Carta IEDI
A Indústria de Transformação por Intensidade Tecnológica: Retardando a Retomada
Na passagem de agosto para setembro último a indústria de transformação brasileira deu um exíguo suspiro de 0,2% na série livre de sazonalidade. Tal variação foi insuficiente diante das quedas dos dois meses anteriores. Ademais, frente a setembro de 2015, a indústria de transformação encolheu 4,1%. Com isto, o resultado do acumulado em 12 meses terminados em setembro teve retração de 8,5%, levando ao menor patamar desde junho de 2004. Já no acumulado do ano, a produção retrocedeu 7,0%. Tal variação negativa se fez acompanhar de redução no déficit dos bens típicos da indústria de transformação, que ficou em US$ 3,6 bilhões, contra um saldo negativo de US$ 30,0 bilhões no mesmo acumulado até setembro de 2015. Esse menor déficit decorreu sobremaneira da queda nas importações, ainda que tenha contado com um pequeno acréscimo de 0,7% nas exportações em dólares.
A retração ainda significativa da indústria de transformação pode ser detalhada pela classificação adotada pela OCDE conforme a qual o setor se divide em quatro faixas de intensidade tecnológica: alta intensidade, média-alta, média-baixa e baixa intensidade tecnológica.
- A faixa de alta intensidade registrou declínio de 9,8% no acumulado até setembro. Desde janeiro de 2015, a taxa tem sido negativa na comparação entre acumulado do ano e igual período do ano anterior. No contraponto entre meses de setembro, o retrocesso foi de 9,4%. Em doze meses, a queda chegou a 8,5%. As atividades do complexo eletrônico têm concorrido bastante para tais contrações: como um todo teve declínio de 21,4% nos três primeiros trimestres. A indústria farmacêutica também sofreu queda, de 1,3%, puxada pela retração de 6,6% em julho-setembro.
- O segmento de média-alta intensidade sofreu a retração mais aguda dentre as quatro faixas no acumulado do ano até junho, taxa de -10,6%. Retração, aliás, disseminada tem todos os ramos encampados por essa faixa: da produção de bens de capital, máquinas e equipamentos à indústria de material de transporte terrestre passando pela indústria química. A queda mais aguda no acumulado do ano foi na indústria automobilística e afins, com retrocesso de 17,0%. Para a faixa de média-alta intensidade como um todo, no contraste entre meses de setembro, a produção física caiu 3,7%, enquanto, em doze meses, 13,7%.
- A indústria de média-baixa recuou 7,9% no acumulado do ano, com todos os ramos se retraindo. Na comparação entre meses de setembro e entre terceiros trimestres, as retrações foram de 9,0% e de 8,5%, respectivamente. Em doze meses, a variação foi de -9,9%. A produção de bens metálicos e a de produtos de petróleo refinado, álcool e afins, que ditam o comportamento desse segmento, experimentaram declínio de 10,4% e de 8,1%, respectivamente. Ressalte-se que, mesmo com a produção física e as exportações em dólares correntes menores do que em janeiro-setembro de 2015, essa faixa voltou a registrar superávit após seis anos de déficit.
- A faixa de baixa intensidade experimentou recuos menos agudos, com declínio de 2,0% na comparação entre acumulado até setembro e igual período do ano anterior. No confronto entre meses de setembro, houve ligeiro incremento, de 0,4%. Em doze meses, essa faixa produziu 3,1% menos. Notar que a produção das indústrias alimentícias, de bebidas e fumo, a de maior peso na estrutura industrial devido ao ramo de alimentos industrializados, cresceu 0,6% no acumulado do ano. Porém a queda nos demais, em especial nos ramos mais intensivos em mão-de-obra (ramo têxtil, de vestuário, couro e calçados; e o de manufaturados não especificados noutras atividades), mais do que contrabalançou o resultado positivo da indústria de alimentos e bebidas. Mesmo a indústria madeireira, de papel e celulose, impressão e gráfica sofreu contração no acumulado.
O terceiro trimestre foi decepcionante. Julho e agosto interromperam a discreta, mas paulatina melhora que se observava mês a mês em 2016 pela série dessazonalizada. Como visto, o pífio incremento de setembro pouco fez frente aos dois meses anteriores. Ainda assim, a intensidade da recessão diminuiu, porém não a ponto de se lograr expansão.
Uma visão geral da indústria de transformação
Na passagem de agosto para setembro último, a indústria de transformação brasileira deu um exíguo suspiro de 0,2% na série livre de sazonalidade. Tal variação foi insuficiente ante às quedas dos dois meses anteriores, fazendo com que o trimestre encerrado em setembro registrasse retração tanto frente ao trimestre terminado em agosto, de 1,1%, como diante do segundo trimestre do ano, de 1,2%. As comparações frente ao ano anterior são ainda mais desfavoráveis: no contraponto entre meses de setembro, queda de 4,1%, enquanto, no de terceiros trimestres, recuo ainda maior, de 4,7%. No acumulado do ano, a produção física retrocedeu 7,0%. Já em 12 meses terminados em setembro, a variação foi de -8,5%.
O retrocesso em janeiro-setembro teve em paralelo uma redução no déficit dos bens típicos da indústria de transformação, que ficou em US$ 3,6 bilhões, contra um saldo negativo de US$ 30,0 bilhões no mesmo acumulado de 2015. Essa diminuição na grandeza do déficit ocorreu com leve incremento, de 0,7%, nas exportações em dólares correntes também na comparação entre acumulados nos anos de 2016 e de 2015.
O quadro recessivo em que se encontra o País tem propiciado uma melhora no saldo comercial acompanhado de retrocesso produtivo na indústria de transformação, distinguindo-se do que se observava em meados dos anos 2000. Como alento, enfim, o acumulado do ano registrou aumento das exportações em dólares correntes.
A indústria de transformação por intensidade tecnológica
A performance da produção física da indústria de transformação pode ser analisada mediante a decomposição desse setor em quatro faixas de atividades por intensidade tecnológica, seguindo parâmetros da OCDE: alta intensidade, média-alta, média-baixa e baixa intensidade.
Salienta-se que, com as melhorias metodológicas da PIM-PF, foi utilizada a indústria de transformação sem contar com a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Tal ramo começou a ser discriminado na versão mais recente da Classificação Industrial Internacional Uniforme (CIIU) e, por conseguinte, na versão 2 da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). A seguir estão expostos resultados selecionados para as faixas de intensidade tecnológica, com a ressalva de que podem ser revisados.
O terceiro trimestre foi decepcionante. Julho e agosto interromperam a discreta, mas paulatina melhora que se observava mês a mês imediatamente anterior em 2016 pela série dessazonalizada. Como visto, o pífio incremento de setembro pouco fez frente aos dois meses anteriores. Ainda assim, a intensidade da recessão diminuiu, porém não a ponto de se lograr expansão. Tanto que, no acumulado do ano, todas as faixas de intensidade tecnológica se retraíram. O segmento de média-alta intensidade sofreu a maior queda no primeiro semestre. O de alta e o de média-baixa tiveram queda quase equivalente. O segmento de baixa intensidade declinou de modo menos agudo.
A faixa de alta intensidade registrou declínio de 9,8% no acumulado até setembro. Desde janeiro de 2015, a taxa tem sido negativa na comparação entre acumulado do ano e igual período do ano anterior. No contraponto entre meses de setembro, o retrocesso foi de 9,4%. Em doze meses, a queda chegou a 8,5%. As atividades do complexo eletrônico têm concorrido bastante para tais contrações.
O segmento de média-alta intensidade também sofreu diminuição expressiva no acumulado do ano até setembro, taxa de -10,6%, com a indústria automobilística puxando a queda. Retração, aliás, disseminada em todos os ramos encampados por essa faixa: da produção de bens de capital, máquinas e equipamentos à indústria de material de transporte terrestre, passando pela indústria química. No contraste entre meses de setembro, a produção da faixa de média-alta caiu 3,7%. Em doze meses, 13,7%.
A indústria de média-baixa recuou 9,5% na comparação entre janeiro-setembro de 2016 e igual período de 2015. Entre meses de setembro, a queda foi de 9,0%. Em doze meses, a variação foi de -9,9%. Ademais, o retrocesso foi generalizado, atingindo todos os ramos. A produção de bens metálicos, que inclui a siderurgia, e a de produtos de petróleo refinado, álcool e afins respondem sobremaneira pelo comportamento dessa faixa.
A faixa de baixa intensidade experimentou recuos menos agudos, com declínio de 2,0% na comparação entre os primeiros nove meses e o mesmo acumulado do ano anterior. No confronto entre meses de setembro, houve aumento de 0,4%. Em doze meses, essa faixa produziu 3,1% menos. Notar que a produção das indústrias alimentícias, de bebidas e fumo, a de maior peso na estrutura industrial devido ao ramo de alimentos industrializados, cresceu 0,6% no acumulado do ano, mesmo tendo sofrido queda no contraponto entre terceiros trimestres.
Alta intensidade tecnológica
O segmento tecnologicamente mais intensivo nos termos da OCDE sofreu retração de 9,8% em janeiro-setembro de 2016. Em setembro a taxa foi de -9,4%, queda maior do que a registrada para todo o terceiro trimestre na comparação com igual período de 2015: redução de 7,3%. Em doze meses, o declínio foi de 12,4%. Por sinal, pelo acumulado em doze meses, desde julho de 2005, a produção física não ficava tão baixa. Já o déficit comercial dos bens tipicamente oriundos dessa faixa, ficou em US$ 13,5 bilhões no acumulado até setembro, o menor déficit para esse período do ano desde 2009. A queda nas importações concorreu bastante para tanto, enquanto as vendas externas em dólares correntes cresceram 9,2%, puxadas pelas exportações da indústria aeronáutica. A maior parte das atividades da faixa de alta intensidade produz bens complexos com várias etapas, compondo extensas cadeias globais de valor, como as da própria aeronáutica e as do complexo eletrônico.
A indústria farmacêutica se distingue das demais dessa faixa por não produzir bens montados. Mas, em comum com o segmento como um todo, sofreu retração em janeiro-setembro: diminuição de 1,3%. Tal declínio foi puxado pelo próprio terceiro trimestre no qual a produção caiu 6,6%, puxada pelo resultado de setembro: variação de -9,1%. Em doze meses, foi observada retração de 2,5%. No acumulado do ano, o déficit comercial de bens tipicamente produzidos por esse ramo chegou a US$ 4,7 bilhões. As importações caíram 0,6%, enquanto as exportações recuaram 12,4%.
Quanto ao complexo eletrônico, sua expressiva retração de 21,4% nos três primeiros trimestres decorreu da performance de seus três ramos, que declinaram sobremaneira. O maior dos três no País é a fabricação de equipamentos de rádio, TV e comunicação, que abarca também partes e componentes eletrônicos usados não só nela, mas em uma miríade cada vez mais ampla de ramos produtivos. Sua retração foi de 20,2%, com julho-setembro tendo recuado de 8,7% vis-à-vis igual período do ano passado. Confrontando meses de setembro, a produção caiu 6,6%. Em doze meses, o recuo foi de 24,2%. O menor consumo do País concorreu também para um déficit menor nos bens dessa divisão de atividade ante acumulado até o nono mês de 2015, mas ainda assim expressivo, de US$ 5,3 bilhões. O menor déficit ocorreu mesmo com as exportações retrocedendo 27,1%.
A produção de equipamentos de informática e de escritório recuou 29,0% em janeiro-setembro de 2016, com quedas de 19,7% na comparação entre terceiros trimestres e de 18,0% entre meses de setembro de 2016 e de 2015. Em doze meses, a variação foi ainda pior: -34,5%. Similarmente à fabricação de aparelhos de áudio, vídeo e de comunicações, a retração do mercado doméstico culminou em menor déficit em janeiro-setembro, ficando em US$ 2,4 bilhões. A diferença é que suas exportações em dólares correntes cresceram 10,6%, mas continuam em nível muito baixo.
Quanto à produção de equipamentos médico-hospitalares, instrumentos de precisão e material ótico e fotográfico, essa se retraiu 14,2% no acumulado até setembro. Julho-setembro registrou recuo de 15,9%, puxado pelo declínio de 18,1% no contraponto entre meses de setembro de 2016 e de 2015. Em doze meses, o declínio foi de 14,9%. Em janeiro-setembro, o déficit em produtos típicos da atividade chegou a US$ 3,2 bilhões, menor do que no mesmo período do ano passado, mas com exportações caindo 2,5%.
Média-alta intensidade tecnológica
O segmento de média-alta registrou declínio de 10,6% no acumulado até setembro frente a igual período de 2015. Julho-setembro sofreu queda de 4,9% ante o mesmo trimestre do ano anterior. Setembro observou decréscimo de 3,7%. Em doze meses, a produção diminuiu 13,7%. Nesse começo de ano, o déficit dos produtos típicos desse segmento ficou em US$ 22,7 bilhões, praticamente US$ 12 bilhões menor do que o déficit observado em janeiro-setembro do ano passado. As exportações em dólares correntes cresceram 1,3%. Porém a expressiva redução do déficit não impediu que esse conjunto de bens mantivesse a posição de pior saldo dentre as quatro faixas de intensidade tecnológica.
A produção da indústria química diminuiu 1,5% nos três primeiros trimestres. Apesar da retração, foi o ramo da faixa de média-alta cuja produção menos caiu, ficando estável em julho-setembro, a despeito da queda de 6,3% na comparação entre meses de setembro. Em doze meses, a taxa foi de -3,2%. Em janeiro-setembro, o saldo comercial dos produtos químicos (exclusive farmacêuticos) registrou o maior déficit dentre todos os grupos de bens das quatro faixas de intensidade tecnológica, de US$ 13,8 bilhões. Porém a magnitude do déficit declinou. As exportações em dólares correntes recuaram 6,3%.
Passando para a fabricação de veículos automotores, que experimentou a maior retração em janeiro-setembro dentro dessa faixa de intensidade tecnológica, a variação foi de -17,0%. A queda para doze meses foi ainda maior, recuo de 21,8%. No terceiro trimestre, a produção automotiva retrocedeu 7,3% em comparação com igual período de 2015. Em setembro, houve incremento de 0,5%. A contração do mercado doméstico responde pelas retrações salientadas. Esse fator também explica a mudança de sinal do saldo comercial de veículos no acumulado do ano, com superávit de US$ 560 milhões e incremento de 7,2% nas exportações.
Já os ramos mais associados à indústria de bens de capital – fabricação de máquinas e equipamentos elétricos; e fabricação de máquinas e equipamentos mecânicos e não especificados em outras atividades, estes produziram bem menos em janeiro-setembro, com retrações de 7,6% e 13,7%, respectivamente. No contraponto entre meses de setembro, as quedas foram de 6,3% e de 9,4%, puxando para baixo o desempenho no trimestre: -0,0% e -9,2%, respectivamente. Em doze meses, as taxas foram de -10,6% e de -15,4%, respectivamente. Voltando ao acumulado do ano, o comércio exterior de máquinas e equipamentos elétricos registrou déficit de US$ 3,4 bilhões, menor grandeza para esse período desde 2010. Todavia suas vendas para o exterior em dólares correntes caíram 11,1% no período. Quanto às máquinas mecânicas ou não especificadas, sua balança ficou com déficit de US$ 5,6 bilhões, o menor patamar para acumulado até setembro desde 2007, com as exportações crescendo 4,7%.
Média-baixa intensidade tecnológica
A produção física do segmento de média-baixa intensidade experimentou declínio próximo da casa dos dois dígitos em janeiro-setembro último: caiu 9,5% vis-à-vis igual acumulado de 2015. Na comparação entre meses de setembro, a queda atingiu 9,0%. No contraponto entre julho-setembro e igual trimestre do ano anterior, queda de 8,5%. Em doze meses, o Brasil produziu 9,9% menos dos produtos dessa indústria. Já a balança comercial dos bens típicos da faixa voltou a apresentar superávit para janeiro-setembro após seis anos de déficit no acumulado dos nove primeiros meses: US$ 3,2 bilhões. Mas essa virada ocorreu com exportações em dólares correntes encolhendo 7,3%. A produção de bens metálicos, que abrange a siderurgia, e a de derivados do refino de petróleo, álcool e afins têm sido as indústrias que ditam em larga medida o comportamento tanto dos fluxos comerciais dos bens típicos desse segmento, quanto da produção física.
A indústria de bens de petróleo refinado, álcool e outros combustíveis produziu 8,1% menos em janeiro-setembro do que em igual acumulado de 2015, a mesma queda percebida em 12 meses. Setembro teve variação de -12,5%, contribuindo não só para a queda no acumulado do ano, mas também para o recuo de 12,0% no terceiro trimestre. O intercâmbio externo dos produtos em tela experimentou déficit de US$ 5,3 bilhões em janeiro-setembro, elevado, mas de grandeza inferior à registrada nos seis anos anteriores para esse período do ano. Todavia o menor déficit se deu pelas importações, uma vez que suas exportações em dólares correntes diminuíram 36,9%, mais em linha com a retração da produção física do que com a melhora no saldo comercial.
Quanto à fabricação de produtos metálicos, a queda na produção física no acumulado até o nono mês do ano passado foi mais contundente, 10,5%. O Brasil produziu 2,1% menos no contraponto entre meses de setembro e 2,9% menos no confronto entre terceiros trimestres. Em doze meses, o declínio alcançou 10,4%. Em janeiro-setembro último, o superávit atingiu US$ 8,1 bilhões, o maior saldo para esse período desde 2008. No entanto as vendas externas de produtos metálicos retrocederam 9,4%.
Quanto às demais atividades da faixa de média-baixa intensidade, a produção de outros produtos minerais não-metálicos retrocedeu 11,9% nos nove meses iniciais de 2016. No terceiro trimestre e em setembro, as reduções foram até mais fortes, taxas de -11,9% e de -15,4%, respectivamente. Em doze meses, o recuo foi de 12,2%. As exportações desses bens em dólares correntes, por sua vez, recuaram 4,0% no acumulado do ano frente a igual período de 2015. Mas, ainda assim, o saldo comercial registrou superávit. Já a fabricação de borracha e produtos plásticos registrou recuo de 7,9% em sua produção física em janeiro-setembro. As retrações no terceiro trimestre e em setembro foram menos acentuadas: de 2,9% e de 2,1%. Em doze meses, porém, a queda se encontra na casa dos dois dígitos: taxa de -10,4%. Suas vendas externas em dólares correntes de borracha e produtos plásticos diminuíram 4,7% em janeiro-setembro, com agravante de ter sido o quinto ano consecutivo de diminuição nesse período do ano. O saldo comercial desses itens observou déficit de US$ 1,1 bilhão.
Baixa intensidade tecnológica
A produção da indústria de baixa intensidade tecnológica diminuiu 2,0% em janeiro-setembro vis-à-vis igual acumulado de 2015. Com tal queda, o patamar em que ficou foi o pior registrado para os três primeiros trimestres desde 2003. No nono mês, até houve crescimento, de 0,4%, o que dirimiu um pouco a variação negativa não só no acumulado do ano, mas também em julho-setembro (taxa de -1,2%). Em doze meses, a variação atingiu -3,1%. O saldo das mercadorias tipicamente produzidas por atividades dessa faixa, de US$ 29,3 bilhões, em janeiro-setembro permanece como o único superavitário dentre os quatro segmentos por intensidade tecnológica. Suas exportações cresceram 3,3%.
O agrupamento mais expressivo dentre os ramos dessa faixa consiste nas indústrias de alimentos, bebidas e de fumo, que cresceu 0,6% no acumulado do ano frente ao mesmo período do ano anterior. Isso a despeito do recuo de 1,2% no terceiro trimestre, cujo resultado só não foi pior devido ao incremento de 1,7% de setembro. Em doze meses, já logrou taxa positiva, de 0,4%. Suas mercadorias têm sido as principais responsáveis pelo resultado comercial positivo dos bens típicos da faixa de baixa intensidade tecnológica, com superávit de US$ 23,4 bilhões em janeiro-setembro de 2016. Entretanto tal resultado positivo ficou aquém do logrado em igual acumulado dos anos de 2008, 2010, 2011, 2012, 2013 e de 2014. Menos mal que as exportações desses bens em dólares correntes cresceram 5,9% nos três primeiros trimestres ante o mesmo período de 2015.
Outro conjunto de indústrias cujos produtos típicos têm obtido superávits é o formado por bens oriundos dos ramos madeireiro, de papel e celulose, gráficas e afins. Este logrou superávit de US$ 6,3 bilhões em janeiro-setembro, recorde para tal acumulado. Todavia este recorde foi galgado a despeito das exportações terem declinado 0,4%, variação mais alinhada com a queda de 2,8% na produção física no acumulado até setembro. A queda na comparação entre meses de setembro foi de 1,1%, com declínio de 1,1% em julho-setembro. Em doze meses, o declínio foi de 5,1%.
Os outros dois ramos se caracterizam pelo uso mais intensivo da força de trabalho que os demais de baixa intensidade. As atividades de fabricação de manufaturados não especificados noutras indústrias e de produtos reciclados registraram saldo comercial negativo de US$ 275 milhões em janeiro-setembro. Mais do que o déficit, também chama a atenção o recuo de 1,0% das exportações, o quinto ano de recuo seguido para esse acumulado. Sua produção física declinou 10,5% nos três primeiros trimestres de 2016 frente o mesmo acumulado de 2015. No terceiro trimestre – comparação com igual trimestre de 2015 – a queda foi de 4,8%, sendo que, no confronto entre meses de setembro, a queda foi menor, de 2,0%.
O conjunto das indústrias têxtil, de vestuário, calçados e artigos de couro sofreu queda na produção física de 6,3% na comparação entre acumulados do ano até setembro. No contraponto entre julho-setembro e igual trimestre do ano passado, a produção declinou 2,7%, com setembro apresentando retração de 1,8%. Em doze meses, o retrocesso foi de 8,8%. Já o saldo comercial observou forte redução no déficit em janeiro-setembro, que ficou em US$ 68 milhões, sem ainda chegar ao superávit. Infelizmente tal melhora não decorreu das exportações em dólares correntes, estas declinaram 8,0% no acumulado do ano, o que contribuiu para a retração da produção.