Carta IEDI
Um mês de recuperação
O crescimento obtido pelos grandes setores da economia em abril deste ano, na série com ajuste sazonal, somado ao bom momento por que passam as atividades agropecuárias, alimenta as perspectivas de que venha se repetir no segundo trimestre de 2017 um resultado positivo para o PIB que, no primeiro trimestre, foi de +1% frente ao 4ºT/16. O risco maior disso não ocorrer vem, seja da fragilidade que ainda prepondera no consumo e no investimento da economia, seja dos efeitos do agravamento da crise política sobre a evolução econômica.
Em abril, a indústria conseguiu obter, pela primeira vez no ano, uma taxa de crescimento positiva, embora de apenas 0,6%, frente a março com ajuste sazonal. Já o comércio varejista, em seu conceito restrito, e o setor de serviços avançaram um pouco mais: 1% na mesma comparação em ambos os casos. Consideradas as vendas de automóveis, autopeças e materiais de construção, o resultado do varejo sobe para 1,5% em abril. Com isso, o indicador do Banco Central (IBC-Br), que funciona como uma proxy do PIB, apontou uma alta na margem de 0,3% em abril.
É preciso, contudo, reconhecer que em todos os casos acima o melhor desempenho em abril não chegou a compensar as retrações verificadas no mês de março, configurando-se, portanto, em resultados modestos. Muitas das trajetórias têm sido, de fato, marcadas por altos e baixos. Este é notadamente o caso da indústria, cuja situação atual se aproxima mais da estabilidade do que de uma retomada.
Ademais, também têm ocorrido certo descompasso entre os diferentes segmentos da indústria, do comércio e dos serviços, o que é típico de fases iniciais de recuperação. Enquanto alguns ainda sofrem deterioração, outros já voltaram a registrar crescimento ou estão reduzindo suas perdas.
Na indústria, o avanço da produção em abril (+0,6%) alcançou três dos quatro macrossetores e 13 dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE, mas foi bastante concentrado regionalmente, sendo que as principais regiões industriais do país continuaram no negativo. Este é um aspecto que retira substância do resultado geral neste mês de abril.
Dentre os macrossetores, bens intermediários (+2,1%), bens de consumo duráveis (+1,9%) e bens de capital (+1,5%) registraram crescimento em abril de 2017 e reverteram parcialmente os recuos registrados em março último (-2,5%, -7,2% e -2,2%, respectivamente). Por outro lado, o setor produtor de bens de consumo semi e não-duráveis (-0,8%) mostrou a única taxa negativa em abril de 2017 e completou o terceiro mês consecutivo de redução na produção, acumulando nesse período perda de 4,0%.
Regionalmente, dentre as 14 localidades pesquisadas pelo IBGE, apenas 5 delas lograram obter algum crescimento na série com ajuste sazonal. A maioria delas, isto é, as outras 9 localidades ficaram estáveis ou recuaram no mês em questão. Os estados de maior envergadura na produção industrial do país ficaram do lado daquelas que tiveram resultados negativos: Rio de Janeiro (-1,9% frente a mar/17), Rio Grande do Sul (-0,8%) e São Paulo (-0,1%), cuja produção, nos últimos meses, não tem dado nenhum sinal de reação (-0,1% e -1,6% em fev/17 e mar/17).
Quanto ao varejo, à medida que o ano avança, vai se formando um quadro menos adverso, apoiado em uma inflação menor, alguma melhora nas concessões de crédito a pessoas físicas e em fatores extras, como a liberação dos recursos de contas inativas do FGTS. Com isso, as famílias vêm conseguindo recompor, em doses moderadas, alguns gastos de consumo que a restrição da renda e o desemprego – ou o medo dele – acabaram reprimindo nos dois últimos anos.
Dentre os segmentos do varejo cuja evolução tem se destacado positivamente estão tecidos, vestuário e calçados (+3,5% frente a mar/17 com ajuste), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (+10,2%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (+0,1%), além de móveis e eletrodomésticos (-2,8%), cujo declínio de abril não muda o fato de que as altas têm preponderado desde outubro do ano passado na série com ajuste sazonal.
As vendas de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, um dos segmentos de maior peso no varejo, também cresceram tanto na série com ajuste sazonal (+0,9% frente a mar/17) como na comparação interanual (+3,5%). Em tais resultados, contudo, há que se considerar o fato de que a Páscoa – uma época relevante para as vendas desse segmento – não ocorreu em meses equivalentes de 2017 (abril) e 2016 (março).
Dos grandes setores da economia, a alta de 1% dos serviços é aquela que se mostra mais frágil. Apenas um dos seus segmentos obteve aumento de faturamento real em abril: transportes, serviços auxiliares e correios, de 1% frente a março, já descontados os efeitos sazonais.
A contribuição da maioria dos segmentos de maior importância se restringiu a não cair, como o de serviços prestados às famílias (0%) e o de serviços profissionais, administrativos e complementares (0%). Neste último caso, a estabilidade em abril ocorreu após quedas sistemáticas desde dez/16 na série com ajuste, com o que seu quadro em 2017 tem sido de agravamento.
Serviços de informação e comunicação (-0,2% frente a mar/17) e o segmento de outros serviços (-5,8%), por sua vez, registraram recuo do faturamento real na série com ajuste. O mesmo ocorreu com as atividades de turismo (-2,0%), que representam um componente a parte do setor de serviços no levantamento do IBGE.
PIB
No primeiro trimestre de 2017, o crescimento do PIB de 1% na série com ajuste sazonal pode ser um pequeno passo para que a economia brasileira comece a reaver tudo aquilo que perdeu nos últimos anos e que não foi pouco. Se será este o caso ou não, é algo a se confirmar, especialmente diante da instabilidade política e econômica que voltou a se agravar recentemente no país.
Resultados positivos que acabam sendo revertidos em quedas subsequentes não são novidades, a exemplo da indústria. Sempre há o risco de que a alta de 0,9% do PIB manufatureiro frente ao último trimestre de 2016, já descontados os efeitos sazonais, seja apenas mais um sopro de crescimento, como aqueles que ocorreram no segundo trimestre de 2016 (+0,4%) e no terceiro de 2014 (+1,7%).
Assim, é preferível tomar os dados recentemente divulgados pelo IBGE não tanto como um sinal de recuperação da economia, mas sim como mais uma indicação de que indubitavelmente estamos marchando, trimestre após trimestre, em direção ao “zero a zero”, ou seja, uma economia que tendo deixado no passado uma profunda recessão, ainda não mostra sinais de inequívoca retomada do seu dinamismo. Vale enfatizar, contudo, que alcançar tal estágio não é pouca coisa, já que a economia vinha se contraindo ininterruptamente ao longo dos últimos oito trimestres.
Essa trajetória se torna clara a partir dos resultados frente ao mesmo período do ano anterior. Assim, o PIB sai de um ritmo de contração de -5,4% no primeiro trimestre de 2016 para -0,4% agora no primeiro trimestre de 2017. Esse mesmo movimento se dá também no consumo das famílias e, em menor medida, no investimento.
Consumo (-1,9% ante 1ºT/16) e investimento (-3,7%) ainda têm muito o que recuperar, haja vista a taxa de investimento que continua em queda livre (15,6% do PIB no 1ºT/17), mas não se deve ignorar que os últimos dados sugerem ser esta a direção de suas trajetórias.
No front externo, as exportações, depois de levar um tombo de 7,6% no último trimestre do ano passado, voltaram a crescer (+1,9%) neste primeiro quarto de 2017, compensando parcialmente a elevação das importações (+9,8%), cujo resultado reflete tanto bases muito baixas de comparação, como um estágio menos agudo da crise, favorecendo a importação de alguns bens, como de intermediários.
A relevância do setor externo para o resultado do primeiro trimestre de 2017 é bastante nítida na série com ajuste sazonal. As exportações, que caíram sistematicamente ao longo de 2016, em muito devido à apreciação cambial, voltaram a crescer no início deste ano e em uma intensidade (+4,8%) superior à expansão das importações (+1,8%), de modo a compensar a retração da demanda interna.
Isso evidencia o quanto poderíamos ter amenizado a má fase da economia brasileira se tivéssemos um setor externo mais dinâmico, que, como já ocorreu no passado, funcionasse como um colchão amortecedor das retrações do mercado doméstico. Para tanto, deveríamos ter evitado desalinhamentos de nossas variáveis macroeconômicas, a exemplo da taxa de câmbio, não ter desativado certos programas como o Reintegra e nutrido uma relação mais próxima com a economia internacional.
Em boa medida, esse desempenho exportador de 2017 está associado ao boom das atividades agropecuárias. Pela ótica da oferta, este setor apresentou o melhor desempenho no PIB. A alta da agropecuária chegou a 13,4% na série com ajuste sazonal e a 15,2% frente ao primeiro trimestre de 2016.
Os demais setores estiveram longe de apresentar resultados semelhantes, mas pelo menos em alguns casos temos visto tendências promissoras, por enquanto refletidas na redução de perdas, mas que apontam para a estabilidade. Este é notadamente o caso do PIB da indústria de transformação, que na comparação interanual, caminhou de uma queda de 10,4% no primeiro trimestre de 2016 para apenas -1,0% no primeiro de 2017.
Alguns segmentos de serviços também trilharam o mesmo caminho, como o PIB do comércio, que saiu de uma queda de 10,5% para outra de apenas 2,5% entre os primeiros trimestres de 2016 e 2017, bem como o segmento de outros serviços (de -3,3% para -1,8% no mesmo período). Em contrapartida, devem ser sublinhados os casos de piora neste começo de 2017, a exemplo de serviços de intermediação financeira (-4,0%) e de atividade imobiliária (-0,6%) e a indústria de construção (-6,3%).
Indústria
A produção industrial, em abril deste ano, voltou ao negativo na comparação interanual, com uma queda de 4,5%, a mais intensa de 2017. Muito disso, deveu-se a dois dias úteis a menos do que abril de 2016. Em relação a março, contudo, já descontados os efeitos sazonais, obteve seu primeiro resultado positivo no ano (+0,6%).
O que mais chama atenção no desempenho industrial é a alternância de resultados positivos e negativos desde o início de 2017. Esse fenômeno surge tanto na série com ajuste sazonal (-0,1%; 0%; -1,3% e +0,6%, entre janeiro e abril), como, principalmente, na comparação interanual (+1,4%; -0,7%; +1,3% e -4,5%, respectivamente), estabelecendo assim uma distinção importante entre 2017 e 2016, quando as quedas imperavam absolutas. O resultado disso é um quadro que em termos médios se aproxima mais da estabilidade (crescimento próximo a zero) do que da recuperação.
Na série com ajuste, o avanço de 0,6% da atividade industrial frente a março de 2017 teve predomínio de resultados positivos, alcançando três dos quatro macrossetores e 13 dos 24 ramos pesquisados. Bens intermediários (+2,1%) e bens de consumo duráveis (+1,9%) apontaram os resultados positivos mais acentuados em abril de 2017 e reverteram os recuos registrados em março último: -2,5% e -7,2%, respectivamente.
O segmento de bens de capital (+1,5%) também assinalou avanço nesse mês e eliminou parte da queda de 2,2% observada no mês anterior. Por outro lado, o setor produtor de bens de consumo semi e não-duráveis (-0,8%) mostrou a única taxa negativa em abril de 2017 e completou o terceiro mês consecutivo de redução na produção, acumulando nesse período perda de 4,0%.
Além de modesta e inserida em uma trajetória claudicante, como dito anteriormente, a alta de abril foi muito concentrada regionalmente. Dentre as 14 localidades pesquisadas pelo IBGE, apenas 5 delas lograram obter algum crescimento na série com ajuste sazonal. A maioria delas, isto é, as outras 9 localidades ficaram estáveis ou recuaram no mês em questão.
Estados de maior envergadura na produção industrial do país ficaram, em sua grande maioria, do lado daqueles que tiveram resultados negativos. É o caso do Rio de Janeiro (-1,9% frente a mar/17) e do Rio Grande do Sul (-0,8%), além de São Paulo. A indústria paulista, ao recuar apenas 0,1%, manteve-se, na verdade, em uma virtual estabilidade, mas isso não minimiza o fato de que nos últimos meses sua produção não tem dado nenhum sinal de reação (-0,1% e -1,6% em fevereiro e março, na série com ajuste).
No restrito grupo daqueles que cresceram em abril, estão apenas Minas Gerais (+0,5% ante mar/17) e Santa Catarina (+1,2%), que se recuperaram apenas parcialmente da queda mais intensa do mês de março (-2,3% e -4,0%, respectivamente), além da região Nordeste (+0,6%) como um todo, graças ao desempenho positivo de Pernambuco e Ceará.
Assim como o dado positivo na série com ajuste não convence, o declínio mais acentuado na comparação interanual (-4,5% no total nacional), por sua vez, não deve ser considerado ao pé da letra, devido ao efeito calendário já mencionado. Nesta comparação, muitas localidades que vinham crescendo seguidamente sucumbiram em abril, como Minas Gerais (-2,6%), Paraná (-4,7%), Santa Catarina (-3,5%), Rio Grande do Sul (-4,3%) e Goiás (-6,1%). Só os dados futuros confirmarão se estas quedas são apenas pontuais ou uma mudança de rota.
No caso de São Paulo, cujo recuo frente a abr/16 (-8,1%) foi o mais intenso da comparação interanual desde mar/16, o efeito calendário pode ter influenciado mais a magnitude da queda do que o sinal do resultado, já que a trajetória da indústria paulista tem sido hesitante, marcada por altos e baixos desde o início do ano.
Se tomarmos os dois resultados negativos de São Paulo, isto é, tanto na comparação frente a março de 2017 como em relação a abril de 2016, se renova aquilo já havíamos observado em Análises anteriores, que São Paulo vem retardando a recuperação da indústria brasileira.
Comércio
As vendas reais do comércio varejista, em seu conceito restrito, registraram alta de 1,9% em abril deste ano frente ao mesmo mês de 2016, o que é uma novidade em seu percurso recente, já que nos 24 meses anteriores só houve queda. Na série com ajuste, a alta foi de 1% frente a março. Tomado em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis e material de construção, o varejo não apresentou um quadro muito distinto: quase estabilidade frente a abril de 2016 (-0,4%) e crescimento na margem (+1,5%).
À medida que o ano avança, vai se formando um quadro para o comércio varejista segundo o qual este, se não voltou indubitavelmente a crescer, ao menos conseguiu estancar a fase tão adversa que vivenciou ao longo de 2015 e 2016. Ilustra esta nova etapa a comparação do resultado de 2016 como um todo com o do acumulado em 2017 até abril: -6,3% contra -1,6%, respectivamente (-8,7% e -1,8% no conceito ampliado). Vale enfatizar, contudo, que tal processo de melhora se iniciou há pouco e por isso continua muito sujeito a impactos negativos vindos, sobretudo, do contexto político.
Com uma inflação menor, alguma melhora nas concessões de crédito a pessoas físicas e fatores extras, como a liberação dos recursos de contas inativas do FGTS, as famílias vêm conseguindo recompor, em doses moderadas, alguns gastos de consumo que a restrição da renda e o desemprego – ou o medo dele – acabaram reprimindo nos dois últimos anos.
Como veremos a seguir, uma fase “menos ruim” do varejo é algo que marca a evolução de muitos segmentos importantes, embora em graus bastante diferentes, o que é típico de fases iniciais de recuperação. Enquanto alguns já voltaram a registrar resultados positivos, mais de um mês seguido em certos casos, outros ainda estão reduzindo perdas e se aproximam da estabilidade.
As vendas de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, um dos segmentos de maior peso no varejo, cresceram tanto na série com ajuste sazonal (+0,9% frente a mar/17) como na comparação interanual (+3,5%), depois de dois meses de declínio de intensidade não desprezível. Em tais resultados, contudo, há que se considerar o fato de que a Páscoa – uma época relevante para as vendas desse segmento – não ocorreu em meses equivalentes de 2017 (abril) e 2016 (março).
Mas este efeito calendário não explica o bom resultado em abril de outros segmentos, nem a existência de trajetórias favoráveis em alguns deles. Dentre aqueles cuja evolução tem se destacado positivamente estão tecidos, vestuário e calçados (+3,5% frente a mar/17 com ajuste) e móveis e eletrodomésticos (-2,8%). Neste último caso, o declínio de abril não muda o fato de que as altas têm preponderado desde outubro do ano passado na série com ajuste sazonal (+2,3%, +2,0% e +6,5% entre jan/17 e mar/17). Com isso, no acumulado dos quatro primeiros meses de 2017, estes dois segmentos do varejo já voltaram a crescer: +6,3% e +2,2%, respectivamente.
Também em alta no acumulado do ano estão as vendas reais de material de construção (+2,9%), mas aqui a trajetória recente tem sido marcada por maior oscilação nos resultados, seja na série com ajuste (+1,7%, -1,8%, +2,7% e -1,9% entre jan/17 e abr/17), seja na comparação interanual (+4,7%, -1,9%, +9,6% e -1,3%). O mesmo tem ocorrido no segmento de veículos e autopeças, mas neste caso o acumulado do ano continua negativo (-8,8%).
Outros dois segmentos vêm acompanhando este quadro menos adverso no varejo: equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, de um lado, e outros artigos de uso pessoal e doméstico, de outro. Ambos cresceram em abril último, na margem (+10,2% e +0,1%, respectivamente) e na comparação interanual (+4,5% e +3,5% respectivamente), conseguindo reduzir acentuadamente suas perdas. O resultado no acumulado até abril de 2017 foi -7,7% no primeiro caso (contra -12,3% em 2016 como um todo) e -3,1% no segundo caso (contra -9,5% em 2016).
Serviços
Segundo os dados divulgados pelo IBGE, o setor de serviços ampliou em 1% suas receitas reais no mês de abril de 2017 quando comparado com março, livre de efeitos sazonais. Este resultado, somado ao desempenho também positivo da produção industrial (+0,6%) e das vendas do varejo (+1%), bem como ao bom momento por que passam as atividades agropecuárias, abrem a perspectiva de que a economia brasileira tenha obtido crescimento em abril.
O otimismo com o crescimento na margem do setor de serviços perde força, entretanto, com o resultado em comparação com o mesmo mês do ano passado. Neste caso, o patamar de queda (-5,6%) perde por pouco para aos piores momentos do setor no final do ano passado, fazendo com que o acumulado de 2017 até o mês de abril (-4,9%) esteja em pé de igualdade com o declínio de 2016 como um todo (-5,0%). Ou seja, por este ângulo o início de 2017 não traz sinais de que o setor tenha avançado muito na superação de sua recessão.
Outro aspecto não tão favorável da alta de abril na série com ajuste é que ela foi muito concentrada em poucos segmentos do setor de serviços. Na verdade, o único a apresentar alta de faturamento real no mês em questão foi o de transportes, serviços auxiliares e correios (+1%), enquanto a contribuição da maioria dos segmentos de maior importância se restringiu a não cair, como os serviços prestados às famílias (0%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (0%). Outros, contudo, não conseguiram evitar novas quedas, como serviços de informação e comunicação (-0,2%), outros serviços (-5,8%) e atividades turísticas (-2,0%).
Podemos classificar os segmentos de serviços em três categorias em função de seus resultados no corrente ano de 2017: há aqueles com sinais de agravamento da retração, os que ao menos não estão piorando e um caso isolado de segmento com melhora do quadro.
Dentre os que passam por uma fase mais adversa nos últimos meses encontra-se o segmento de outros serviços, que reúne um conjunto amplo de atividades, como imobiliárias, financeiras, de assistência técnica etc. O recuo em abril frente a março (com ajuste) foi o mais intenso dentre os segmentos, podendo ter sido mais afetado pela ocorrência dos feriados de abril. Sua queda no acumulado dos quatro meses de 2017 (-11,2%) supera em muito aquela de 2016 (-2,8%).
Também se encontram nesta categoria os serviços profissionais, administrativos e complementares, cuja estabilidade em abril não muda o fato de ter caído sistematicamente desde dez/16 na série com ajuste. Em 2017, a contração de seu faturamento real tem se agravado (-9,9% até abr/17 contra -5,6% em 2016) em grande medida devido ao componente de serviços técnico profissionais, que só em abr/17 caiu 20,3% frente a abr/16.
As atividades turísticas, que representam um componente a parte do setor de serviços no levantamento do IBGE, estão em uma situação bastante negativa sob qualquer ponto de vista: -2,0% na margem; -6,4% frente a abr/16 e -7,1% no acumulado jan-abr/17 contra -2,6% em 2016 como um todo.
Já os serviços prestados às famílias e os serviços de informação e comunicação são exemplos de segmentos que, ao menos, não puxam para baixo o desempenho total do setor, ficando próximos da estabilidade na série com ajuste sazonal. No primeiro caso, não há piora nem melhora quando tomamos o resultado acumulado em 2017 (-4,3% até abril) e em 2016 (-4,6%), enquanto no segundo caso há algum arrefecimento (-1,0% contra -3,3%, respectivamente).
Por fim, é o segmento de transportes, auxiliares e correios que tem apresentados os sinais mais promissores. Na série com ajuste, resultados positivos preponderam desde nov/16, atingindo +1% agora em abril de 2017 e o segmento trilha mais claramente em um percurso de redução das quedas (-7,6% em 2016; -2,8% em jan-abr/17 e -1,5% frente a abr/16). A expansão da agropecuária e reativação em alguns ramos da indústria, nos últimos meses, devem estar na origem dessa trajetória.