Carta IEDI
Entre idas e vindas
Pelo que se viu em 2017, está claro que a recuperação da economia brasileira será muito mais lenta do que no passado. Por ora, este resultado é produzido por uma trajetória hesitante, isto é, pontuada por idas e vindas. Nesse sentido, outubro teve pouco a contribuir para o nível geral de atividade econômica.
Setores como comércio varejista e serviços fecharam no vermelho em comparação com setembro. A indústria, entretanto, conseguiu preservar um resultado positivo, porém muito próximo da estabilidade, como tem sido recorrente nesta segunda metade do ano. Já descontados os efeitos sazonais, as receitas reais do varejo e dos serviços recuaram, respectivamente, 0,9% e 0,8% em outubro, enquanto a produção industrial registou variação de apenas +0,2%.
A despeito dos resultados negativos em dois setores de peso na economia, segundo o indicador do Banco Central IBC-Br, que funciona como uma prévia do PIB, o avanço da indústria foi suficiente para gerar uma alta no nível geral de atividade econômica de 0,29% frente a setembro e já livre de efeitos sazonais. Em compensação, houve revisão do IBC-Br do mês anterior, cuja expansão de 0,4% foi reduzida para 0,27%.
Além do sinal negativo, varejo e serviços compartilharam dois outros aspectos: índices elevados de disseminação das quedas em termos setoriais e em termos regionais. Na passagem de setembro para outubro, houve retração em 7 dos 10 segmentos do comércio e em 4 dos 5 ramos de serviços. Regionalmente, dos 27 estados da federação, as vendas reais do varejo caíram em 22 deles e aquelas do setor de serviços em 20.
Diante dessa generalização de resultados negativos, a ocorrência da Black Friday em novembro, que pode ter adiado as decisões de consumo em outubro – especialmente de bens duráveis e semiduráveis –, não parece ser atenuante suficiente para o desempenho do varejo. Segmentos pouco afetados pelas promoções de novembro, como artigos farmacêuticos, médicos, de perfumaria e cosméticos e supermercados, alimentos, bebidas e fumo, também registraram quedas.
No setor de serviços, o único segmento com crescimento do faturamento real em outubro foi o de informação e comunicação, mas em um patamar próximo da estabilidade. O pior desempenho, por sua vez, coube a serviços prestados às famílias que, em função de seu componente alojamento e alimentação, vem apresentando um comportamento bastante volátil nos últimos meses
No setor industrial, a despeito do baixo dinamismo, outubro foi um mês em que a maioria de seus segmentos conseguiu crescer. Dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE, 15 deles apresentaram aumento de produção, com destaque para produtos farmoquímicos e farmacêuticos e de bebidas. Em contrapartida, a distribuição regional desse dinamismo não foi nada satisfatória: apenas 6 das 14 localidades acompanhadas registraram crescimento.
Entre os macrossetores industriais o placar ficou divido em duas altas e duas quedas. O melhor desempenho em outubro coube a bens de capital, registrando alta na produção na série com ajuste sazonal em oito dos dez meses de que temos notícia. Bens de consumo semi e não duráveis também cresceram em outubro, ainda que, juntamente com bens intermediários, venha funcionando, na maior parte do tempo, como trava que a impedir um arranque maior na indústria.
Bens de consumo duráveis, mesmo que não tenham se saído bem em outubro, devolvendo parte do avanço obtido nos três meses anteriores, é o que apresenta maior vitalidade em 2017, apoiado em suas exportações (notadamente de veículos) e na reação do consumo doméstico. Se continuar em ascensão, pode terminar o ano compensando a perda de produção vista em 2016.
Indústria
A indústria brasileira, em outubro, flertou com a estabilidade, ao crescer apenas +0,2% na série com ajuste sazonal. Mas há duas outras mensagens subjacentes a este resultado, uma positiva e outra negativa, que merecem ser destacadas.
A mensagem positiva veio da disseminação setorial do crescimento. Dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE, 15 deles apresentaram aumento de produção na passagem de setembro para outubro, já descontados os efeitos sazonais. Os destaques positivos ficaram a cargo dos ramos de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+20,3%) e de bebidas (+4,8%).
Entre os macrossetores o placar ficou divido em duas altas e duas quedas. O melhor desempenho coube a bens de capital (+1,1%), registrando alta na produção na série com ajuste sazonal em oito dos dez meses de que temos notícia. Bens de consumo semi e não duráveis também cresceram (+2,0%).
Em contrapartida, outubro não foi um bom mês nem para bens intermediários (-0,8%) nem para bens de consumo duráveis (-2,0%), que devolveu parte do avanço obtido nos três meses anteriores. De todo modo, bens de consumo duráveis continuam sendo o macrossetor a apresentar maior vitalidade em 2017, acumulando alta de 12,4% até outubro.
A mensagem negativa do resultado de outubro, por sua vez, diz respeito à distribuição regional desse dinamismo. Os dados divulgados pelo IBGE mostram que a minoria das localidades conseguiu evitar perdas: apenas 6 das 14 localidades acompanhadas.
Entre aqueles com declínio de produção, encontram-se parques importantes para a indústria nacional, como São Paulo (-1,2%), Minas Gerais (-1,2%) e Rio Grande do Sul (-0,6%). A região Nordeste como um todo também ficou no vermelho (-0,6%), devido a recuos acentuados tanto na Bahia (-7,0%) como em Pernambuco (-2,1%).
Deste modo, o mês de outubro significou mais um capítulo de nossa frágil recuperação industrial. Vale enfatizar que, no segundo semestre de 2017, toda vez que o setor registrou uma variação positiva, ficou muito próximo de zero. Regionalmente, esse comportamento foi derivado ora de trajetórias oscilantes – como em São Paulo, Amazonas, Paraná, Pará e Espírito Santo – ora de deteriorações evidentes, vindas desde o início deste segundo semestre, como em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, ou mais recentemente, como no caso do Nordeste.
Um exercício que mostra o significado dessa segunda metade de 2017 é, a partir dos dados livres de sazonalidade, identificar qual foi o avanço do nível de produção em relação ao final do ano passado (dez/16) depois de iniciada reação industrial. Percebe-se que, para o total Brasil, a melhora ocorreu mesmo na primeira metade do ano: +1,4% na comparação jun17/dez16. O avanço adicional nos meses seguintes foi muito menor, fazendo com que o nível de produção em out/17 fosse 1,9% superior àquele de dez/16.
Um comportamento semelhante também se verificou em São Paulo, dado que a contribuição do segundo semestre, até outubro pelo menos, foi praticamente nula. Ou seja, o nível de produção em junho estava 6% acima daquele de dez/16, mas em outubro tornou-se apenas 6,1% superior à de dezembro.
O panorama das demais localidades aponta para situações bastante contrastantes. Em alguns casos, a melhora do primeiro semestre foi perdida nos meses seguintes, como em Minas Gerais (+0,8% em jun17/dez16 e -3,0% em out17/dez16), em outros, como no Rio Grande do Sul (-2,5% e -6,7%, respectivamente), o que já não era bom ficou ainda pior na segunda metade do ano.
O Nordeste manteve-se em um nível de produção abaixo daquele de dez/16, mas ao menos a virada de semestre permitiu algum arrefecimento das perdas: a queda de 2,0% em jun17/dez16 refluiu para 1,1% em out17/dez16.
Nas demais localidades, porém, a segunda metade de 2017 até outubro deu um impulso adicional à recuperação de suas industrias, especialmente em Santa Catarina (+1,9% em jun17/dez16 e +5,0% em out17/dez16), Rio de Janeiro (+1,9% e +10,6%), Goiás (+7,4% e +11,7%) e Amazonas (+4,7% e +8,8%).
Comércio Varejista
O comércio varejista não se saiu nada bem em outubro de 2017, diferentemente da indústria que conseguiu preservar um resultado positivo, embora muito próximo da estabilidade. As vendas reais do varejo caíram 0,9% frente a setembro. Este foi seu segundo pior resultado em 2017 na série com ajuste sazonal.
Em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e materiais de construção, o quadro foi ainda pior ao registrar a retração mais intensa desde janeiro último: -1,4% ante setembro com ajuste, depois de uma sequência de quatro meses seguidos de crescimento.
Parte disso pode estar associada ao adiamento de consumo à espera da Black Friday no mês de novembro, o que pode não ter sido integralmente levado em conta pelo ajuste sazonal. Porém, este não parece ser o único fator explicativo, dada a disseminação das quedas.
Houve retração em 7 dos 10 segmentos pesquisados pelo IBGE, inclusive aqueles pouco afetados pelas promoções de novembro, como artigos farmacêuticos, médicos, de perfumaria e cosméticos (-0,7%) e supermercados, alimentos, bebidas e fumo (-0,3%).
Ademais, em alguns casos as quedas de outubro foram reincidentes, como em móveis e eletrodomésticos e veículos e autopeças (-0,4% e -1,9%, respectivamente), isto é, em setores que vinham apresentando uma trajetória mais favorável com seguidos resultados positivos até pouco tempo atrás.
Para outros segmentos, outubro funcionou como uma primeira interrupção desta mesma trajetória positiva, a exemplo de material de construção (-1,0%), que já somava cinco meses seguidos de alta, e supermercados, alimentos, bebidas e fumo, com crescimento nas vendas nos seis meses anteriores.
Entre os segmentos que se salvaram estão as vendas reais de combustíveis e lubrificantes (+2,4%) e livros, jornais, revistas e papelaria (+2,4%). Em ambos os casos, porém, seguidas quedas precederam a alta de outubro, que foi capaz de compensá-las apenas parcialmente.
O único segmento com crescimento a fugir deste padrão foi o de materiais de escritório, informática e comunicação, que apresentou, na série com ajuste sazonal, desempenho positivo tanto em setembro (+2,1%) como em outubro (+3,4%), mas isso depois da queda mais intensa do ano registrada em agosto (-9,9%).
Além da disseminação entre os segmentos do varejo, a perda nas vendas também atingiu a maioria dos estados em outubro. Foram 22 dos 27 estados da federação com variações negativas na comparação com setembro. Os piores resultados foram registrados no Nordeste, como em Alagoas (-4,5%) e Paraíba (-2,9%), mas estados com os maiores mercados consumidores do país não foram poupados, como Rio de Janeiro (-1,8%) e São Paulo (-0,9%).
Cabe sublinhar que o resultado de outubro, francamente adverso, não é bastante para configurar uma mudança de rota do comércio varejista, que pelas evidências da evolução do emprego, da massa real de rendimentos e do crédito para as pessoas físicas ainda tem tudo para fechar o ano com sinais claros de retomada. Frente a outubro de 2016, o comércio restrito registrou alta de 2,5% e o ampliado de 7,5%. No acumulado dos dez meses de 2017, por sua vez, os resultados chegam a +1,4% e +3,2%, respectivamente.
Serviços
Para o setor de serviços, a primeira metade de 2017 não contou com sinais claros de reação, mas ao menos havia algum resultado positivo na série com ajuste sazonal. Desde a entrada do segundo semestre, contudo, só se verificam quedas de faturamento real. Em outubro, foi de -0,8% ante setembro, já livre de efeitos sazonais.
Na comparação interanual, o resultado também foi negativo (-0,3%), como tem ocorrido seguidamente desde abril de 2015. Mas isso não significa que não haja certa moderação das quedas. Um dado ilustrativo é o ritmo de queda do primeiro trimestre de 2017 contra o trimestre móvel findo em outubro: -4,7% contra -2,0%, frente a igual período do ano anterior.
Já no acumulado dos dez meses de 2017, a receita real caiu 3,4%. Em contrapartida, o faturamento nominal caminhou em direção oposta e subiu 2,1%, o que evidencia que a inflação de serviços pode ter cedido, porém continua em níveis elevados. Assim, enquanto no varejo de bens, tal como avaliado pelo IBGE, a variação de preços cedeu para níveis muito baixos, o que ajudou na recuperação das vendas do setor, o mesmo não ocorreu para os serviços, onde os preços continuam contendo a demanda por parte das empresas e das famílias.
A situação dos serviços também é desfavorável quanto à disseminação de resultados negativos entre segmentos e localidades acompanhadas pelo IBGE. Agora em outubro, 4 dos 5 ramos de serviços, além do grupamento especial de atividades turísticas, registraram declínio na série com ajuste sazonal. Em termos regionais, 20 dos 27 estados da federação ficaram no vermelho. Neste quesito, o comércio varejista e os serviços tiveram um mês muito parecido.
O único segmento de serviços a apresentar crescimento do faturamento real na série com ajuste sazonal foi o de informação e comunicação, mas em um patamar próximo da estabilidade (+0,3% ante set/17). O segmento de outros serviços, que inclui atividades imobiliárias, financeiras, de manutenção e reparação etc., também ficou virtualmente estável, porém com sinal negativo (-0,1%).
O pior desempenho coube a serviços prestados às famílias (-2,3% em out/17 com ajuste) que, em função de seu componente alojamento e alimentação, vem apresentando um comportamento bastante volátil nos últimos meses (-4,9% em ago/17 e +5,9% em set/17).
Serviços profissionais, administrativos e complementares registraram declínio pela segunda vez consecutiva em outubro (-1,3%). Seu componente de serviços administrativos e complementares, em que se encontram muitas das atividades terceirizadas prestadas às empresas, é quem vem mostrando perdas sucessivas de faturamento (-2,4% em set/17 e -1,1% em out/17). Mas em outubro o componente de serviços técnico-profissionais também não foi poupado, recuando 2,8% na série com ajuste.
Já o segmento de serviços de transporte, seus auxiliares e de correios, que conseguiu se manter no azul na maior parte do ano, registrou declínio de 1,0% em outubro. Pelo menos esse resultado negativo não decorreu das atividades de transporte terrestre, mais estreitamente vinculada ao ritmo de crescimento econômico como um todo (+0,7%). Outro componente em alta em outubro foi o transporte aéreo, com +2,1%, já descontada a sazonalidade.
No acumulado do ano até outubro, os serviços de transporte e correios é o único segmento do setor com crescimento: +1,6% frente a igual período do ano anterior. Seu componente de transporte terrestre, contudo, conseguiu por ora apenas parar de cair, ficando estável frente a jan-out/2016.
Por fim, o grupamento especial de atividades de turismo também teve um mês de outubro ruim, com declínio de 1,5% de seu faturamento real frente ao mês anterior com ajuste sazonal. Neste caso, o ano de 2017 deve terminar substancialmente pior do que 2016: -6,6% em jan-out/17 contra -2,6% em 2016 como um todo.