Carta IEDI
A Piora de Maio
Sumário
O mês de maio não trouxe bons resultados para nenhum dos grandes setores da economia. Em relação a abril e já descontados os efeitos sazonais, o volume de vendas do comércio varejista caiu 1,0% e as receitas reais do setor de serviços encolheram 0,1%. Mesmo o desempenho da indústria geral, que ficou estável (0%), esconde uma retração de 0,6% do conjunto dos segmentos manufatureiros.
Diante desses resultados, não causa surpresa que indicadores que estimam a evolução mensal do PIB, como aqueles calculados pelo Banco Central (IBC-Br) e pela FGV, apontaram retração em maio. Na série com ajuste, o IBC-Br caiu 0,51% frente a abril, revertendo a pequena alta de 0,03% registrada do mês anterior, enquanto o indicador da FGV apontou recuo de 0,41%, o pior desde setembro de 2015.
Por essas razões, ainda é cedo para se falar em recuperação, por mais que todos nós estejamos ansiosos para isso. O momento pelo qual a economia passa ainda é bastante delicado e novas rodadas de deterioração não estão descartadas, se não em todos talvez em alguns setores.
A indústria, por exemplo, vem caminhando em terreno movediço. Desde janeiro prevalece um quadro de alternância de taxas positivas e negativas da produção industrial na série com ajuste sazonal, que reflete melhor as mudanças mais de curto prazo. Se essa trajetória em si não justifica comemoração, ao menos não estamos mais vendo uma espiral de piora ininterrupta como em 2015.
Outro aspecto pouco alentador que está por de trás da estabilidade do setor industrial em maio, além da retração da indústria de transformação, é o fato de ter sido acompanhada de perdas significativas nos principais centros manufatureiros do país: São Paulo (-1,6% frente a abril com ajuste), Minas Gerais (-0,9%) e Rio de Janeiro (-0,1%).
Além disso, a indústria da maior parte das localidades pesquisadas (8 das 14) voltou ou se manteve no vermelho. Mesmo naquelas que apresentaram crescimento da produção em maio o quadro é de bastante volatilidade dos resultados desde janeiro, como no caso do Amazonas (+19,7%, -12,5% e +16,2% entre março e maio, com ajuste) e do Nordeste (+6,6%, -1,0% e +1,6% na mesma comparação).
Assim como a indústria, o comércio varejista também tem tido alternância de resultados, mas no seu caso as quedas prevalecem. As dificuldades encontradas pelo setor para arrefecer sua crise, vindas da piora do emprego ainda em andamento, da forte contração do crédito e de um patamar desconfortável da inflação, não trazem bons indícios para a indústria, dado que o varejo é um importante canal de escoamento de bens manufaturados.
Em maio, as vendas reais do comércio varejista no conceito restrito caíram 1% frente a abril, com ajuste sazonal, depois de alta de 0,3% em abril e queda de 0,9% em março. Já no conceito ampliado, que inclui o comércio de veículos e autopeças e de material de construção, houve retração de -0,4% em maio nesta mesma comparação, um pouco menor que aquelas vistas nos meses anteriores (-1,3% em março e -1,5% em abril) porque as vendas de veículos e autopeças cresceram em maio (+1,0% frente a abril).
À exceção de veículos, os segmentos do varejo que tiveram as maiores quedas em maio frente a abril foram aqueles que dependem mais do crédito, como informática e comunicação (-2,0%), móveis e eletrodomésticos (-1,3%), outros artigos de uso pessoal (-2,4%), que incluem as lojas de departamento, e material de construção (-0,4%).
O desempenho do varejo só não foi pior porque o segmento de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cuja participação nas vendas do comércio é bastante importante, conseguiu, ao menos na margem, ficar estável (0%). As vendas reais de tecidos, vestuário e calçados, por sua vez, tiveram alta no mês de 1,5%.
No caso do setor de serviços o que tem ocorrido é uma sucessão de resultados negativos, com exceção de março. Frente ao mês anterior, com ajuste, a queda das receitas reais do setor foi de 0,1%, isso porque em abril já havia sido de -1,6%.
Dentre os diferentes segmentos do setor, quem claramente tem piorado em 2016 são os serviços de informação e comunicação, que tiveram novo declínio de 0,2% em maio, repetindo o resultado de abril.
Já o segmento de transporte e correios cresceu 0,5% na margem, mas contou contra a queda de 0,7% do subsegmento de transportes terrestres, que está estreitamente relacionado com o nível geral de atividade econômica e só tem visto taxas negativas em 2016.
Os serviços profissionais, administrativos e complementares prestados às empresas voltaram a crescer na série com ajuste sazonal, +0,7% frente a abril, depois de dois meses sucessivos de retração. O segmento de serviços prestados às famílias, a seu turno, conseguiu, pela segunda vez, se manter estável (0%) em maio.
O único segmento que tem mostrado evolução um pouco melhor é o de outros serviços, que inclui uma diversidade grande de serviços tais como atividades imobiliárias, serviços de manutenção e reparação, serviços auxiliares financeiros e etc. Em maio cresceu 1,2% frente a abril, com ajuste. É o único segmento a apresentar mais meses com resultados positivos (3) do que negativos (2) até agora.
Indústria. Em 2016, a indústria brasileira vem caminhando em terreno movediço (ver a Carta IEDI n. 739). É certo que não há nisso nada para se comemorar, mas já é alguma coisa não estarmos mais vendo uma espiral de agravamento ininterrupta de sua recessão como em 2015.
É esse o quadro que a alternância de taxas positivas e negativas da produção industrial, que prevalece desde janeiro do presente ano, sugere. Em maio frente a abril com ajuste sazonal a indústria geral ficou estagnada, depois de dois meses consecutivos de crescimento modesto. No caso da indústria de transformação, ainda que pequena, houve queda de 0,6% neste mesmo mês, denotando que o resultado de maio não é tão bom assim.
Com isso, a evolução na margem da indústria em 2016 tem sido a seguinte: 3 meses de alta, 1 mês de queda e 1 mês de estagnação. Em 2015, foram 11 meses seguidos de queda na série com ajuste sazonal. É clara, portanto, a existência de uma ruptura da trajetória industrial na passagem de 2015 para 2016.
Tal ruptura tem sido acompanhada por resultados dos macrossetores que apontam em direções diferentes entre si. O melhor desempenho tem sido, sem sombra de dúvida, do setor de bens de capital, que em 2016 só apresentou variações positivas na série com ajuste sazonal. Bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis acompanham, a seu turno, o comportamento da indústria geral alternando meses de alta e de queda da produção, enquanto a situação continua bastante difícil para o setor de bens de consumo durável, onde as variações negativas ainda prevalecem.
Agora, em termos regionais, os resultados mostram que os principais centros manufatureiros do país experimentaram significativas perdas no mês de maio; e mais, a maior parte das localidades pesquisadas (8 das 14) voltaram ou se mantiveram no vermelho.
Ocorreu declínio da produção na comparação com ajuste sazonal nos três maiores centos industriais, justamente de onde vinham sinais positivos nos meses anteriores. O maior centro industrial, São Paulo, ilustra bem a questão em tela: sua produção havia crescido 1,4% e 2,2% e fevereiro e março, respectivamente, voltando a cair em maio: -1,6% frente ao mês anterior.
Rio de Janeiro e Minas Gerais seguiram o mesmo caminho. A indústria carioca teve retração de 0,1% em maio, depois de ter crescido 1,9% e 0,7% em fevereiro e março, em relação ao mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal. No caso da indústria mineira a queda de 0,9% em maio havia sido precedida por altas de 1,1% e 1,9% nos dois meses anteriores.
Além das perdas dos grandes centros industriais, outro motivo de receio a ser destacado é que mesmo naquelas localidades que apresentaram crescimento da produção em maio o quadro é de bastante volatilidade dos resultados. A trajetória recente do Amazonas é exemplar: +19,7% em março, -12,5% em abril e, agora, +16,2%, sempre em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal. Mas este não foi o único caso.
Também tem mostrado forte alternância de resultados a região Nordeste, cuja alta de 1,6% em maio foi precedida dos seguintes resultados: -1,0% em abril, +6,6% em março e -5,4% em fevereiro. Santa Catarina é outro caso desses: 0,1% em maio, depois de -1,9% em abril, 3,1% em março e -2,9% em fevereiro.
Espírito Santo e Rio Grande do Sul, por sua vez, tiveram taxas de crescimento relevantes em maio, respectivamente de +3,8% e de +4,4% frente a abril, com ajuste sazonal. Mas isso ocorreu depois de meses seguidos de queda. A indústria gaúcha teve retrações nos três meses entre fevereiro e abril e a do Espírito Santo desde out/15 com exceção de jan/16.
Todos esses resultados indicam que o desempenho da indústria em maio foi mais desfavorável do que parece à primeira vista, sinal de que devemos dar toda a atenção para os dados futuros antes de chegarmos à conclusão definitiva de que o fundo do poço da crise industrial já foi atingido.
Comércio Varejista. Os dados do comércio varejista de maio, por sua vez, indicam que o setor tem encontrado dificuldades para arrefecer sua crise. Assim como na indústria, tem havido alternância de resultados positivos e negativos na série com ajuste sazonal, mas no caso do varejo as quedas prevalecem. Alguns de seus segmentos também apresentam nítida trajetória de piora em 2016.
Em maio, as vendas reais do comércio varejista no conceito restrito caíram 1% frente a abril, com ajuste sazonal, e 9% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já no conceito ampliado, que inclui o comércio de veículos e autopeças e de material de construção, as quedas foram de -0,4% e -10,2% nessas mesas comparações, respectivamente.
Em termos de seus segmentos, parecem existir ao menos quatro situações distintas, sendo que poucas delas trazem sinais promissores.
Os indícios mais favoráveis vêm das vendas reais de veículos e autopeças, que tem conseguido reduzir suas perdas em 2016, ainda que os patamares de queda continuem elevados. Em maio, a variação foi de -13,3% frente ao mesmo mês do ano anterior, praticamente o mesmo resultado de abril (-13,7%) e bastante inferior às taxas vigentes nos últimos meses de 2015 (superior a -20%).
Os segmentos de supermercados, alimentos, bebidas e fumo e de móveis e eletrodomésticos, que ensaiavam uma moderação da crise em meses anteriores, voltaram a ter retrações maiores em maio. No primeiro caso, as vendas reais caíram 5,6% frente a maio de 2015, um patamar de queda expressivo e pouco frequente. No segundo caso, houve declínio de 14,6%, depois de um resultado de -10,1% em abril. É possível, contudo, que esta piora em maio venha a ser apenas pontual.
Tecidos, vestuário e calçados (-13,9% frente a mai/15), material de construção (-10,6%), combustíveis (-10,9%) e material de escritório e equipamentos de informática e comunicação (-14,4%) têm apresentado um comportamento de estabilização das quedas, mas ainda assim em patamares elevados e muito próximos daqueles vistos no final do ano passado.
A trajetória mais desfavorável, por sua vez, fica por conta dos segmentos de outros artigos de uso pessoal, onde estão as lojas de departamento, e de livros, jornais, revistas e papelaria, cujo desempenho só tem piorado. No primeiro caso, as quedas superam -10% desde janeiro, atingindo -15,5% em maio. No segundo caso, pela primeira vez desde 2004, a marca dos -20% foi rompida em maio: -24,2% frente ao mesmo mês do ano anterior.
A deterioração do emprego, que ainda está em processo, pode estar na origem desse comportamento do varejo. A inflação de alimentos, que tem sido sistematicamente superior à inflação geral, também tira poder de compra da população e obriga a redução do consumo desses bens, a despeito de sua essencialidade, prejudicando o desempenho das vendas dos supermercados, de grande importância no varejo.
Os sinais de dificuldade para a moderação da crise do comércio, mais claros para alguns segmentos, ou a estabilização das perdas em patamares ainda muito elevados não deixam de consistir em riscos para a trajetória da indústria, dado que o comércio varejista é um importante meio de escoamento dos bens manufaturados.
Serviços. Maio também não foi um bom mês para o setor de serviços, cujas receitas reais apresentaram declínio pela quarta vez no ano: -0,1% frente a abril, com ajuste sazonal (a exceção foi março: +1,2%). Depois de um arrefecimento das perdas entre fevereiro a abril, o patamar de queda em maio frente ao mesmo período do ano anterior, de -6,0%, voltou àquele do final de 2015.
Esse comportamento do setor também é evidenciado nas variações das médias móveis trimestrais, a despeito do fato de elas suavizarem a volatilidade dos resultados mensais. Nessa comparação, as receitas reais do setor de serviços como um todo caíram 5,6% frente a maio do ano passado, resultado equivalente aos -5,7% do último trimestre de 2015. A tendência geral é, então, de estabilização da crise, mas nas piores taxas de declínio.
Em termos dos diferentes segmentos do setor de serviços, as situações continuam antagônicas, com alguns mergulhando na crise e outros lutando para sair dela. Voltaremos às médias móveis trimestrais das receitas reais para analisar cada um dos grandes segmentos.
O segmento de serviços de informação e comunicação está sensivelmente pior em 2016 do que em 2015, quando apresentou variações mensais positivas na maior parte do ano. A queda do trimestre móvel findo em maio de 2016, frente ao mesmo período do ano anterior, foi de -3,9%, enquanto entre nov/15 e fev/16 suas perdas oscilavam em torno de -2,5%.
Outro segmento que voltou a piorar em maio depois de alguma moderação entre fevereiro e março foi o de transportes e correios, cujo resultado no trimestre móvel de maio chegou a -7,8%. Esse patamar retoma aquele do último trimestre de 2015 (-7,3%) e traz apreensões porque são serviços muito relacionados com o nível geral da atividade econômica.
Quem está um pouco melhor é o segmento de serviços profissionais, administrativos e complementares, que são prestados às empresas. No trimestre findo em maio, suas receitas reais caíram 6,6% frente ao mesmo período do ano anterior em contraste com -7,7% dos últimos três meses de 2015. Isso se deveu sobretudo ao subsegmento de serviços complementares, que reúne os serviços terceirizados pelas empresas, cuja contração vinha se agravando mas teve um alívio em maio (-5,7% segundo a média móvel).
Outro segmento a diminuir perdas foi o de serviços prestados às famílias: -4,6% no trimestre findo em maio contra -6,2% no último trimestre de 2015. Aqui, quem mais contribuiu para esse comportamento foi o subsegmento de outros serviços prestados às famílias, que inclui serviços de educação, lazer e cultura, entre outros, cujas receitas reais caíram -3,4% contra -7,2% nas mesmas comparações anteriores.
Mas quem realmente parece caminhar para o terreno positivo é o segmento de outros serviços, que reúne uma diversidade grande de serviços tais como atividades imobiliárias, serviços de manutenção e reparação, serviços auxiliares financeiros e etc. Este segmento que declinava 10,7% no último trimestre de 2015 cai apenas 2,3% no trimestre findo em maio de 2016.
Um último comentário cabe aos serviços da atividade turística que tiveram uma queda recorde em maio (-8,9% frente a mai/15), fazendo com que a variação da média móvel finda nesse mês atingisse -4,9% frente ao mesmo período do ano passado. Isso depois de ter tido um desempenho de -1,0% no último trimestre de 2015 e experimentado variações positivas em janeiro (+0,5%) e fevereiro (+1,4%) de 2016, devido muito provavelmente à ajuda vinda da desvalorização do câmbio.