Carta IEDI
A posição ainda marginal das exportações brasileiras de manufaturados
omo tem sido frequente nos últimos anos, o comércio internacional cresceu menos que a economia global em 2016. Segundo os dados recentemente divulgados pela OMC (Organização Mundial do Comércio), os fluxos de comércio de bens e serviços entre os países cresceram, em volume, 1,3% frente a 2015, enquanto o PIB mundial avançou 2,3%.
Em valor, houve queda de 3,3% em 2016, devido a recuos generalizados nas diferentes regiões do globo. A despeito disso, o quadro não foi tão ruim quanto o de 2015, quando o recuo atingiu dois dígitos. As principais razões para essa evolução do valor do comércio internacional incluem a apreciação do dólar e a queda dos preços das commodities.
Baixo crescimento em volume e retração em valor do comércio mundial podem não ser apenas fenômenos conjunturais, como alerta a OMC. Existem forças estruturais abalando as trocas internacionais, principalmente nas dinâmicas de investimento dos EUA e China, cujas economias estão se voltando mais para dentro neste momento.
Seja como for, China e EUA mantiveram-se na liderança do ranking de exportações totais de bens em 2016. A primeira colocação coube à China, com uma participação de 13,2% do valor das exportações do mundo, e a segunda colocação, aos EUA, com 9,1% do total. Dentre as principais alterações no ranking entre 2015 e 2016, destacam-se Coréia do Sul, que caiu da 6ª para a 8ª posição, e Hong Kong e França, que subiram da 7ª para a 6ª posição e da 8ª para a 7ª posição, respectivamente.
E como se saiu o Brasil em 2016? Se não houve avanço, ao menos o Brasil não perdeu seu posto de 25º maior exportador mundial de bens, que vem mantendo desde 2014. A despeito de uma queda de 3% de suas exportações entre 2015 e 2016, garantiu uma participação de 1,16% do total exportado no mundo. De todo modo, continuamos aquém da nossa melhor marca, atingida em 2011: 1,4% do total e 22º maior exportador.
Se forem considerados apenas os produtos manufaturados, onde a colocação brasileira é ainda pior do que no ranking das exportações totais, o ano de 2016 trouxe uma melhora. O Brasil passou de 31º para 30º maior exportador do mundo de manufaturas, elevando sua participação no total exportado desses bens de 0,59% para tão somente 0,61%. Como se vê, o avanço brasileiro em nada alterou o principal traço que caracteriza a exportação industrial do país: sua posição no comércio mundial é marginal.
Esse resultado se deve ao fato de que enquanto as exportações brasileiras de manufaturados cresceram 1,8% frente a 2015, as exportações desses bens no mundo caíram 1,8%. Como sabemos, a gravidade da crise da economia brasileira empurrou muitas empresas para o comércio internacional, como forma de amenizar sua perda de receita.
O topo do ranking de exportações de manufaturados cabe, como tem ocorrido há algum tempo, à China, na primeira posição, seguida por Alemanha e EUA. Juntos, foram responsáveis por 36,5% do total exportado em 2016, o que denota a forte concentração do comércio de manufaturados no mundo. Frente a 2015, apenas Alemanha registrou crescimento (+1,4%), enquanto China (-8,3%) e EUA (-3,5%) tiveram desempenho negativo.
Quanto às importações totais de bens, o Brasil perdeu nada menos do que seis posições no ranking internacional nos últimos dois anos. Passou de 22º em 2014 para 25º em 2015 e finalmente para 28º em 2016. Nesse período, a participação brasileira no total importado recuou de 1,25% para 0,88% entre 2014 e 2016. Tal evolução deve ser creditada, sobretudo, à intensidade da recessão da economia brasileira nesse período.
Em boa medida, o comportamento das importações totais do Brasil se deveu à retração de nossas compras externas de bens manufaturados. Entre 2014 e 2016, neste caso a queda no ranking internacional foi ainda mais acentuada: perdemos sete colocações, ao passar de 22º em 2014 para 26º em 2015 e 29º em 2016. Com isso, a participação brasileira no total das importações de manufaturados saiu de 1,31% em 2014 para chegar em 0,92% em 2016.
Chama atenção o contraste do ritmo de retração das importações do Brasil em relação ao agregado mundial. Entre 2015 e 2016, as importações totais de bens do Brasil caiu nada menos que 20%, mas apenas 3% no mundo. Considerados apenas os bens manufaturados, o declínio chegou a 18,5% no caso brasileiro e a apenas 1% no mundo.
Em que pesem todas essas alterações do posicionamento brasileiro diante do comércio do restante do mundo, um aspecto se mantém inalterado: as colocações do Brasil nos rankings de exportações e importações globais – especialmente, de manufaturas – são desproporcionais em relação ao tamanho da economia brasileira, uma das dez maiores do mundo. Mudar isso requer um comprometimento sério do país com a competitividade, o que exigirá a fim de distorções das mais variadas naturezas (regulatória, tributária, de infraestrutura, de custo de juros etc), que há muito procrastinamos.
Cenário do comércio internacional de bens
O relatório de 2017 sobre comércio mundial da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostra que em 2016 o total das exportações mundiais atingiu US$ 20,5 trilhões, sendo 75% deste montante referentes ao comércio de bens e 25% ao de serviços.
As trocas mundiais de bens tiveram em 2016 a menor variação desde a crise de 2008: apenas 1,3% em volume. Vale lembrar que em 2015 havia crescido 2,6%. Como o PIB mundial medido a taxas de câmbio de mercado cresceu 2,3% no ano passado, mais uma vez o ritmo de comércio foi inferior ao da produção internacionalmente. Em valor, por sua vez, o comércio de bens caiu 3,3% em 2016 frente ao ano anterior. Esta queda se mostrou, ainda, generalizada entre as regiões do globo. Apesar de desfavorável, este resultado traz alguma melhora relativa, já que em 2015 a variação também foi negativa, porém de dois dígitos.
As razões principais para esta queda em valor não desprezível foram apreciação do dólar e a queda dos preços das commodities de 10% em média, que levaram à retração sobretudo do valor das exportações de combustíveis e minérios. Mas o diminuto crescimento em volume, como aponta a OMC, está abaixo da média firmada desde 1980 de 4,7%, bem como o crescimento mundial do PIB em 2016 esteve aquém da media desde 1980 de 2,8%. Existem forças estruturais internacionais, principalmente nas dinâmicas de investimento dos EUA e China, que estão se voltando mais para dentro neste momento, abalando as trocas internacionais.
Embora não tão forte quanto em 2015, os preços de algumas mercadorias continuaram a cair em 2016. Combustíveis sofreram redução de 16% no ano, o que se explica principalmente pela menor demanda energética do exterior por parte dos EUA, já os preços de matérias-primas agrícolas declinaram 5,7% e os de metais, 5,4%. Em contraste, os preços de alimentos cresceram 1,3%.
A apreciação do dólar em 2016 chegou a 4,4% em média, em relação às moedas de seus principais parceiros comerciais, tendo sido de 13% em 2015. O yuan também se apreciou, 4,6% neste caso, enquanto a apreciação do Euro foi de 1,9%. A libra, em contrapartida, depreciou 10%. A moeda indiana vem se mantendo relativamente estável, mas não deixou de apresentar uma tendência de depreciação desde meados do ano passado. As moedas do Brasil e da Rússia, por sua vez, após um movimento rápido e agudo de apreciação em 2015, vem se depreciaram desde então.
Assim, em 2016 as exportações mundiais de combustíveis e minérios em valor caíram 14%, enquanto alimentos cresceram 1% - esses produtos representaram, respectivamente, 13% e 10% do total de mercadorias exportadas mundialmente naquele ano. Já o valor das exportações de bens manufaturados sofreu retração de 2% em 2016, quando tiveram um peso de 73% nas exportações mundiais, sendo 12% produtos químicos, 11% equipamentos de telecomunicações e escritório, 9% veículos automotivos, 5% vestuário e têxteis.
Analisando as regiões em 2016, contata-se que o comércio dos países em desenvolvimento foi mais afetado do que dos desenvolvidos: as importações de bens dos primeiros aumentaram somente 0,2%, enquanto a dos segundos cresceu 2% - ambos em volume. Já as exportações dos países desenvolvidos cresceram 1,4% e a dos países em desenvolvimento, 1,3%.
Em valor, a maior parte das regiões do mundo teve queda nas importações e nas exportações em 2016. A América do Norte apontou retração de 6% nas importações, sendo -5,9% nos EUA, -11,9% no México e -1,9% no Canadá. As exportações médias da região também tiveram taxas negativa de crescimento (-0,2%), sendo que somente as dos EUA registraram crescimento de 1,1% em 2016.
O valor das exportações europeias de mercadorias, por sua vez, caiu 2,1% em 2016, e as importações, 1,2%, resultados mais fortes do que a retração anual média desde 2010. As exportações de bens da América do Sul também apontaram queda, de 0,5% em 2016, e as importações mais ainda, -3,0%. África e Oriente médio registraram perdas nas importações bem mais expressivas, -7,0% e -5,8%, respectivamente, enquanto as exportações tiveram variação negativa de 3,5% e 4,6%. Destoa desse cenário o crescimento de 40% das importações de mercadorias da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), embora as exportações tenham caído 2,9%.
Finalmente, na Ásia, o valor das importações de mercadorias caiu apenas 0,8% em 2016, enquanto as exportações cresceram 0,7%. O que segurou o resultado das exportações da região foi a absorção chinesa, que subiu 5% no período, enquanto a maior parte das outras economias apontou queda (destacando-se a retração de 14,5% das importações de bens por parte da Índia).
15.955100,0-3 Mundo 16.225100,0-3No ranking dos maiores exportadores de mercadorias de 2016 (incluindo comércio intra-europeu), a China continuou líder ainda que suas exportações tenham caído 8%, detendo 13,2% do total mundial. Nas colocações seguintes ficaram EUA, Alemanha, Japão e Holanda. A Coreia do Sul perdeu duas colocações e passou a ser a 8ª maior exportadora, enquanto Hong Kong e França assumiram a 6ª e a 7ª posição, respectivamente. Destacam-se, ainda, as recuperações no ranking de Austrália e Vietnã. O Brasil permaneceu na mesma 25ª posição de 2014 e 2015, mesmo com a queda de 3% no valor das exportações em 2016.
Já no ranking das importações de bens, em muito devido à recessão interna, o Brasil perdeu mais três posições, passando da 22ª em 2014 para a 25ª em 2015 e finalmente para a 28ª em 2016 (queda de 20% nas importações de bens em 2016). O líder continuou sendo os Estados Unidos, seguidos da China – ambos também assinalaram variação negativa nas importações em relação ao ano anterior (-3% e -5%, respectivamente). A Alemanha, a seu turno, apontou crescimento de 3% das importações de bens, mantendo-se na 3ª posição. Já as importações japonesas declinaram 6%, fazendo com que o país perdesse o 4º lugar no ranking para o Reino Unido em 2016.
A inserção do Brasil no comércio internacional
Pelo quinto ano consecutivo houve diminuição no valor absoluto em dólares das exportações e das importações brasileiras de bens, sendo que, como em 2015, a queda nas importações foi mais significativa que a das exportações, levando à perda de mais 3 posições no ranking das importações.
Assim, a participação do Brasil nas exportações mundiais de bens em valor se manteve em 1,16% em 2016, o mesmo patamar de 2015. Vale lembrar que a maior participação obtida pelo país na última década foi em 2011, quando alcançou 1,4% do total mundial exportado, considerando o comércio intra-União Europeia. Isso representou, naquele ano, ocupar o 22º posto entre os maiores exportadores mundiais. Em 2016, o Brasil ocupou o 25º lugar entre os maiores exportadores, considerando-se o comércio intra-União Europeia, e o 18º se este for desconsiderado.
Em termos de importações, por sua vez, a parcela brasileira apresentou queda considerável, passando de 1,07% do total exportado no mundo em 2015 para 0,88% em 2016. Neste ano, a posição do Brasil foi o de 28º maior importador (20º desconsiderando o comercio intra-UE).
Como tem sido característico do Brasil, suas colocações nos rankings de exportações e importações mundiais são desproporcionais em relação ao tamanho da economia brasileira, uma das dez maiores do mundo.
Comércio internacional de manufaturas do Brasil e do Mundo
A composição da pauta das exportações de bens do Brasil em 2016 teve um pequeno acréscimo na participação de manufaturas (medidas em dólares correntes), de 37% em 2015 para 39% em 2016, em detrimento de combustíveis e minérios. Isso se deve ao efeito da queda do preço das commodities já citado, mas também ao aumento das exportações de equipamentos de transporte. Produtos agrícolas e alimentos, entretanto, continuam sendo o principal grupo de mercadorias exportados pelo país – com parcela estável de 43% do total.
Já nas importações de bens, as manufaturas representam 77% do total – parcela ligeiramente superior à de 2015 (76%). Dentre os grupos da indústria de transformação, a parcela de produtos químicos passou de 22% para 25% entre 2015 e 2016, mas o subgrupo de máquinas e equipamentos de transporte continua sendo o de maior peso (37%). A parcela de importações de minérios e combustíveis perdeu 4 pontos percentuais, passando de 18% para 14% entre 2015 e 2016. Por outro lado, a participação de produtos agrícolas e alimentos subiu de 6% para 9% no mesmo período.
No ranking do comércio internacional de manufaturas em 2016, o Brasil se encontrava em posições inferiores àquelas do ranking do comercio internacional do total de bens: 30º maior exportador e 29º maior importador de manufaturas. Em 2015, o país ocupava, respectivamente, a 31ª e a 26ª colocação.
No caso das exportações, o Brasil ganhou uma posição no ranking na passagem de 2015 para 2016. Isso se deu em função do aumento de 1,8% das exportações brasileiras em dólares correntes de produtos manufaturados, enquanto no mundo essas exportações registraram declínio de 1,8%.
No caso das importações de manufaturados ocorreu um movimento de direção oposta: o Brasil caiu três posições, passando da 26ª para a 29ª entre 2015 e 2016. Na origem dessa descida está a severa retração de 18,5% das compras externas de manufaturados, em dólares correntes. Vale notar que este patamar de queda foi o de maior intensidade no grupo dos 30 maiores importadores mundiais de bens manufaturados.
Analogamente, a parcela do Brasil nas exportações mundiais de manufaturas em dólares correntes registrou elevação de 0,59% para 0,61% entre 2015 e 2016, enquanto nas importações caiu de 1,12% para 0,92%. As exportações de bens manufaturados do Brasil e do mundo apresentaram crescimento mais estável e menos volátil do que as exportações totais de bens, já que estas foram afetadas pelos efeitos nos preços das commodities. De 2015 para 2016, as exportações de bens manufaturados do Brasil conseguiram se elevar a despeito das quedas nas importações de manufaturas e nas exportações e importações totais de bens.
Perfil do comércio exterior brasileiro
Quanto aos principais produtos do comércio externo brasileiro em 2016, os itens agrícolas de exportação de maior importância foram os mesmos de 2015: grãos de soja, cana de açúcar, carnes, farelo/ óleo de soja e café. Dentre os produtos não agrícolas, estão minério de ferro, petróleo cru, celulose, outros produtos de aeronaves e carros.
Os principais produtos importados pelo Brasil variaram um pouco em relação aos de 2015, sendo que se destacaram, dentre os produtos agrícolas, trigo, milho, malte, leite e álcool. Os bens não agrícolas de maior valor de importação foram processados do petróleo e da cadeia dos veículos automotores, com valor adicionado superior ao das exportações, além de medicamentos e equipamentos de telecomunicação.
O relatório da OMC destaca que, em certos mercados, o Brasil chega a estar entre os dez maiores exportadores e importadores. Em 2016 foi o 3º maior exportador de produtos agrícolas e também de alimentos, com parcelas respectivas de 10,4% e 5% do mercado mundial desses produtos. O Brasil também foi o 9º maior exportador de ferro e aço, com parcela de 2,4% no comércio mundial desse produto (tendo sido o 7º em 2015). Como importador, o país se destacou como o 10º maior importador mundial de químicos em 2016, com 1,8% do mercado.
Sobre o destino das exportações brasileiras em 2016, em valor, os quatro principais países mantiveram as parcelas de 2015: China com 19%, União Europeia com 18%, EUA com 13% e Argentina com 7%.
Quanto às importações, sua origem foi ainda mais concentrada nesse mesmo grupo de países. Em 2016, a participação da China foi de 17%, União Europeia de 23%, EUA de 18% e Argentina de 7%. Estas participações nas importações brasileiras também foram parecidas com aquelas de 2015.