Carta IEDI
A indústria em agosto de 2016: de volta ao vermelho
A produção industrial em agosto voltou a fechar no vermelho. A queda foi de 3,8% frente a julho na série com ajuste sazonal, compreendendo no pior resultado de 2016 nesta comparação. Se for considerado o crescimento pífio de julho (+0,1%), o que temos nesse início de segundo semestre é um quadro de apreensão, com o risco de o desempenho industrial tornar-se claudicante daqui para frente.
Vale notar que tal quadro surge antes mesmo de podermos falar em uma trajetória consolidada de recuperação. O que ocorreu no primeiro semestre foram os passos iniciais nesta direção, em que as variações positivas na série com ajuste sazonal estiveram longe de compensar as perdas anteriores. Agora em agosto, a queda de 3,8% significou nada menos que a anulação do crescimento acumulado nos cinco meses anteriores (+3,7%).
Esse desempenho da indústria no início do segundo semestre contrasta com a melhora sucessiva da confiança dos empresários do setor no período recente. Em boa medida, isso tem decorrido de expectativas mais favoráveis em relação aos próximos meses, enquanto a avaliação da situação atual, que também compõe os indicadores de confiança, progride menos.
Para que o fortalecimento da confiança assuma uma trajetória consistente, capaz de produzir efeitos efetivos sobre o nível de atividade, é preciso que o desempenho industrial evolua de forma a validar a melhora das expectativas sobre o futuro. Sem isso, corre-se o risco de elas serem corrigidas para baixo, antes mesmo de dar frutos.
Voltando à retração da produção industrial de agosto, deve-se reconhecer que sua magnitude também foi influenciada por fatores pontuais, que muito provavelmente não devem voltar a se repetir, ao menos não na mesma intensidade. Este foi o caso do adiantamento de férias coletivas na indústria automobilística. Fatores dessa natureza podem estar na origem de quedas muito intensas tanto na produção de veículos (-10,4% frente a jul/16 com ajuste), como na de alimentos (-8,0%) e vestuário e acessórios (-6,9%).
De qualquer forma, as quedas não se restringiram a esses três setores, muito pelo contrário, foram bastante disseminadas, atingindo 21 dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE. Dos 4 macrossetores da indústria apenas 1 deles, o de bens de capital, conseguiu obter um resultado positivo em agosto.
A maior retração da produção dentre os macrossetores foi sentida por bens de consumo duráveis, que em agosto caiu 9,3% frente a julho com ajuste sazonal. Este resultado interrompeu uma trajetória que vinha se mostrando promissora com três meses sucessivos de crescimento.
Os bens intermediários, por sua vez, caíram 4,3% em agosto, depois de dois meses consecutivos de alta de produção. Neste caso, como seus produtos são utilizados pelo restante da indústria, esse macrossetor tende a somatizar o dinamismo industrial como um todo. Por isso, sua queda não é bom sinal.
Já a produção de bens de consumo semi e não duráveis caiu menos que a dos dois macrossetores supracitados: -0,9%. Mas nesse caso é preciso ter em mente que em julho também houve queda, de -2,4%, a mais intensa de 2016 na série com ajuste. De fato, existe um conjunto de fatores que vem jogando contra o desempenho desses bens, como a contração da massa salarial, a elevação dos preços de alimentos e a apreciação cambial ao longo do semestre, já que muitos de seus setores são exportadores.
Por fim, o único macrossetor a apresentar crescimento da produção foi o de bens de capital, em que os resultados positivos têm marcado quase todos os meses de 2016 na série com ajuste sazonal. Em agosto, a alta foi de 0,4%, o que consiste em um resultado muito fraco, especialmente se considerarmos que houve queda em julho de -2,1% frente a junho.
Em resumo, mesmo que contração da indústria geral em agosto tenha atingido o patamar de -3,8% muito em função dos resultados particularmente ruins de alguns poucos setores, o início do segundo semestre do ano traz apreensão e explicita os riscos de nova deterioração que a indústria ainda corre, a exemplo da apreciação cambial, cujos efeitos adversos sobre o dinamismo industrial têm sido enfatizados pelo IEDI.
Resultados da Indústria
Em agosto, a produção industrial apresentou a segunda taxa negativa do ano na série livre de efeitos sazonais. Depois de ter ficado praticamente estável em julho frente a junho (+0,1%), a queda de agosto chegou a -3,8% em relação ao mês anterior. Com isso, anulou-se a alta acumulada nos cinco meses anteriores (+3,7%). Pode-se concluir, então, que o segundo semestre de 2016 não começou muito bem.
É preciso considerar, entretanto, que o péssimo resultado de agosto, que foi a maior queda da série com ajuste desde janeiro de 2012 (-4,9%), foi bastante influenciada por retrações expressivas em alguns poucos setores, tais como veículos (-10,4%), alimentos (-8,0%) e vestuário e acessórios (-6,9%). Muito disso se deveu a fatores pontuais que podem não se repetir, pelo menos não na mesma intensidade, nos próximos meses. É o caso da indústria automobilística, cujo resultado foi influenciado pelo adiantamento de férias coletivas em unidade fabril da Volkswagen, devido a desentendimentos em sua cadeia de fornecedores de autopeças.
Na comparação com agosto de 2015, por sua vez, continuou havendo retração, de -5,2%. Esse resultado implicou uma desaceleração da queda em relação aos meses anteriores, consistindo na menor taxa desde junho do ano passado, mas deve-se levar em conta que agosto de 2016 (23 dias) teve dois dias úteis a mais do que igual mês do ano anterior. Com isso, houve declínio de 8,2% no acumulado dos primeiros oito meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2015. O indicador acumulado nos últimos doze meses, a seu turno, apresentou variação negativa de 9,3% frente a igual período imediatamente anterior.
Em relação aos macrossetores, frente a julho com ajuste sazonal, houve crescimento da produção industrial em apenas um deles (bens de capital) e queda nos outros três (bens de consumo duráveis e semi e não duráveis e bens intermediários).
Depois de ter apresentado em julho sua primeira taxa negativa (-2,1%) no ano na série com ajuste sazonal, a produção de bens de capital cresceu, em agosto, 0,4% frente a julho. Este resultado pode ser considerado fraco justamente porque sucedeu uma queda considerável no mês anterior, mas ao menos o macrossetor voltou ao terreno positivo.
O pior desempenho em agosto frente a julho ficou por conta de bens de consumo duráveis, um dos líderes da retração da produção em 2015, que caiu 9,3%, interrompendo uma trajetória de três meses consecutivos de crescimento da produção, quando acumulou alta de 12,0%. O segundo pior desempenho nessa comparação foi obtido por bens intermediários, com uma queda de 4,3%, após um período de dois meses sucessivos de alta. Já a retração de bens de consumo semi e não duráveis de -0,9% não foi intensa, mas veio após um resultado negativo também em julho (-2,4%).
Os resultados de agosto de 2016 frente a agosto de 2015, apontam contração da produção em quatro dos macrossetores, com perfil relativamente difundido entre os setores que os compõem. A maior queda ficou novamente a cargo de bens de consumo duráveis (-12,4%), seguidos por bens intermediários (-6,9%) e bens de consumo semi e não duráveis (-1,9%). A produção de bens capital cresceu 5,0%, depois de 29 meses consecutivos de resultados negativos. Esses resultados devem ser ponderados pelo maior número de dias úteis (2 a mais) em agosto de 2016 em relação a agosto de 2015, como já foi apontado.
Entretanto, as trajetórias em cada um desses macrossetores têm apontado reduções das perdas, mas em ritmos distintos entre eles. São os bens de capital que apresentam clara tendência de melhora, a ponto de ter crescido em agosto, como dito anteriormente. A reversão do quadro é expressiva já que as variações predominantes na segunda metade de 2015 ficavam em torno de -30%. Em contrapartida, as quedas em bens de consumo duráveis, que superaram -25% em vários meses entre outubro de 2015 e abril de 2016, mostram uma moderação mas permanecem em patamar elevado: -17,4% em maio, -6,9% em junho, -16,2% em julho e -12,4% em agosto.
Em bens intermediários, o declínio de -6,9% em agosto parece corroborar a trajetória de relativa moderação do ritmo de perdas iniciada no segundo trimestre do ano (-7,5%), nas comparações frente aos mesmos meses do ano anterior. Por fim, a produção de bens de consumo semi e não duráveis atingiu certa estabilização de seu nível de retração depois do mês de maio de 2016 em torno de -2,0%, exceção feita ao resultado bastante ruim de julho (-6,4%). Ainda assim, agosto registrou a quarta taxa negativa consecutiva.
A alta de 5,0% frente a agosto de 2015 em bens de capital decorreu do avanço observado na maior parte dos seus grupamentos, com destaque para os bens de capital agrícola (21,9%), bem como para os bens de capital para construção (17,4%), para equipamentos de transporte (1,9%) e para energia elétrica (11,5%). Em sentido oposto, tiveram retração os bens de capital para fins industriais (-10,7%) e de uso misto (-9,2%).
Já o declínio de 12,4%, também frente a agosto de 2015, em bens de consumo duráveis foi particularmente influenciado pela menor fabricação de automóveis (-19,7%), de motocicletas (-17,6%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (-3,1%). Os principais resultados positivos foram observados nos grupamentos de eletrodomésticos da “linha branca” (8,7%), de outros eletrodomésticos (11,4%) e de móveis (2,4%).
Por sua vez, a retração de 6,9%, ainda na comparação com agosto de 2015, na produção de bens intermediários, decorreu principalmente de recuos das indústrias extrativas (-11,7%), de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-14,1%), de máquinas e equipamentos (-25,7%), de produtos de minerais não-metálicos (-11,2%) e de produtos alimentícios (-5,5%), entre outros. Vale citar também os resultados observados nos grupamentos de insumos típicos para construção civil (-7,9%), que marcou o trigésimo recuo seguido na comparação com igual mês do ano anterior. Os destaques positivos ficaram a cargo de outros produtos químicos (2,0%) e produtos têxteis (4,1%). Já o segmento de embalagens (0,9%) interrompeu dezenove meses de taxas negativas consecutivas.
Por fim, a queda de 1,9% em bens de consumo semi e não-duráveis foi influenciada, em grande medida, pela retração do grupamento de carburantes (-8,8%). Os subsetores de não-duráveis (-2,0%) e de semiduráveis (-1,4%) também mostraram resultados negativos nesse mês. Por outro lado, o grupamento de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (0,4%) apontou o único resultado positivo nessa categoria.
No acumulado de janeiro a agosto de 2016, em relação ao mesmo período de 2015, os quatro macrossetores continuam registrarando resultados negativos: bens de consumo duráveis (-20,2%), bens de capital (-15,9%), bens intermediários (-8,0%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-2,7%).
Por Dentro da Indústria de Transformação
O declínio de 3,8% da produção industrial geral em agosto decorreu das quedas de 1,8% da indústria extrativa, frente a julho, com ajuste sazonal, e de 3,6% da indústria de transformação, nesta mesma comparação. Em relação a agosto de 2015, o resultado da indústria de transformação foi de -4,2%, a retração mais branda desde junho de 2015 (-4,0%), acumulado no ano de 2016 declínio de 7,4%. Já no caso da indústria extrativa, houve queda de 11,7% frente a agosto de 2015 e de 13,1% no acumulado do presente ano.
Frente a julho, com ajuste sazonal, a contração da indústria geral (-3,8%) foi acompanhada por 21 dos 24 ramos da indústria acompanhados pelo IBGE. Isto é, as taxas negativas foram bastante generalizadas. Os destaques negativos ficaram por conta de: produtos alimentícios (-8,0%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-10,4%), indústrias extrativas (-1,8%), de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,9%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,8%), de produtos de minerais não-metálicos (-5,1%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-6,9%), de metalurgia (-1,7%), de máquinas e equipamentos (-1,6%) e de produtos de borracha e de material plástico (-1,9%). Dentre os que tiveram alta de produção, destacam-se os produtos farmoquímicos e farmacêuticos, que avançou 8,3%.
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou queda de 5,2%, variações negativas marcaram o desempenho de 18 dos 26 ramos, 37 dos 79 grupos e 51,4% dos 805 produtos pesquisados. Vale lembrar novamente que agosto de 2016 (23 dias) teve dois dias úteis a mais do que igual mês do ano anterior. Entre as atividades, os principais destaques negativos nesta comparação compreendem indústrias extrativas (-11,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-12,5%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-9,0%), produtos alimentícios (-2,9%), produtos de minerais não-metálicos (-11,0%), produtos do fumo (-45,2%), máquinas e equipamentos (-6,3%), outros equipamentos de transporte (-14,0%) e de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-7,3%). Em contraste, entre as atividades que apontaram expansão na produção, as principais pressões foram registradas por máquinas, aparelhos e materiais elétricos (7,1%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (7,0%) e outros produtos químicos (1,8%).
No acumulado dos primeiros oito meses de 2016, frente a igual período do ano anterior, a queda de 8,2% da indústria geral foi acompanhada de variações negativas em 22 dos 26 ramos, 64 dos 79 grupos e 72,4% dos 805 produtos pesquisados. Entre as atividades, exerceram as maiores influências negativas: indústrias extrativas (13,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-18,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,5%), máquinas e equipamentos (-14,4%), metalurgia (-9,1%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-22,8%), produtos de minerais não-metálicos (-11,5%), entre outros. Já entre as atividades que ampliaram a produção, a principal influência foi observada em produtos alimentícios (1,7%), impulsionada, em grande parte, pelo avanço na fabricação de açúcar cristal e VHP.
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de agosto avançou 25,0%, com bastante influência das vendas externas de aeronaves. Com disso, o resultado acumulado entre janeiro e agosto de 2016 continua positivo e em um patamar bastante confortável: +12,0%. Esse desempenho continua muito superior àquele do acumulado de janeiro a dezembro de 2015 (2,3%), denotando a relevância da taxa de câmbio mais competitiva para a reativação das vendas externas da indústria nacional.
Se a taxa de câmbio, que em termos nominais já se valorizou 20% no primeiro semestre de 2016, continuar competitiva de forma a permitir o avanço das exportações de manufaturados, é provável que, em breve, se torne um relevante mecanismo de compensação da contração da demanda interna. À medida que a indústria e a economia como um todo se estabilizem e voltem a crescer, a contração das importações deve ser convertida em expansão, fazendo do crescimento das exportações peça-chave para a continuidade do ajustamento externo.
Em agosto, as importações em quantum de matérias-primas cresceram pela segunda vez no ano: +17,9%, depois da alta de 14,5% em julho, sempre frente ao mesmo mês do ano anterior. No acumulado entre janeiro e agosto, continua havendo retração, de 14,2% patamar que já é inferior àquele de 2015 (-15,7%). É provável que parte desse desempenho esteja relacionada à revalorização da taxa de câmbio nos meses mais recentes, mas também pode refletir a fase um pouco menos adversa por que passa a produção industrial.
Utilização de Capacidade
O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, foi de 73,8% em agosto de 2016, 0,5 p.p. inferior ao patamar registrado em julho. Esse grau de utilização, entretanto, continua muito inferior à média histórica do próprio indicador (80%, considerando-se os últimos 60 meses).
O indicador da CNI também aponta para um nível historicamente baixo da utilização da capacidade: 77,1%, em agosto de 2016, contra 80,8% na média dos últimos 60 meses. Em relação a julho (76,8%), na série com ajuste sazonal, houve aumento de 0,3 p.p. do indicador.
A permanência da utilização da capacidade em níveis historicamente baixos não é um bom indício para a evolução futura do investimento, isso porque máquinas e equipamentos atualmente ociosos deverão ser postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar sua capacidade de produção. Em contrapartida, a existência de capacidade ociosa significa que existem plenas condições de oferta para garantir uma recuperação da atividade econômica sem pressões inflacionárias.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, os estoques de produtos finais da indústria em agosto de 2016 assinalaram índice de 50,4 pontos, ultrapassando a marca dos 50 pontos pela primeira vez no ano. O indicador acima de 50 pontos indica aumento dos estoques. Como o valor obtido em agosto é muito próximo da linha divisória dos 50 pontos, pode-se afirmar que o nível de estoques não se alterou no referido mês. De todo modo, parece ter perdido força, então, o processo de redução dos estoques, que incentiva a estabilização ou retomada da produção. Assim, neste ano têm-se uma dinâmica de estoques diferente daquela de 2015, quando o índice esteve acima dos 50 pontos na maior parte dos meses, numa indicação de sistemático aumento de estoques.
Este resultado em agosto de 2016 se deve sobretudo à indústria extrativa, cujo indicador de estoques avançou de 44,8 para 53,1 pontos entre julho e agosto, indicando elevação dos estoques. No caso da indústria de transformação, houve uma alta menos expressiva, de 49,0 para 50,3 pontos, consistindo em uma evolução mais próxima da estabilidade do que do aumento dos estoques.
Nesse sentido, na avaliação dos empresários, os estoques efetivos têm se encontrado em níveis muito próximos do planejado em 2016, com índice de satisfação de 50,8 pontos na indústria geral em agosto de 2016, sendo que o índice de satisfação em 50 pontos representa uma situação em que os estoques efetivos coincidem com os planejados. No caso do setor extrativo, os estoques ficaram acima do planejado (52,3 pontos) em agosto, enquanto no caso da indústria de transformação seu planejamento foi mais acurado, permanecendo muito próximo do nível de 50 pontos. Ficou em 50,8 pontos em agosto. Vale notar que houve alta do indicador pelo segundo mês consecutivo para a indústria de transformação, depois de 5 meses ligeiramente abaixo da marca de 50 pontos.
Neste último grupo industrial, segundo os empresários, 13 dos 27 ramos tiveram estoques iguais ou menores do que o planejado (50 pontos), como em impressão e reprodução (41,9 pontos), produtos de metal (46,6 pontos), informática, eletrônicos e ópticos (46,6 pontos), borracha (47,4 pontos) e móveis (47,4 pontos). Em julho, 20 de setores tinham ficado abaixo da marca dos 50 pontos. Em contraste, constataram estoques efetivos acima do planejado os setores de calçados (53,8 pontos), couro (53,6 pontos), máquinas e equipamentos (52,7 pontos) e limpeza e perfumaria (51,9 pontos), entre outros.
Confiança e Expectativas
A confiança dos empresários industriais encontra-se em melhor estado neste início de segundo semestre em 2016 do que no final do ano passado. Contudo, os indicadores da FGV e da CNI mostram alguma dissonância de sua evolução recente, refletindo, muito provavelmente, o momento delicado de inflexão pelo qual o setor passa. Ambos os indicadores apontam para uma melhora do desempenho industrial em setembro.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação da FGV, que ficou em 86,1 pontos em agosto, avançou para 88,2 pontos em setembro. A despeito da melhora na passagem do mês, o indicador ainda sugere insatisfação dos empresários com seus negócios, já que permanece abaixo da marca dos 100 pontos, a partir da qual a avaliação torna-se positiva. Após a queda do mês de agosto, o resultado de setembro retomou a trajetória de melhora da confiança iniciada em março de 2016.
No indicador da CNI (ICEI) a confiança dos empresários da indústria de transformação também apontou melhora, neste caso ainda mais substancial. Em setembro, o indicador chegou a 54,4 pontos, depois de ter ficado em 51,8 pontos em agosto. Com um patamar superior aos 50 pontos, o ICEI aponta empresários confiantes, o que não acontecia desde março de 2014. O indicador vem aumentando desde janeiro, à exceção de abril, e tem se acelerado a partir de maio.
Essa evolução da confiança tem sido influenciada principalmente pelas expectativas em relação ao futuro. O Índice de Expectativas da FGV para a indústria de transformação, depois da ligeira deterioração em agosto (87,3 pontos), avançou para 89,8 em setembro, na série livre de efeitos sazonais. Continuou, contudo, abaixo de 100 pontos, marca a partir da qual as expectativas tornam-se positivas.
Segundo o indicador da CNI, em junho foi rompida a barreira dos 50 pontos, indicando que os empresários da indústria de transformação tornaram-se otimistas em relação ao futuro (próximos seis meses). Já há quatro meses o indicador permanece acima dos 50 pontos: 51,2 pontos em junho, 52,9 pontos em julho, 56,4 pontos em agosto e, agora em setembro, 58,7 pontos.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. O PMI-M do Brasil também apontou que as condições dos negócios industriais não foram tão negativas quanto no mês anterior, passando de 45,7 pontos em agosto para 46,0 pontos em setembro. A permanência do indicador abaixo dos 50 pontos ainda indica um quadro complicado para o setor industrial.
Em síntese, as sondagens junto às empresas industriais mostram que o pessimismo pode estar perdendo força, dando espaço para a recuperação da confiança. Como a melhora da confiança dos últimos meses está muito associada às expectativas mais favoráveis para o futuro, é preciso que a evolução efetiva dos diferentes setores industriais venha a validar sucessivamente tais expectativas, de maneira a fazê-las avançar ainda mais. Caso contrário, isto é, se a evolução efetiva da indústria vier a frustrar as expectativas, a confiança dos empresários poderá cair novamente, em função da correção de sua visão para o futuro.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)