Carta IEDI
O emprego industrial por Intensidade Tecnológica: impacto da recessão e desempenho recente
Depois de uma severa crise de 2014/2016, a indústria vem conseguindo manter resultados positivos em 2017. Com isso, a despeito de uma performance que ainda deixa a desejar, o pior parece ter ficado para trás. Como resultado, o emprego industrial, que havia se comportado como uma verdadeira engrenagem de destruição de postos de trabalho, agora é uma das principais alavancas do aumento do número de ocupados.
Segundo os dados da PNAD-IBGE, ainda que tenha permanecido no negativo ao longo da primeira metade de 2017, a população ocupada avançou, no terceiro trimestre do ano, 1,6% frente ao mesmo período de 2016. Por ora, entretanto, o perfil das vagas geradas não é dos melhores, pois tem se concentrado no mercado informal (empregado sem carteira e por conta própria) e não no mercado formal que segue em retração.
O presente estudo se debruça sobre o desempenho do emprego industrial formal, ao longo do período de crise (2014-2016) bem como na fase de reação agora em 2017. São levados em conta a evolução do número de postos formais de emprego, que são preponderantes na indústria. Este tipo de ocupação, como se sabe, é caracterizada por maior estabilidade, maiores salários e um fluxo de rendimentos mais regular, de modo a ampliar o acesso ao crédito. Com isso, o emprego formal contribui muito para transformar ganhos de rendimento real em consumo.
Além disso, serão analisadas as trajetórias do emprego formal nos segmentos da indústria agrupados por intensidade tecnológica, seguindo a metodologia da OCDE. São quatro as faixas identificadas: alta, média-alta, média-baixa e baixa intensidade tecnológica. Para tanto, são utilizadas duas bases de dados de emprego formal divulgadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE): a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que registra o estoque de trabalhadores formais em 31/12 de cada ano, e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que se refere ao fluxo de criação líquida de vagas dos trabalhadores formais regidos pelo regime CLT (Consolidação das Leis de Trabalho), disponível até setembro de 2017.
Dentre os resultados obtidos pelo estudo, alguns merecem ser destacados por sintetizarem o quadro dos últimos anos e ilustrarem a contribuição da indústria na interrupção da escalada do emprego em 2017.
• Entre 2013 e 2016, foram perdidos 2,88 milhões de postos de trabalho com carteira assinada em todo o país, segundo a RAIS. Só na indústria de transformação foram fechadas 1,14 milhão de vagas, o que fez o setor o maior responsável pelo recuo total deste tipo de emprego, com uma contribuição de 40%. As duas outras atividades com as maiores quedas no estoque de empregado no período foram: construção civil (-907 mil postos ou 31% das perdas totais) e administração pública (-514 mil ou 18% das perdas totais).
• Dentro da indústria de transformação, os setores de maior intensidade tecnológica foram aqueles que mais registraram perda de emprego formal. Isso não chega a ser surpreendente dado que foram estes mesmos setores que suportaram as maiores quedas do volume de produção nos anos de crise. O declínio do contingente de empregados, segundo a RAIS, entre 2016 e 2013 chegou a 21,6% na faixa de alta tecnologia e a 20,6% no que média-alta tecnologia. Nos casos da média-baixa e baixa tecnologia as quedas foram de 17,8% e 9,6%, respectivamente.
• Em termos absolutos, isto é, em milhares de postos de trabalho formais, o ranking se inverte, dado que os setores de menor intensidade tecnológica são mais intensivos em mão de obra. Assim, os setores classificados como de baixa intensidade tecnológica reduziram 381 mil vagas entre 2013 e 2016, seguidos pelos de média-baixa (-333 mil), média-alta (-302 mil) e alta tecnologia (-85 mil).
• Em 2017, contudo, a indústria voltou a contratar. Segundo o Caged, no acumulado do ano entre janeiro e setembro, o saldo líquido de contratações na indústria de transformação foi de 76,4 mil pessoas. Metade desse aumento deveu-se a vagas geradas nos setores de baixa intensidade tecnológica. Já a faixa de média-baixa respondeu por 29% e a alta intensidade tecnológica, por 18%. No caso da média-alta tecnologia, foram criadas 2,5 mil vagas (3% do saldo total), em grande medida graças ao setor automobilístico (9,6 mil vagas). Outros setores de peso nesta faixa continuam desempregando, como máquinas, aparelhos e materiais elétricos e máquinas e equipamentos.
• Outra informação importante a ser ressaltada é que são as empresas de menor porte (até 19 funcionários) que têm mostrado um dinamismo maior no emprego em 2017. Este grupo de empresas foi o último a desempregar quando a crise teve início e vem sendo o primeiro a reempregar diante da melhora do quadro geral da economia. E isso a despeito das dificuldades enfrentadas, notadamente no que diz respeito às suas condições de financiamento, ainda muito restritivas. Nos doze meses encerrados em setembro de 2017, este grupo de empresas de menor porte foi o único a apresentar saldo positivo no emprego em todas as faixas de intensidade tecnológica com exceção da de média-baixa tecnologia. Todos os demais grupos por porte de estabelecimentos e de intensidade tecnológica apresentaram desempenho negativo nesta comparação.
Em suma, os setores de maior elasticidade-renda da demanda na indústria de transformação foram os que realizaram proporcionalmente maior ajuste em seu quadro de funcionários formais ao longo da crise. Os setores de baixa tecnologia, cuja demanda é menos elástica à variação da renda, funcionaram como um colchão amortecedor neste período, ainda que não tenham escapado de registrar redução do emprego (diferentemente do que havia ocorrido em 2009, quando a crise global atingiu o Brasil). Agora em 2017, a volta das contratações na indústria tem recibo fundamental contribuição das faixas de baixa e média-baixa intensidade tecnológica e, especialmente, dos estabelecimentos de menor porte.
Introdução
Os dados da produção industrial em setembro, divulgados recentemente pelo IBGE, trouxeram notícias positivas e negativas. Por um lado, ela voltou a crescer, após um forte recuo em agosto. Mesmo que o avanço tenha sido modesto (0,2% na série dessazonalizada), ele foi suficiente para garantir um crescimento de 0,9% da atividade produtiva na indústria no terceiro trimestre do ano. Com isso, essa atividade registrou variação positiva nos três primeiros trimestres de 2017, invertendo a trajetória de declínio que se iniciou no terceiro trimestre de 2014 e se estendeu até o último trimestre de 2016. Por outro lado, como já destacou o IEDI (ver Análise IEDI de 1/11/2016), o patamar de crescimento ainda é muito baixo e, em setembro, ele concentrou-se em poucos ramos da indústria.
Os dados da PNAD acerca do desempenho do mercado de trabalho de setembro, divulgados no período recente pelo IBGE (ver Análise IEDI de 31/10/2017), surpreenderam positivamente a maioria dos analistas, que esperavam uma recuperação bem mais lenta do emprego em 2017. Após ter recuado nos dois primeiros trimestres do ano corrente, no terceiro trimestre a população ocupada avançou 1,6% frente ao mesmo período de 2016, conduzindo a taxa de desocupação para 12,4% nesse trimestre contra 13% no trimestre anterior. Assim, o aumento da massa de rendimentos passou a se ancorar não somente no aumento do rendimento real, mas também em novas ocupações de forma bastante disseminada do ponto de vista setorial (10 setores da PNAD contínua). Todavia, há também notícias negativas, já que a geração de ocupações tem se concentrado no mercado informal (empregado sem carteira e por conta própria).
Esta Carta IEDI se debruça, exatamente, sobre o desempenho do emprego formal, caracterizado por maior estabilidade, maiores salários e maior acesso ao crédito e, com isso, maior capacidade de transformar ganhos de rendimento real em consumo – um dos pilares da recuperação em curso da economia brasileira, ao lado das exportações líquidas. Porém, há uma grande heterogeneidade entre os setores do mercado de trabalho formal, em função de vários fatores, dentre os quais o grau de intensidade tecnológica (IT).
A análise do emprego formal da indústria de transformação de acordo com o conteúdo tecnológico aqui apresentada será baseada na metodologia da OCDE, que agrupa os setores industriais em quatro segmentos (alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia). Para tanto, foram utilizadas duas bases de dados de emprego formal divulgadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE): a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que registra o estoque de trabalhadores formais em 31/12; e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que se refere ao fluxo de criação líquida de vagas (Admissão - Demissão) dos trabalhadores formais regidos pelo regime CLT (Consolidação das Leis de Trabalho) em períodos selecionados. Para a compatibilização dos dados da RAIS e do CAGED com a metodologia OCDE, foram utilizadas as divisões da indústria de transformação da CNAE 2.0 (Classificação Nacional de Atividades Econômicas).
Os dados foram atualizados até a última informação disponível: dezembro de 2016 no caso da RAIS e setembro de 2017 do CAGED. Como as séries de emprego têm grande sazonalidade, foram privilegiadas comparações de acumulado no ano ou de doze meses contra igual período dos anos anteriores. Os argumentos estão organizados da seguinte forma. Na seção 1, analisa-se o desempenho do emprego formal de 2006 a 2016 com abertura por grandes setores de atividade produtiva. Na seção 2, examina-se a evolução do estoque de emprego industrial por IT com base nos dados da RAIS desde o início da série, em 2006, com foco na recessão do biênio 2015-2016. A última seção tem como foco o fluxo de criação líquida de emprego na Indústria de transformação por IT no período mais recente a partir dos dados do CAGED.
1. A evolução do emprego formal na economia brasileira: sinais de recuperação?
O emprego formal na indústria de transformação apresentou crescimento de 20% entre 2006 e 2010, percentual muito próximo ao total das atividades produtivas (25%). Entre 2010 e 2014, no entanto, o ritmo de crescimento foi bem menor do que no quadriênio anterior e bastante inferior ao movimento geral de aumento das contratações formais. Em 2015 e 2016, anos de decréscimos no total de empregos formais do país, a indústria de transformação também seguiu a tendência, apresentando em 2016 um número de empregados formais apenas 8% superior ao registrado em 2006.
Com um desempenho pior do que o de outros setores de atividade na ampliação do emprego formal (sobretudo em comparação com a Construção Civil, o Comércio e os Serviços), a participação da indústria de transformação no total do estoque de emprego formal recuou de 18,8% em 2006 para 15,5% em 2016. No gráfico abaixo, pode-se observar uma redução gradativa nessa participação, ou seja, o emprego na indústria cresceu menos do que o de outros setores nos anos de elevação geral das contratações (2006 a 2014) e se reduziu mais do que o geral nos anos de crise (2015 e 2016), perdendo, em todo o período, peso relativo na estrutura de emprego formal do país.
No acumulado do ano de 2017 (de janeiro a setembro), o saldo líquido das contratações é positivo para a indústria de transformação (76.337 pessoas) e apenas menor do que o da Agropecuária (97.188 pessoas) e o do setor Serviços (78.190 pessoas). Comparado com o ano anterior, o resultado da indústria de transformação em termos de contratações é surpreendente (em igual período de 2016 o saldo foi negativo em 133.483 pessoas). O resultado no acumulado em 12 meses (de outubro de 2016 a setembro de 2017), no entanto, se mostra ainda muito ruim. Dos 500 mil desligamentos líquidos no total das atividades do Brasil, mais do que 100 mil foram provenientes da indústria de transformação. Construção Civil e Serviços foram responsáveis por quase todo o restante desse resultado negativo.
Os dados do último trimestre de 2017, em geral, composto por meses de demissões na indústria, será fundamental para saber se a indústria de transformação fechará com mais um ano de saldo líquido negativo de contratações formais (padrão observado desde 2014), como detalhado na seção 3.
2. O impacto da recessão de 2015-2016 sobre o emprego da indústria de transformação por IT
Na análise do emprego formal da indústria de transformação por IT, um primeiro aspecto a considerar é o peso dos diferentes agrupamentos. Considerando os anos inicial e final da série histórica (2006 e 2016), o perfil do emprego por IT permaneceu praticamente estável. Como era de se esperar, a maior participação encontra-se nos setores de baixa tecnologia. Em 2016, as vagas de trabalho nesses setores responderam por 54,6% do total. Em seguida, aparecem os subsetores de média-baixa tecnologia (23,2%) e os de média-alta (17,6%). Os subsetores de alta tecnologia apresentaram uma participação no emprego total de apenas 4,7%.
Considerando a evolução do emprego industrial por IT após 2009 (quando a economia brasileira foi atingida pelo efeito-contágio da crise financeira global, se recuperando já em 2010), nota-se um pequeno aumento da participação dos setores de média-baixa, média-alta e alta tecnologia até 2013. Em 2014, quando a crise na indústria teve início, o perfil do emprego formal por IT começou a se deteriorar novamente, movimento que se intensificou no biênio recessivo (2015-2016), ou seja, a participação do grupo de baixa tecnologia voltou a aumentar. A melhora do perfil que se observou até 2014 retrocedeu e a estrutura retornou ao padrão existente em 2006.
Essa mudança favorável, mesmo que modesta, na composição do estoque de emprego formal por IT entre 2010-2013, assim como sua reversão entre 2014-2016, decorreu do dinamismo diferenciado dos quatro setores considerados na fase de alta e baixa do ciclo econômico recente. Nota-se que, no período em que há elevação do emprego formal na indústria de transformação (2010-2013), aumenta a participação dos segmentos de média-alta e alta tecnologia, enquanto recua a da baixa tecnologia.
Em 2014, em sintonia com a produção da indústria de transformação (que começou a registrar taxas negativas no segundo trimestre de 2014, antes do início da recessão da economia brasileira, no primeiro trimestre de 2015), o estoque total de emprego iniciou sua trajetória descendente, que se intensificou no biênio recessivo (2015-2016). Nessa fase de baixa do ciclo, por sua vez, o setor de baixa tecnologia apresentou o menor ritmo de queda, o que explica seu aumento da participação no total. A tabela 1 do Anexo mostra que, no interior deste grupo, o subgrupo que apresentou maior aumento em sua participação é o de Alimentos, bebidas e produtos do fumo, justamente porque caracterizado por uma menor elasticidade-renda do consumo e, portanto, menos sujeito a fortes oscilações na produção e no emprego.
Os setores de alta e média-alta tecnologia, que tinham liderado o aumento do emprego na fase anterior, são os que mais desempregaram proporcionalmente quando a crise se instalou na indústria de transformação brasileira. Esse desempenho também é sincrônico com a produção industrial por IT, já que foram os setores de maior conteúdo tecnológico que registraram maior queda da produção neste biênio (ver Carta IEDI n. 802).
Ou seja, foram os setores industriais caracterizados por maior produtividade e maiores salários que mais sofreram na recessão recente da economia brasileira. Consequentemente, o tímido aumento da sua participação no total do emprego da indústria de transformação nos anos anteriores (2010-2013) foi revertido. No interior deste grupo de média-alta tecnologia, recuaram expressivamente as participações de Veículos automotores, reboques e equipamentos (-3,1 pontos percentuais - p.p.) e de Máquinas e equipamentos (-1,2 p.p.), cuja demanda é mais volátil – em função da sua maior sensibilidade, no primeiro caso, a variações da renda e do grau de endividamento das famílias e, no segundo caso, às decisões de investimento das empresas (Tabela 1 – Anexo)
Em números absolutos, o emprego formal na indústria de transformação alcançou em 2016 um estoque um pouco superior ao verificado em 2007. Entre 2006 e 2013, mesmo com o impacto da crise financeira internacional em 2009, verificou-se um crescimento do estoque de emprego formal da ordem de 25%. Entre 2014 e 2016, a queda foi expressiva, de 12,7%.
O agrupamento por períodos selecionados permite comparar a dinâmica desses subsetores no período do efeito-contágio da crise financeira global (2008-2009) e na recessão recente, a pior já registrada na economia brasileira (2015-2016). Os demais períodos referem-se à fase de expansão que precedeu essa crise (2006-2008), o ano de recuperação mais forte (2010) e os anos seguintes (2011-2014).
Em 2009, o total de empregos formais gerados ficou estagnado (+0,3%), mas houve um deslocamento interno entre os grupos. As maiores perdas, em torno de 2,3%, ocorreram nos setores de alta tecnologia e média-alta. Foram os subsetores de baixa tecnologia que aumentaram as contratações (+1,8%) e não permitiram uma retração do estoque total no contexto do efeito-contágio da crise financeira internacional. No ano seguinte, a recuperação no emprego industrial foi significativa (8,2%) e todos os grupos apresentaram desempenho próximo desse total, com destaque para o grupo de média-alta tecnologia (11%), que mais do que compensou a perda de empregos no ano anterior.
Já no biênio recessivo (2015-2016), o impacto da crise econômica no emprego formal da indústria de transformação foi muito mais intenso (contração de 5,6%), resultado que era de se esperar dado o efeito igualmente mais forte na produção. Neste período, o setor mais afetado foi o de alta-intensidade, mas sua contração foi muito maior do que em 2009 (8,7% contra 2,3%). Os demais setores (média-alta e média-baixa) também registraram recuos muito mais significativos (7,1% e 7,4%, respectivamente). Finalmente, no setor de baixa intensidade tecnológica, o estoque de emprego formal diminuiu 4%. Ou seja, ao contrário de 2009, os empregos nos subsetores de baixa tecnologia, mais intensivos em mão-de-obra e menos suscetíveis à piora nas condições de crédito e na diminuição da renda, não atuaram como “colchão-amortecedor” na recessão recente.
3. O desempenho recente do emprego por IT
A base de dados do CAGED permite que se observe o saldo de movimentação (total de admitidos menos total de desligados) no período mais recente. Enquanto os dados de estoque em 31/12 estão disponíveis até o ano de 2016, estes dados de fluxo estão disponíveis até setembro de 2017. Nos recortes de janeiro a setembro de 2014 a 2017, é possível observar um saldo positivo e superior do total de contratações da indústria de transformação em 2017 ao verificado nos três anos anteriores, no mesmo período. Ou seja: não somente se reverteu a queda acentuada observada no mesmo período de 2015 e 2016, como foi registrado um saldo mais elevado do que o observado em 2014, primeiro ano de recuo do estoque de emprego formal na indústria de transformação na década atual. Por este recorte, o pior período deu-se em 2015, quando a indústria perdeu, no total, mais de 262 mil empregos.
No entanto, como já indicado na primeira seção, considerando o acumulado em 12 meses, ainda é incerto se o ano de 2017 findará com um saldo de movimentação positivo na indústria de transformação. O último trimestre do ano é, como se sabe, um período em que o emprego industrial apresenta – em maior ou menor grau, a depender do que se espera para o ano vindouro – grande retração. Em 12 meses, o número de demissões na indústria ainda supera o de admissões em mais de 68 mil. Observe-se que, na atual recessão, o saldo se torna negativo em 2014 em razão do resultado do último trimestre (no período de janeiro a setembro de 2014, ainda se observou um saldo positivo de mais de 23 mil). Assim, em que pese o bom resultado no período de janeiro a setembro de 2017, é preciso ter cautela, uma vez que o saldo observado de outubro de 2016 a setembro de 2017 é negativo.
Observando a dinâmica entre os grupos, percebe-se que nesse recorte temporal todos os grupos de intensidade tecnológica têm desempenho negativo nos 12 meses findos em setembro, com destaque para o de média-baixa tecnologia (-39.706 vagas) e baixa tecnologia (-31.084 vagas). No grupo de média-baixa tecnologia, os subgrupos que mais desempregaram foram Produtos de minerais não metálicos (que compreendem cerâmica, cimento, vidro e pedras – produtos ligados à construção civil, setor fortemente atingido pela recessão recente) e de Produtos de metal e metalurgia. No grupo de baixa tecnologia, destacam-se Móveis, produtos de madeira, celulose e papel (-11.400) e Alimentos, bebidas e produtos de fumo (-11.151). Cabe notar ainda que o segmento de alta tecnologia, embora em termos absolutos tenha tido um menor saldo negativo (-11.972), foi o que apresentou uma maior retração com relação ao seu estoque de mão de obra em 2016 (desempregando cerca de 3,9% do total de seu estoque de empregados neste último período – Tabela 2 do Anexo). Neste grupo, chama atenção o desempenho negativo do subgrupo Outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores, que desempregou nesses últimos 12 meses mais de 10% de seu contingente empregado em 2016.
Uma última informação interessante sobre a dinâmica do emprego industrial no período recente refere-se aos estabelecimentos de pequeno porte – ou seja, até 19 funcionários –, que foram os últimos a desempregar quando a crise teve início e os primeiros a reempregar, quando se avizinhou uma melhora no quadro (Tabela 3 do Anexo). Com efeito, no último período observado (outubro de 2016 a setembro de 2017), este segmento foi o único que apresentou saldo positivo, em todas as faixas de intensidade tecnológica com exceção da de média-baixa tecnologia. Todas os demais segmentos de porte de estabelecimentos e de intensidade tecnológica apresentaram desempenho negativo.
Em suma, os setores de maior elasticidade-renda da demanda na indústria de transformação foram os que realizaram proporcionalmente maior ajuste em seu quadro de funcionários formais, tanto na fase de crescimento do emprego, quanto na de retração. Assim, os setores de baixa tecnologia, cuja demanda é menos elástica à variação da renda, exibiram uma participação no estoque total de empregados formais da indústria de transformação mais baixa na fase de crescimento e mais alta na fase recessiva. Vale ressaltar, ainda, que a retração do emprego industrial na recessão do biênio 2015-2016 foi muito mais profunda do que a verificada em 2009. Notadamente, até o setor de baixa intensidade tecnológica, que havia funcionado como colchão amortecedor naquela ocasião, apresentou saldo líquido negativo de criação de emprego.