Carta IEDI
O quadro pouco animador da inovação no Brasil
Recém divulgada pelo IBGE, a pesquisa trienal sobre inovação tecnológica (PINTEC) permite algumas reflexões sobre o estado da inovação no Brasil. Como sempre em pesquisas dessa natureza, há várias leituras possíveis e as interpretações irão conviver até que novas evidências (dessa e de outras pesquisas) ajudem os especialistas a construir consensos e novas questões. Por enquanto, fica a pergunta inevitável: o copo está pela metade, mas caminhamos no rumo certo?
Poderia parecer que é mais um debate entre acadêmicos, mas não é. O aprofundamento e o detalhamento das análises dos resultados da nova Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC irão permitir o desenvolvimento de novas explicações e orientar também os caminhos para as ações públicas de fomento e, consequentemente, para a formulação de novas estratégias empresariais em prol da inovação. O quadro macroeconômico nada estimulante e as pressões externas juntam-se como uma ameaça real à indústria brasileira, já fragilizada por anos de atraso dos investimentos que poderiam modernizá-la e revigorá-la. Nesse quadro, poderiam as estratégias inovadoras cumprir um papel de atenuar a espiral descendente que vive a indústria?
O que mostram os resultados da PINTEC referente ao triênio 2012-2014 é um quadro pouco animador. O ímpeto inovador das empresas industriais brasileiras permanece estável e o alcance das suas inovações está restrito ao ambiente local. Dito de outro modo, as ameaças externas sobre o mercado brasileiro não são em geral (há exceções) compensadas pelo avanço da indústria brasileira sobre outros mercados. Perde-se de um lado, mas não se ganha do outro e a inovação ainda não consegue contribuir para uma inserção mais substancial da indústria brasileira na economia global.
A estabilidade da taxa de empresas inovadoras (proporção de empresas que inovam) considerando os dois últimos triênios em termos agregados (conjunto dos setores e das empresas) poderia ser uma fonte de preocupação para alguns observadores, mas é a modéstia - ou a tibieza - dos esforços inovadores que deve ser motivo de preocupação: o esforço inovador (a proporção da receita dedicada às atividades de inovação, incluindo P&D) ficou estável em 2,5%. Esta deve ser a verdadeira fonte de preocupação de todos aqueles que desejam uma indústria forte e um país desenvolvido.
Quando algumas empresas possuem estratégias inovadoras vigorosas, elas inevitavelmente possuem ações industriais e comerciais que rompem os equilíbrios de mercado e levam as demais empresas a novas ações. Portanto, se a taxa de empresas inovadoras é estável, a razão deve ser buscada na debilidade das ações das empresas inovadoras. Inovação vigorosa leva à ampliação do universo inovador, inovações débeis não geram respostas.
A forma típica da inovação na esmagadora maioria das empresas brasileiras ocorre para melhorias pontuais de seus processos de produção e envolvem muito mais aquisição de máquinas e equipamentos do que desenvolvimentos originais ou aquisição de novas competências tecnológicas.
As adversidades no último triênio coberto pela pesquisa já se mostravam em trajetória crescente e as suas tonalidades eram cada vez mais preocupantes no nível empresarial, com uma crise industrial que já se delineava em meio a uma instabilidade macroeconômica com sinais de forte agravamento. Por isso, o “empate” da taxa de empresas inovadoras talvez permita comemoração, já que os indicadores de inovação não mostraram involução. Mas a indústria não vive de empates.
A seguir, são apresentados os resultados em maior profundidade.
A inovação ainda pouco contribui para uma melhor inserção do Brasil
A divulgação pelo IBGE da mais recente Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC vai alimentar análises e debates entre os especialistas acadêmicos e os profissionais de inovação ao longo dos próximos meses. Espera-se que eles ajudem também nas reflexões das lideranças empresariais e dos formuladores de políticas públicas, para que a mobilização empresarial para inovar se intensifique de forma significativa. Aparentemente, novas empresas de setores menos propensos à inovação estão modificando o seu comportamento típico, mas tanto essas empresas quanto as empresas dos setores mais propensos à inovação continuam presos a um padrão de esforços inovativos de resultados muito tênues.
A primeira informação que se destaca da Pesquisa é a estabilidade entre os dois últimos triênios em termos agregados (conjunto dos setores e das empresas). A proporção de empresas que declaram ter introduzido alguma inovação (de produto ou de processo) manteve-se praticamente inalterada (36%, incremento de 0,3 pontos percentuais). A taxa de empresas inovadoras não pode ser considerada um problema porque afinal a inovação é um processo que demanda competências diferenciadas e esforços que nem todas as empresas estão preparadas para realizar e riscos que muitas empresas evitam correr.
O fato inquietante revelado pelos dados recentemente divulgados pela PINTEC é menos a amplitude das empresas inovadoras no universo empresarial do que a fragilidade dos esforços inovadores, traduzidos em uma proporção da receita dedicada a investimentos (despesas) inovadoras de modestos 2,5%. A sensação de inquietude ao se analisar o esforço inovativo é ainda maior pela baixa proporção que os gastos em P&D ocupam no dispêndio total em inovação. Afinal, embora inovação seja muito mais do que pesquisa e desenvolvimento, são os esforços de pesquisa e desenvolvimento realizados pelas próprias empresas que permitem captar resultados de pesquisa realizados por outras organizações (incluindo as universidades e os institutos de pesquisa) e gerar novos produtos e processos - em resumo, inovações. As limitações observadas no alcance das inovações das empresas estão diretamente relacionadas com o montante persistentemente limitado que elas dedicam a investimentos em pesquisa e desenvolvimento: apenas 10,91% do total do dispêndio em atividades inovativas.
A taxa de inovação apresenta variação dentre os diversos setores da economia. A tabela a seguir reúne os setores nos quais 50% ou mais das empresas introduziram inovações de produto e/ou processo no período abordado pela PINTEC 2014. Há diferentes possíveis explicações para tal variância, como os diversos graus de oportunidade tecnológica entre setores. Isto é, alguns deles apresentam maior facilidade para introduzir novos produtos e processos, ou por avanços científicos, avanços tecnológicos em setores fornecedores de máquinas, equipamentos e instrumentos, dentre outras fontes de conhecimento.
Esse pode ser o caso de setores como a indústria farmacêutica (52% de empresas inovadoras), do complexo eletrônico e de tecnologia de informação e comunicação (com taxa de inovação entre 51% na Fabricação de componentes eletrônicos e 75% na Fabricação de equipamentos de informática e periféricos), e o Desenvolvimento de software sob encomenda (72% de empresas inovadoras). Outra possível explicação pode ser encontrada para setores com menor ciclo de vida do produto, nos quais empresas tendem a apresentar maior taxa de renovação de sua linha de produtos, como no caso da indústria de cosméticos e higiene pessoal (64% de empresas inovadoras) e mesmo a indústria automobilística (79% de empresas inovadoras).
Os resultados das atividades inovativas também apresentam uma significativa variação setorial. A PINTEC 2014 aponta que, ao todo, foram geradas 595 inovações de produto de alcance mundial por empresas brasileiras. Os setores econômicos que mais se destacaram em inovações desta natureza foram os de “fabricação de máquinas e equipamentos”, com 150 inovações; “atividades dos serviços de tecnologia da informação”, com 70 inovações; e “fabricação de produtos químicos”, com 60 inovações.
Inovações com genuíno grau de novidade têm mais chance de causarem revoluções tecnológicas que solapem posições conquistadas e, a partir delas, conquistarem novos mercados. Não é de se estranhar, portanto, que os setores que mais introduziram inovações de produto “novas para o mundo” estejam entre aqueles cujas empresas mais reportaram uma alta importância do impacto da inovação medido pela “abertura de novos mercados”. Das 10.303 empresas que reportaram alta importância deste tipo de impacto, 10,4% pertencem ao setor “atividades dos serviços de tecnologia da informação” e 6% ao setor “fabricação de máquinas e equipamentos”, o mesmo índice da “fabricação de produtos químicos”.
Isto nos leva a concluir que, embora as inovações de alcance mundial geradas por empresas brasileiras não sejam numerosas (em relação ao total de inovações), elas são um instrumento importante de penetração dos atores nacionais em novos mercados, que podem significar um alívio em tempos em que os mercados “tradicionais” de cada empresa se encontram saturados ou em crise. É preciso difundir esta estratégia para mais empresas brasileiras.
O triênio coberto pela nova PINTEC – 2012-2014 - foi muito desafiador, sobretudo para o sistema industrial, mais exposto que as áreas de serviços à concorrência externa e às instabilidades dos cenários internacional e doméstico. Isso deve ajudar a explicar a redução do percentual dos dispêndios em atividades inovativas (relativamente à receita líquida) realizados pelas empresas industriais (de 2,37% para 2,12% nos triênios 2009/2011 e 2012/2014, reforçando a queda registrada desde 2006/2008, quando alcançaram 2,54%). Neste caso, os intensos esforços das empresas, das entidades empresariais e dos organismos públicos de apoio serviram de colchão amortecedor de resultados ainda piores.
O decréscimo dos esforços inovadores das empresas industriais contrasta com a elevação dos esforços das empresas de serviços de telecomunicações, onde o dispêndio de inovação cresceu de 3,7% da receita líquida para 10%, enquanto o esforço de P&D se reduziu a menos da metade (de 0,7% para 0,3%). As empresas de energia (eletricidade e gás) também reduziram os seus dispêndios em inovação (de 1,3% para 0,6%).
O exame mais detalhado dos resultados da nova PINTEC permite contrastar alguns outros movimentos dos diferentes segmentos industriais. A inovação continua sendo de baixo impacto em todos os segmentos industriais, mas um número maior de empresas dos segmentos industriais menos propensos à introdução de inovações vem aderindo progressivamente e as suas taxas de inovação se elevaram. Por que este movimento não ganha vigor e consistência?
Entre os fatores que a PINTEC apresenta como impedimentos para a inovação destacam-se os riscos e as barreiras internas às empresas. Os riscos são compreensíveis, num quadro em que as empresas estão envoltas em condições competitivas pouco favoráveis e ambiente de grande instabilidade. Nas razões que levaram empresas a não inovar, percebe-se que 50% das respostas apontaram a existência de elevados riscos econômicos como fator preponderante para essa decisão (em 2011 este fator era apontado por 42% das empresas).
Os obstáculos internos têm sido crescentemente reconhecidos como de alta importância pelas empresas que não inovaram. Em 2008, aproximadamente 7% dessas empresas apontaram esse fator como um obstáculo de alta importância, uma proporção que em 2011 subiu para aproximadamente 13% e alcançou 1 em cada 5 empresas em 2014 (20,4%).
É possível interpretar as respostas dadas pelos respondentes da PINTEC como um alerta contra os efeitos da elevada rigidez das organizações, cujas rotinas estabelecidas veem como intromissão perturbadora as demandas oriundas das áreas de inovação. É possível que estes dois fatores se reforcem mutuamente, pois quanto maior a percepção de risco maiores serão as resistências organizacionais à inovação; e vice-versa.
A Pesquisa registrou também uma redução no número de empresas que apontaram a escassez de mão de obra qualificada como obstáculo para inovar. Em 2011, a falta de pessoal qualificado foi apontada como um problema de alta importância por 40% das empresas que não inovaram, proporção que caiu para 29,8% em 2014. Embora não seja possível estabelecer relações de causa e efeito, é possível que esse fato seja reflexo de um maior amadurecimento do sistema de inovação brasileiro e da expansão do acesso ao ensino superior observada na última década.
As empresas inovadoras representam uma fração relativamente estável do total das empresas, mas existem importantes diferenças setoriais. Alguns segmentos possuem e exploram boas oportunidades e têm elevadas taxas de inovação, como fabricação de diversos tipos de equipamentos - eletrônicos, médicos, ópticos; automóveis, caminhões e ônibus; outros veículos de transporte; cosméticos; produtos químicos; refino de petróleo.
Outros segmentos possuem menos oportunidades ou encontram mais dificuldades, a exemplo de alimentos, bebidas, fumo, calçados, artefatos de couro, produtos de madeira, produtos siderúrgicos e produtos de minerais não-metálicos. É digno de registro que grande parte dos setores industriais que apresentava na PINTEC anterior taxas de inovação mais reduzidas elevaram as suas taxas neste último triênio - um sinal de difusão de ações e práticas inovadoras pelo conjunto do sistema industrial.
Entre as atividades industriais nas quais uma maior proporção de empresas declara que os produtos introduzidos representaram inovações não apenas para a empresa, mas também para o mercado nacional, a indústria automobilística e seus fornecedores se destacam em termos de inovações de produto para o mercado nacional. Enquanto apenas 12% das empresas declaram que seus produtos representam inovações para o mercado nacional, essa proporção chega a 68% das fabricantes de automóveis e caminhões, 50% das fabricantes de motores e equipamentos de transmissão e a 37% para fabricantes de peças e acessórios para automóveis. Além da automobilística, destacam-se outras atividades econômicas com forte presença de empresas estrangeiras, como nos casos de insumos farmacêuticos, equipamentos médico-hospitalares e eletrônica.
Apenas 490 empresas da indústria de transformação declararam ter introduzido inovações de produto de caráter mundial, o equivalente a 1,2% de todas as empresas inovadoras. São valores muito semelhantes aos observados na PINTEC 2011, quando 483 empresas declararam ter introduzido inovações no nível global.
Além disso, 51% dessas inovações se referem a produtos ou processos completamente novos para a empresa, sendo o restante referente a aprimoramento de um produto ou processo já existente. Com relação a 2011, observou-se uma queda considerável, visto que 58% dos casos se referiam a produtos ou processos completamente novos na pesquisa anterior. Esses dados revelam que o uso de estratégias baseadas em inovação para conquista de novos mercados ou maior parcela do mercado internacional ainda não está consolidado nas empresas brasileiras.
O aprofundamento e o detalhamento das análises vão permitir o desenvolvimento de novas explicações e quem sabe também renovar os caminhos para as ações públicas de fomento, alimentando a formulação de novas estratégias empresariais. Desde já, o que mostram os resultados da PINTEC é um quadro pouco animador. O ímpeto inovador das empresas industriais brasileiras permanece estável e o alcance das suas inovações está restrito ao ambiente local. A inovação ainda não consegue contribuir para uma inserção mais substancial da indústria brasileira na economia global.
Baixo impacto da inovação nacional e dependência de fontes externas de novo conhecimento tecnológico
Dentre as empresas que implementaram inovações, a PINTEC 2014 aponta que 51,37% o fizeram com foco em novos produtos, enquanto que 89,26% direcionaram seus esforços para a implementação de novos processos produtivos [1].
Os números não são significativamente diferentes dos da PINTEC de 2011, na qual 50,67% das empresas estiveram focadas na inovação de produtos, enquanto que 88,8% se dedicaram ao desenvolvimento de novos processos.
Na PINTEC 2014, 79% das inovações de produto não representam novidade sequer para o mercado nacional, o que revela um baixo impacto. Já dentre as inovações de processo, 91% não representam novidade para o setor industrial de atuação no Brasil. Ainda mais grave é o fato de que 53% das inovações de processo novas para o setor no país representam apenas aprimoramentos de técnicas já existentes.
Há diferenças interessantes na organização das atividades inovativas entre estes dois segmentos. Das inovações de produto, 78% têm como principal força motriz esforços internos da própria empresa; 8,5%, atividades cooperativas com outras empresas ou institutos, e 12%, aquisições externas. Já em inovações de processo, 66% têm como principal responsável outras empresas ou institutos, 27% a própria empresa, e 6% a cooperação com outras empresas e institutos.
Em 2011, as inovações de produto representaram relativamente um maior esforço interno para as empresas implementadoras. Naquela ocasião, 83% das empresas que inovaram neste segmento declararam que o fizeram a partir de esforços próprios. As inovações de processo, por sua vez, possuíam uma dependência ainda maior de fontes externas. Em 2011, 74% das empresas que inovaram nessa modalidade declararam que o fizeram a partir da aquisição junto a fontes externas, e 18,5% a partir de esforços próprios.
A pequena relevância global e a dependência de fontes externas possivelmente estão relacionados ao fato de que grande parte das inovações implementadas no Brasil é composta pela aquisição de conhecimento tecnológico incorporado em máquinas e equipamentos. Isto se revela no fato de que 53% das empresas apontam este tipo de atividade como sendo de alta importância para atividades inovativas, enquanto que 82,5% das empresas inovadoras afirmam que atividades internas de P&D possuem baixa ou mesmo nenhuma importância. Mesmo a aquisição externa de P&D e de outros conhecimentos possui uma importância muito baixa para a inovação no Brasil, como indicam 94% e 84% das empresas inovadoras, respectivamente.
A classificação do dispêndio com inovação aponta para o mesmo caminho. O dispêndio das empresas com inovação destinado à aquisição de máquinas e equipamentos corresponde a 41% do total, enquanto apenas 30% destina-se a atividades internas de P&D.
Alterações quantitativas e qualitativas na inovação colaborativa
A comparação da PINTEC 2014 com a de 2011 revela uma queda da proporção de empresas que inovaram apoiadas na construção de atividades colaborativas com outras organizações.
Dentre as 47.693 empresas inovativas existentes segundo a PINTEC 2014, 7.300 (15,31%) estabeleceram relações de colaboração com outras. Em 2011, 7.694 empresas, dentre as 45.950 inovadoras (ou 16,74%), haviam reportado o estabelecimento de relações desta natureza.
Na PINTEC 2014, 53% das empresas inovadoras que estabeleceram algum tipo de atividade colaborativa reportaram como de alta relevância a parceria com clientes, índice próximo ao atribuído à parceria com fornecedores (53,6%), representando um salto com relação a 2011. Naquela ocasião, 40,75% das empresas apontaram ser importante a parceria com clientes, e 49,58% com fornecedores.
Por outro lado, parcerias com concorrentes e universidades e institutos de pesquisa são tidas como de baixa relevância, respectivamente, por 73,81% e 73,44% das empresas que inovaram em colaboração com outras instituições. Em 2011, 74,53% apontavam que a parceria com concorrentes é de baixa relevância, e 70,67% faziam o mesmo em relação a universidades e institutos de pesquisa.
Biotecnologia
A PINTEC permite avaliar o número de empresas envolvidas em atividades de biotecnologia e nanotecnologia. Trata-se de tecnologias emergentes e de larga aplicação em diversas atividades econômicas. Por esse motivo, são frequentemente apontadas como importantes vetores de inovação, crescimento e desenvolvimento.
Houve grande crescimento no número de empresas com atividades em biotecnologia entre a PINTEC 2011 e 2014, com um salto de 1.820 empresas para 2.583 empresas. Esse crescimento englobou tanto empresas que realizaram inovações, quanto empresas que não inovaram no período da pesquisa, como mostra o gráfico abaixo. Cabe destacar que, proporcionalmente, o crescimento foi maior no grupo das empresas que não introduziram inovação, com alta de 52% (frente a 36% no outro grupo).
Conforme apresentado no gráfico a seguir, no conjunto de empresas inovadoras que realizaram atividades em biotecnologia o maior crescimento relativo se deu no número de empresas com atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) nesse campo – um crescimento de 94%. A realização de P&D em um campo cuja a base de conhecimento é altamente complexa e baseada em ciência, como no caso da biotecnologia, é essencial para o aprendizado tecnológico de médio e longo prazo. Essas atividades, por mais que possam não gerar produtos e processos imediatamente, podem constituir o alicerce para o florescimento de uma indústria forte em um campo de elevada penetração em diversas atividades econômicas.
Houve, ainda, considerável crescimento no número de empresas inovadoras usuárias de biotecnologia. Se comparados aos resultados da PINTEC 2011, o número de usuários finais[2] de biotecnologia aumentou 36%, enquanto o número de usuários integradores[3] aumentou 56%. Esses números, que podem ser tomados como indicadores de difusão da biotecnologia no tecido econômico, também são relevantes, pois mostram um esforço das empresas localizadas no Brasil em adotar tecnologias avançadas em seus produtos e serviços. Por fim, houve crescimento, ainda que mais modesto (12%), no número de empresas inovadoras que produzem insumos, produtos ou processos baseados em biotecnologia[4].
Em termos de destaques setoriais, a indústria de alimentos foi a que mais apresentou crescimento em termos de empresas que realizaram atividades em biotecnologia. Essa indústria apresentou crescimento expressivo tanto entre as empresas inovadoras quanto entre as empresas que não inovaram no período referente à última PINTEC. Além disso, houve forte crescimento no número de empresas inovadoras engajadas em todas as modalidades de uso de biotecnologia, com destaque para empresas que realizaram P&D nesse campo – salto de 17 para 131 empresas, como mostra a tabela a seguir.
A tabela mostra ainda que houve aumento importante do número de empresas da indústria farmacêutica que estão envolvidas com atividades de biotecnologia. Por fim, o destaque negativo ficou por conta da Indústria Química, sobretudo pela forte retração no número de empresas produtoras de insumos, produtos e processos relacionados à biotecnologia. Por outro lado, ainda nessa indústria, houve ampliação no número de usuários integradores de biotecnologia. No entanto, não é possível concluir se aumento se atribuiu a empresas que deixaram de ser produtoras e passaram a ser integradoras dessa tecnologia.
Nanotecnologia
Em nanotecnologia, o cenário é bastante diferente se comparado ao de biotecnologia. Houve redução no número de empresas – tanto dentre as que inovaram como nas que não introduziram inovação – que realizam atividades relacionadas à nanotecnologia no período entre a PINTEC 2014 e a PINTEC 2011.
Conforme apresentado no gráfico a seguir, tal queda foi puxada pela diminuição no número de empresas usuárias finais e usuárias integradoras de nanotecnologia entre os períodos analisados na PINTEC 2011 e PINTEC 2014. No entanto, quando analisamos as empresas produtoras de insumos, produtos e processos baseados em nanotecnologia, bem como para as empresas que realizam P&D nesse campo, o cenário é mais animador. O número de produtores aumentou 103%, passando de 66 para 103 empresas, enquanto o número de empresas ativas em P&D em nanotecnologia passou de 123 para 159, uma alta de 29%.
Na tabela abaixo, destacamos dois setores industriais que apresentaram crescimento robusto no número de empresas que realizaram atividades de nanotecnologia. Primeiramente, a indústria de fabricação de equipamentos eletrônicos e de informática registrou crescimento de quase oito vezes no número de empresas inovadoras com atividades de P&D em nanotecnologia, além de taxas de crescimento acelerado no número total de empresas, usuárias finais, integradoras e produtoras de insumos, produtos e processos nanotecnológicos. Por fim, a indústria química apresentou crescimento no número de empresas com atividades de P&D nesse campo (alta de 159%), bem como no número total de empresas, usuárias integradoras e produtoras. Cabe registrar, no entanto, que houve queda no número de empresas da indústria química que são usuárias finais de nanotecnologia.
Uso de apoio governamental
Na PINTEC 2014, houve crescimento de 21% no número de empresas inovadoras que receberam apoio do governo, com relação à PINTEC 2011. Com isso, a proporção de empresas que inovaram e receberam suporte governamental passou de 34% para 40%. Não é possível, no entanto, avaliar se há complementaridade ou substituição entre uso de recursos próprios para inovação e de apoio do governo. Tal análise se faz pertinente para que se possa otimizar a alocação de recursos públicos e incentivar ao máximo a realização de inovações que não aconteceriam sem suporte governamental. A variação no número total de empresas que receberam apoio do governo é apresentada no gráfico a seguir.
Por fim, o gráfico abaixo desagrega o número de empresas que receberam apoio do governo de acordo com o tipo de instrumento[5]. O financiamento de máquinas e equipamentos continua sendo a principal forma de suporte público. Na PINTEC 2011, 11760 empresas inovadoras apontaram ter utilizado esse tipo de apoio governamental, valor que subiu para 14240 na PINTEC 2014 (alta de 21%). O instrumento que teve maior alta relativa com relação à PINTEC 2011 foram os incentivos fiscais à P&D relacionados à Lei do Bem. O número de empresas inovadoras beneficiadas por esse instrumento teve alta de 38%, passando de 1219 para 1684.
Cabe ressaltar a importância de estabilidade institucional com relação a esses instrumentos públicos de suporte a inovação. Atividades de inovação são inerentemente incertas, seja de um ponto de vista econômico ou tecnológico. Por serem de atividades com horizonte temporal mais elevado do que transações de compra e venda no mercado, é importante que as empresas tenham a segurança de que as regras são estáveis e não se alterarão de forma abrupta, de modo a não conturbarem seus respectivos planejamentos estratégicos em termos de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
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[1] Há sobreposição entre as duas variáveis que, ao menos em parte, está relacionada ao fato de que frequentemente a introdução ou o melhoramento de um novo produto demanda a introdução de novas tecnologias de processo.
[2] Compreende a simples compra ou aquisição de produto acabado que emprega biotecnologia.
[3] Refere-se à compra de insumos ou processos biotecnológicos para incorporar aos bens e serviços produzidos pelas empresas.
[4] Compreende a produção ou desenvolvimento da técnica de incorporação de insumos, produtos ou processos biotecnológicos.
[5] Os valores percentuais representam a variação com relação à PINTEC 2011.