Carta IEDI
A Indústria em Maio de 2016: Estabilização das Perdas e Reforço da Confiança
A evolução recente da produção industrial indica a existência de uma ruptura da trajetória do setor na passagem de 2015 para 2016. No ano passado, mês após mês, a indústria só declinou. Agora em 2016, há uma alternância de resultados positivos e negativos que sugerem uma estabilização das perdas.
Em maio, a indústria ficou estagnada na comparação frente a abril, com ajuste sazonal. Com isso o ano conta, até o momento, com a maioria dos meses em alta (3) ou estável (1) e apenas1 mês de queda. Ainda não é a trajetória que gostaríamos, mas já traz algum alívio.
O aspecto ruim desse resultado de maio é que a indústria de transformação voltou a apresentar queda: -0,6% frente a abril, com ajuste. A queda da indústria de transformação foi, em boa medida, influenciada pela retração de 7,0% do setor de alimentos, que se deve muito ao adiantamento da moagem de cana do segmento sucroalcooleiro nos meses anteriores (mar/16: +6,1% e abr/16: +5,1%).
A despeito desse fator pontual, o aumento da produção atingiu 12 dos 24 ramos analisados pelo IBGE, destacando-se outros equipamentos de transporte (+9,5% frente a abril, com ajuste) e automóveis (+4,8%), para quem a reativação das vendas externas tem amenizado a demanda doméstica em contração. Segundo a Anfavea, a exportação de veículos leves acumula alta de 23,7% no acumulado de janeiro a maio de 2016.
Entre os macrossetores, o melhor desempenho tem sido em bens de capital, que em 2016 só apresentou aumentos na série com ajuste sazonal. Em maio, cresceu 1,5% frente abril. No extremo oposto, estão os bens de consumo duráveis, para os quais a situação ainda é bastante complicada. Em maio, contudo, a produção desses bens teve forte alta, de 5,6% frente a abril influenciado pela evolução da indústria automobilística, mas também de eletroeletrônicos (+4,3%).
Bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis acompanham, a seu turno, o comportamento da indústria geral alternando meses de alta e de queda. Em maio, caíram respectivamente 0,7% e 1,4% frente a abril, com dados já ajustados.
À medida que o quadro industrial menos grave vai se confirmando e que os esforços de ampliação das exportações realizados pelas empresas desde o ano passado vão dando frutos, a confiança dos empresários do setor tende a apresentar alguma melhora, a despeito dos níveis muito baixos que ainda prevalecem. Em julho, por exemplo, o índice de expectativa sobre o futuro calculado pela CNI voltou a apontar otimismo, algo que não ocorria desde setembro de 2014.
Não podem ser ignorados, contudo, os riscos ainda existentes. Essa fase em que a indústria busca seu fundo de poço é bastante delicada, estando sujeita a reversões em função de eventos adversos. Os desenvolvimentos recentes do cenário internacional e as incertezas que ainda pesam no âmbito doméstico, vindas sobretudo da política e da política econômica, são algumas fontes de risco, bem como os episódios de valorização do câmbio que temos testemunhado desde o início do ano.
Resultados da Indústria. A produção industrial ficou estagnada em maio na série livre de influências sazonais, segundo os dados do IBGE. Com isso, a evolução na margem da indústria em 2016 foi a seguinte: 3 meses de alta, 1 mês de queda e 1 mês de estagnação. Em 2015, foram 11 meses seguidos de queda na série com ajuste sazonal. É clara, portanto, a existência de uma ruptura da trajetória industrial na passagem de 2015 para 2016.
Frente a maio de 2015, contudo, continuou havendo retração, de 7,8%, mas vale notar que maio de 2016 (21 dias) teve um dia útil a mais do que igual mês do ano anterior. Dessa forma, houve decréscimo de 9,8% no acumulado dos primeiros cinco meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2015. O indicador acumulado nos últimos doze meses, por sua vez, apresentou variação negativa de 9,5% frente a igual período imediatamente anterior.
Em maio frente a abril, com ajuste sazonal, a produção industrial se elevou em dois dos quatro macrossetores da indústria. A produção de bens de capital (1,5%) apresentou a quinta variação positiva em 2016, acumulando nesse período ganho de 9,0%. Já a produção de bens de consumo duráveis teve expressiva expansão de 5,6%, interrompendo quatro meses consecutivos de queda, em que acumulou redução de 13,0% frente ao período imediatamente anterior.
Em contraste, a produção de bens intermediários (-0,7%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-1,4%) apresentaram redução da produção em maio frente a abril, com ajuste sazonal. Em ambos os casos têm ocorrido resultados positivos e negativos ao longo desses primeiros meses do ano. A alternância de sinais sugere uma tentativa de estabilização de suas perdas.
Os resultados de maio de 2016 frente a maio de 2015 evidenciam a complicada situação em que a indústria ainda se encontra. Se a indústria chegou no fundo do poço, é nítido que ele é profundo. Todos os macrossetores tiveram queda da produção nessa comparação. As maiores retrações ainda atingem os bens de consumo duráveis (-17,4%) e bens de capital (-11,4%), seguidos por bens intermediários (-8,1%) e bens de consumo semi e não duráveis (-2,1%).
As trajetórias em cada um desses macrossetores tem sido, entretanto, distintas. No caso de bens de capital, existe uma clara tendência de redução das perdas, uma vez que apresentava variações em torno de -30% na segunda metade de 2015 e, agora, como foi visto, caiu “apenas” 11,4%. Em bens de consumo duráveis, contudo, as quedas têm sido expressivas, superando -20% desde outubro de 2015, à exceção de maio de 2016 (-17,4%). Em bens intermediários, a trajetória tem se mostrado mais volátil, mas também há redução das perdas. Por fim, bens de consumo semi e não duráveis vinha melhorando, chegando a apresentar uma variação positiva em abr/16 contra abr/15 (+2,5%), mas agora, em maio, voltou para o terreno negativo (-2,1%).
O declínio de 17,4%, frente a maio de 2015, em bens de consumo duráveis foi particularmente influenciado pela menor fabricação de automóveis (-20,2%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (-15,2%), segmentos que contaram com reduções de jornadas de trabalho e concessão de férias coletivas em várias unidades produtivas. Outros impactos negativos importantes vieram de motocicletas (-18,8%), do grupamento de outros eletrodomésticos (-19,0%), de móveis (-16,2%) e de eletrodomésticos da “linha branca” (-1,8%).
Já o recuo de 11,4% em bens de capital decorreu de quedas na maior parte dos seus grupamentos, com destaque para a redução de 12,5% de bens de capital para equipamentos de transporte (devido sobretudo pela menor fabricação de caminhões, embarcações para transporte de pessoas ou cargas e veículos para transporte de mercadorias). Outras taxas negativas foram registradas por bens de capital de uso misto (-31,4%), para fins industriais (-2,7%), agrícola (-9,4%) e para construção (-18,5%). Houve crescimento apenas da produção de bens de capital para energia elétrica (2,4%).
A seu turno, a retração de 8,1%, também frente a maio de 2015, na produção de bens intermediários, decorreu principalmente de recuos nos produtos associados às atividades de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-17,9%), de indústrias extrativas (-11,9%), de metalurgia (-10,3%), de veículos automotores, reboques e carrocerias (-14,9%) e de produtos de minerais não-metálicos (-12,3%), entre outros.
Por fim, a queda de 2,1% em bens de consumo semi e não-duráveis foi influenciada, em grande medida, pela retração do grupamento de semiduráveis (-9,7%) (devido a calçados de couro, calças compridas, camisas, telefones celulares, etc), dos subsetores de não-duráveis (-1,5%) e de carburantes (-1,8%).
No acumulado de 2016 até maio, em relação ao mesmo período de 2015, as quatro categorias de uso registraram resultados negativos: bens de consumo duráveis (-24,7%), bens de capital (-23,0%), bens intermediários (-9,2%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-2,4%).
Por Dentro da Indústria de Transformação. A despeito da estabilização da produção industrial geral, no mês de maio houve queda de 0,6% da indústria de transformação frente a abril, com ajuste sazonal. Em relação a maio de 2015, o resultado foi de -7,2% e no acumulado do ano de -9,2%. Já no caso da indústria extrativa, houve alta de 1,4% frente abril, com ajuste sazonal, queda de 11,9% frente a maio de 2015 e declínio de 14,4% no acumulado do ano.
Frente a abril, com ajuste sazonal, enquanto a indústria geral apresentou estagnação, houve crescimento da produção em 12 dos 24 ramos da indústria acompanhados pelo IBGE. Os destaques positivos ficaram por conta de: veículos automotores, reboques e carrocerias (4,8%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (3,6%), de metalurgia (3,4%), outros equipamentos de transporte (9,5%), bebidas (2,2%), celulose, papel e produtos de papel (2,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (4,3%), entre outros. Em sentido oposto, as principais contribuições negativas vieram de produtos alimentícios (-7,0%) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-8,2).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou queda de 7,8%, variações negativas marcaram o desempenho de 21 dos 26 ramos industriais, 62 dos 79 grupos e 67,5% dos 805 produtos pesquisados. Vale citar que maio de 2016 (21 dias) teve um dia útil a mais do que igual mês do ano anterior. Entre as atividades, os principais destaques negativos nesta comparação ficaram a cargo de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-13,4%) (devido a óleos combustíveis, óleo diesel e naftas para petroquímica), indústrias extrativas (-11,9%) (devido a minérios de ferro), veículos automotores, reboques e carrocerias (-15,8%), metalurgia (-10,3%), produtos de minerais não-metálicos (-12,4%) e produtos de metal (-12,1%), entre outras. Já entre principais contribuições positivas estão: produtos alimentícios (3,8%) (devido a açúcar cristal e VHP, sorvetes, picolés e carnes de bovinos congeladas), celulose, papel e produtos de papel (4,8%) e bebidas (4,4%).
No acumulado para o período janeiro-maio de 2016, frente a igual período do ano anterior, a queda de 9,8% da indústria geral foi acompanhada de variações negativas em 23 dos 26 ramos, 63 dos 79 grupos e 75,4% dos 805 produtos pesquisados apontaram redução na produção. Entre as atividades, exerceram as maiores influências negativas: veículos automotores, reboques e carrocerias (-24,2%), indústrias extrativas (-14,4%)(devido a minérios de ferro e óleos brutos de petróleo), máquinas e equipamentos (-18,3%), de metalurgia (-13,4%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-29,8%), produtos de metal (-15,6%), entre outras. Já as principais contribuições positivas ficaram a cargo de: produtos alimentícios (2,7%) (devido a açúcar cristal, sobretudo), celulose, papel e produtos de papel (3,1%) e de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (2,4%).
Exportação. Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de maio continuou se expandindo e atingiu alta de 27,1% frente ao mesmo mês do ano passado, bastante acima dos 12,8% registrados em abril. Com isso, o crescimento acumulado nos cinco primeiros meses de 2016 foi de 15,5%, em relação ao mesmo período de 2015. Esse desempenho já é bastante superior àquele do acumulado de janeiro a dezembro de 2015 (2,3%). Assim, ao menos em volume, as exportações de manufaturados têm demonstrado reação importante diante de um patamar da taxa de câmbio mais competitivo. Progredindo nesse ritmo as vendas externas de manufaturados servirão em breve como relevante mecanismo de compensação da contração da demanda interna.
As importações em quantum de matérias-primas, por sua vez, continuam em contração em 2016. Em maio chegou a -6,0%, acumulando retração de 21,0% nos cinco meses do ano. Esse patamar de queda é sensivelmente superior ao do acumulado no ano de 2015 (-15,7%). É provável que parte desse desempenho também esteja relacionada à desvalorização da taxa de câmbio, mas também pode refletir dificuldades na recuperação da indústria. Isso se deve ao fato de que o volume de importação de matérias-primas está relacionado com o ritmo futuro da produção industrial interna. Desse ponto de vista, o declínio menos acentuado em maio do que em abril (-19,7%) pode estar relacionado ao arrefecimento da crise industrial nesse começo de ano.
Utilização de Capacidade. O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, foi de 74,8% em maio de 2016. Em relação a abril, houve queda de 0,5 p.p., rompendo movimento de alta visto nos dois meses anteriores. O patamar do indicador continua, contudo, muito abaixo da sua média histórica (80,3%, considerando-se os últimos 60 meses).
A permanência da utilização da capacidade em níveis tão baixos não é um bom indício para a evolução futura do investimento, isso porque máquinas e equipamentos atualmente ociosos deverão ser postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar sua capacidade de produção. Consequentemente, nessa situação, as perspectivas para a indústria de bens de capital também não são das melhores. Em contrapartida, a existência de capacidade ociosa significa que existem plenas condições de oferta para garantir uma recuperação da atividade econômica sem pressões inflacionárias.
Estoques. De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, os estoques de produtos finais da indústria em maio de 2016 assinalaram, pela terceira vez consecutiva, índice de 48,9 pontos. O valor está abaixo dos 50 pontos, o que indica redução progressiva dos estoques e possível retomada da produção. Assim, neste ano têm-se uma dinâmica de estoques diferente daquela de 2015, quando o índice esteve acima dos 50 pontos na maior parte dos meses, numa indicação de sistemático aumento de estoques.
Este resultado em maio último se deve tanto à indústria de transformação (48,8 pontos), quanto à indústria extrativa (48,4 pontos), sendo que a primeira segue sua trajetória cadente enquanto a última viu nova elevação dos inventários no último mês (46,8 pontos em abril).
Ainda sobre esse ponto, na avaliação dos empresários, os estoques efetivos têm se encontrado em níveis muito próximos do planejado, com índice de satisfação 49,8% na indústria geral em maio de 2016, sendo que o índice de satisfação em 50 pontos representa uma situação em que os estoques efetivos coincidem com os planejados. No caso do setor extrativo, os estoques também ficaram abaixo do planejado (49,3 pontos) em maio, mas muito próximo da satisfação (50 pontos). No caso da indústria de transformação, por sua vez, seu planejamento foi mais acurado (49,8 pontos).
Neste último grupo industrial, segundo os empresários, 17 dos 27 ramos tiveram estoques iguais ou menores do que o planejado, como em biocombustíveis (38,5 pontos), impressão e reprodução (40,4 pontos), borracha (40,7 pontos), manutenção e reparação (41,7 pontos) e couros (41,9 pontos). Em contraste, os estoques efetivos mais acima do planejado foram nos setores de outros equipamentos de transporte (56,6 pontos), móveis (53,2 pontos), calçados (52,9 pontos) e metalurgia (52,5 pontos).
Confiança e Expectativas. A confiança dos empresários industriais ainda continua baixa, mas já há alguns meses vem tendo evolução favorável. O Índice de Confiança da Indústria de Transformação da FGV ficou em 79,2 pontos em maio e avançou para 83,4 pontos em junho, indicando insatisfação dos empresários com seus negócios, já que se manteve abaixo do patamar de 100 pontos. Frente a maio, houve aumento de 4,2 p.p., descontados os efeitos sazonais. A propósito, nessa comparação, frente ao mês anterior com ajuste sazonal, tem ocorrido pequenos aumentos na confiança desde dezembro de 2015, à exceção de fevereiro de 2016 (-2,0% frente a janeiro).
No indicador da CNI, os empresários da indústria também continuam com falta de confiança, já que seu indicador ICEI persiste abaixo dos 50 pontos. Em maio, encontrava-se em 41,3 pontos para a indústria de transformação, passando para 45,9 pontos em junho. O indicador vem aumentando desde o início do ano, a exceção de abril em que recuou marginalmente frente a março.
Em boa medida, essa evolução da confiança foi influenciada pelas expectativas em relação ao futuro. O Índice de Expectativas da FGV para a indústria de transformação apontou melhora adicional: sua trajetória em abril, maio e junho foi de 75,6, 78,2 e 85,7 pontos, respectivamente, na série livre de efeitos sazonais. Continua-se abaixo de 100 pontos, mas tem havido avanço recorrente.
Segundo o indicador da CNI, em julho foi rompida a barreira dos 50 pontos, indicando que os empresários da indústria de transformação tornaram-se otimistas em relação ao futuro (próximos seis meses). Entre maio e junho, o indicador avançou de 47,0 para 51,2 pontos.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. O PMI-M do Brasil aponta para uma melhora frente a maio (41,6 pontos) das condições dos negócios industriais segundo o levantamento realizado em junho último (43,2 pontos). A permanência do indicador abaixo dos 50 pontos ainda indica um quadro complicado para o setor industrial.
Em síntese, as sondagens junto às empresas industriais mostram que o pessimismo ainda prevalece, mas que vai perdendo força à medida que se acumulam sinais de que a crise da indústria tem ficado menos grave desde o limiar do corrente ano. Existe uma melhora das expectativas, mas ainda é cedo para considera-la substantiva e duradoura.
Anexo Estatístico
Mais Informações:
Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)