Carta IEDI
Investimento Fixo e Indústria de Transformação: Puxando a Queda
As Contas Nacionais Trimestrais (CNT) asseveraram a já anunciada retração do Brasil em 2015, queda de 3,8%, contrastando com o desempenho mundial de economias avançadas e principalmente dos países em desenvolvimento, mormente os asiáticos. Assim o PIB per capita, que já declinara 0,8% em 2014, retrocedeu 4,6%. Pela ótica do dispêndio, o investimento puxou contundentemente a queda, com o consumo das famílias e o consumo do governo também recuando expressivamente. Somente as exportações de bens e serviços cresceram, enquanto as importações se retraíram.
- Nessa forte retração de 2015, o valor adicionado declinou 3,3%, enquanto os impostos líquidos sobre produtos diminuíram 7,3%;
- A formação bruta de capital fixo (FBCF) sofreu contração de 14,5% em 2015, com o agravante de que, trimestre a trimestre na série dessazonalizada, experimentou seu sétimo trimestre seguido de decréscimo – no último quarto de 2015, a queda foi de 4,9% frente a julho-setembro. Ante igual trimestre de 2014, o declínio foi de 18,5%;
- Ainda pelo prisma da demanda, as exportações de bens e serviços cresceram 6,1%, com as importações diminuindo 14,3% em 2015;
- Em termos setoriais, a agropecuária cresceu 1,8%, contrastando com o mergulho de 6,2% da indústria e o retrocesso de 2,7% nos serviços;
- Essa retração de 6,2% do setor industrial foi puxada pela indústria de transformação, que caiu 9,7%, e pelos SIUP, queda de 7,6%. A construção civil também se retraiu 1,4%. Já a extração mineral foi a única exceção, crescendo 4,9% em 2015.
Frisa-se que a taxa de investimento fixo retrocedeu, de 20,2% do PIB em 2014, para 18,2% do PIB em 2015. Foi o terceiro ano seguido com diminuição na taxa de FBCF. Em paralelo, a taxa de poupança bruta também teve redução de monta, de 16,2% do PIB para 14,4% do PIB. Em 2013, a taxa de poupança bruta era de 18,4%. Assim, permanece a distância entre este e aquele indicador, sinalizando a atenção com o balanço de pagamentos.
As exportações, aliás, são o dado positivo de 2015, ainda que as exportações de mercadorias em dólar corrente tenham declinado. O desafio na inserção externa passa pela maior participação efetiva em cadeias globais de valor. Deve ser efetiva no sentido de ampliar o valor apropriado por residentes e captura tecnológica, evitando uma inserção espúria.
Se a inserção externa por si só é desafiadora, o ambiente de negócios do Brasil tem dificultado imensamente não apenas esse processo, mas também a capacidade desta inserção engendrar efeitos em cadeia no território nacional. O cenário político conturbado; a claudicante política fiscal, que deteriora os sinais para os agentes privados; e um contexto de taxas de juros elevadas com inflação de dois dígitos e mercado interno definhando têm dado mostras de que podem se estender ao longo do ano. E os atores já têm computado um contágio desses fatores sobre a economia de 2017, até pela incapacidade das autoridades econômicas em apontar caminhos.
Tal processo retroalimentado de deterioração de expectativas precisa ser quebrado para que os pequenos sinais de melhora e as exportações possam, enfim, puxar a formação bruta de capital fixo e a indústria, fator essencial para a reativação produtiva e retorno ao crescimento.
Visão Geral do PIB. Se em 2014 o PIB ficou estável, taxa de 0,1%, 2015 presenciou um forte retrocesso de 3,8%. Dessa forma, o PIB per capita do Brasil declinou pelo segundo ano consecutivo, queda de 0,8% em 2014 e de 4,6% em 2015. Mais amiúde:
- Pelos dados dessazonalizados, no quarto trimestre de 2015, o PIB caiu 1,4% frente a julho-setembro, configurando quatro trimestres consecutivos de recuo na comparação com o trimestre imediatamente anterior;
- Na comparação entre outubro-dezembro de 2015 com igual período de 2014, a retração atingiu 5,9%, o que representa não apenas um declínio de vulto, mas também o sétimo trimestre seguido de taxa negativa por essa base de comparação;
- A decréscimo de 3,8% em 2015 decorreu de diminuição de 3,3% no valor adicionado e do recuo de 7,3% nos impostos líquidos sobre produtos;
De Positivo, As Exportações. Pela série dessazonalizada, trimestre a trimestre, o Brasil já completou quatro períodos se retraindo ininterruptamente, tendo ainda declinado no último quarto de 2013 e em abril-junho e julho-setembro de 2014. Se na passagem de julho-setembro para outubro-dezembro de 2015, o PIB retrocedeu 1,4%, a queda foi ainda mais significativa no investimento: a formação bruta de capital fixo (FBCF) caiu 4,9%, completando sete períodos definhando e dez trimestres sem praticamente crescer – nove dos quais com taxas negativas.
No final de 2015, também o consumo das famílias e o consumo do governo retrocederam: variações de -1,3% e de -2,9%, respectivamente. O consumo privado, por sinal, experimentou seu quarto trimestre seguido de retração. Mesmo as exportações de bens e serviços que no ano cresceram, de julho-setembro para outubro-dezembro, declinaram 0,4%, tendo já se retraído no terceiro trimestre. As importações, por sua vez, recuaram 5,9% por conta da perda de poder aquisitivo das famílias, sendo que a queda desse componente da demanda concorre positivamente para o PIB.
Na comparação entre os trimestres finais de 2015 e de 2014, a economia retrocedeu 5,9%, com a FBCF como o componente a recuar mais fortemente, queda de 18,5%, totalizando sete trimestres seguidos de taxas negativas e quatro trimestres consecutivos com recuo de dois dígitos. O consumo das famílias e o consumo do governo retrocederam 6,8% e 2,9% nessa base de comparação. O primeiro completou quatro trimestres de descenso, enquanto o consumo do governo, cinco. Como leve alento, as exportações aumentaram 12,6% frente a outubro-dezembro de 2014, sendo o quarto período seguido de incremento nessa base comparativa. Já as importações caíram 20,1% em outubro-dezembro, após declínio de 20,0% no contraponto entre terceiros trimestres.
Em 2015, a retração de 3,8% do produto agregado foi puxada pela expressiva queda de 14,5% no investimento fixo. O consumo das famílias e o consumo do governo retrocederam 4,0% e 1,0%, respectivamente. Novamente, o único dado positivo veio do intercâmbio externo de bens e serviços: as vendas para o exterior cresceram 6,1% com as importações declinando 14,3%.
As exportações, aliás, são o dado positivo de 2015, ainda que as vendas externas de mercadorias em dólar corrente tenham declinado. O desafio na inserção externa passa pela maior participação efetiva em cadeias globais de valor. Efetiva no sentido de ampliar o valor apropriado por residentes e captura tecnológica, de sorte que a inserção não seja espúria.
A mais grave recessão pela qual o País passou nas duas últimas décadas traz em seu bojo as baixíssimas expectativas e a falta de confiança dos agentes privados para empreender em contexto tão adverso expressas na impressionante queda da inversão fixa. Significa que, para adiante, não se vislumbra recuperação sustentada uma vez que os agentes econômicos demonstram sua insegurança no País por não arriscar imobilizar seus recursos em máquinas, equipamentos e instalações.
Desta forma, a taxa de investimento fixo tem caído nos últimos dois anos. Após alcançar 20,9% do PIB em 2013, caiu para 20,2% em 2014. Em 2015, declinou para 18,2%. Percurso similar se observa na taxa de poupança bruta, que ficou em 14,4% em 2015.
Assim, se a inserção externa por si só é desafiadora, o ambiente de negócios do Brasil tem dificultado imensamente não apenas essa inserção, mas também a capacidade desta engendrar efeitos em cadeia no território nacional na forma até de novos investimentos. O cenário político conturbado; a claudicante política fiscal, que deteriora os sinais para os agentes privados; e um contexto de taxas de juros elevadas com inflação de dois dígitos e mercado interno definhando têm dado mostras de que podem se estender ao longo do ano. E os atores já têm computado um contágio desses fatores sobre a economia de 2017, até pela incapacidade das autoridades econômicas em apontar caminhos.
Tal processo retroalimentado de deterioração de expectativas precisa ser quebrado para que os pequenos sinais de melhora e as exportações possam, enfim, puxar a formação bruta de capital fixo e a indústria, fator essencial para a reativação produtiva e retorno ao crescimento.
O Desempenho Por Setor. Em 2015, o retrocesso do produto agregado ocorreu com queda de 3,3% no valor adicionado (VA) e de 7,3% nos impostos líquidos sobre produtos. A soma do valor adicionado com os impostos líquidos sobre produtos resulta no PIB a preços de mercado ou simplesmente PIB como vem sendo tratado no texto. Em termos de grandes setores, a agropecuária foi o único a crescer. Inclusive o único a se expandir no último trimestre, seja em relação ao imediatamente anterior (dados dessazonalizados), seja frente a outubro-dezembro de 2014.
Confrontando outubro-dezembro de 2015 e o trimestre imediatamente anterior pela série livre de efeitos sazonais, o VA recuou 1,3%. Apesar da agropecuária ter crescido 2,9%, tal desempenho foi insuficiente para contrabalançar as retrações sofridas pela indústria e pelos serviços: ambos os setores recuaram 1,4%. E ambos têm se retraído continuamente há quatro trimestres.
O contraste entre o último trimestre de 2015 e igual período do ano anterior traz sinais similares aos da comparação logo acima, mas com magnitudes de variações distintas. O valor adicionado declinou 5,0%, retrocesso puxado pelo mergulho da indústria que sofreu contração de 8,0% nessa base de comparação. Os serviços também recuaram: variação de -4,4%. A agropecuária destoou ao registrar incremento de 0,6%.
Na comparação entre 2015 e 2014, o setor industrial registrou de novo a queda mais acentuada: taxa de -6,2%. Os serviços também declinaram, diminuindo 2,7% vis-à-vis o ano anterior. A agropecuária, a seu turno, cresceu 1,8% mesmo em ano de preços adversos no mercado internacional.
A Indústria em Detalhe. Focando a indústria, suas quatro seções de atividade podem ser apreendidas em separado. Na passagem de julho-setembro para outubro-dezembro pelos dados dessazonalizados, a retração de 1,4% em seu valor adicionado decorreu da contração da extração mineral, queda de 6,6%, e da indústria de transformação, declínio de 2,5%. No caso da indústria extrativa, foi o único trimestre com recuo. No da indústria de transformação, trata-se do quinto período seguido de retração. Quanto à construção civil, esta cresceu 1,7%, sendo a segunda taxa positiva consecutiva após dois períodos de decréscimo. Os serviços industriais de utilidade pública (SIUP) logrou incremento, mas discreto, taxa de 0,4%, depois de três trimestres de desempenho negativo.
Comparando o último quarto de 2015 e igual período de 2014, a expressiva retração de 8,0% da indústria foi puxada pelo “afundamento” da indústria de transformação, que sofreu retração de 12,0%, com o agravante de ser o sétimo trimestre seguido produzindo menos. A extração mineral e os SIUP também declinaram fortemente, mas não tanto quanto a indústria como um todo: variações de -4,1% e de -5,2%, respectivamente. Assim o único destaque positivo coube à construção civil por esse critério comparativo, crescendo 1,4%.
No acumulado do ano, a retração de 6,2% foi puxada pela indústria de transformação, que caiu 9,7%, e pelos SIUP, queda de 7,6%. A construção civil também se retraiu no ano passado, decréscimo de 1,4%. Já a extração mineral foi a única seção industrial a crescer em 2015: 4,9%.
O Brasil Frente a Outras Economias – O Desempenho no Trimestre. Pelas estimativas do FMI, o mundo cresceu 3,1% em 2015, menos do que crescera um ano antes. O Brasil afundou em 2015 a ponto de descolar da performance mundial mais agudamente do que que ocorrera em 2014, quando o País estagnou. Desse modo, cabe confrontar o comportamento do produto agregado brasileiro com o de outros.
O contraponto entre Brasil e países membros da OCDE pela variação trimestre contra trimestre imediatamente anterior (dados dessazonalizados) asseveram o quão aquém tem ficado o primeiro. Como visto, o PIB brasileiro caiu 1,4% numa sequência de retração trimestre a trimestre que vem desde o início do ano. Todos os países americanos da OCDE apresentados no gráfico – Canadá, EUA, México e Chile – ou tiveram taxas positivas ou ficaram estagnados em outubro-dezembro. Por sinal, o único país a registrar taxa negativa no quarto final de 2015, foi o Japão, recuo de 0,4%.
Passando para o investimento fixo, o Brasil sofreu queda de 0,4% em outubro-dezembro, configurando seis trimestres seguidos de queda. Coreia do Sul, com queda de 2,9%, França e Reino Unido, com a mesma taxa de -0,5%, foram os países com pior desempenho que o Brasil em termos de evolução da FBCF no trimestre. Mas foram antecedidos por período(s) de incremento, exceto o caso francês. Embora inconstante, a inversão fixa cresceu 4,4% na base comparativa em questão, após forte recuo. Já os EUA têm mostrado consistência ao lograr o terceiro trimestre consecutivo de ampliação da FBCF – taxa de 1,2% no último quarto de 2014.
O Brasil Frente a Outras Economias – Projeções. As expectativas de mercado, apuradas no relatório Focus do Banco Central em 26/02/2016, são de retrocesso de 3,5% em 2016 e de discretíssimo incremento de 0,5% em 2017. Tais expectativas constantes do relatório Focus se encontram razoavelmente alinhadas com as projeções divulgadas ou atualizadas no começo do ano tanto pela OCDE em seu Interim Economic Outlook and Forecasts, quanto pelo FMI, na atualização do World Economic Outlook. Segundo o Fundo, as taxas ficariam em 3,5% em 2016 e estagnada em 2017. Já a OCDE projetou recuo maior em 2016, com queda de 4,0%.
No caso da atualização de janeiro último do World Economic Outlook do FMI, estas trazem também projeções para outros países. Assim, embora anteriores à divulgação dos dados mais recentes do Brasil, permitem um comparativo entre taxas de crescimento projetadas de vários países para 2016 e 2017.
Mesmo diante de economias avançadas, mais maduras e com menor crescimento demográfico, a expansão projetada para o Brasil no mínimo decepciona. Enquanto são projetadas taxas de -3,5% e 0,0% para o Brasil, a Área do euro, todos os países do G7 e a Espanha terão taxas positivas em ambos os anos.
O hiato entre o Brasil e o mundo pode ser visto na projeção da expansão mundial de 3,4% em 2016 e de 3,6% em 2017, variações bem acima do que se projeta para o Brasil. As Outras Economias Avançadas deverão crescer, segundo o FMI, 2,4% e 2,8% em 2016 e 2017, respectivamente. Esse subconjunto das economias avançadas engloba as novas economias avançadas da Ásia. Quanto aos países emergentes e em desenvolvimento, as taxas projetadas do PIB são ainda maiores, de 4,3% e 4,7%, respectivamente, puxadas principalmente pelas economias asiáticas (exclusive Oriente Médio), com taxas projetadas de 6,3% em 2016 e de 6,2% no ano subsequente. A África Subsaariana, por sua vez, possui taxas projetadas de 4,0% e de 4,7%, respectivamente. O Fundo projetou para a América Latina & Caribe queda de 0,3% em 2016, recuperando-se no ano seguinte, taxa de 1,6%. A Comunidade dos Estados Independentes, a seu turno, têm projetadas variações de 0,0% em 2016 e de 1,7% em 2017.
O contraste maior se encontra na comparação entre as projeções para o Brasil vis-à-vis as da China e da Índia. Para o primeiro, o Fundo projetou incremento de 6,3% e de 6,0%, ratificando o fôlego do País, porém com desaceleração, ensejando dificuldades para as commodities brasileiras. Para a Índia, as taxas projetadas também chamam a atenção: 7,5% ao ano em 2016-17. No âmbito dos BRICS, a Rússia deve sofrer retração de 1,0% em 2016, voltando a crescer em 2017, variação de 1,0%. Já para a África do Sul, é projetado incremento superior, de 0,7% e de 1,5%, para 2016 e 2017, respectivamente. Saindo dos BRICS, o México tem expansão projetada de 2,6% no ano em curso e de 2,9% no próximo.