% frente a nov/14), meios de transporte (-14,1%), borracha e plástico (-12,5%), produtos de metal (-11,7%) e máquinas e equipamentos (-10,0%). Destaca-se, dessa forma, a destruição do emprego dos setores de bens de capital, que lideram também o declínio da produção industrial e refletem a crise do investimento.
Emprego, Horas Pagas e Folha de Pagamentos da Indústria. Em novembro, o emprego industrial assinalou queda de 0,4% em comparação ao mês imediatamente anterior na série livre de efeitos sazonais. Na comparação mensal (mês/ mesmo mês do ano anterior), o contingente de trabalhadores no setor industrial assinalou decréscimo de 7,2%, 50ª taxa negativa consecutiva nesta comparação. No acumulado entre janeiro e novembro de 2015 frente a igual período de 2014, o emprego fabril registrou queda de 6,0%. No acumulado nos últimos doze meses em relação a período imediatamente anterior, o emprego obteve decréscimo de 5,9%, comparativamente a -5,6% obtido em outubro.
Na comparação com mesmo mês do ano anterior, houve queda do emprego em 17 dos 18 ramos pesquisados. Os segmentos que representaram as maiores contribuições negativas foram: meios de transporte (-14,1%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-15,8%), máquinas e equipamentos (-10,0%), borracha e plástico (-12,5%), produtos de metal (-11,7%), vestuário (-9,0%), minerais não-metálicos (-9,4%), outros produtos da indústria de transformação (-11,0%), produtos têxteis (-9,2%), metalurgia básica (-9,1%), calçados e couro (-5,1%), papel e gráfica (-3,6%), indústrias extrativas (-5,1%) e madeira (-5,6%). O único resultado positivo foi assinalado por refino de petróleo e produção de álcool (0,7%).
No acumulado do ano, todos os setores registraram queda no emprego industrial. As contribuições negativas mais significativas vieram dos setores produtores de meios de transporte (-11,2%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-13,7%), produtos de metal (-10,7%), máquinas e equipamentos (-8,0%), alimentos e bebidas (-2,2%), outros produtos da indústria de transformação (-9,6%), vestuário (-6,0%), calçados e couro (-6,9%), borracha e plástico (-5,0%), metalurgia básica (-7,3%), minerais não-metálicos (-4,3%), produtos têxteis (-5,3%), papel e gráfica (-3,5%) e indústrias extrativas (-4,7%).
O número de horas pagas obteve redução de 0,2% na passagem entre outubro e novembro na série livre dos efeitos sazonais. No confronto com o mesmo mês do ano anterior, a quantidade de horas pagas aos trabalhadores assinalou decréscimo de 7,7%. Setorialmente, os maiores impactos negativos vieram de meios de transporte (-15,0%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-15,7%), borracha e plástico (-13,6%), produtos de metal (-12,0%), máquinas e equipamentos (-9,5%), vestuário (-9,4%), outros produtos da indústria de transformação (-12,0%), minerais não-metálicos (-9,9%), produtos têxteis (-9,2%), metalurgia básica (-11,5%), papel e gráfica (-5,0%), calçados e couro (-4,9%), indústrias extrativas (-5,7%) e alimentos e bebidas (-0,6%). Na comparação acumulada no ano, houve recuo no número de horas pagas de 6,6%, enquanto nos últimos doze meses, a variação foi de -6,5%.
No mês de novembro, a folha de pagamento real na indústria apresentou queda de 2,2% em relação ao mês anterior, na série livre dos efeitos sazonais. Frente a novembro de 2014 o resultado registrou recuo de 10,6%. Esse desempenho deveu-se ao decréscimo da folha de pagamento real em todos os setores pesquisados, com destaque para os setores produtores de meios de transporte (-20,9%), máquinas e equipamentos (-11,6%), produtos de metal (-16,6%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-14,8%) e metalurgia básica (-12,9%). Na comparação anual, essa variável decresceu 7,5% contra igual período de 2014, enquanto nos últimos 12 meses, a variação foi de -7,1%.