Carta IEDI
Comércio mundial: a marginal expressão brasileira em manufaturados
Segundo dados recentemente divulgados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) para o ano de 2015, o volume de comércio global de bens cresceu 2,7%, acompanhando a lenta recuperação do PIB mundial (2,4% em termos reais). Já são quatro anos de fraco desempenho do comércio, abaixo da média anual do período 1990-2015.
Em valor, o comércio mundial de bens assinalou queda de cerca de 14%, chegando a US$ 16 trilhões em 2015. Já o comércio de serviços teve um declínio de 6%, atingindo US$ 4,7 trilhões.
Dentre as razões para o desempenho ruim, a OMC aponta as dificuldades nas economias emergentes – em particular, nos BRIC – a contínua queda dos preços dos produtos primários, as flutuações cambiais e a volatilidade financeira.
No ranking dos maiores exportadores de mercadorias de 2015 (incluindo comércio intra-europeu), a China continuou líder e ampliou sua expressão no comércio mundial de 12,4% em 2014 para 13,8% em 2105, mesmo tendo variação negativa de 2,9% em valor. Nas posições seguintes vêm EUA, Alemanha, Japão e Holanda.
Destacam-se as quedas no ranking dos maiores exportadores os países especializados em minérios e combustíveis: Rússia, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Austrália. Índia e Brasil permaneceram nas mesmas colocações em 2014 e 2015, respectivamente, 19ª e 25ª.
Do lado das importações de bens, o Brasil perdeu três posições, da 22ª em 2014 para 25ª, o que está associado à forte recessão da economia doméstica em 2015. A Rússia também caiu, da 17ª para a 23ª posição. O líder continuou sendo os Estados Unidos, cuja parcela nas importações mundiais subiu de 12,7% em 2014 para 13,8% em 2015 – mesmo com queda de 4% em relação ao ano anterior. A China veio em segundo lugar, mas assinalou variação de -14,2% nas importações.
A participação do Brasil no valor das exportações mundiais de bens decresceu de 1,3% em 2013 para 1,2% em 2014, ficando estável em 2015, considerando o comércio intra União Europeia. Em termos de importações, a parcela brasileira ficou estável em 1,3% em 2013 e 2014, recuando para 1,1% em 2015. Como convém observar, a posição brasileira como 25º maior exportador e importador de bens é desproporcional ao tamanho da sua economia, uma das dez maiores do mundo.
Porém, a situação relativa do Brasil no comércio global é ainda mais dramática se for considerado o comércio de manufaturas. Em 2015, o Brasil voltou a subir no ranking dos maiores exportadores desses bens, passando da 32ª posição em 2014 para 31ª (tendo sido a 26º maior em 2005), mas com retração de 7,8% em valor (enquanto as exportações mundiais de manufaturas caíram 7,3% em 2015).
Como a economia industrial brasileira também se situa entre as dez maiores do planeta, o descompasso com a colocação do país no ranking exportador de manufaturas (31ª colocação) é ainda mais gritante. A parcela do Brasil nas exportações de manufaturas mundiais vem caindo dramaticamente, chegando no ano passado a um nível muito perto de insignificante: 0,6%.
Já no caso das importações de manufaturas a participação brasileira foi de 1,12%. No ranking das importações de manufaturas, em razão de sua recessão, o Brasil em 2015 perdeu três posições, passando a ser o 25º maior importador mundial, após queda no valor de 20,6%.
Na composição do comércio externo brasileiro, segundo dados da OMC, houve em 2015 uma reversão da tendência de queda da participação das manufaturas nas exportações totais, passando de 34% em 2014 para 37%, puxada por equipamentos de transporte. Nas importações de bens, a pauta brasileira ficou ainda mais concentrada em manufaturas, de 69% para 74% do total de 2014 para 2015, com elevação nos equipamentos de escritório e telecomunicações e de transporte.
Em suma, a evolução recente do comércio mundial tem sido marcada pelo baixo crescimento, dificultando as estratégias daqueles países que buscam redinamizar suas economias por meio das vendas externas. A situação é ainda mais grava para o Brasil, cuja posição no comércio mundial vem se fragilizando continuamente, sobretudo por causa da sua menor competitividade em manufaturas.
Cenário do comércio internacional de mercadorias
O Anuário Estatístico de 2016 sobre Comércio da Organização Mundial do Comércio (World Trade Statistics, OMC) mostra que o volume de comércio de bens, medido pela média entre exportações e importações cresceu 2,7% em 2015, acompanhando a lenta recuperação do PIB mundial (de 2,4% no mesmo ano, em termos reais) e os movimentos das taxas de câmbio de mercado.
Assim, o resultado de 2015 repete o fraco desempenho dos três anos antecedentes, quando o volume de comércio cresceu a taxas inferiores a 3%, abaixo da média anual dos últimos 25 anos (1990-2015).
Dentre as razões para esta performance, a OMC aponta as dificuldades nas economias emergentes – como China e Brasil - , a contínua queda dos preços dos produtos primários, flutuações cambiais e volatilidade financeira associada à condução de política monetária nos países desenvolvidos.
Em termos de valor, entretanto, o comércio mundial de bens assinalou queda de 14%, chegando a US$ 16 trilhões em 2015. Já o comércio de serviços teve um declínio de 6%, atingindo US$ 4,7 trilhões. A discrepância de resultado em volume e valor se deve, em parte, às desvalorizações cambiais de países em desenvolvimento, como Brasil e Rússia, e das moedas de países desenvolvidos, como Iene e Euro. Esses movimentos cambiais ocorreram em contrapartida à valorização do dólar americano de 13% em 2015, em termos nominais relativamente às moedas dos seus parceiros comerciais, ou de 19% entre junho de 2014 e dezembro de 2015, segundo a OMC. Devido ao seu regime de câmbio fixo atrelado ao dólar, o Yuan da China apreciou 10% em 2015 e 13% em 18 meses.
Há que se ressaltar também a queda dos preços de commodities, especialmente de combustíveis – cuja retração entre junho de 2014 e dezembro de 2015 foi de 63%, devido às novas fontes de oferta, à concorrência do gás de xisto e à própria queda na demanda, especialmente asiática. A queda nos preços dos metais foi de 35% naquele período e a dos preços de alimentos e matérias-primas agrícolas, de 22%. Ademais, é preciso levar em conta que a apreciação do dólar também contribui para a queda dos preços das commodities.
Analisando por regiões, nota-se que após a crise de 2009, a recuperação das exportações e importações contou com diferentes fatores. Entre 2012 e 2013, a China e outros países em desenvolvimento permaneceram como polos de demanda mundial, enquanto os países desenvolvidos estavam com lento crescimento do PIB e das importações, particularmente na União Europeia. Em 2015, contudo, a Europa e a América do Norte apontaram recuperação das importações, enquanto o ritmo de expansão desacelerou nas economias asiáticas e nos países exportadores de commodities.
Ou seja, a Ásia contribuiu mais do que os outros continentes na recuperação econômica mundial após 2008-2009, especialmente em 2011, mas nos anos seguintes sua demanda por importados foi crescendo mais lentamente. Por outro lado, a contribuição da Europa (que chegou a ser negativa em 2012) e da América do Norte para a expansão do volume de comércio foi aumentando nesse período, especialmente em 2015. Mesmo assim, não há dúvidas de que a contribuição dos países em desenvolvimento para o crescimento das exportações e importações de bens é mais significativa do que a dos países desenvolvidos ao longo desses últimos anos.
Assim, se as importações e as exportações mundiais, em volume, de bens cresceram, em 2015, 2,4% e 3,0%, respectivamente, o desempenho da União Europeia foi de 4,5% no caso das importações e de 4,0% das exportações. Já na América do Norte as importações de bens cresceram 6,5% e as exportações, 0,8% (sendo que nos EUA as variações foram, respectivamente, de 6,5% e -0,9%). Na Ásia, por sua vez, o ano de 2015 foi marcado por importações com alta de 1,8% e exportações como alta de 3,1%. Todavia, na China e na Índia as importações declinaram 4,2% e 8,9%, respectivamente, enquanto as exportações variaram 4,6% e -2,1%. Oriente Médio, África, Comunidade dos Estados Independentes (CIS) e América do Sul e Central tiveram redução do volume importado em 2015, mas no caso das exportações só houve retração na CIS.
Em valor, todos os grandes grupos de produtos assinalaram queda em 2015, especialmente em combustíveis e minérios. Dentre os manufaturados, quase todos subgrupos assinalaram retração do comércio em valor, especialmente em equipamentos de escritório e telecomunicações, químicos e outros maquinários. A única exceção foi a elevação do comércio de vestuário e têxteis.
No ranking dos maiores exportadores de mercadorias de 2015 (incluindo o comércio intra-europeu), a China continuou líder e ampliou a sua parcela sobre o total, de 12,4% em 2014 para 13,8%, mesmo diante de uma variação negativa de 2,9% em valor. Nas colocações seguintes vieram EUA, Alemanha, Japão e Holanda, nesta ordem. A França perdeu duas colocações e passou a ser a 8ª maior exportadora, enquanto a Coreia do Sul e Hong Kong assumiram a 6ª e a 7ª posição, respectivamente.
Destacam-se, ainda, as quedas no ranking dos maiores exportadores aqueles países especializados em minérios e combustíveis, tais como Rússia, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Austrália. Em contrapartida, ascenderam México, Suíça, Taipei, Polônia e Vietnã. Índia e Brasil permaneceram nas mesmas colocações em 2014 e 2015, respectivamente, 19ª e 25ª.
Já no ranking das importações de bens, o Brasil perdeu três posições, passando da 22ª em 2014 para 25ª em 2015, como resultado da forte recessão doméstica. A Rússia também caiu da 17ª posição para a 23ª. O líder continuou sendo os Estados Unidos, que ampliaram sua parcela nas importações mundiais em valor de 12,7% em 2014 para 13,8 em 2015 – mesmo com queda de 4% em relação ao ano anterior. Em segundo lugar veio a China, cujas importações assinalaram variação de -14,2%, seguida por Alemanha e Japão. Vale notar que em 2015 não houve alteração nas dez primeiras colocações neste ranking com relação a 2014.
A inserção do Brasil no comércio internacional
A participação do Brasil nas exportações mundiais de bens, em valor, recuou de 1,30% em 2013 para 1,20% em 2014, ficando estável em 2015, considerando o comércio intra União Europeia. Em relação às importações, a parcela brasileira ficou estável em 1,25% em 2013 e 2014, reduzindo para 1,07% em 2015. O melhor momento do país nas exportações internacionais desde 2005 foi em 2011, quando o Brasil ocupava a 22ª posição no ranking e respondia por 1,4% do total. Em 2015, a posição enquanto exportador e importador de bens foi a mesma, 25ª considerando o comércio intra União Europeia e 18ª excluindo-o. Continuou, porém, desproporcional ao tamanho da economia brasileira, uma das dez maiores do mundo.
Tal qual em 2014, em 2015 houve diminuição no valor absoluto em dólares das exportações e das importações brasileiras de bens, mas desta vez a queda das últimas foi mais significativa e levou à perda de posições no ranking de importações. As exportações de mercadorias em valor em dólares retraíram por quatro anos seguidos, enquanto as de importações por apenas dois.
A composição da pauta das exportações de bens do Brasil, em dólares, tornou-se progressivamente mais concentrada em produtos agrícolas, passando de 30% do total em 2005 para 43% em 2015. Nestes dez anos a parcela dos combustíveis e minérios também cresceu, de 16% para 20%, enquanto a dos produtos manufaturados regrediu de 53% para 37%. Vale ressaltar que em 2015 houve reversão da tendência de queda da participação das manufaturas nas exportações totais, já que em 2014 fora 34%, puxada por equipamentos de transporte. Em contraste, nas importações de bens, a pauta brasileira ficou ainda mais concentrada em manufaturas, passando de 69% para 74% do total entre 2014 e 2015, com elevação nos equipamentos de escritório e telecomunicações e de transporte.
No comércio internacional de manufaturas, o Brasil voltou a subir no ranking dos maiores exportadores, passando da 32ª posição em 2014 para 31ª em 2015 (tendo sido a 26º maior em 2005), já que mesmo com a retração de 7,8% em valor o país ganhou parcela nas exportações mundiais de manufaturas em valor, que caíram 7,3%. No ranking das importações de manufaturas, em 2015 o Brasil perdeu três posições, passando a ser o 25º maior importador mundial, devido a uma retração de 20,6% no valor dessas importações brasileiras.
Em 2014 e 2015 os dez maiores exportadores de manufaturas permaneceram os mesmos, nessa ordem: China, Alemanha, Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, Hong Kong, França, Itália, Holanda e Reino Unido. Vale ressaltar, ainda neste ranking, a ascensão do Vietnã da 27ª posição para 23ª, ultrapassando o Brasil.
Por sua vez, os maiores importadores em 2015 foram Estados Unidos, China, Alemanha, Hong Kong, Reino Unido, França, Japão, Holanda, além de Canadá e México, que não estão entre os dez maiores exportadores de bens manufaturados. A Rússia caiu da 14ª posição de maior importador de manufaturas em 2014 para a 22ª posição em 2015, enquanto o Vietnã ascendeu da 31ª para 27ª.
Apesar da melhora, a colocação do Brasil de 31º no ranking das exportações de manufaturas esteve aquém da 25ª alcançada no ranking das exportações de bens totais ou da própria colocação no ranking das importações de manufaturas, de 25º, por causa da composição concentrada em bens primários pauta exportadora brasileira e da alta penetração de importados de maior valor adicionado. Analogamente, a parcela de 0,6% do Brasil nas exportações de manufaturas mundiais correspondeu à metade da participação nas exportações totais mundiais em 2015; enquanto a de importações de manufaturas é de 1,12% (com queda significativa em relação a 2014, quando alcançou 1,28%).
Comparando-se as tendências das exportações mundiais de bens, percebe-se que há grande correlação com o comportamento das exportações de manufaturas. Mais além, os movimentos das exportações brasileiras de bens e de manufaturas acompanharam as tendências mundiais na maior parte dos anos da última década.
Analisando a evolução das importações e das exportações brasileiras de bens e de manufaturas em valor, constata-se que em 2015 a queda das exportações totais foi maior do que a de manufaturas, por conta da redução do preço e da demanda internacional das commodities. Contudo, no caso das importações brasileiras, a grande retração no valor total de 25% se deveu essencialmente à menor demanda nacional por manufaturas, principal grupo de produtos da pauta, cujas importações caíram 20%.
Conforme exposto pela OMC, em certos mercados de manufaturas o Brasil chega a estar entre os dez maiores importadores, sendo o 9º de químicos, especialmente por conta da colocação de 8º em farmacêuticos (mesmo que a importação desse item tenha caído 12%) em 2015. Já no ranking dos dez principais exportadores, o Brasil se destaca como o 2º de alimentos, com US$ 80 bilhões (parcela de 5,1% das exportações mundiais), atrás dos EUA que exportou US$ 163 bilhões e à frente da China (US$ 73 bilhões). Brasil é também o 7º maior exportador de ferro e aço, com parcela de 2,5% no comércio mundial (apesar da redução de 9% de suas exportações em valor em 2015).
No perfil do comércio externo brasileiro em 2015, os principais itens de exportação agrícolas foram grãos de soja, cana de açúcar, carnes, farelo/ óleo de soja e café. Dentre os produtos não agrícolas, o minério de ferro, petróleo cru, celulose, outros produtos de aeronaves e carros. As principais importações de produtos agrícolas têm um valor em geral bem inferior às exportações. Contudo os bens não agrícolas de maior valor de importação são processados do petróleo e da cadeia dos veículos automotores, com valor adicionado superior ao das exportações.
Sobre o destino das exportações brasileiras em 2015, quatro parceiros somaram pouco mais da metade do total: China (18,6%), União Europeia (17,8%), EUA (12,7%) e Argentina (6,7%). Já a origem das importações foi ainda mais concentrada nesse grupo de países: China (17,9%), União Europeia (21,4%), EUA (15,6%) e Argentina (6,0%), segundo a OMC.
O coeficiente de exportações (total da produção doméstica que é exportada, a preços de 2007) da indústria total brasileira nos primeiros dois trimestres de 2015 manteve a ligeira tendência de alta observada em 2014, chegando a 19,2%. Setorialmente houve mudanças importantes, com destaque para a elevação de 8 p.p. do coeficiente das indústrias extrativas, voltando-se mais ao mercado externo.
Na indústria de transformação, o coeficiente de exportações registrou pequeno crescimento de 15,0% para 16,0% do último trimestre de 2014 para o segundo de 2015. Nesse grupo e entre estes trimestres, destacaram-se o crescimento em metalurgia, informática, eletrônicos e óticos, produtos de madeira, máquinas e equipamentos, celulose, papel e produtos do papel, e veículos automotores. Em contraste, passaram a apresentar menor coeficiente os setores de coque e derivados do petróleo e alimentos.
Após escalada contínua desde 2009, no quarto trimestre de 2014 o coeficiente de penetração de produtos importados diminuiu tanto nas indústrias extrativas (46%) como na indústria de transformação (20,0%), mas cresceu muito no segundo trimestre de 2015 no caso das indústrias extrativas (54%) enquanto manteve-se estável na indústria de transformação. Entre os subsetores da indústria de transformação, os que tiveram maior redução do coeficiente de penetração de importação foi coque, derivados do petróleo e biocombustíveis. Porém, houve aumento contundente em informática, eletrônicos e ópticos, e também, em menor medida, em máquinas e equipamentos, farmoquímicos e farmacêuticos, químicos e veículos automotores.