Carta IEDI
Investimento Estrangeiro Direto: Alta no Mundo, Mas Queda no Brasil
O relatório sobre investimentos mundiais de 2016 (World Investment Report) da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) mostra uma retomada dos fluxos de investimentos estrangeiros diretos (IED) em 2015, com crescimento de 38% em relação a 2014, alcançando assim a marca de US$ 1,76 trilhão.
Os países desenvolvidos foram os principais responsáveis por essa evolução, assumindo o papel tanto de origem como de destino do IED. Os fluxos de entrada de IED nesses países assinalaram alta de 75%, passando de US$ 522 bilhões em 2014 para US$ 962 bilhões em 2015, no que se destacaram as operações de fusão e aquisição especialmente entre esses mesmos países. Com isso, voltaram a deter maior parcela dos influxos globais (55%), posição que não ocupavam desde 2012. Tal expansão se deu principalmente nos países da América do Norte (+160%), mas também compreendeu aqueles da União Europeia (+65%).
A expansão da participação da América do Norte é explicada, a seu turno, essencialmente pelos EUA, que ascendeu em 2015, ao topo do ranking de países com maiores fluxos de entrada de IED, ultrapassando Hong Kong e China (que caiu do 1º para 3º lugar). Países europeus desenvolvidos, em geral, melhoraram sua posição no ranking, como Irlanda, Holanda, Suíça, França, Alemanha, Bélgica e Luxemburgo.
Em contrapartida, os países em desenvolvimento assinalaram crescimento mais modesto na entrada de fluxos de IED, apenas 9% frente a 2014. E ademais, tal crescimento foi produto de evoluções muito distintas entre os países. Os países em desenvolvimento da Ásia formaram o grupo de maior recepção de IED, notadamente aqueles do Leste e do Sudeste Asiáticos. Os asiáticos tiveram recorde de entrada de investimentos em 2015, somando US$ 540 bilhões, uma alta de 15% frente a 2014.
Em direção oposta, refletindo a baixa performance econômica, houve queda dos fluxos de entrada nos países da América Latina (-2%) e na África (-7%). Em todos os casos, contudo, viu-se uma redução da participação dos influxos de 2014 para 2015: de 37% para 31% no caso da Ásia em desenvolvimento, de 13% para 9% no caso da América Latina e Caribe e de 5% para 3% no caso da África. As economias em transição também tiveram queda dos fluxos de entrada de IED, da ordem de 40% em 2015 frente a 2014, com o que sua participação no influxo do IED global saiu de 4% para 2% nesse período.
Se considerarmos os países pertencentes ao BRICS, entre 2014 e 2015 os influxos de IED cresceram tanto na China (+5%, para US$ 135 bilhões) como na Índia (+29%, para US$ 44 bilhões), caindo nos demais países. A despeito do declínio de 12% da entrada de IED no Brasil em 2015, quando atingiu o patamar de US$ 64 bilhões, o país continua atrás apenas da China como receptor de investimentos. No caso da Rússia, a queda foi de 65%, para US$ 10 bilhões em 2015, enquanto no caso da África do Sul a entrada de US$ 1,7 bilhão representou declínio de 70% frente a 2014.
Com isso, o Brasil retrocedeu da 4ª para 8ª posição no ranking dos principais destinos de IED a nível mundial. O rebaixamento de posição da Rússia foi ainda maior, dado que em 2013 ocupava a 5ª posição, caindo para a 16ª em 2014 para finalmente sair do ranking dos 20 maiores receptores em 2015. A Índia, por sua vez, manteve igual colocação (10ª) em 2014 e em 2015 e a China foi do 1º para o 3º lugar, a despeito do aumento das entradas de investimento nesses países.
Já em relação aos fluxos de saída de IED, os EUA se mantiveram como a principal origem, isto é, como os maiores investidores mundiais. Em 2015 frente a 2014 houve aumento de cerca de 6% dos investimentos dos EUA no resto do mundo. Neste mesmo período, o Japão subiu da 4ª para 2ª posição do ranking e a China manteve-se em 3º lugar.
Em termos setoriais, as operações internacionais de fusão e aquisição no setor manufatureiro bateram o recorde histórico em 2015 (US$ 388 bilhões), impulsionadas pelos setores farmacêutico (US$ 61 bilhões), minerais não-metálicos (US$ 26 bilhões), móveis (US$ 21 bilhões) e químicos e produtos químicos (US$ 16 bilhões).
Para 2016, o relatório prevê uma queda global de 15% nos investimentos estrangeiros diretos, decorrente da maior fragilidade econômica e política, da fraca recuperação da demanda agregada e de medidas para evitar inversões corporativas. Diante desse quadro mais adverso, é muito provável que o IED no Brasil volte a se retrair, já que o país não foi capaz de aproveitar sequer um ano de resultados positivos em termos internacionais.
Evolução Geral. O relatório sobre investimentos mundiais 2016 da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) mostra que em 2015 os fluxos internacionais de investimentos estrangeiros diretos (IED) tiveram uma expressiva retomada, crescendo 38% em relação a 2014, alcançando assim a marca de US$ 1,76 trilhão. O nível de investimentos em 2015 foi o mais elevado desde a crise de 2008-2009, mas ainda se encontra 10% abaixo do nível de 2007, recorde da série histórica.
Composição dos investimentos. Investimentos greenfield corresponderam à 44% do total destes fluxos de IED em 2015. O principal fator para a expansão foi a grande elevação dos investimentos em fusão e aquisição (F&A), que passaram de US$ 432 bilhões em 2014 para US$ 721 bilhões em 2015. Tal movimento diz respeito essencialmente às reconfigurações das grandes empresas multinacionais, notadamente, mudanças nas estruturas de propriedade, incluindo inversões corporativas. Descontadas essas movimentações, o crescimento teria sido de 15%.
Quando se examina a composição das saídas de capital contrapondo lucros reinvestidos aos investimentos acionários (equity outflows), nota-se que em 2015 as empresas dos países desenvolvidos reverteram a tendência de aumentar progressivamente os lucros reinvestidos, verificada de 2008 a 2014, quando respondiam a 65% do total. Em 2015, equity outflows cresceram significativamente e passaram a equivaler à maior parte (54%) dos fluxos de saída de IED dessas economias. Por sua vez, nos países em desenvolvimento, o comportamento foi diferente. Em 2013 e 2014, os fluxos de saída de IED desses países tornaram-se majoritariamente equity outflows, mas em 2015 os lucros reinvestidos responderam pela maior parcela do total (49%).
No processo de alta de F&A foi importante a maior atuação das empresas multinacionais europeias, graças aos estímulos do Banco Central Europeu. Alguns exemplos notáveis foram a aquisição da Allergan (EUA) pela Actavis (Irlanda) por US$ 68 bilhões, da Sigma (EUA) pela MerckAG (Alemanha) por US$ 17 bilhões, e dos negócios de Oncologia da GlaxoSmithKline PLC (EUA) pela Novartis (Suíça) por US$ 16 bilhões. Como se verá adiante, os mega-acordos regionais também facilitaram o crescimento das F&A em 2015.
Países em Desenvolvimento e Países Desenvolvidos. As economias desenvolvidas assinalaram o maior crescimento nos fluxos de entrada de IED (75%), recebendo US$ 962 bilhões em 2015, vis-à-vis um patamar anterior de US$ 522 em 2014. Assim, voltaram a deter maior parcela dos fluxos de entrada de IED globais (55%), posição que não ocupavam desde 2012. Tal expansão se deu tanto nos países da União Europeia (+65%), quanto e principalmente, da América do Norte (+160%). Nestas regiões, se destacaram as elevações de investimento para a Suíça e para os EUA, respectivamente.
Em contrapartida, os países em desenvolvimento assinalaram crescimento mais modesto na entrada de fluxos de IED (+9%). A Ásia foi a maior região receptora de IED dentre os países em desenvolvimento, notadamente o Leste e o Sudeste Asiáticos. Esses países tiveram recorde de entrada de investimentos em 2015, somando US$ 541 bilhões. Mesmo assim, sua participação nos fluxos de entrada de IED diminuiu. As parcelas da América Latina, da África e das economias em transição também caíram de 2014 para 2015, passando respectivamente de 13% para 9%, 5% para 3%, e 4% para 2% do total de entradas de IED. Nestas três regiões, porém, não só as participações mas também o montante dos fluxos de entrada de investimentos se reduziu em relação a 2014, sob a influência da queda dos preços das commodities, que desincentivou o IED no setor primário e na indústria extrativa.
A fonte principal dos investimentos continuou sendo os países desenvolvidos, cujos fluxos de saída de IED aumentou 33% em relação a 2014, atingindo US$ 1,1 trilhão em 2015.A União Europeia se tornou a principal região de origem (participação de 33% em 2015), posição que tinha perdido em 2012 por conta da crise.
Ranking por País. O maior destaque do ranking de 2015 de fluxos de entrada de IED foi a ascensão dos EUA à posição de liderança, ultrapassando Hong Kong e China, que caiu do 1º para 3º lugar. Países desenvolvidos europeus em geral ascenderam no ranking, como Irlanda, Holanda, Suíça, França, Alemanha, Bélgica e Luxemburgo. Já os BRIC apontaram os seguintes resultados: Brasil caiu da 4ª para 8ª posição; a Rússia, que em 2013 estava na 5ª posição, caiu para a 16ª em 2014 e saiu do ranking dos 20 maiores receptores em 2015 (entrada de IED desceu de US$ 29 bilhões para US$ 9,8); Índia manteve igual colocação em 2014 e 2015, 10º; China foi para o terceiro lugar em 2015, tendo sido a líder em 2014.
Quanto às saídas de IED, os EUA se mantiveram como os maiores investidores mundiais, com aumento de 6% aproximadamente em 2015 relativamente a 2014. Japão subiu da 4ª para 2ª posição e a China manteve-se em 3º lugar. Os países europeus são a maioria dos demais países dentre os vinte maiores investidores mundiais, mas constam alguns em desenvolvimento como Hong Kong, Singapura, Coreia, Rússia e Chile.
IED nos Mega-grupos. A composição do IED também pode ser interpretada a partir dos mega-grupos de investimento e comércio, formalizados ou não. A maior parte dos fluxos de IED foi realizada no âmbito desses grupos, a saber, G20 (Grupo dos 20), TTIP (Parceria Transatlântica de Investimento e Comércio), APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), TTP (Parceria Transpacífica), RCEP (Parceria Econômica Regional, que inclui a Associação das Nações do Sudeste Asiático – ASEAN – mais seis países) e os BRICS - sendo que o IED intra-grupo representa de 30% a 63% do total recebido em cada grupo.
Comparativamente a 2014, as entradas de fluxos de IED aumentaram no G20 (que passaram a responder de 51% para 53% dos fluxos totais de IED do mundo), de TTIP (de 31% para 46%), APEC (de 52% para 54%) e TPP (28% para 34%). De outro modo, houve redução dos fluxos no RCEP e nos BRICS (que perderam parcelas no IED mundial, de 27% para 19% e de 21% para 15%, respectivamente).
Em particular nos BRICS, a entrada de IED na Índia e na China aumentou entre 2014 e 2015: de US$ 128 bilhões para US$ 135 bilhões na China e de US$ 34 bilhões para US$ 44 bilhões na Índia. Porém, o crescimento não supriu a grande retração observada no Brasil, Rússia e África do Sul: de US$ 73 bilhões para US$ 64 bilhões no Brasil, de US$ 29 bilhões para US$ 10 bilhões na Rússia e de US$ 5,7 bilhões para US$ 1,7 bilhão na África do Sul. Dessa forma, em 2015 a China passou a concentrar ainda mais o total investido no bloco, mais da metade do total.
A Análise Setorial e a Posição da Indústria em Termos de Estoque de IED. O ano mais atualizado para informações setoriais de estoques de IED é o de 2014. Naquela data, do estoque global de entrada de IED de US$ 26 trilhões, os serviços respondiam por 64% do total, a indústria de transformação 27% e o setor primário 7%. Comparando-se a composição setorial dos estoques de IED dos países desenvolvidos com a composição em países em desenvolvimento, depara-se com proporções bastante similares.
Entretanto, tomando-se as regiões dos países em desenvolvimento, teve-se parcela mais resumida do setor primário na Ásia (2%) em benefício dos serviços (70%). Já na África a parcela do setor primário foi de 28%, média bem superior ao do padrão mundial. Na América Latina e Caribe, por outro lado, a parcela da indústria de transformação foi de 31%, acima do patamar médio global naquele ano.
No setor manufatureiro, em especial, em 2015 as vendas internacionais de F&A bateram o recorde histórico (US$ 388 bilhões), impulsionado pelos setores farmacêutico (US$ 61 bilhões), minerais não-metálicos (US$ 26 bilhões), móveis (US$ 21 bilhões) e químicos e produtos químicos (US$ 16 bilhões). Neste caso, entretanto, a composição setorial varia significativamente entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento – além da grande diferença em termos de montante. No primeiro caso, foram concentradas em produtos farmacêuticos, químicos e produtos químicos, minerais não-metálicos e máquinas e equipamentos. No outro, em móveis, alimentos/ bebidas/ tabaco e produtos minerais não metálicos.