Carta IEDI
Dinamismo ainda fraco e desigual
O quadro econômico nestes três primeiros meses de 2017 foi marcado por um desempenho muito baixo e desigual entre os grandes setores da economia. Enquanto a indústria já aponta para um resultado positivo, comércio e serviços, mais dependentes do mercado doméstico, ainda amargam perdas em patamares não muito distantes do que viram em 2016.
O que os dados sugerem, então, é que 2017 começa não tão ruim quanto terminou 2016, mas ainda são necessários resultados mais robustos para que entremos em uma efetiva trajetória de recuperação. A virtual estabilidade do indiciador do Banco Central (IBC-Br) que funciona como uma proxy do PIB, ao marcar crescimento de apenas 0,29% frente ao primeiro trimestre de 2016, expressa que a economia pode ter deixado a fase dos sucessivos resultados negativos, mas ainda conserva um fraco desempenho.
Quem melhor tem se saído, como dito anteriormente, é a indústria, cuja produção física avançou 0,6% no primeiro trimestre de 2017 frente a igual período do ano anterior. Este é um resultado pouco expressivo, mas não deve ser menosprezado pois o setor vinha apresentando quedas nos onze trimestres anteriores.
Na origem desse desempenho industrial recente está a existência de uma base de comparação muito baixa, mas esta não é a única razão. Compõem a lista de fatores positivos a redução mais acelerada dos juros pelo Banco Central, o aumento das concessões reais de crédito às famílias, apesar das taxas de empréstimo anda muito elevadas, a demanda reprimida pela prolongada crise e o fato de alguns ramos, como a indústria automobilística, estarem conseguindo ampliar suas exportações.
A alta da produção já não é novidade em bens de capital (+1,7% no 4º trim/16 e +4,3% no 1º trim/17) e bens de consumo duráveis (+0,8% e +10,6%, respectivamente), o que pode até configurar o início de um processo de recuperação, mas, pelo menos em bens de capital, seu ritmo continua muito lento frente à magnitude das perdas anteriores. Bens de consumo semi e não duráveis (-0,7% no 1º trim/17) e bens intermediários (-0,4%), a seu turno, ainda estão no vermelho, o que é um aspecto desfavorável já que apresentam um peso importante na estrutura industrial do país.
Em termos regionais, a situação parece mais promissora. No último trimestre do ano passado apenas 3 das 15 localidades pesquisadas pelo IBGE apontavam alta na produção, agora são 12. Ou seja, aquilo que era exceção tornou-se a regra. Mas dentre os que escapam da regra atual estão São Paulo, o maior parque industrial do país, em virtual estabilidade (+0,1% frente a jan-mar/16), e o Nordeste, que apontou declínio de -2,5% no primeiro trimestre de 2017.
Já as vendas reais do comércio varejista fecharam o período janeiro-março de 2017 em queda, muito embora ela tenha sido sensivelmente inferior àquela do último trimestre de 2016: -3,0% contra -5,5%, respectivamente, no conceito restrito, e -2,5% contra -7,3% no conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e materiais de construção. O varejo continuou, então, em um movimento de redução de perdas, mas é preciso notar que isso se deu, em boa medida, devido aos resultados mais favoráveis obtidos em janeiro, dado que fevereiro e março não foram meses muito bons.
Nos primeiros três meses do ano, a evolução do varejo foi marcada ainda por uma forte assimetria entre seus segmentos. As vendas reais de móveis e eletrodomésticos (+3,0% frente ao 1º trim/16), material de construção (+4,2%) e artigos de vestuário e calçados (+4,7%) tiveram alguma reação, possivelmente graças à recomposição do crédito às famílias, à liberação de recursos de contas inativas do FGTS e à própria necessidade de retomar alguns desses gastos depois de tanto adiá-los devido ao ajustamento dos orçamentos das famílias.
Em sentido oposto, estão os demais segmentos. Alguns até conseguiram arrefecer suas quedas, mas outros como materiais de escritório, informática e comunicação (-5,2% no 4º trim/16 e -11,2% no 1º trim/17) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-4,3% e -5,3%, respectivamente), que incluem as lojas de departamento, viram sua situação piorar com a passagem de 2016 para 2017.
Os serviços, por sua vez, que até o ano passado enfrentava perdas menores do que o comércio e a indústria, assumiu a liderança das quedas neste início de ano. O recuou chegou a 4,6% na comparação interanual, isto é, não tão intenso quanto ao do 4º trim/16 (-6,0%), mas no mesmo patamar que vigorou na maior parte do ano passado.
Compondo este quadro desfavorável, nenhum dos segmentos de serviços conseguiu sair do terreno negativo nestes três primeiros meses do ano. Mais do que isso, houve casos que apresentaram uma deterioração importante diante de seus resultados do último trimestre de 2016, como os serviços profissionais, administrativos e complementares (-4,7% no 4º trim/16 e -9,4% no 1º trim/17), sugerindo que a crise das empresas continua grave, restringindo suas condições de demandar serviços.
Indústria
No primeiro trimestre de 2017, depois de um longo período de contração, a indústria voltou ao campo positivo. Contudo, o resultado não foi muito expressivo. Na comparação interanual, a alta foi de 0,6%, sendo de 1,1% em março de 2017. Esta certamente é uma boa notícia, mas que traz consigo uma outra não tão boa assim. Isso se deve ao desempenho ainda negativo da indústria de transformação, de -0,5% frente ao primeiro trimestre do ano anterior.
Em grande medida, foi, então, o setor extrativo (+8,2% frente a jan-mar/2016) que tirou a indústria do vermelho neste começo de ano. Mas é preciso reconhecer também a contribuição de quedas bem mais moderadas da indústria de transformação. Seu declínio de 0,5% contrasta de maneira importante com a queda, por exemplo, do último trimestre de 2016 (-3,9%).
Dentre os macrossetores da indústria, a reação vem justamente daqueles que suportaram as maiores retrações nos últimos anos: bens de capital (+1,7% no 4º trim/16 e +4,3% no 1º trim/17) e bens de consumo duráveis (+0,8% e +10,6%, respectivamente). Em ambos os casos, já são dois trimestres de resultados positivos, ajudados por uma base de comparação muito baixa. Esta trajetória pode até configurar o início de um processo de recuperação, mas, pelo menos em bens de capital, seu ritmo continua muito lento.
Os demais macrossetores da indústria, a seu turno, ainda estão no vermelho, o que é um aspecto desfavorável já que apresentam um peso importante na estrutura industrial do país. Bens de consumo semi e não duráveis teve retrocesso de -0,7% no primeiro trimestre do ano (-5,8% no 4º trim/16) e bens intermediários, de -0,4% (-3,3% no 4º trim/16).
Já em termos regionais, houve uma reviravolta importante, em direção positiva, neste primeiro trimestre de 2017. No último trimestre do ano passado apenas 3 das 15 localidades pesquisadas pelo IBGE apontavam alta na produção, agora são 12. Considerando apenas o mês de março, a indústria cresceu na maioria das localidades (em 8 delas). Ou seja, aquilo que era exceção tornou-se a regra.
Esse avanço na disseminação de resultados positivos é uma boa notícia, porque dá substância ao crescimento de mero 0,6% do total da produção industrial do país em janeiro-março de 2017 frente a igual período do ano anterior. Esse desempenho poderia ter sido melhor, não fossem algumas poucas, porém determinantes localidades.
De fato, apesar de raros, dentre os casos que escapam da regra atual, que é a da volta ao crescimento, estão estados de peso no sistema industrial do país, como São Paulo. O desempenho da indústria paulista no primeiro trimestre de 2017 manteve sua trajetória de redução de perdas, mas ainda não apresenta suficiente dinamismo. Fechou o período em virtual estabilidade (+0,1%) na comparação interanual, sob influência de uma piora no setor de alimentos e de atividades do setor químico (farmacêuticos, produtos de limpeza e higiene pessoal e outros produtos químicos).
Em situação pior está a região Nordeste, cuja indústria não só continua em declínio como sofreu deterioração na passagem do quarto trimestre de 2016 (-2,0%) para o primeiro trimestre do corrente ano (-2,5%). Isso se deve aos resultados de Bahia e Ceará, já que Pernambuco voltou ao azul. Quedas em setores como o de derivados de petróleo, alimentos e bebidas têm dificultado a recuperação industrial da região.
Hoje, à exceção de São Paulo e Nordeste, as altas preponderam e chegam a intensidades não desprezíveis. O bom desempenho da indústria extrativa, ao lado de metalurgia, tem ajudado algumas localidades a figurar dentre aquelas com as maiores altas no primeiro trimestre de 2017, como no caso de Minas Gerais (+3,6%), Espírito Santo (+4,0%) e Rio de Janeiro (+4,8%).
A indústria carioca também teve uma relevante fonte de crescimento na indústria automobilística. Este é igualmente o caso de Paraná (+4,6%), Santa Catarina (+5,2%) e do Rio Grande do Sul (+1,9%). Tanto nos estados da região Sul quanto em Goiás (+6,6%) e Mato Grosso (+0,4%), a indústria de alimentos e bebidas também contribuiu para impulsionar a produção neste começo de ano.
Vale ainda um comentário sobre o Amazonas, que depois de ter visto uma queda de 21% no primeiro trimestre de 2016, conseguiu amenizar suas perdas ao longo do ano passado e voltou ao positivo em janeiro-março de 2017: +1,3% na comparação interanual. Ainda é pouco, mas pode ser um início de recuperação. Neste período a maioria dos setores industriais do estado apresentou crescimento, mas o destaque ficou por conta da produção de equipamentos de informática, eletroeletrônicos e ópticos.
Comércio
A julgar pelos dados mais recentes divulgados pelo IBGE, o quadro do varejo nesses primeiros meses de 2017 foi negativo, não dando sinais de uma reversão dos maus momentos que vem passando nos últimos anos. As quedas imperam em qualquer que seja a comparação. Em seu conceito restrito, as vendas reais de março caíram -1,9% frente a fevereiro, na série com ajuste, e -4,0% frente a março 2016. Com isso, o resultado do primeiro trimestre não saiu do vermelho: -3,0% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mesmo se considerarmos as vendas de automóveis, autopeças e materiais de construção, que já viram dias piores, o desempenho do varejo, em seu conceito ampliado neste caso, não melhora muita coisa. Todos os resultados também se mantêm no negativo: -2,0% frente a fevereiro, com ajuste sazonal, -2,7% contra março de 2016 e -2,5% no acumulado do primeiro trimestre de 2017.
Mas nem tudo é desfavorável na pesquisa sobre o comércio varejista do IBGE. Alguns segmentos do varejo conseguiram, neste começo de ano, entrar na faixa positiva de crescimento, recuperando uma fração de suas perdas passadas.
Alguma recomposição do crédito real concedido às famílias bem como a liberação dos recursos do FGTS podem estar na origem da melhora dos resultados em segmentos como móveis e eletrodomésticos (-9,9% no 4º trim/16 e +3,0% no 1º trim/17) e material de construção (-6,6% e +4,2%, respectivamente), cujo consumo foi bastante sacrificado no processo de ajustamento dos orçamentos familiares que vimos nos últimos anos.
Neste processo, tradicionalmente também se verifica o adiamento da compra de artigos de vestuário e calçados, o que agora pode estar sendo revertido à medida que a desaceleração da inflação vai abrindo algum espaço no orçamento das famílias para esse tipo de gasto. As vendas reais desse setor do varejo apresentaram o melhor desempenho no primeiro trimestre de 2017: +4,7% no 1º trim/17 contra -9,9% no 4º trim/16.
Entretanto, a situação nos demais segmentos não chega a ser tão favorável assim. Alguns, é verdade, têm conseguido amenizar suas quedas, mas continuam no vermelho. Este é o caso de segmentos de peso, como o combustíveis e lubrificantes (-7,8% no 4º trim/16 e -5,6% no 1º trim/17), veículos e autopeças (-12,2% e -8,1%), além de artigos médicos, farmacêuticos e de perfumaria (-5,1% e -2,9%) e livros, jornais e papelaria (-13,5% e -5,0%, respectivamente).
Em outros casos, 2017 não trouxe melhora alguma, a exemplo das vendas reais de materiais de escritório, informática e comunicação (-5,2% no 4º trim/16 e -11,2% no 1º trim/17), bem como de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-4,3% e -5,3%), que incluem as lojas de departamento. Nesta situação também pode ser incluído o segmento de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, já que seu resultado no primeiro trimestre de 2017 (-3,1%) é virtualmente o mesmo do último trimestre de 2016 (-3,6%), com o agravante de que desde março de 2003 (-13,2%) não apresentava uma queda interanual tão intensa quanto a de março do corrente ano (-8,7%).
Serviços
O desempenho do setor de serviços em 2017, segundo os dados apurados pelo IBGE, não aponta nenhuma reação positiva. Depois de um trimestre particularmente ruim no final de 2016 (-6,0%), o faturamento real do setor retornou ao patamar de queda que vigorou ao longo da maior parte do ano passado ao cair 4,6% em janeiro-março de 2017.
Ademais, assim como ocorreu com o comércio varejista, o mês de março também trouxe resultados que não corroboram o anseio por uma recuperação do setor de serviços. Frente a fevereiro, com ajuste, o recuo foi de -2,3% e frente a março de 2016, de -5,0%.
Compondo este quadro desfavorável, nenhum dos seus segmentos conseguiu sair do terreno negativo nestes três primeiros meses do ano, na comparação interanual. Mais do que isso, no primeiro trimestre de 2017 houve segmentos que apresentaram uma deterioração importante diante de seus resultados do último trimestre de 2016.
Entre os que tiveram piora substancial, estão os serviços profissionais, administrativos e complementares (4,7% no 4º trim/16 e -9,4% no 1º trim/17), que são prestados às empresas. Este pode ser um sintoma de que a crise das empresas continua grave, restringindo suas condições de demandar serviços. Vale notar que seu componente de maior qualificação, isto é, os serviços técnico-profissionais, vem suportando retrações de mais de dois dígitos desde maio de 2016 em uma trajetória que não dá sinais de melhora (-16,6% em jan-mar/17).
Outro segmento a aprofundar suas quedas foi o de outros serviços (-1,4% no 4º trim/16 e -9,5% no 1º trim/17), que reúne um conjunto amplo de atividades, tais como imobiliárias, financeiras, de serviços agrícolas etc. Atividades de turismo, por sua vez, também pioraram neste começo de ano, passando de -2,1% no último trimestre de 2016 para -7,2% agora em 2017, muito disso podendo ter sido resultado de alguma substituição do turismo interno pelo turismo externo favorecida pela evolução do câmbio.
Dois dos mais importantes segmentos, devido a seu peso no setor de serviços, seguiram em queda, mas pelo menos puderam reduzir suas perdas no primeiro trimestre de 2017. É o caso de serviços de informação e comunicação, que flertam com a estabilidade ao ter caído apenas 0,4% no período (contra -4,7% no 4º trim/16), e transportes, serviços auxiliares e correio (-9,5% no 4º trim/16 e -3,2% no 1º trim/17), o que não deixa de ser um aspecto favorável dada a aderência desse segmento ao nível geral de atividade.
Por fim, os serviços prestados às famílias encontram-se em uma situação em que “andam de lado”. Isso porque o ritmo de queda neste primeiro trimestre de 2017 (-4,2%) é praticamente o mesmo que o do final de 2016 (-4,5%). Neste caso, a desaceleração da inflação pode estar contribuindo para ao menos evitar perdas maiores para esse tipo de serviço.