Carta IEDI
A Indústria em Outubro de 2017: crescimento baixo, porém disseminado
Desde a entrada do segundo semestre, a indústria vem apresentando resultados positivos, na maior parte dos meses, porém muito próximos de zero. Outubro não foi diferente e registrou variação de +0,2% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. A falta de ímpeto, que faz com que a recuperação do setor por vezes se confunda com uma mera estabilização, denota a fragilidade desse processo.
Esse desempenho, ao menos, veio acompanhado de uma boa disseminação de variações positivas entre os ramos industrias: 15 dos 24 ramos acompanhados pelo IBGE, na série com ajuste. Infelizmente, esse quadro não se repetiu em termos regionais, já que apenas 6 dos 14 parques locais pesquisados conseguiram obter aumento de produção em outubro.
Um maior número de segmentos em alta é um fator relevante para dar consistência à trajetória de recuperação porque aumenta a possibilidade de se instalar um efeito virtuoso intra e intersetorial, em que o crescimento de um ramo industrial puxe outros, dando robustez ao crescimento e fazendo com que a indústria como um todo, cuja produção é um indutor de demanda para outros setores, contribua positivamente para o reerguimento da economia.
Apesar de espalhado, o dinamismo em outubro não contemplou ramos de peso na estrutura industrial do país, que vinham, inclusive, apresentando resultados majoritariamente positivos em 2017, como produtos alimentícios (-5,7% ante set/17 com ajuste), veículos (-0,1%) e produtos de borracha e plástico (-0,9%), entre outros. Espera-se que essas quedas sejam apenas pontuais. Em contrapartida, os maiores avanços couberam a farmoquímicos e farmacêuticos (+20,3%), bebidas (+4,8%) e vestuário (+4,3%).
Do ponto de vista dos macrossetores, dois têm funcionado como uma trava que impede um arranque maior na indústria: bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis. No primeiro caso, a produção está em uma gangorra, isto é, tudo aquilo que ganha em um mês, perde no mês seguinte (-0,8% ante set/17 com ajuste). Bens de consumo semi e não duráveis também apresentam uma trajetória cheia de altos e baixos, mas neste caso as quedas são predominantes (+2,0% agora em out/17).
O melhor desempenho cabe a bens de capital, com oito dos dez meses de que temos notícia com alta na produção na série com ajuste sazonal. Em outubro, a expansão de 1,1% interrompeu uma tendência de desaceleração que vinha se produzindo desde o início do segundo semestre. Em contrapartida, bens de consumo duráveis tiveram declínio de 2,0%, devolvendo parte do avanço obtido nos três meses anteriores.
Apoiado em exportações (notadamente de veículos) e na reação do consumo doméstico, bens de consumo duráveis compreendem o macrossetor de maior vitalidade em 2017: +12,4% até outubro. Se continuar em ascensão, pode chegar a compensar a perda de produção vista em 2016 (-14,3%). Há chances disso ocorrer, já que a confiança dos empresários industriais aponta para uma melhora do quadro geral do setor neste final de ano.
As exportações, vale notar, vêm se firmando como um destacado fator da reativação do setor como um todo. Em boa medida, a alta da produção de 5,3% frente a outubro do ano passado – o melhor resultado na comparação interanual – foi ajudado pelo aumento de nada menos que 21,4% do quantum de manufaturados exportados. No acumulado do ano até outubro, as exportações (+4,6%) continuam crescendo à frente da produção (+1,9%), contribuindo para sua recuperação.
Resultados da Indústria
Em outubro de 2017, a produção industrial variou +0,2% na comparação com setembro, já descontados os efeitos sazonais, somando-se à pequena alta de 0,3% em setembro de modo a compensar parcialmente o declínio de 0,8% verificado em agosto. Assim, na série com ajuste, os resultados positivos continuam majoritários em 2017, muito embora venham se mantendo próximos de zero ao longo da segunda metade do ano.
Já o desempenho industrial em comparação com o mesmo período de 2016 vem apresentando variações mais expressivas, ajudadas pelas bases de comparação ainda muito baixas. Ante outubro de 2016, o crescimento atingiu 5,3%, o mais elevado dentre os meses de 2017. Vale notar, contudo, que outubro de 2017 possui um dia útil a mais que outubro de 2016. Com isso, a trajetória que oscilava entre resultados positivos e negativos nos primeiros meses de 2017 deu lugar a um movimento mais consistente, de altas sucessivas, na segunda metade do ano.
Deste modo, a expansão no acumulado do ano avançou mais um pouco. No primeiro semestre do ano o crescimento havia atingido 0,6%; agora no total dos dez meses de 2017 o desempenho ficou em +1,9%, frente a igual período do ano anterior. Mesmo assim, continua-se muito aquém do necessário para recompor as perdas que a indústria sofreu entre 2014 e 2016, algo próximo de -20%.
A trajetória de redução das perdas no acumulado em 12 meses também foi preservada. Em setembro a indústria voltou a registrar alta nesta comparação (+0,4%, frente ao mesmo período do ano anterior), algo que não ocorria desde maio de 2014. Agora em outubro, a alta foi reforçada e chegou a +1,5%.
Em relação aos macrossetores, na comparação com setembro, descontados os efeitos sazonais, metade deles registrou crescimento: bens de consumo semi e não duráveis (+2,0%), e bens de capital (+1,1%). Em contraste, apontaram recuo na produção os bens de consumo duráveis (-2,0%) e os bens intermediários (-0,8%).
Os resultados de outubro de 2017 frente a outubro de 2016, a seu turno, foram positivos para todos os macrossetores: bens de consumo duráveis (+17,6%), bens de capital (+14,9%), bens de consumo semi e não duráveis (+4,9%) e bens intermediários (+3,1%).
Em outubro, o crescimento de 17,6% de bens de consumo duráveis – a décima segunda taxa positiva consecutiva – se deveu, em grande medida, ao avanço obtido na fabricação de automóveis (+23,7%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (+19,7%), bem como em eletrodomésticos da “linha branca” (+5,9%), móveis (+11,5%), outros eletrodomésticos (+6,6%) e motocicletas (+10,2%).
O avanço em bens de capital de 14,9% ante outubro de 2016 – o sexto resultado positivo consecutivo e o mais intenso desde dezembro do ano passado – foi alavancado pela produção de equipamentos de transporte (+25,8%), mas também de bens de capital para construção (+64,9%), para uso misto (+25,1%), para fins industriais (+6,9%) e para energia elétrica (+5,2%). O único impacto negativo ocorreu no grupamento de bens de capital agrícola (-15,1%).
Já o setor de bens de consumo semi e não-duráveis, que cresceu 4,9% ante outubro de 2016 – sendo o avanço mais acentuado desde fevereiro de 2014 –, teve seu desempenho explicado, principalmente, pela alta observada nos grupamentos de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+5,8%) e de semiduráveis (+8,9%), além de carburantes (+2,2%) e de não-duráveis (+1,1%).
O macrossetor de bens intermediários, por sua vez, cuja alta foi de 3,1% frente a outubro de 2016 – a sexta taxa positiva consecutiva e a mais elevada desde maio último –, viu avanços nos produtos associados às atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias (+19,6%), de metalurgia (+6,5%), de indústrias extrativas (+3,1%), de produtos de borracha e de material plástico (+9,9%), entre outros. As pressões negativas vieram de produtos alimentícios (-5,7%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,1%).
No acumulado dos primeiros dez meses de 2017, em relação ao mesmo período de 2016, houve expansão da produção nos quatro macrossetores: bens de consumo duráveis (+12,4%), seguido por bens de capital (+5,6%), bens intermediários (+0,9%) e bens de consumo semi e não duráveis (+0,7%).
Por dentro da Indústria de Transformação
O pequeno crescimento da produção industrial geral em outubro (+0,2%) foi resultado do avanço de 0,3% da indústria extrativa, frente a setembro de 2017, com ajuste sazonal, e de 0,5% da indústria de transformação, nesta mesma comparação. Em relação a outubro de 2016, o resultado da indústria de transformação foi de +5,6% e o do setor extrativista, de +3,0%. O crescimento de 5,3% da indústria geral foi, então, produzido por ambos segmentos, mas puxado sobretudo pelo setor manufatureiro. Em outubro, a produção da indústria de transformação acumulou no ano de 2017 alta de +1,4% frente janeiro-outubro de 2016. Nesta mesma comparação a indústria extrativa registrou crescimento de 5,8%.
Frente a setembro, na série com ajuste sazonal, o crescimento de 0,2% da indústria geral foi acompanhado pela maioria dos segmentos: apenas 15 dos 24 ramos pesquisados, com destaque para produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+20,3%) e bebidas (+4,8%), bem como para confecção de artigos do vestuário e acessórios (+4,3%), de metalurgia (+1,6%), de máquinas e equipamentos (+1,3%) e de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (+3,8%). Entre aqueles que não lograram crescer em outubro estão produtos alimentícios (-5,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,6%) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-3,2%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou alta de 5,3%, variações positivas marcaram o desempenho de 22 dos 26 ramos, 61 dos 79 grupos e 61,9% dos 805 produtos pesquisados, lembrando que outubro de 2017 teve um dia útil a mais que igual mês do ano anterior. Os destaques positivos ficaram a cargo de: veículos automotores, reboques e carrocerias (+27,4%), além de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+22,0%), máquinas e equipamentos (+8,3%), metalurgia (+6,5%), produtos de borracha e de material plástico (+9,9%), bebidas (+8,3%), artigos do vestuário e acessórios (+11,8%), entre outros. O ramo extrativo também cresceu (+3,1%). Em sentido oposto, entre as atividades que apontaram redução na produção a principal influência veio de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,5%).
No acumulado dos dez primeiros meses de 2017, frente a igual período do ano anterior, o crescimento de 1,9% da indústria geral foi acompanhado de resultados positivos em 18 dos 26 ramos, 48 dos 79 grupos e 53,8% dos 805 produtos pesquisados. Dentre as altas encontram-se veículos automotores, reboques e carrocerias (+16,1%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+20,4%), metalurgia (+2,9%), máquinas e equipamentos (+3,1%), produtos de borracha e de material plástico (+3,6%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (+5,5%), entre outros. A alta no ramo extrativo foi de 5,8%. Já as principais contribuições negativas compreenderam: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-7,4%), outros equipamentos de transporte (-11,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-5,4%) e minerais não-metálicos (-3,1%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de outubro de 2017 cresceu 21,4% frente a outubro do ano passado. Com disso, o resultado no acumulado do ano, que vinha se desacelerando no primeiro semestre, segue uma trajetória de melhora progressiva atingindo +4,6% frente a janeiro-outubro de 2016. Esta foi a quarta aceleração do quantum de manufaturados desde junho de 2017.
Em outubro, as importações em quantum de matérias-primas cresceram mais acentuadamente, registrando a maior alta desde março de 2017: +8,2% frente a outubro de 2016. No acumulado de janeiro-setembro, houve, então, aumento de 8,5% frente a igual período do ano anterior, em boa medida, decorrente da fase de crescimento da produção industrial, especialmente em bens duráveis, com maior participação de insumos importados.
Utilização de Capacidade
O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, foi de 74,3% em outubro de 2017. A melhora do indicador frente ao mês imediatamente anterior foi de 0,4 ponto percentual, interrompendo dois meses seguidos de declínio. O atual nível de utilização continua inferior à média histórica do próprio indicador (80,5%).
O indicador da CNI, a seu turno, também continuou registrando um nível historicamente baixo da utilização da capacidade em outubro de 2017: 77,7%, contra 81,2% na média desde jan/03. Na passagem de setembro (77,5%) para outubro houve aumento de 0,2 ponto percentual no indicador, já descontados os efeitos sazonais.
Estes dados sugerem uma melhora do quadro em relação ao final do ano passado, estando longe de retomar aos níveis de utilização pré-crise. Ademais, ao longo de 2017, assim como ocorre no caso da produção física, não tem havido nenhuma tendência de aumento sucessivo da utilização da capacidade, tanto no caso do indicador da FGV, como no da CNI, ambos marcados por alguma volatilidade.
A permanência da utilização da capacidade em níveis historicamente baixos e sem uma trajetória clara de melhora não é um bom indício para a evolução futura do investimento, isso porque máquinas e equipamentos atualmente ociosos deverão ser postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar sua capacidade de produção. Em contrapartida, a existência de capacidade ociosa significa que existem plenas condições de oferta para garantir uma recuperação da atividade econômica sem pressões inflacionárias.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, os estoques de produtos finais da indústria em outubro de 2017 assinalaram índice de 49,3 pontos, depois de ter atingido em julho o patamar mais elevado desde junho de 2015 (51,1 pontos). Vale lembrar que o indicador abaixo de 50 pontos indica redução dos estoques e acima, aumento deles.
Este resultado em outubro de 2017 foi condicionado tanto pelo segmento extrativo como pela indústria de transformação, cujo indicador de estoques ficou abaixo da marca dos 50 pontos, em 49,4 pontos. A indústria extrativa, também voltou a ficar consideravelmente abaixo dos 50 pontos: 44,8 pontos.
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral, em outubro, ficaram próximos do nível planejado, porém, um pouco abaixo da marca de 50 pontos, em 49,9 pontos – algo que não ocorria desde o mês de maio. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 46,1 pontos e 50 pontos, respectivamente.
Neste último grupo industrial, isto é, na indústria de transformação, 16 dos 27 ramos tiveram estoques iguais ou menores do que o planejado (50 pontos) em outubro de 2017, como em outros equipamentos de transporte (37,5 pontos), vestuário (44,8 pontos), informática, eletrônicos e ópticos (45,5 pontos) e biocombustíveis (45,8 pontos), entre outros. Cabe observar que, em setembro, 13 setores apresentavam índice igual ou abaixo de 50 pontos. Em contraste, constataram estoques efetivos acima do planejado os setores de máquinas e equipamentos (53,1 pontos), material plástico (53,2 pontos) e couros (54,5 pontos), entre outros.
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI (ICEI) atingiu em novembro de 2017 a melhor marca de 2017 e o nível mais elevado desde março de 2013: 56,9 pontos, abrindo boas perspectivas para o desempenho do setor no final do ano. Mais importante, esse desempenho resultou não apenas da melhora do componente de expectativas para o futuro (59,2 pontos), mas também de uma avaliação positiva das condições atuais dos negócios, que pelo segundo mês consecutivo ficou acima da marca dos 50 pontos em outubro de 2017 (52,3 pontos).
Por sua vez, o Índice de Confiança da Indústria de Transformação da FGV também indicou um quadro menos pessimista, evoluindo de 92,8 pontos em setembro para 95,4 pontos em outubro de 2017 e então para 98,3 pontos em novembro. Observa-se que, como o indicador ainda permanece abaixo da marca dos 100 pontos, a partir da qual a avaliação torna-se positiva, continua havendo certa insatisfação dos empresários com seus negócios. Porém, a marca de outubro último é a melhor de 2017 e a mais elevada desde fevereiro de 2014. Ademais, também neste caso a elevação do indicador se deveu tanto a seu componente expectacional (99,4 pontos) – que se aproxima muito da região em que se pode novamente falar em otimismo – como pelas avaliações da situação atual (97,2 pontos).
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Seu nível manteve-se estável entre agosto e setembro de 2017 em 50,9 pontos e apresentou avanço em outubro (51,2 pontos) e em novembro (53,5 pontos), indicando melhora das condições de negócio nos últimos meses, já que se manteve acima da marca de 50 pontos a partir de abril. A marca atingida em novembro, cabe observar, foi a mais elevada dos últimos oitenta e um meses.
Em síntese, depois da deterioração do quadro político do país no mês de junho, que impactou negativamente quase todos os indicadores de confiança, a expectativa e a avaliação da situação corrente da indústria vêm mostrando recuperação no segundo semestre do ano. O avanço dos indicadores de avaliação corrente é importante porque ratifica as expectativas positivas (ou menos negativas) em relação ao futuro. A contar por esses indicadores, o desempenho industrial em novembro pode ser mais satisfatório do que foi em outubro.
Anexo Estatístico
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)