Carta IEDI
A Indústria em Dezembro de 2017: Em rota de reação
O final do ano passado trouxe sinais promissores para o desempenho industrial nos primeiros meses de 2018, a exemplo da alta de 2,8% em dezembro frente a novembro, consistindo no melhor resultado desde junho de 2013 na série com ajuste sazonal, bem como da evolução favorável dos indicadores de confiança dos empresários do setor.
Esta foi uma forma favorável de encerrar 2017, o primeiro ano de recuperação da indústria depois de um longo período de aguda crise. Variações positivas marcaram a maior parte dos últimos doze meses e a maioria (19 de 26) dos ramos acompanhados pelo IBGE, indicando consistência da evolução. Deste modo, o crescimento da produção no acumulado do ano atingiu 2,5%.
Os fatores que ajudaram na trajetória ascendente da indústria compreenderam, sobretudo na primeira metade de 2017, os efeitos da supersafra agrícola e da liberação dos recursos do FGTS, que foram progressivamente sendo substituídos por fatores mais amplos, como o aumento da renda real devido ao forte recuo da inflação, a queda dos juros e o retorno do crédito às famílias. As exportações em ascensão também concorreram para a recuperação cíclica.
O que se espera em 2018 é que a reação industrial ganhe mais vitalidade. Este é um aspecto importante porque há muito o que recuperar para que o setor volte a ser o que era antes da crise. Basta notar, por exemplo, que em dezembro de 2017, o nível de produção ainda estava quase 14% abaixo do pico de junho de 2013 ou que o avanço de 2,5% da indústria em 2017 ficou muito aquém de compensar as perdas de 2016 (-6,4%), isto é, de apenas um dos três anos de queda pelos quais o setor passou.
Os últimos meses de 2017 indicam, de fato, um ritmo de expansão da indústria maior do que sugere o resultado no acumulado do ano. Para a indústria como um todo, a alta do quarto trimestre chegou a 4,9%, ou seja, quase o dobro do acumulado do ano. Este é um quadro que se repete também em cada um dos macrossetores industriais.
Em bens de consumo duráveis, o aumento da produção foi de 13,3% em 2017, mas chegou a 17,8% no quarto trimestre frente a igual período do ano anterior, sob influência principal da indústria automobilística, tanto na produção de veículos como de outros equipamentos de transporte, mas também dos demais bens, como eletrodomésticos e móveis.
Bens de capital, que juntamente com bens de consumo duráveis tiveram as melhores evoluções em 2017, apresentaram expansão de 6,0%, com direito a aceleração substancial no último trimestre (+10,7%), numa indicação de que desde o final do ano passado o investimento em máquinas e equipamentos vem tendo significativa recuperação. Pouco a pouco, todos seus segmentos voltaram ao azul, com exceção de bens de capital à agricultura, que havia crescido muito na passagem no final de 2016 até meados de 2017 em função da super safra.
O macrossetor de bens intermediários manteve uma trajetória de resultados trimestrais positivos e cada vez maiores. O crescimento de +3,9% no quarto trimestre, puxado por defensivos agrícolas e pelos intermediários da metalurgia e veículos, foi importante para garantir o resultado de +1,6% em 2017 como um todo.
Por fim, bens de consumo semi e não duráveis pouco avançaram na compensação de perdas passadas. A alta em 2017 foi de apenas 0,9%, mas muito em função do declínio de abril-junho, condicionado pelas produções de alimentos, bebidas, farmacêuticos e combustíveis. Na segunda metade do ano, a rota ascendente foi retomada, atingindo +2,8% no quarto trimestre.
Resultados da Indústria
Em dezembro de 2017, a produção industrial variou +2,8% na comparação com novembro, já descontados os efeitos sazonais. Deste modo, os últimos quatro meses foram de crescimento, acumulando alta de 4,2% na série com ajuste sazonal, em muito devido ao último mês do ano.
O ano de 2017 mostrou uma trajetória em que os resultados positivos, na série com ajuste, foram majoritários, muito embora venham se mantendo próximos de zero, especialmente, na segunda metade do ano, exceto o mês de dezembro. De todo modo, foi o suficiente para fazer de 2017 o ano da saída da crise industrial.
O desempenho da indústria em comparação com o mesmo período de 2016 apresentou variações mais expressivas, ajudadas pelas bases de comparação ainda muito baixas. Ante dezembro de 2016, o crescimento atingiu 4,3%. Com isso, a trajetória que oscilava entre resultados positivos e negativos nos primeiros meses de 2017 deu lugar a um movimento mais consistente, de altas sucessivas, na segunda metade do ano.
Deste modo, a expansão no acumulado do ano avançou 2,5% frente a 2016 e marcou o início da recuperação industrial. Em termos trimestrais, contudo, 2017 terminou melhor do que o desempenho anual sugere. O ritmo de crescimento, ao menos na comparação interanual, foi se intensificando, depois da quase estabilidade no segundo trimestre (0,4%), atingindo +3,2% no terceiro e +4,9% no quarto trimestre.
Em relação aos macrossetores, na comparação com novembro, descontados os efeitos sazonais, todos conseguiram evitar o terreno negativo. Três deles registraram crescimento: bens de consumo duráveis (+5,9%), bens de consumo semi e não duráveis (+3,0%) e bens intermediários (+1,7%). Bens de capital ficaram estáveis.
Os resultados de dezembro de 2017 frente a dezembro de 2016, a seu turno, foram positivos para todos os macrossetores. O grande destaque nesta comparação coube a bens de consumo duráveis, com alta de 20,8%, mas bens de capital (+8,8%) e bens intermediários (+4,2%) também apresentaram um dinamismo razoável. A menor expansão ficou por conta de bens de consumo semi e não duráveis (+0,2%).
Em dezembro, o crescimento de 20,8% de bens de consumo duráveis – a décima quarta taxa positiva consecutiva – se deveu, em grande medida, ao avanço obtido na fabricação de automóveis (+24,5%), motocicletas (+112,5%), eletrodomésticos da “linha branca” (+5,7%) e da “linha marrom” (+5,0%), móveis (+6,1%) e outros eletrodomésticos (+19,8%).
O avanço em bens de capital de 8,8% ante dezembro de 2016 – o oitavo resultado positivo consecutivo – foi alavancado pela produção equipamentos de transporte (+21,4%). As demais taxas positivas foram registradas por bens de capital de uso misto (+29,4%), para construção (+50,1%), para fins industriais (+4,4%) e para energia elétrica (+4,9%). O único impacto negativo foi no grupamento de bens de capital agrícola (-28,2%).
O macrossetor de bens intermediários, por sua vez, cuja alta foi de 4,2% frente a dezembro de 2016 – a oitava taxa positiva consecutiva –, viu avanços principalmente nos produtos associados às atividades de metalurgia (+18,1%), de veículos automotores, reboques e carrocerias (+18,4%), de produtos alimentícios (+7,1%), de celulose, papel e produtos de papel (+12,1%), de produtos de borracha e de material plástico (+8,5%), de produtos de metal (+7,7%), de outros produtos químicos (+2,4%), de produtos têxteis (+9,7%), de máquinas e equipamentos (+6,2%), de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+0,5%) e de produtos de minerais não metálicos (+1,0%).
Já o setor de bens de consumo semi e não-duráveis, que cresceu apenas 0,2% ante dezembro de 2016, teve seu desempenho explicado, principalmente, pela alta observada nos grupamentos de não duráveis (+4,7%) e de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+0,9%). As taxas negativas nessa categoria foram registradas nos subsetores de semiduráveis (-6,5%) e de carburantes (-1,6%).
No acumulado de janeiro a dezembro de 2017, em relação ao mesmo período de 2016, houve expansão da produção nos quatro macrossetores: bens de consumo duráveis (+13,3%), seguido por bens de capital (+6,0%), bens intermediários (+1,6%) e bens de consumo semi e não duráveis (+0,9%).
Por dentro da Indústria de Transformação
O crescimento da produção industrial geral em dezembro (+2,8%) foi resultado do avanço de 3,1% da indústria de transformação, frente a setembro de 2017, com ajuste sazonal. A indústria extrativa, nesta mesma comparação, apresentou declínio de 1,5%. Em relação a dezembro de 2016, o resultado da indústria de transformação foi de +5,7% e o do setor extrativista, de -3,0%. O crescimento de 4,7% da indústria geral foi, então, produzido apenas pelo segmento manufatureiro. Em 2017, a produção da indústria de transformação acumulou alta de 2,2% frente a 2016. Nesta mesma comparação a indústria extrativa mineral registrou crescimento de 4,6%, isto é, acima do resultado da indústria geral (+2,5%).
Frente a novembro, na série com ajuste sazonal, o crescimento de 2,8% da indústria geral foi acompanhado por: 20 dos 24 ramos pesquisados. Entre as principais influências positivas estão: veículos automotores, reboques e carrocerias (+7,4%), produtos alimentícios (+3,3%), produtos de borracha e material plástico (+6,9%), metalurgia (+4,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+10,3%), outros equipamentos de transporte (+15,2%), entre outros. Entre os quatro ramos que reduziram a produção em dezembro, estão produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-12,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,1%) e indústrias extrativas (-1,5%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou alta de 2,8%, variações positivas marcaram o desempenho de 20 dos 26 ramos, 51 dos 79 grupos e 54,0% dos 805 produtos pesquisados. Os destaques positivos ficaram a cargo de: veículos automotores, reboques e carrocerias (+25,1%), metalurgia (+18,1%), produtos alimentícios (+2,9%), celulose, papel e produtos de papel (+10,1%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+19,9%) e produtos de borracha e de material plástico (+8,0%), entro outros. Em sentido oposto, entre as cinco atividades que apontaram redução na produção, a principal influência no total da indústria foi registrada por confecção de artigos do vestuário e acessórios (-15,5%), além das indústrias extrativas (-3,0%).
No acumulado de janeiro a dezembro de 2017, frente a igual período do ano anterior, o crescimento de 2,5% da indústria geral foi acompanhado de resultados positivos em 19 dos 26 ramos, 51 dos 79 grupos e 56,4% dos 805 produtos pesquisados. Dentre as altas encontram-se, além das indústrias extrativas (+4,6%): veículos automotores, reboques e carrocerias (+17,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+19,6%), metalurgia (+4,7%), produtos alimentícios (+1,1%), produtos de borracha e de material plástico (+4,5%), entre outros. Das sete atividades com queda na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,1%) teve a maior contribuição negativa, seguido por outros equipamentos de transporte (-10,1%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,3%).
Cabe ressaltar que as três principais contribuições positivas somaram 2,15 pontos percentuais, isto é, 86% do desempenho geral de 2,5% da indústria em 2017: veículos automotores, reboques e carrocerias (1,22 p.p.), indústria extrativa (0,58 p.p.) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e outros (0,35 p.p.).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de dezembro de 2017 ficou estável frente ao mesmo mês do ano passado. Com disso, o resultado no acumulado do ano, chegou a +2,7%, sensivelmente inferior àquele de 2016 (+7,9%).
Em dezembro, as importações em quantum de matérias-primas caíram 0,3% frente a dezembro de 2016. No acumulado de janeiro-dezembro, houve, então, aumento de 7,0% frente a igual período do ano anterior, em boa medida, decorrente da fase de crescimento da produção industrial, especialmente em bens duráveis, com maior participação de insumos importados. Este resultado é praticamente o oposto do verificado em 2016, quando houve queda anual de 7,4%.
Utilização de Capacidade
O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, foi de 74,7% em dezembro de 2017. O indicador ficou praticamente estável frente ao mês imediatamente anterior (+0,1 ponto percentual) e subiu 1,5 ponto percentual ante dezembro de 2016. O atual nível de utilização continua inferior à média histórica do próprio indicador (80,4%).
Já o indicador da CNI encerrou o ano de 2017 em 78% no mês de dezembro, já descontados os efeitos sazonais. Frente ao mês anterior o avanço também foi de apenas 0,1% e frente a dezembro de 2016, de +1,6 ponto percentual. Manteve-se, contudo, abaixo da média histórica de 80,4%.
Estes dados sugerem uma melhora do quadro em relação ao final do ano passado, estando longe de retomar aos níveis de utilização pré-crise. Ademais, ao longo de 2017, assim como ocorre no caso da produção física, não tem havido nenhuma tendência vigorosa de aumento da utilização da capacidade.
A permanência da utilização da capacidade em níveis historicamente baixos e sem uma trajetória clara de melhora não é um indício favorável para a evolução futura do investimento, isso porque máquinas e equipamentos atualmente ociosos deverão ser postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar sua capacidade de produção. Em contrapartida, a existência de capacidade ociosa significa que existem plenas condições de oferta para garantir uma recuperação da atividade econômica sem pressões inflacionárias.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, os estoques de produtos finais da indústria em dezembro de 2017 assinalaram índice de 46,4 pontos, depois de ter atingido em julho o patamar mais elevado desde junho de 2015 (51,1 pontos). Vale lembrar que o indicador abaixo de 50 pontos indica redução dos estoques e acima, aumento deles.
Este resultado em dezembro de 2017 foi condicionado pelo segmento da indústria de transformação, cujo indicador de estoques ficou abaixo da marca dos 50 pontos, em 46,2 pontos. A indústria extrativa, ficou em 52 pontos.
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral, em dezembro, ficaram próximos do nível planejado, porém, um pouco abaixo da marca de 50 pontos, em 49,5 pontos. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 45,2 pontos e 49,7 pontos, respectivamente.
Neste último grupo industrial, isto é, na indústria de transformação, 19 dos 27 ramos acompanhados pela CNI tiveram estoques iguais ou menores do que o planejado (50 pontos) em dezembro de 2017, como em outros equipamentos de transporte (32,5 pontos), derivados de petróleo (39,6 pontos), vestuário (43,7 pontos) e borracha (43,8 pontos), entre outros. Cabe observar a boa evolução recente de setores com índice igual ou abaixo de 50 pontos: 13 em setembro; 16 em outubro; 17 em novembro e agora 19 em dezembro. Em contraste, constataram estoques efetivos acima do planejado os setores calçados (56,6 pontos), couros (56,3 pontos), e máquinas e equipamentos (53,0 pontos), entre outros.
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI (ICEI) atingiu em dezembro de 2017 a melhor marca de 2017 e o nível mais elevado desde fevereiro de 2013: 58,6 pontos, prenunciando o bom desempenho do setor no final do ano. Em janeiro de 2018, houve um novo avanço, para 59,3 pontos. Desde março de 2011 não se atingia tal patamar. A contar por isso, 2018 deve ter começado bem. Mais importante, o desempenho de janeiro de 2018 resultou não apenas da melhora do componente de expectativas para o futuro (62,1 pontos), mas também de uma avaliação positiva das condições atuais dos negócios, que pelo quinto mês consecutivo ficou acima da marca dos 50 pontos em dezembro de 2017 (54,0 pontos).
Por sua vez, o Índice de Confiança da Indústria de Transformação da FGV também indicou um quadro menos pessimista, passando de 98,3 pontos em novembro para 99,4 pontos em dezembro e permanecendo neste patamar em janeiro de 2018. Com isso, o indicador continua muito próximo da marca dos 100 pontos, a partir da qual a avaliação torna-se positiva. O nível em que o indicador se encontrava em janeiro deste ano foi o mais elevado desde janeiro de 2014. Ademais, seu componente de avaliação das condições correntes ultrapassou a linha de 100 pontos pela primeira vez depois de janeiro de 2014, ao atingir 100,9 pontos. Seu componente expectacional ficou em 98 pontos.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Seu nível vem se mantendo acima de 50 pontos desde abril de 2017, indicando melhora das condições de negócio, e atingiu 51,2 pontos em janeiro de 2018 (segundo mês consecutivo com algum declínio).
Em síntese, os indicadores de confiança apontam para um quadro favorável no início de 2018, em que a melhora na avaliação corrente vai ratificando as expectativas positivas em relação ao futuro que vinham ocorrendo desde o começo de 2017.
Anexo Estatístico
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)