Carta IEDI
Brasil nas Cadeias de Valor: Avanços Insuficientes
O Brasil continua grosso modo à margem das cadeias globais de valor (CGV), mas isso não quer dizer que não tenham ocorrido avanços dignos de nota. Essa é uma das conclusões da Carta IEDI de hoje, que analisa a composição e a evolução do valor adicionado do comércio mundial a partir da base de dados, recém atualizada, constituída pela OCDE e pela OMC.
A partir das matrizes de insumo-produto de uma amostra de 60 países, esses dados permitem uma melhor compreensão das cadeias produtivas organizadas em escala global e de como o Brasil tem se inserido nelas, contrastando-se a situação em dois anos: 1995 e 2011 (último ano disponível).
Um indicador de inserção nas CGV é a reexportação de bens intermediários importados; outro é o percentual de valor adicionado importado nas exportações brutas de bens e serviços. Ambos são tratados nesta Carta.
No mundo, o valor dos bens intermediários importados que foram reexportados atingiu 39%, em 2011, enquanto no Brasil esse indicador chegava apenas à metade disso, isto é, a 18%. Em 1995, esses valores eram de 32% e 13%, respectivamente. Isso significa que o percentual do Brasil continua baixo relativamente ao padrão internacional, mas entre esses dois anos o avanço brasileiro foi considerável e superior àquele do mundo (+38% contra +21%).
Algo semelhante também ocorre com o percentual de valor adicionado importado nas exportações. O indicador do Brasil (10,8%), em 2011, estava significativamente abaixo da média dos países da base da OCDE/OMC (27,4%). A despeito disso, a evolução brasileira, em comparação ao seu patamar de 1995 (7,8%), também foi mais intensa do que a média (21,6%) dos demais países (+38% para o Brasil e +27% para o conjunto dos países).
Os países com maior integração às CGV em 2011, a contar por esses dois indicadores, correspondiam, em grande medida, àqueles que se tornaram unidades fabris das principais áreas econômicas do mundo ou então pequenas economias especializadas em algum tipo de serviço, especialmente financeiro.
Quanto à reexportação de bens intermediários importados, o topo da lista é composto por Luxemburgo (90%), Irlanda (79%), Singapura (73%), Hungria (71%), Eslováquia (67%), Malásia (65%), Taipei (64%), República Tcheca (63%) e Islândia (62%). Muitos destes países também têm os maiores percentuais de valor adicionado importado em suas exportações: Luxemburgo (59%), Hungria (49%), Eslováquia (47%), República Tcheca (46%), Taipei (44%), Singapura (42%), Malásia (41%), Bulgária (40%) e Tailândia (39%).
As grandes economias desenvolvidas, como EUA, Japão, Alemanha, apresentam valores moderados para esses indicadores, muito em função do seu engajamento em estágios mais sofisticados das cadeias globais de valor que justificam o maior conteúdo doméstico de suas exportações.
A existência de riquezas naturais em território nacional, a exemplo dos EUA, também pode contribuir para essa moderação. A propósito, esse é um dos principais determinantes para que o Brasil, que é um grande produtor de matérias-primas, ostente baixos percentuais para esse indicador.
A composição setorial das exportações é outro fator que influi no resultado dos indicadores em tela. O valor adicionado importado nas exportações da indústria de transformação costuma ser na maioria dos países bastante superior àquele de serviços, por exemplo. Em 2011, a média mundial era 36,2% no primeiro caso e 17,1% no segundo. Na agropecuária e no setor extrativo os valores rondavam 20%.
No Brasil, em todos os setores esses valores eram muito menores. Na verdade, no caso brasileiro apenas a indústria de transformação detinha uma fração de importados acima de 10% do valor de suas exportações, chegando a 14,3% em 2011. Ademais, vale notar que o crescimento desse indicador na indústria de transformação foi bastante expressivo (mais de 40%) se comparado ao patamar de 10,1% em 1995.
Contudo, alguns setores industriais, para os quais a produção nacional de matérias primas é importante, puxam para baixo a participação de importados nas exportações da indústria de transformação, mesmo com o avanço entre 1995 e 2011. É o caso dos setores de alimentos, bebidas e tabaco (9,8%, em 2011), têxteis, vestuário e couro (8,8%) e papel e celulose (9,2%), todos muito importantes na estrutura industrial e nas exportações do país.
A título de comparação, o valor adicionado importado no total das exportações da indústria de transformação chinesa chegou a 40,1%, em 2011. Os valores para os três setores acima citados foram, respectivamente, de 25,4%, 26,5% e 39,4%. No caso de equipamentos eletrônicos chegou a 53,8% contra 19,8% de sua congênere brasileira.
Em suma, o Brasil apresentou avanço importante nos indicadores de participação em cadeias globais entre 1995 e 2011. Porém, sua inserção continua baixa em comparação com outros países, inclusive emergentes ou em desenvolvimento. Isso é resultado de alguns fatores.
Um deles é a disponibilidade de matérias-primas. Isso faz com suas importações de insumos sejam menores do que em outros países e favorece a participação em sua pauta exportadora dos setores primários, cuja integração em cadeias tende mesmo a ser menor. Em 2011, o peso das importações nas exportações da agropecuária e do setor extrativista era de apenas 9,5% e 9,9%, respectivamente. Enquanto a indústria, como já observamos, apresentava valor de 14,3%, em uma média de todos os setores de 10,8%.
Outro fator é a própria composição setorial da indústria. Não fosse a importância de alguns setores menos integrados (alimentos, têxteis, couros, papel e celulose), a contribuição da indústria de transformação para a inserção do Brasil nessas cadeias seria ainda maior.
Essas ressalvas acima não eliminam, contudo, a relevância de estreitar ainda mais os laços do Brasil com as cadeias globais de valor, especialmente naquelas inseridas em mercados dinâmicos e inovadores. Os indicadores analisados por esta Carta IEDI não encerram a discussão sobre a inserção brasileira nas CGV, mas ajudam na avaliação da sua trajetória nos últimos anos.
A seguir, mais informações sobre a evolução de um conjunto amplo de países e de setores nessas cadeias.
Introdução. Como é sabido, o processo de internacionalização segue acelerando a fragmentação das atividades produtivas em vários países e regiões, formando cadeias globais de valor (CGV). Tais cadeias são complexas redes que envolvem diferentes graus de especialização vertical, de produção em multi-estágios e “servitização”. Nesse processo, aumentam os fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE), transformando a inserção dos países e regiões nos mercados internacionais, seguindo, em geral, as estratégias de negócios das grandes corporações transnacionais e também as alianças comerciais e de investimentos estabelecidas pelos Estados.
A base de dados TIVA (Comércio em Valor Adicionado, traduzido do inglês) da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e da OMC (Organização Mundial do Comércio) sobre o valor adicionado do comércio em cada país, lançada em 2013, atualizou recentemente suas informações, com base na análise de matrizes insumos-produtos para 2011. Sendo assim, o propósito desta Carta IEDI é apresentar um panorama da participação dos países incluídos na amostra, cerca de 60, membros da OCDE e não membros, compreendendo as principais nações exportadoras desenvolvidas e em desenvolvimento. Em especial, pretende-se apontar algumas tendências setoriais e identificar padrões de integração, analisando-se o Brasil em particular.
Indicadores Gerais de Engajamento nas Cadeias Globais de Valor por País. Uma das variáveis indicativas da inserção nas CGV é a reexportação de bens intermediários importados, já que aponta para as relações de trocas do núcleo da cadeia produtiva. No mundo, a parcela reexportada de bens intermediários importados sobre o total importado de bens intermediários avançou de 32% em 1995 para 39% em 2011. Dentre os países da OCDE, em 2011 esse indicador foi maior naqueles que são parte do núcleo das “fábricas” das cadeias da União Europeia, Luxemburgo (90%), Hungria (71%), Irlanda (79%), Eslováquia (67%), República Tcheca (63%), Islândia (62%).
Destaca-se também o alto indicador mexicano, de 57%, por ser a fábrica da integração regional da NAFTA (Área de Livre Comércio da América do Norte). Comparando-se com 1995, a parcela das reexportações dos importados de bens intermediários cresceu significativamente na OCDE na Polônia, Coreia do Sul, Alemanha, Hungria, Islândia e República Tcheca. Por outro lado, este indicador em grandes economias como EUA, Japão, Austrália, e Reino Unido é próximo ou inferior à média mundial.
No caso dos países fora da OCDE, a maioria em desenvolvimento, a parcela reexportada de bens intermediários importados sobre o total importado de bens intermediários é elevada na Singapura (73%), Malásia (65%), Taipei (64%), Bulgária (57%), Camboja (55%) e Hong Kong (55%). Em contraste, alguns países apresentam uma parcela bem abaixo da média mundial em 2011, como Colômbia (15%), Brasil (18%), Indonésia (20%), Arábia Saudita (20%), Índia (27%) e Argentina (28%). Vale notar que o crescimento do indicador brasileiro é digno de nota, pois passou de 13%, em 1995, para 18%, isto é, um avanço de quase 50%. Dentre os países da amostra de fora da OCDE, também assinalaram variação ainda mais expressiva a Argentina, a Índia, Vietnã, Camboja e Brunei.
Outro indicador de integração às cadeias globais, conhecido como indicador para trás, é o percentual de valor adicionado importado nas exportações brutas de bens e serviços de um país. Este demonstra quanto a especialização comercial está relacionada com a produção e exportações do resto do mundo. Tomando-se primeiramente a OCDE em 2011, o indicador para trás das CGV repetiu o mesmo conjunto de países europeus entre os que apontaram maior resultado de reexportação de intermediários: Luxemburgo (59%), Hungria (49%), Eslováquia (47%), República Tcheca (46%), Irlanda (43%), Eslovênia (36%) e Estônia (35%). Neste caso a Coreia do Sul (42%) apresentou indicador mais elevado relativamente aos outros países, diferentemente do que nas reexportações de bens intermediários importados, invertendo posições com o México (32%). Também neste indicador, os menores valores em 2011 foram de Austrália (14%), Japão (15%) e EUA (15%).
Analogamente, em 2011, no topo e no final do ranking dos países não pertencentes à OCDE quanto ao indicador de valor adicionado importado nas exportações brutas constavam os mesmos grupos de exportadores do que no indicador de reexportação de bens intermediários importados. Com maior índice para trás nas CGV estão Taipei (44%), Singapura (42%), Malásia (41%), Bulgária (40%), Tailândia (39%), Malta (37%), Camboja (37%), Vietnã (36%). Dentre os países com indicadores menores, Arábia Saudita (3%), Brunei (4%), Colômbia (8%), Brasil (11%), Indonésia (12%), Rússia (14%), Argentina (14%).
Entre os países da amostra de fora da OCDE, de 1995 a 2011 o conteúdo importado nas exportações quase triplicou em Camboja, Índia e Argentina. No Brasil, o aumento foi de 38% (passando de 7,8% em 1995, chegando a 12,7% em 2008, com queda abrupta para 10% em 2009 para depois se elevar até 10,8% em 2011). Já os países da OCDE que assinalaram maior crescimento do valor adicionado importado em suas exportações entre 1995 e 2011 foram Coreia do Sul, Hungria, Luxemburgo, Turquia e Polônia. Já no caso dos países fora da OCDE, foram Camboja, Vietnã, Índia, Tailândia e Taipei.
Esses dois indicadores estão positivamente correlacionados, porém nada dizem sobre o desempenho exportador e de desenvolvimento dos países. Isso porque não parecem guardar nenhuma relação com o tamanho das exportações totais das economias, nem com o nível de renda per capita. Assim como há grandes exportadores como EUA e Rússia que apresentam baixos indicadores para trás nas CGV e de reexportação de bens intermediários importados, e Brasil, em menor grau; existem também grandes exportadores que têm um engajamento mediano nas CGV – como Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha, Suíça e Coreia – tanto quanto exportadores menores. E ainda, dentre os países mais engajados nas CGV tomando-se por base esses indicadores, há grandes e pequenos exportadores – como China em contraposição à Luxemburgo, Malta, Singapura – , que apresentam discrepantes graus de desenvolvimento econômico.
Com relação à posição geográfica, há uma tendência – apesar das exceções –, dos países do leste asiático apresentarem maiores índices de integração nas cadeias, juntos com pequenos europeus como Luxemburgo e Irlanda, enquanto que as economias de renda alta da Europa mantêm um grau de integração intermediário. Destaca-se a baixa integração de países da amostra de outras regiões, como Rússia, Arábia Saudita, EUA e Brasil – provavelmente por conta do elevado peso dos recursos naturais em suas pautas, como se vê a seguir.
Análise Setorial: As Cadeias Mais Internacionalizadas. As cadeias dos produtos da indústria de transformação são, por excelência, as mais internacionalizadas. A divisibilidade e a complexidade de seu processo produtivo permitem maior fragmentação e, assim, maior alocação das diferentes atividades envolvidas em âmbito global. Por isso, em média, há maior conteúdo importado nas exportações dos bens manufaturados comparativamente aos outros setores.
Levando-se em conta todos os países da amostra TIVA (OCDE/OMC), o valor adicionado importado nas exportações mundiais de bens manufaturados cresceu, em média, 37% de 1995 a 2011. A variação foi da ordem de 60% nas exportações de bens primários (agricultura/ caça/ florestal e pesca e extração e mineração), de 78,5% na oferta de eletricidade, gás e água e de 40% nos serviços privados.
O valor adicionado importado no total das exportações da indústria transformação esteve no intervalo de 12% (Arábia Saudita) e 64% (Luxemburgo) em 2011. Entre os países da OCDE, além de Luxemburgo e Bélgica, o indicador para trás das CGV é mais elevado nos países da Europa do Leste, que pertenceram ao bloco soviético e hoje constituem a periferia produtiva da União Europeia. A região possui um comércio intra-industrial bastante desenvolvido, e em 2011 o valor adicionado importado representou 35% das exportações de manufaturados da região.
Já entre os países de fora da OCDE, para o caso das exportações de manufaturados, este indicador é maior nos países asiáticos, sendo que o valor importado adicionado nas exportações do ASEAN em 2011 teria sido de 44% – com destaque para Camboja, Malásia, Taipei, Singapura. O Brasil, entretanto, possui cerca de 15% de valor adicionado importado nas exportações da sua indústria de transformação – valor bem distante das demais economias emergentes e em desenvolvimento. Assemelham-se ao Brasil os indicadores da Argentina, Indonésia, Rússia e Arábia Saudita.
À guisa de comparação, em 1995 a média da parcela do valor importado nas exportações de manufaturados de todos os países da amostra foi de 28,6%, passando para 37,6% em 2011. A média do indicador para trás era praticamente a mesma entre os dois grupos de países, pertencentes e não pertencentes à OCDE, em 1995 (28% e 29%, respectivamente), mas em 2011 a diferença se ampliou um pouco a favor do grupo da OCDE (38% e 34%).
Em alguns países, em 2011, em certos setores a participação importada nas exportações foi significativamente maior do que nas da indústria de transformação. Por exemplo, as exportações de eletricidade, gás e água possuíam mais 40% de seu valor importado na Áustria, Hungria, Irlanda, Coreia do Sul, Luxemburgo, Eslováquia, Bulgária, Camboja, Chipre, Singapura e Taipei. Já em construção, chama a atenção o indicador para trás das CGV, superando 40% de valor importado, de Irlanda, Luxemburgo, Malásia, Taipei, Tailândia, Vietnã.
Apesar de o setor de agricultura, caça, florestal e pesca estar mais atrás nas CGV, tendendo a apresentar conteúdo importado relativamente mais baixo nas exportações, constatou-se em 2011 que em economias de território pequeno como Israel, Irlanda, Luxemburgo, Singapura e Taipei o indicador supera 30%. Fenômeno parecido se observa nas exportações de serviços. O Brasil está entre os países com índices para trás de participação nas CGV mais baixos, inferior a 10% em todos os setores exceto indústria de transformação (14,3%). (Clique aqui para acessar o anexo estatístico)
Exportações da Indústria de Transformação: Conteúdo Importado. Analisando mais a fundo a indústria de transformação, verifica-se uma heterogênea participação do valor adicionado estrangeiro nas exportações dos diferentes tipos de bens manufaturados em 2011. Luxemburgo, República Tcheca e Coreia do Sul possuem uma distribuição mais homogênea em relação ao alto percentual de valor adicionado importado nas exportações de manufaturados dos vários subsetores. Por sua vez, também é homogêneo o baixo índice deste indicador de encadeamento para trás entre os subsetores de transformação no Japão, Austrália, EUA, Nova Zelândia.
Em geral, os países da OCDE apresentam indicadores para trás mais elevados do que os países de fora da OCDE, especialmente nas exportações de coque, petróleo refinado e energia nuclear (em média, valor acima de 60%) na maioria dos países da Europa Central e do Leste. Isso porque importam petróleo cru e reexportam refinado. No outro oposto, a Noruega, grande produtora das duas categorias de petróleo, possui este indicador bem baixo (15%). Esta tendência de alto indicador por causa da necessidade de importação da matéria-prima básica se repete para produtos minerais não metálicos e equipamentos de transporte, em menor grau.
Ainda tratando da OCDE, vale destacar o expressivo valor adicionado importado das exportações da Hungria de equipamentos elétricos e óticos, instrumentos elétricos e equipamentos de transporte. Idem para República Tcheca, Dinamarca, Irlanda, Luxemburgo, Polônia, Portugal, Eslováquia e Eslovênia, além do México.
Quanto aos Estados Unidos, os indicadores para trás nas CGV são reduzidos em todos os subsetores – de forma que no total da indústria de transformação a média seja 21,5%, sendo que a participação doméstica é bem mais elevada do que nos outros países em químicos (18%), borracha e plástico (19%) e equipamentos eletrônicos e óticos (15%).
Nos países latino-americanos da OCDE, Chile e México, o indicador para trás na CGV é relativamente inferior aos outros países em praticamente todos os setores. No Chile nenhum setor é exceção, sendo que aquele que apresenta indicador mais elevado é o de coque, petróleo refinado e energia nuclear (51%). Já o México possui algumas exceções, que são máquinas e equipamentos (55%), equipamentos eletrônicos e óticos (53%), instrumentos elétricos (52%), e equipamentos de transporte (56%) – indicando maior integração produtiva, notadamente com os países da NAFTA.
Por sua vez, também nos países fora da OCDE os indicadores de conteúdo importado nas exportações foram heterogêneos entre os subsetores da indústria de transformação em 2011. Mas alguns países mantiveram um indicador para trás nas CGV baixo (Arábia Saudita, Romênia, Colômbia, Argentina e Brasil) ou alto (Bulgária, Camboja, Singapura, Taipei, Tailândia, Tunísia e Vietnã) na maior parte desses subsetores.
Diferentemente dos países da OCDE, nos de fora se observa maior conteúdo importado nas exportações de equipamentos eletrônicos e óticos e de instrumentos elétricos. Coque, petróleo refinado e energia nuclear possui indicador para trás de CGV acima de 60% apenas na Bulgária, Costa Rica, Singapura e Taipei.
Destaca-se o maior conteúdo importado nas exportações de têxteis, vestuário, calçados e couro nos países asiáticos, especialmente Camboja, Singapura e Malásia. Taipei, Camboja, Singapura, Vietnã e também a Bulgária possuem alto indicador para trás na CGV de produtos minerais não metálicos. Já nos subsetores metais básicos, máquinas e equipamentos, equipamentos eletrônicos e óticos, instrumentos elétricos, equipamentos de transporte, o valor adicionado importado elevado predomina nos países emergentes da regionalização asiática: Camboja, Malásia, Singapura, Taipei, Tailândia, Tunísia e Vietnã.
Nos países latino-americanos da amostra que estão fora da OCDE, Argentina e Brasil apresentam valores relativamente baixos de conteúdo importado nas exportações de todos os subsetores, sendo que Costa Rica e Colômbia também, mas com certos destaques: equipamentos de transporte na Colômbia (48%); e coque, petróleo refinado e energia nuclear (63%), metais básicos (44%), equipamentos eletrônicos e óticos (45%) e instrumentos elétricos (42%) na Costa Rica.
No Brasil, a participação importada nas exportações é relativamente menor comparativamente aos outros países em praticamente todos os subsetores, especialmente em alimentos, bebidas e tabaco (10%), em têxteis, vestuário, calçados e couro (9%), e em papel, celulose e produtos de madeira (9%). O mesmo padrão se observa na Argentina, ressaltando-se apenas um maior conteúdo importado em coque etc. (31%) e equipamentos de transporte (32%).
Finalmente, a China apresenta indicadores para trás de participação nas CGV de médio a altos na maior parte dos subsetores da indústria de transformação, exceto em têxteis, vestuário, calçados e couro (26%), equipamentos de transporte (30%), máquinas e equipamentos (30%) e metais básicos (32%). Por outro lado, o valor adicionado importado nas exportações de equipamentos eletrônicos e óticos (54%) e instrumentos elétricos (49%) estão entre os mais altos no confronto com os outros países. (Clique aqui para acessar o anexo estatístico)
Exportações de Serviços: Conteúdo Importado. Nos subsetores de serviços também se constata uma participação do valor adicionado estrangeiro nas exportações em 2011 mais homogênea do que nas exportações de manufaturados. Isto é, apesar de não ser diretamente proporcional, em geral a intensidade relativa do indicador para trás nas CGV tende a se manter entre os subsetores. Assim Irlanda, Luxemburgo, Malta, México, Singapura, Taipei e Vietnã detêm altos valores em relativamente todos os serviços, enquanto Austrália, Canadá, EUA, Japão, Argentina, Brasil, China e Colômbia detêm baixos.
Assim, em geral, países mais desenvolvidos e/ ou economias grandes têm uma menor participação do valor importado nas exportações de serviços, enquanto nos países pequenos, da OCDE e fora dela, detêm os valores superiores.
Diferentemente do caso dos manufaturados, não existe tanta diferença entre os indicadores para trás de participação nas CGV da média dos países da OCDE e de fora da OCDE. Nas exportações dos subsetores de serviços, transporte e armazenagem é o que em geral possui maior valor adicionado importado, sobretudo na Dinamarca (44%), Singapura (45%) e Malta (41%). Em seguida, hotéis e restaurantes, com destaque para os indicadores de Luxemburgo (41%), Irlanda (33%), Singapura (33%), Malta (31%) e Brunei (31%). Por outro lado, as exportações de subsetores de serviços tendem a ter maior conteúdo doméstico em educação e em saúde e serviços sociais.
Como dito, as economias latino-americanas da amostra exibem pouca integração com importados nas exportações domésticas. O México, apesar de apresentar coeficientes para trás altos de integração nas exportações de manufaturados, apresenta valores baixos no caso dos serviços. A participação estrangeira mais expressiva é em correios e telecomunicações (12%). Já o Chile apresenta maiores valores em serviços de negócios, sobretudo transporte e armazenagem (26%). Na Argentina, sobressai a participação dos importados somente nas exportações de correio e telecomunicações (11%) e atividades de computação (10%). De todos, a Costa Rica aponta maior conteúdo importado nas exportações de serviços, sobretudo transporte e armazenagem (23%) e hotéis e restaurantes (13%).
No Brasil, a participação importada nas exportações de serviços também é relativamente menor comparativamente aos outros países em quase todos os subsetores, sobretudo em atacado, varejo e reparação (3%), em intermediação financeira (3%), em educação (3%), em saúde e serviços social (4%), em administração pública, defesa e seguridade social compulsória (4%) e P&D e outras atividades de negócios (5%). Somente nas exportações de serviços de transporte e armazenagem o valor adicionado estrangeiro é de dois dígitos (10%). (Clique aqui para acessar o anexo estatístico)
Refletindo também a internacionalização da produção, o conteúdo do valor adicionado de serviços importados nas exportações mundiais cresceu de 8,6% para 11,25%, entre 1995 e 2011, apesar da parcela total do valor adicionado de serviços no total exportado ficar estável em cerca da metade do total. No Brasil houve uma ligeira queda de 51,8% para 48,9% do conteúdo de serviços nas exportações, mas verificou-se a tendência de crescimento da participação do conteúdo importado na exportação de serviços (de 3,5% para 4,8%), ainda que corresponda à menos da metade da média mundial já apontada.
O crescimento dos serviços na indústria de transformação no Brasil (de 35% para 37,7%) foi um pouco superior ao do Mundo (de 33,9% para 34,8%) entre 1995 e 2011, embora o valor adicionado de serviços nas exportações de manufaturas brasileiras tenha um peso doméstico significativamente mais elevado. Isso é especialmente notório em equipamentos de transporte e em químicos e produtos minerais não metálicos. (Clique aqui para acessar o anexo estatístico)
Padrões de Inserção nas CGV e o Brasil. Para identificar os padrões de inserção nas CGV, como sugerido anteriormente através dos indicadores discutidos, é preciso considerar também o peso relativo dos países no comércio de cada setor, além da pauta de exportações de cada um deles.
Tomando-se a amostra considerada, doze países correspondiam a 57% do total comercializado de bens e serviços pelo grupo em 2011: Canadá (2,7%), China (10,3%), Alemanha (7,5%), Espanha (2,3%), França (3,7%), Reino Unido (3,9%), Índia (2,4%), Itália (3,3%), Japão (4,7%), Coreia (3,2%), Rússia (3,0%), EUA (10%). O Brasil vinha mais atrás no ranking, correspondendo a 1,5% do comércio da amostra naquele ano.
Apesar de China, EUA e Alemanha serem os líderes no comércio da maior parte dos setores, cabem alguns destaques de parcela no comércio do grupo amostral:
- Agricultura, caça, florestal e pesca: EUA (14,7%), Brasil (5,7%), Canadá (4,7%), França (4,4%)
- Extração e mineração: Arábia Saudita (15,2%), Rússia (9,2%), Austrália (7,3%), Canadá (5,4%), Noruega (4,7%), Indonésia (3,4%), Brasil (3,2%)
- Indústria de Transformação: China (13,9%), EUA (9,8%), Alemanha (9,3%), Japão (5,8%)
- Alimentos, bebidas, tabaco: EUA (8,8%), Alemanha (6,9%), Brasil (5,7%), Argentina (3,2%)
- Têxteis, vestuário, calçados, couro: China (35,4%), Itália (8,5%), Índia (4,1%)
- Madeira, papel, celulose: EUA (19,3%), Alemanha (8,9%), China (6,8%), Canadá (6,3%), Suécia (4,8%)
- Químicos e minerais não metálicos: EUA (11,3%), Alemanha (8,1%), China (7,4%), Coreia (4,5%), França (4,5%), Rússia (4,5%).
- Metais básicos: China (9,6%), Alemanha (8,6%), Rússia (7,3%), Japão (5,5%), EUA (5,1%)
- Máquinas e equipamentos: Alemanha (15%), China (13,3%), EUA (10,8%), Japão (9,1%), Itália (8,1%),
- Equipamentos óticos e eletro-eletrônicos : China (28,1%), Japão (7,8%), EUA (7,1%), Alemanha (6,9%), Coreia (6,8%)
- Equipamentos de transporte: Alemanha (15,8%), EUA (11,7%), Japão (9,8%), Coreia (7,2%), França (6,7%), China (6,5%), México (4,4%)
- Eletricidade, gás e água: Alemanha (55,1%)
- Construção: França (10,7%), China (7,1%), Rússia (6%), Bélgica (5,3%)
- Serviços privados: EUA (12,3%), China (7,6%), Alemanha (5,9%), Reino Unido (5,7%)
- Atacado e varejo, hotéis e restaurantes: China (11,5%), EUA (9,2%), Japão (6,6%), Alemanha (5,4%)
- Transporte e armazenagem, correio e telecomunicações: EUA (10,4%), China (5,6%), Japão (5,1%),
- Intermediação financeira: EUA (19,7%), Reino Unido (15,8%), Luxemburgo (9,8%), Suíça (9,8%), Alemanha (5,5%), Irlanda (5,0%), Singapura (4,9%), China (0,3%)
- Atividades imobiliárias, aluguéis: EUA (18%), Reino Unido (10,3%), Alemanha (8,4%), China (5,8%), Índia (5,5%), Irlanda (4,4%).
- Serviços sociais, pessoais e comunitários: EUA (19,6%), Reino Unido (9,9%), Índia (7,6%), Alemanha (5,9%), França (5,5%)
- Administração pública, defesa, seguridade social compulsória: EUA (46,7%), Espanha (10,5%), Canadá (7,8%), Holanda (7,4%), França (6,9%)
- Educação: EUA (43,9%), Reino Unido (14,9%).
Levando-se em consideração a composição do comércio mundial, a indústria de transformação em 2011 correspondeu a 56,1% do total, serviços privados (29,6%), extração e mineração (9,6%), agricultura/caça/florestal/pesca (2,1%), serviços sociais/pessoais/comunitários (1,7%), construção (0,5%) e fornecimento de eletricidade/gás/ água (0,5%). Dentre os subsetores da indústria de transformação, os de maior peso foram químicos e produtos minerais não metálicos (13,9%), equipamentos óticos e eletro-eletrônicos (10,7%), e equipamentos de transporte (8,1%). Por sua vez, entre os serviços privados, detêm maior parcela sobre o total atacado e varejo, hotéis e restaurantes (12,6%), transporte e armazenagem, correio e telecomunicações (8,1%).
As pautas de exportação das economias mundiais tendem a seguir essa configuração, mas vale ressaltar alguns contrastes:
- Exportadores de minérios com participação relativa das manufaturas bem abaixo da média mundial: Brunei (90%), Arábia Saudita (76,7%); Austrália (24,6% para extração e mineração, com destaque nas exportações de metais básicos e produtos de metal), Canadá (19,1%, com destaque nas exportações de metais básicos e produtos de metal), África do Sul (28%), Colômbia (30,6%); Indonésia (27,9%); Noruega (43,4%); Rússia (29,4%, com destaque também para químicos e minerais não metálicos).
- Exportadores de alimentos e produtos do gênero, com especial peso de bens da agricultura/ caça/ pesca/ florestal e de alimentos/ bebidas/ tabaco: Argentina (15,7% e 23,8%, respectivamente); Brasil (7,7% e 14%); Costa Rica (11,3% e 7,2%, com destaque também para equipamentos eletro-eletrônicos e óticos); Nova Zelândia (11,5% e 26,1%).
- Exportadores de manufaturados: parcela das manufaturas bem acima da média mundial: China (76%, sendo mais expressivas a parcela de equipamentos eletro-eletrônicos e óticos); Hungria (71,8%, idem); República Tcheca (75%, idem); Alemanha (70%, destaque para equipamentos de transporte); Eslováquia (76,6%, idem); Taiwan (77%, idem); Finlândia (68,1%, destaque para químicos e minerais não metálicos e madeira, papel e publicação); Itália (69,4%, químicos e produtos minerais não metálicos e máquinas e equipamentos); Japão (69,9%, equipamentos eletro-eletrônicos e óticos e equipamentos de transporte); México (69,1%, idem); Coreia (79,6%, equipamentos eletro-eletrônicos e óticos, químicos e minerais não metálicos, e equipamentos de transporte); Polônia (67%; destaque para químicos e minerais não metálicos); Romênia (67,5%, idem).
- Exportadores de serviços, com média de participação das manufaturas bem abaixo da mundial: Chipre (76,8% em serviços privados, principalmente imobiliários), Irlanda (52,8%, idem); Dinamarca (54,6%, destaque para transporte e armazenagem/ correios e telecomunicações); Grécia (53,6%, idem); Hong Kong (87,8%, idem); Croácia (60,5%, idem); Malta (69,3%, idem); Singapura (50,6%, idem); Luxemburgo (86%, principalmente intermediação financeira).
- Exportadores com média de participação das manufaturas em linha à mundial e com alto peso de serviços: Bélgica (42,7% em serviços privados, destacando transporte e armazenagem/ correios e telecomunicações; em manufaturas químicos e produtos minerais não metálicos); Suíça (38,3%, por conta da alta participação de intermediação financeira, nas manufaturas químicos e produtos minerais não metálicos); Espanha (39,5%, destaque para atacado e varejo/ hotéis e restaurantes); Estônia (40,2%, destacando transporte e armazenagem/ correios e telecomunicações); Índia (40,4%, idem); Islândia (42,9%; idem); Latvia (44,4%, idem); Holanda ( 48,5%, idem); Filipinas (41,5%; destaque para equipamentos eletro-eletrônicos e óticos mas também serviços de transporte e armazenagem/ correios e telecomunicações); Tunísia (34,4%, idem); Reino Unido (44%, destacando serviços imobiliários); Israel (39,9%, idem).
- Exportações de manufaturas e serviços em linha com a pauta mundial: EUA (destaque para químicos e minerais não metálicos); França (idem), Lituânia (idem), Malásia (destaque para equipamentos eletro-eletrônicos e óticos); Portugal (destaque para atacado e varejo/ hotéis e restaurantes); Eslovênia (destaque para químicos e minerais não metálicos); Suécia (idem); Tailândia (idem); Turquia (destaque para atacado e varejo/ hotéis e restaurantes); Vietnã (idem); Áustria (idem).
- Casos especiais: Camboja (alta participação de têxteis de 40%, mas total de manufaturas abaixo da média mundial); Chile (15,9% para extração e mineração, mas com destaque nas exportações de metais básicos e produtos de metal).
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Cruzando os indicadores para trás com a informação sobre a composição das exportações e seu valor absoluto, pode-se então identificar tendências gerais, ainda que não absolutas, relacionando as duas variáveis em 2011.
Os exportadores que apresentaram uma parcela elevada de alimentos e bens do gênero nas exportações totais, como o Brasil, devido à agricultura/ pesca/ caça/ florestal, extração e mineração, ou ainda aos processados alimentos/ bebidas/ tabaco, em geral apresentam baixo indicador para trás (de 0% a 13%) nas CGV, já que são atividades upstream e concentram conteúdo doméstico. A Costa Rica destoa um pouco dessa linha, por ser uma das menores economias do grupo e por ter também atividades de transformação significativa em equipamentos eletro-eletronicos e óticos. Esse grupo reúne países de grandes territórios e populações, além de abundância de recursos naturais e condições geográficas privilegiadas para a produção de bens primários.
De outro modo, os países que tem uma pauta bastante concentrada em manufaturas detêm relativamente alto conteúdo importado nas suas exportações, superior a 30% em geral, exceto no caso da Romênia e do Japão. Este último país é um dos maiores produtores mundiais, portanto o alto valor doméstico nas exportações indica menos uma baixa integração e mais um alto teor de conhecimento e tecnologia. Este deve ser o caso também da Alemanha e da Coreia, porém as outras economias podem estar engajadas em estágios intermediários que adicionam valor menor relativamente às outras da CGV. Nota-se que envolvem as economias “fábrica” dos blocos regionais mais importantes do mundo: NAFTA (México), ASEAN (Coreia e Taiwan, além dos centros China, Japão), e União Europeia (com vários países dos estados independentes que pertenceram à URSS, e também a Alemanha).
Já no caso daqueles com alta concentração de serviços nas exportações, percebe-se que são em sua maioria territórios pequenos e economias menores, muitos deles centros financeiros, imobiliários ou de transporte e armazenagem dos esquemas de integração regional da Ásia e da Europa. Contudo, não se detecta uma tendência geral quanto ao valor adicionado estrangeiro nas exportações de serviços, pois varia de 14% a 60%. Entretanto, as economias do grupo que são expressivas no comércio internacional de ramos específicos de serviços como Luxemburgo, Singapura e Irlanda apresentam maior conteúdo internacional no valor total dos serviços exportados.
Nas economias que apresentam pauta mais concentrada em serviços dos que as outras – embora as manufaturas apresentem parcela importante relativamente ao total na média – verifica-se um nível baixo ou médio de valor adicionado estrangeiro nas exportações. Enquanto nas economias cujas exportações correspondem ao padrão médio mundial, os indicadores para trás nas CGV têm valores de médio a alto. Neste último caso, a exceção importante é os EUA, que, por responder por 10% do total exportado naquele ano e ter uma pauta diversificada que o torna líder comercial em diversos setores, deve estar engajado em estágios mais sofisticados das cadeias globais de valor que justificam o maior conteúdo doméstico de suas exportações.