Carta IEDI
Indústria 4.0: A Coreia do Sul e a Indústria do Futuro
O presente estudo analisa a evolução recente da política industrial da Coreia do Sul, país que é um caso de notável sucesso na estratégia de catching-up econômico, e faz parte da série de trabalhos que o IEDI tem divulgado a respeito da Indústria 4.0.
Experiências já tratadas em outras Cartas IEDI incluem a Alemanha (“Indústria 4.0: A Política Industrial da Alemanha para o Futuro”, Carta n. 807 , de 29/09/17), os EUA (“Indústria 4.0: O Plano Estratégico da Manufatura Avançada nos EUA”, Carta n. 820, de 11/12/17) e a China (“Indústria 4.0 – A iniciativa Made in China 2025”, Carta n. 827 de 26/01/18). Já os desafios e oportunidades que o advento da Indústria 4.0 traz para o Brasil foram analisados na Carta IEDI n. 797, de 21/07/17.
Na Coreia do Sul, a política industrial ativa foi peça-chave do seu rápido e contínuo desenvolvimento econômico, que em menos de cinquenta anos passou de uma economia rural em dos polos industriais mais importantes do mundo, situando-se entre as nações industrializadas avançadas. Deu origem a um grupo de empresas privadas muito fortes, conhecidas como chaebols, com apoio de empréstimos e subsídios governamentais e acesso preferencial a capital e tecnologia.
Desde a virada do século, a política industrial sul-coreana se concentra em promover futuras indústrias baseadas em tecnologias de ponta de última geração, estimulando empreendedorismo e a aplicação inovadora de tecnologia. A estratégia de apoiar o surgimento de uma Indústria 4.0 pode ser vista, assim, como uma continuidade de sua política industrial, fazendo do país um dos precursores desse movimento.
Nesse sentido, vale mencionar que embora o foco das políticas continue sendo a indústria de transformação, os serviços de alto valor adicionado e as atividades da economia do conhecimento ganharam crescente destaque e reforçaram, gradualmente, sua posição na economia sul-coreana na primeira década do século XXI. Medidas abrangentes foram adotadas, com intuito de melhorar a competitividade do setor de serviço e reduzir o diferencial de desenvolvimento em relação à indústria de transformação.
Dentre as iniciativas mais recentes da política industrial na Coreia do Sul, destaca-se a Iniciativa Movimento Inovação Industrial 3.0 (IIM 3.0), lançada em 2014, no âmbito do Plano Estratégico de Economia Criativa, com o propósito de disseminar o uso de fábricas inteligentes e o desenvolvimento de tecnologias básicas relacionadas a IoT, impressão 3-D e Big Data (processamento de dados, coleta de dados e compartilhamento de dados que podem ser usados para análise e previsão).
Os primeiros resultados da iniciativa IIM 3.0 foram bastante positivos. As empresas que operam fábricas inteligentes depois de receberem suporte financeiro, registraram ganho de produtividade da ordem de 25%, enquanto a proporção de deficiências diminuiu em 27%. De igual modo, refletindo os impactos das políticas, a participação dos investimentos em P&D para as pequenas e médias empresas aumentou de 12,4% em 2011 para 18,0% em 2015.
Dado o sucesso inicial da iniciativa e a rápida evolução da digitalização completa e automação na era da Quarta Revolução Industrial, os setores privado e público da Coréia do Sul concordaram, em ampliar o projeto de fábricas domésticas inteligentes. O objetivo anterior de 10.000 fábricas inteligentes até 2020 foi elevado recentemente a 30.000 de fábricas inteligentes, operando com as mais modernas tecnologias digitais e analíticas, até 2025.
Com intuito de preparar o país para a Indústria 4.0, o governo sul coreano lançou, em dezembro de 2016, o Plano de Médio e Longo Prazo para uma Sociedade de Informação Inteligente, que prioriza setores e domínios relacionados com a Tecnologia de Informação Inteligente (TI Inteligente). Com isso, estima-se que, até 2030, a indústria de transformação obterá ganhos de 95 trilhões de wons (algo como US$ 88 bilhões), com novas receitas e redução de custo associada à aplicação das TI Inteligentes no processo de produção.
O papel da Política Industrial na Coreia do Sul
Dando continuidade à série de estudos sobre experiências internacionais de apoio à Indústria 4.0, que já tratou dos programas de Alemanha, EUA e China, este estudo analisa a evolução da política industrial sul coreana. Para isso, foram utilizados documentos do governo sul-coreano e comunicados de imprensa dos ministérios de Comércio, Indústria e Energia (MOTIE) e do Ministério de Ciência, Tecnologia de Informação e Comunicação e Planejamento Futuro (MSIP).
As informações oficiais foram complementadas com estudos produzidos pelos pesquisadores do Centro Cadeias Globais de Valor da Universidade de Duke (STACEY Frederick e outros. Korea in Global Value Chains: Pathways for Industrial Transformation Duke GVC Center; KIET September 2017) e da OCDE (Industry and Technology Policies in Korea, 2014 e STI Outlook 2016) e pela Koma-Associação Coreana de Produtores de Máquinas Ferramentas (KMTI Fueling the Benefits of Creative Economy, 2015).
Também foram considerados artigos acadêmicos e de imprensa, tais como: Development of Innovative Strategies for the Korean Manufacturing Industry by Use of the Connected Smart Factory, de 2016, com autoria de Park Sungbum; Smart Manufacturing: Past Research, Present Findings, and Future Directions, realizado por Hyoung Seok Kang em parceria com outros autores, também em 2016. Outros artigos consultados foram Korea´s response for the next industrial revolution de Hang-Koo Lee, de 2014; Smart Factory: Innovation manufacturing 3.0 strategy needs better focus, de Suk-yee Jung, de 2015, e Smart industry in Korea, de Eun Ha Jeong, também de 2015.
Esses trabalhos apontam para o fato de que a excelência sul-coreana na indústria fora inicialmente impulsionada por políticas públicas organizadas em planos quinquenais contínuos ao longo da segunda metade do século XX, resultando em um rápido processo de industrialização. Esses planos lançaram as bases para o surgimento de algumas empresas, que se tornaram líderes mundialmente competitivas, apoiadas por investimentos pesados em capital humano e em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Uma relação estreita e efetiva entre a burocracia estatal e as empresas privadas, foi uma característica da política industrial da Coréia do Sul até o início da década de 1990, não obstante revelações públicas ocasionais de corrupção. A abordagem do país em relação à política industrial passou, ao longo do tempo, de um modelo de Estado forte para um modelo no qual o setor privado desempenha um papel mais proativo, o que foi facilitado pelo crescimento significativo das capacidades e recursos do setor privado nas últimas décadas. A despeito disso, o governo sul-coreano ainda desempenha um papel fundamental na facilitação do crescimento industrial, integração global e transformação pós-industrial, com ênfase em uma economia criativa baseada no conhecimento, crescimento das pequenas e médias empresas e P&D avançado e inovador.
A política industrial da Coréia da Sul deu origem ao surgimento de um grupo de empresas privadas muito fortes, conhecidas como chaebols. Em grande parte protegidos no mercado interno até a crise asiática em 1997, essas empresas contaram com forte apoio governamental, sob a forma de empréstimos, subsídios e acesso preferencial a capital e tecnologia. Várias dessas grandes empresas, que são tipicamente grandes conglomerados altamente diversificados, alcançaram proeminência em setores industriais-chave, incluindo automotivo, eletrônico e construção naval, e se tornam internacionalmente competitivas. Hoje, a Samsung, a LG e a Hyundai são nomes familiares ao redor do globo.
A Coréia do Sul tem sido considerada como um dos relativamente poucos exemplos da aplicação bem sucedida da política industrial para alcançar o catch-up econômico. Segundo o pesquisador do Instituto Coreano para Economia Industrial e Comércio (KIET), LEE Hang-Koo (2014), para o sucesso da política industrial sul-coreano contribuíram os seguintes fatores:
• Empreendedorismo com apoio governamental;
• Baixo preço do capital e dos terrenos (distrito industrial);
• Empregados extremamente dedicados;
• Inovação tecnológica;
• Estrutura industrial verticalmente integrado, o que garante uma base estável de suprimento;
• Indústrias conexas bem-desenvolvidas.
Desde a década de 1970, sucessivos governos coreanos usaram uma ampla variedade de políticas industriais seletivas estratégicas para moldar o desenvolvimento da economia. Certos setores da economia foram priorizados em uma sucessão de planos quinquenais de desenvolvimento econômico. Ação para apoiar os setores prioritários foi realizada em diversas áreas de políticas, incluindo inovação e tecnologia, financeira, comércio e investimento, educação e treinamento e infraestrutura. À medida que a economia se desenvolveu, os setores visados pela política industrial mudaram.
Da ênfase inicial na indústria leve intensiva em trabalho, infraestrutura e energia, o foco mudou, ao longo do tempo, primeiro para indústrias pesadas e químicas, intensivas em capital, e posteriormente para indústrias de alta tecnologia, principalmente eletrônicos de consumo. Já partir do final da década de 1990, a estratégia industrial coreana se concentrou em tecnologias e a ênfase mudou para a promoção da P&D e da inovação, como meio de alcançar uma posição de liderança tecnológica.
Todavia, a partir da segunda metade da década de 1990, e ainda mais após a crise financeira asiática de 1997-1998, o governo sul-coreano cedeu às orientações dos organismos internacionais, como Banco Mundial e Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em mudar sua política de desenvolvimento industrial orientada para o catch-up, com base em extensa mão de obra e entrada de capital, e buscar novos motores de crescimento. Seguindo essas recomendações, o governo do presidente Kim Dae-jung (1998-2003) realizou no país reformas drásticas em diversas nas áreas da economia, mas o ativismo na política industrial e, sobretudo, a ênfase nas prioridades setoriais foram mantidas.
Em função dos impactos econômicos da crise da Ásia, o governo promoveu uma ampla reorganização industrial, cujos objetivos principais foram: i) reestruturar empresas insolventes que não pudessem pagar suas dívidas e ii) fortalecer a disciplina do mercado para evitar futuras crises. Nesse processo de restruturação corporativa, as instituições financeiras estatais foram peça-chave. Na Coreia do Sul, instituições financeiras governamentais são importante mecanismo para a realização de objetivos de política industrial.
Além da reestruturação do setor corporativo, que envolveu especialmente os 30 maiores conglomerados, o governo sul-coreano agiu na promoção do setor privado mediante a promulgação em 1999 do Ato de Desenvolvimento Industrial, com objetivo de apoiar o avanço na estrutura industrial, o aprimoramento da competitividade e a promoção da criação de novas indústrias tanto no setor da indústria de transformação como nos demais setores de atividade econômica.
Desde a virada do século, a política industrial na Coreia do Sul tem sido impulsionada principalmente a nível ministerial e se concentra em promover futuras indústrias. Como pode ser observado no quadro abaixo, a política novos motores de crescimento introduzida em 1998 segue em vigor nos dias atuais, embora o seu foco tenha sido modificado continuamente, de acordo com a estratégia de transformar a Coreia do Sul em uma economia baseada em conhecimento e inovação. Porém, os sucessivos governos no período mais recente introduziram mudanças significativas nas instituições responsáveis pela concepção e execução de políticas, que inevitavelmente acarretaram alguma descontinuidade nos programas e políticas.
No entanto, a partir de 2013, o governo sul-coreano colocou menos ênfase nas prioridades setoriais, concentrando atenção em tecnologias estratégicas. Ou seja, a política industrial sul-coreana passou a enfatizar mais a segmentação por tecnologia do que a segmentação por setor. Essa redução da ênfase na definição explícita de políticas setoriais seletivas na Coréia do Sul está em consonância com o pensamento econômico convencional sobre as dificuldades práticas de escolher vencedores e os perigos da captura por interesses criados. Todavia, como ressalta a OCDE (2014), tal mudança ocorreu, ironicamente, em um momento em que, por uma variedade de razões, vários países industrializados avançados estão experimentando novas abordagens para a política industrial.
Em vários países industrializados, como Alemanha, Dinamarca, França, Japão, Reino Unido, Holanda, há solicitações para políticas industriais para fortalecimento de setores específicos, tecnologias ou áreas de atividade econômica, como manufatura avançada, serviços empresariais intensivos em conhecimento ou a economia "verde", com o objetivo de promover novas fontes de crescimento econômico. Alguns desses países realizam escolhas estratégicas tanto de tecnologias como de setores, combinação que resulta em várias vantagens, dentre as quais, fornecer um canal vital que liga ciência e tecnologia às necessidades da indústria.
Como será visto a seguir, nos anos 2000, a Coréia do Sul buscou se transformar economia do conhecimento e inovação. Novas fontes de crescimento adequadas a esse objetivo foram identificadas e amplos programas foram lançados. Ainda que a política industrial tenha mantido o foco na indústria de transformação, os serviços de alto valor adicionado e as atividades da economia do conhecimento ganharam maior destaque na política e reforçaram, gradualmente, sua posição na economia sul-coreana na primeira década do século XXI.
Esses serviços intensivos de conhecimento são considerados como soluções para problemas de emprego na sociedade pós-industrial, por essa razão medidas abrangentes de política governamental foram adotadas na Coreia do Sul, com intuito de melhorar a competitividade do setor de serviço, reduzindo o diferencial de desenvolvimento em relação à indústria de transformação. De acordo com Stacey e outros (2017), o progresso na criação de emprego no setor de serviços de alto valor é especialmente importante para o país, uma vez que a criação de emprego doméstico pelas grandes empresas sul-coreanas diminuiu em razão tanto do aumento de sua produtividade quanto da ampliação da participação de sua produção no exterior. Entre 1995 e 2010, a participação das grandes corporações no emprego doméstico caiu de 18% para 12%, enquanto as suas operações no exterior se expandiram significativamente.
A Transformação da Coreia do Sul em uma Economia baseada em Inovação
Como já mencionado, a partir do final da década de 1990, os esforços dos sucessivos governos sul-coreanos se concentraram em transformar o país em uma economia do conhecimento, com uma diversificação de setores baseados em inovação. Com o propósito de transformar a Coréia do Sul em uma economia impulsionada pela inovação, foram adotadas inúmeras medidas de tecnologia e inovação, coordenadas à promulgação de leis e planos estratégicos nacionais. Também foi criado em 1999, o Conselho Nacional Científico e Tecnológico, cuja presidência ficou a cargo do presidente da República.
Peça central nesse processo foi a Estratégia Visão 2025, cujos objetivos foram definidos para três fases, abrangendo um período total de 25 anos, cada uma delas definida por um tema unificador, que caracteriza o foco principal de atividade para esse período.
Na primeira fase, que foi de 2000 até 2005, a Coreia do Sul buscou colocar as capacidades científicas e tecnológicas em níveis competitivos com os dos principais países do mundo, mobilizando recursos, expandindo infraestrutura industrial, aumentando os investimentos e a eficiência do P&D e melhorando leis e regulamentos relevantes, em linha com as tendências de inovação liderada pelo setor privado. Partindo da 28ª posição na classificação mundial por competitividade tecnológica, a Coreia do Sul pretendia se posicionar entre os décimos primeiros colocados até 2005, bem a frente de outros países asiáticos. Na sua fase, até 2015, o país pretendia se destacar como um importante país promotor de P&D na região Ásia-Pacífico, e se tornar um centro de estudos científicos e de informações baseadas no conhecimento corrente e em ideias relacionadas à comunicação, criando uma nova atmosfera propícia à promoção de P&D e à transferência de tecnologias e desenvolvendo infra-tecnologias de informação, tais como semicondutores de nova geração, computadores e internet. Na terceira fase (até 2025), a Coreia do Sul busca alcançar uma competitividade científica e tecnológica em áreas selecionadas (tecnologia de informação, tecnologias de sistemas e mecatrônica, energia, meio-ambiente, novos materiais e ciências da vida) comparáveis às dos sete principais países e elevar a contribuição da C&T ao crescimento econômico de 19% em 1999 para 30% em 2015.
Formulada em 1999 pelo Comitê de Planejamento, instituído pelo presidente Kim Dae-jung, e lançada em junho de 2000, a Visão 2025, que tem servido de norte ao planejamento industrial e tecnológico de sucessivos governos sul-coreanos, propôs igualmente mudanças fundamentais na política de ciência e tecnologia do país: i) passar de um sistema de inovação liderado pelo governo e orientado para o desenvolvimento para um sistema privado de inovação liderado pela indústria e orientado para a divulgação; ii) mudança de um sistema de P&D fechado para um sistema de P&D em rede global; iii) passar de uma estratégia de aprimoramento do investimento dominada pela oferta para uma estratégia eficiente de distribuição de investimentos; iv) passar de uma estratégia de desenvolvimento de tecnologia a curto prazo para uma estratégia de inovação de mercado a longo prazo; e v) avançar para um sistema de inovação nacional liderado por ciência e tecnologia.
Com base na Visão 2025, foi elaborada a Lei-Marco de Ciência e Tecnologia, com o propósito de promover e planejar o desenvolvimento de longo prazo da ciência e da tecnologia de forma mais sistemática. Aprovada em 2002, essa lei forneceu a base jurídica dos Planos Quinquenais de Básicos de Ciência e Tecnologia (2003-07, 2008-12, 2013-2017), que são o guia geral para a condução da política científica e tecnológica na Coreia do Sul.
O governo do presidente Kim apoiou fortemente as tecnologias de comunicação e informação (ICT, na sigla em inglês). Também foram incentivadas as empresas de risco, definidas na legislação sul-coreana, segundo a OCDE, como pequenas empresas de base tecnológica e com alto potencial de crescimento, que contam com apoio financeiro de capital de risco.
Dando continuidade às iniciativas do seu antecessor, o governo do presidente Roh (2003-2008) colocou a C&T no topo de sua agenda política para promover o crescimento econômico. Com esse propósito, em 2003, reforçou o papel do Ministério da Ciência e Tecnologia (MOST), que se tornou a agência central para o planejamento, coordenação e avaliação de políticas de C & T, em cooperação com outros ministérios. O status do ministro da MOST foi elevado ao nível de vice-primeiro ministro. Igualmente, o sistema nacional de inovação foi restruturado de modo a fortalecer as funções intermediárias, eliminar os gaps entre os atores de inovação, melhorar o desempenho do sistema de inovação, modernizar a infraestrutura de inovação. Foram adotadas medidas para modernizar e fortalecer a capacidade de inovação, melhorar a eficiência dos investimentos em P&D, assegurar a oferta de trabalhadores altamente qualificados; modernizar os mecanismos de difusão tecnológica, o desenvolver tecnologias em áreas-chave, tais como: futuras tecnologias básicas (bio e nanotecnologias), megaciência (tecnologias espacial e marinha), energia, e bem-estar (saúde e transporte).
Nesse contexto, o governo sul coreano lançou uma grande iniciativa voltada para a inovação em todos os setores da economia e elegeu as regiões subnacionais - que estavam subdesenvolvidas em relação à área da capital - como uma nova fonte de crescimento. Como parte desse esforço, foi introduzido e executado o Plano Quinquenal de Desenvolvimento Nacional Equilibrado (2004-2008), que incluiu a realocação nas províncias dos institutos governamentais de pesquisa científica e tecnológica para promover o desenvolvimento de clusters regionais de inovação.
Dez indústrias - como TV digital, displays de computador, produtos biomédicos, semicondutores de próxima geração, baterias de próxima geração, automóveis do futuro, robôs inteligentes, comunicações móveis de próxima geração, redes inteligentes e soluções de conteúdo e software digital - foram designados como motores de crescimento da próxima geração. Esse programa de motores de crescimento da próxima geração recebeu investimentos do governo sul-coreano da ordem de 3,1 trilhões de wons (aproximadamente US$ 2,8 bilhões) no período 2004-2008.
No início da administração Roh, as políticas regionais relacionadas ao sistema de inovação ganharam destaque na política industrial. As quatro principais políticas de inovação regional foram: 1) criação da base para o estabelecimento do sistema regional de inovação (RIS, na sigla em inglês), 2) fortalecimento da capacidade de inovação das universidades nas províncias, 3) promoção de ciência e tecnologia em regiões provinciais e 4) estabelecimento de redes de instituições de pesquisa de indústria e das universidades. O esforço para fortalecer as redes regionais de inovação progrediu com a organização de conselhos regionais de inovação que desempenharam o papel de inovadores e coordenadores em cada uma das províncias.
Para assegurar a melhoria da competitividade local e regional bem como o desenvolvimento nacional equilibrado, cada uma das 16 regiões administrativas provinciais - incluindo a cidade especial de Seul, seis cidades metropolitanas e nove províncias - selecionou e promoveu quatro de suas próprias indústrias estratégicas, com base nas capacidades presentes e potenciais. Além disso, vários tipos de indústrias locais de pequeno porte foram incentivados e apoiados com o objetivo de construir os sistemas regionais de inovação.
Também no âmbito do Plano de Desenvolvimento Nacional Equilibradas, em 2004, foi lançado o Programa Clusters e Complexos Industriais (ICCP, na sigla em inglês). No início do programa, sete complexos-piloto foram selecionados em 2005, e seus setores especializados foram os seguintes: Banwol-Sihwa (peças e materiais), Ulsan (automóveis), Changwon (máquinas), Gumi (eletrônica), Gwangju (fotônica), Gunsan (máquinas e autopeças) e Wonju (equipamentos médicos). Em 2008, foram designados cinco complexos adicionais, como Namdong (peças de máquinas), Ochang (eletrônicos e informações), Seongseo (mecatrônica), Noksan (equipamento de construção naval) e Daebul (construção naval).
Dado o elevado grau de polarização da economia sul-coreana, o governo do presidente Roh lançou igualmente uma estratégia de política industrial denominada "win-win". Essa política procurava estimular relações mais equilibradas entre as grandes empresas e as pequenas e médias empresas (PMEs). O governo subsequente do presidente Lee deu continuidade à estratégia "win-win", alterando o nome para “crescimento compartilhado”, porém efetuou mudanças importantes na política, o governo criou o Comitê Nacional de Parceria Empresarial foi formado com representantes de conglomerados e pequenas empresas. Esse Comitê sugeriu áreas de negócios adequadas para as PMEs, nas quais as grandes empresas deveriam evitar avançar e a introdução de um sistema de participação nos lucros.
Empossado em fevereiro de 2008, o novo governo, do presidente Lee, lançou a Estratégia Economia do Conhecimento, que incluiu a transformação do Ministério do Comércio, Indústria e Energia em Ministério da Economia e do Conhecimento (MKE). Nessa estratégia, o governo buscou novas fontes de crescimento, como “crescimento verde”, e designou uma seleção de 17 setores e tecnologias como novos motores de crescimento da economia sul-coreana, a saber:
• Tecnologia verde: energia nova e renovável, energia com baixo teor de carbono, tecnologia avançada de tratamento de água, aplicação de LEDs, sistemas de transporte verde e cidades verdes de alta tecnologia;
• Convergência de alta tecnologia: transmissão e comunicações, convergência de tecnologia de informação, robôs inteligentes, nanotecnologia, biofarmacêutica e dispositivos médicos, indústria alimentar de alto valor agregado;
• Serviços de valor agregado: saúde, educação, financiamento verde, conteúdo e software, e convenções e turismo.
Na área de ciência, tecnologia (C&T), além do Plano Quinquenal Básico 2008-2012, o governo Lee anunciou, em dezembro de 2008, a "Iniciativa 577", que incluiu vários objetivos ambiciosos: alcançar uma intensidade de P & D de 5% até 2012; concentrar-se em sete áreas tecnológicas-chave e sete sistemas de apoio (recursos humanos de classe mundial, pesquisa básica e fundamental, inovação de PMEs, globalização de ciência e tecnologia, inovação regional, infraestrutura de ciência e tecnologia e cultura de ciência e tecnologia). Com essa iniciativa, a Coreia do Sul visava tornar-se um dos sete principais poderes científicos e tecnológicos do mundo.
As sete áreas tecnológicas prioritárias da Iniciativa 577 são: 1) tecnologias industriais-chave (que inclui as tecnologias utilizadas na indústria automotiva, eletrônica de consumo, semicondutores, indústria naval, máquinas carros-chefes da indústria de transformação sul-coreana); 2) tecnologias industriais emergentes (tecnologias convergentes baseadas em tecnologia de informação, ciências do cérebro, medicamentos, equipamentos de diagnóstico, entre outros); 3) tecnologias de serviços baseadas no conhecimento (tecnologias de manufatura inteligente, design, tecnologia da cultura), 4) tecnologias lideradas pelo Estado (que inclui o programa espacial do país, desenvolvimento de energia nuclear e tecnologias militares, como armas de próxima geração), 5) tecnologias relacionadas a assuntos nacionais (megatendências relacionadas ao bem-estar da população); 6) tecnologias relacionadas a problemas mundiais (novas fontes de energia, meio ambiente e mudança climática, e 7) pesquisa básica e tecnologias convergentes que são a base das inovações de próxima geração (biochips e biosensores, robôs inteligentes, nanotecnologia baseada em materiais compósitos,). Nessas sete áreas tecnológicas foram identificadas 50 tecnologias críticas e 40 tecnologias prospectivas.
Para viabilizar o aumento da intensidade do P&D, o governo Lee elevou as despesas de P&D em 50%, de US$ 8,4 bilhões em 2008 para US$ 12,6 bilhões em 2012. A pesquisa básica recebeu metade desses recursos. Para estimular os investimentos em pesquisa e desenvolvimento do setor privado, responsável por 75% dos gastos totais com P&D, o governo concedeu incentivos fiscais. Embora a Coreia do Sul não tenha alcançado a meta de intensidade do P&D de 5% em 2012, é notável o avanço alcançado pelo país entre 2000 e 2013. Em 2013, a Coreia do Sul era líder mundial tanto em intensidade do P&D (4,2% do PIB) como em número de pesquisadores por milhão de habitante (6.500).
A indústria de transformação tem uma participação dominante nos investimentos em P&D. As despesas de P&D estão concentradas em um pequeno número de empresas nesse setor. As grandes empresas representaram dois terços das despesas de P&D, enquanto as pequenas e médias empresas respondem por apenas um terço. Cerca de três quartos da P&D do setor empresarial são realizadas em indústrias de média alta e alta tecnologia; 80% desses três quartos se concentram em dois setores, as TIC e o automotivo, uma das maiores taxas para os países da OCDE.
O governo da presidente Park Geun-hye (2013-2017), iniciado em fevereiro de 2013, continuou os esforços dos governos anteriores para transformar a Coreia da Sul em um líder de inovação e buscar novos meios para garantir o crescimento econômico continuado. Com esse propósito, foram elaborados planos para desenvolver uma “economia criativa” e foi criado um novo ministério, o Ministério das Ciências, das TIC e do Planejamento Futuro (MSIP), que se tornou responsável por impulsionar a Estratégia da Economia Criativa, lançada em junho de 2013.
Nesse contexto, o governo Park efetuou uma reorganização ministerial, que envolveu a governança do sistema nacional de tecnologia e inovação. O MSIP incorporou as funções de ciência e tecnologia do antigo MOST, bem como funções relacionadas à tecnologia de informação e comunicação que estavam dispersas em vários ministérios, como o antigo MKE (Ministério da Economia do Conhecimento). O recriado Ministério de Energia, Indústria e Comércio (MOIT) permaneceu como responsável pelas funções relacionadas às tecnologias industriais.
Para governo sul-coreano, a economia criativa é aquela que cria novos motores de crescimento, de valor agregado, empregos com o valor central da criatividade. Assim, o Plano de Economia Criativa procurou combinar criatividade e imaginação “com ciência e tecnologia e tecnologia de comunicação e informação para criar novas indústrias e mercados, e tornar as indústrias existentes mais fortes e assim criar empregos dignos”. O Plano estabelece uma visão para “realizar uma nova era de felicidade para o povo coreano através de uma economia criativa”, definindo três objetivos, seis estratégias e 24 tarefas. Os três objetivos são: criar novos empregos e mercados através da criatividade e inovação; fortalecer a liderança global da Coréia através de uma economia criativa; criando uma sociedade onde a criatividade é respeitada e manifestada.
Com o Plano Estratégico de Economia Criativa, o governo sul-coreano mudar o paradigma de crescimento da Coréia de uma economia industrial para uma economia do conhecimento, desbloqueando o potencial produtivo dos ecossistemas nacionais do C,T&I culturais. Em particular, a maior prioridade é dada ao avanço dos setores de C&T e de tecnologia de comunicação e informação e à reorientação do sistema de pesquisa e inovação no empreendedorismo e na aplicação inovadora de tecnologia.
As seis estratégias definidas no Plano são: compensar adequadamente a criatividade e criar um ecossistema que promova a criação de empresas em fase inicial (start-up de alto potencial de crescimento); fortalecer o papel das empresas de risco e das pequenas e médias empresas (PMEs) na economia criativa e melhorar sua capacidade para ingressar nos mercados mundiais; criar motores de crescimento para abrir novos mercados e novas indústrias; promover o talento criativo global que tem o espírito de enfrentar desafios e perseguir sonhos; fortalecer as capacidades de inovação em ciência, tecnologia e tecnologias de comunicação e informação, que formam a fundamento da economia criativa; promover uma cultura econômica criativa junto com o povo coreano.
Como destaca a OCDE (2014), embora a “criatividade” seja claramente enfatizada no Plano Estratégico de Economia Criativa, os objetivos e as medidas do não são muito diferentes dos anunciados pelos recentes governos anteriores. No entanto, o governo Park deu nova ênfase ao papel de pequenas empresas de base tecnológica e elaborou uma ampla gama de medidas para revitalizá-las. O governo sul coreano considera as empresas de risco e as start-ups como a chave para a criação de novos mercados e empregos. Essa visão está em afinada com as evidências internacionais de que as empresas novas e pequenas atuam como fontes de inovação radical e de mudanças estruturais.
No apoio às empresas em fase de arranque e às PMEs na capacidade inovadora, o governo criou um fundo dedicado por meio da participação no "Growth Ladder Fund" e no Fundo Coreano dos Fundos. Com a colaboração das grandes corporações, foram criado Centros de Economia Criativa e Inovação (CCEI, na sigla em inglês) em 18 cidades e províncias para proporcionar um melhor acesso aos empreendedores aspirantes e envolver o setor privado local. Para impulsionar o desempenho dos CCEIs, cada um deles está vinculado a uma empresa-líder em um determinado setor industrial, no qual a cidade é especializada. Combinando recursos e experiência das grandes empresas sul-coreanas, os CCEI foram concebidos para apoiar PMEs e start-ups nas atividades de P & D, marketing e expansão global, atendendo às necessidades de financiamento e oferecendo serviços adaptados a cada etapa para start-ups e das PMEs. desde a ideia inicial de negócio até a comercialização.
Outra medida adotada pelo governo da presidente Park em prol das PMEs de base tecnológica foi a ampliação do escopo do Programa de Garantia de Compra de Novas Tecnologias para PMEs orientadas à inovação, criado em 1996, para incluir outros produtos tecnológicos (como tecnologias verdes). As PME podem usar a certificação como uma ferramenta de marketing. As instituições públicas sul-coreanas, incluindo o governo central e local, e empresas e instituições estatais, têm como objetivo que 50% de todos os contratos (bens, serviços, etc.) sejam efetuados com PMEs e que pelo menos 10% dos bens deve ser da lista de produtos de novas tecnologias.
Com base na Estratégia de Economia Criativa, foi lançado o Terceiro Plano Básico Quinquenal de Ciência e Tecnologia (2013-17). Em comparação com os Planos Básicos anteriores, este Plano caracteriza-se pelo fortalecimento dos vínculos de R&D com o crescimento econômico, comercialização de tecnologia e criação de emprego. Os três objetivos do plano são: contribuir com 40% do crescimento econômico por meio das atividades de P & D; criar 640 000 empregos; elevar a capacidade de inovação da Coréia do Sul ao nível dos sete maiores do mundo. As seguintes estratégias foram adotadas para alcançar essas metas:
• Ampliação do investimento em P&D e maximização da eficiência, incluindo o aumento do apoio ao P&D de 68,0 trilhões wons (US$ 62,7 bilhões) para 92,4 trilhões wons (US$ 85 bilhões) entre 2013 e 2017, 35% acima do governo anterior;
• Desenvolvimento estratégico das tecnologias: foram identificadas 30 tecnologias prioritárias e 120 estratégicas, abrangendo campos de tecnologia de informação, energia, meio ambiente, e saúde. Mais especificamente, as prioridades incluem redes inteligentes, captura e armazenamento de carbono, aplicações de grandes dados e produtos farmacêuticos personalizados;
• Construção de capacidade criativa de médio e longo prazo por meio de um maior financiamento para ciências básicas e intercâmbio internacional;
• Maior apoio para PMEs e empresas de risco em novas indústrias e estimulação da geração e comercialização de propriedade intelectual; e,
• Criação de novos trabalhos relacionados com a ciência, em parte por meio de novas medidas para impulsionar as empresas em fase de arranque.
Em seu primeiro ano, o governo da presidente Park não elaborou novas políticas com foco explícito na indústria de transformação. Para manter e melhorar a competitividade, várias indústrias-chave, nomeadamente, automóveis, construção naval, semicondutores, aço, máquinas gerais, têxteis e peças e materiais, desenvolveram suas próprias estratégias com a continuidade das políticas passadas. Contudo, esse quadro foi alterado com lançamento da Iniciativa Inovação Industrial 3.0 em 2014 e com a divulgação dos dezenove motores de crescimento futuro em 2016, como será visto nas próximas seções.
A Iniciativa Inovação Industrial 3.0
O Ministério do Comércio, Indústria e Energia (MOTIE) anunciou, em junho de 2014, o Movimento Inovação Industrial 3.0 (IIM 3.0) como estratégia para um novo salto da indústria de transformação sul-coreana. Embora a Coreia do Sul possua um dos principais ecossistemas de produção e de infraestrutura de tecnologia de informação (TI) e já estivesse impulsionando algumas tecnologias relacionadas à manufatura inteligente, similares à Indústria 4.0 da Alemanha, o país ainda enfrenta dificuldade na obtenção de tecnologias básicas para a fábrica inteligente, como sensores, Internet de Coisas (IoT) e holograma, bem como em projetar programas de computador e outras soluções de software.
Com a iniciativa IIM 3.0, que é um componente do Plano Estratégico da Economia Criativa, o governo pretende introduzir inovação no processo de produção industrial, incluindo a disseminação do uso de fábricas inteligentes e o desenvolvimento de tecnologias básicas relacionadas a IoT, impressão 3-D e Big Data (processamento de dados, coleta de dados e compartilhamento de dados que podem ser usados para análise e previsão). A iniciativa se concentra no conceito de uma fábrica inteligente que abarca a automatização, a troca de dados e tecnologias de produção aprimoradas ao longo de todo o processo de produção, incorporando planos tecnológicos de curto e longo prazo.
O governo apresentou um roteiro para projetos em diversas áreas de projetos de P&D: tecnologia de design, tecnologia de triagem de produtos defeituosos, técnicas de operação integradas em software, plataformas internet das coisas industriais (IIoT), sensores inteligentes, coleta de dados e tecnologias de processamento de dados e padronização industrial padrões. Além disso, foi criado o Conselho de Pesquisa de Padronização da Fábrica Inteligente, com participação do setor privado, para responder efetivamente às tendências e atividades internacionais e realizar esforços para padronizar regulamentos desenvolvidos localmente.
A política também tem como objetivo lidar com muitos desafios econômicos e sociais associados ao setor da indústria de transformação sul-coreana. Externamente, os principais setores industriais da Coréia do Sul, a construção naval, automotiva, eletrônica, produtos químicos e aço, enfrentam desafios associados ao aumento da força industrial da China. Avanços rápidos em tecnologia da informação, sensores e nanomateriais, bem como a aplicação de sistemas ciberfísicos, reduzem dramaticamente os custos dos processos industriais avançados e melhoram o desempenho. Ao mesmo tempo, as empresas estão sujeitas a uma pressão cada vez maior para melhorar sua produtividade e se tornar mais sensível às mudanças nas expectativas e necessidades dos clientes. Os conglomerados coreanos estão acelerando a automação de produção para aumentar a produtividade e rentabilidade e reduzir os custos em toda a cadeia de suprimentos.
Internamente, muitas empresas industriais locais sul-coreanas têm sofrido com baixa produtividade e eficiência. Promovendo a convergência entre fábrica e TI para acelerar o sistema da fábrica inteligente, espera-se elevar a competitividade nos setores industriais e abrir o caminho para a reorganização da indústria manufatureira.
Ao mesmo tempo, com essa iniciativa, o governo busca promover o crescimento daqueles segmentos que combinam produção industrial com tecnologia da informação, como, gestão energética e segurança industrial. Além disso, os segmentos principais de desenvolvimento de materiais e componentes, engenharia, design e software recebem apoio político concentrado. Com a convergência entre tecnologias de software e de hardware, espera-se gerar ganhos de 1 trilhão de wons (US$ 972 milhões).
O quadro abaixo sumariza as estratégias e missões principais da iniciativa IIM 3.0 que incluem a criação de uma nova indústria de transformação com convergência industrial, o aprimoramento dos principais segmentos e o avanço da infraestrutura industrial para a inovação.
Os cinco princípios básicos da iniciativa IIM 3.0 são: 1) abranger todo o ecossistema empresarial para incluir fornecedores de segundo e terceiro nível; 2) incentivar a participação voluntária de PMEs com espírito inovador; 3) motivar as empresas a participar de atividades de inovação mediante a partilha de benefícios; 4) garantir abertura na execução do projeto usando uma metodologia padrão, com espaço para flexibilidade nos níveis industrial e corporativo; e 5) fomentar mentalidades inovadoras entre os executivos (CEOs) participantes para a continuação da melhoria. O quadro abaixo mostra a progressão dos projetos de Inovação Industrial na Coreia do Sul.
Com base em um fundo de crescimento compartilhado, com recursos aportados por grandes empresas, empresas de alto potencial e organizações públicas, a iniciativa IIM 3.0 oferece suporte financeiro aos investimentos de capital das PMEs para substituição de antigas instalações, visando aumentar a produtividade. Igualmente, fornece consultaria em áreas como inovação de processo industrial, gerenciamento e técnicas de produção. A contribuição de empresas privadas, grandes e médias, e de empresas públicas à iniciativa é da ordem de 217 bilhões de wons em cinco anos (equivalente a US$ 200 milhões). Cerca de 75% dos recursos é alocado às PME que fornecem seus produtos para empresas financiadoras da iniciativa. Os 25% restantes são alocados às PME sem vínculo com as empresas que contribuem para a iniciativa.
A Câmara de Comércio e Indústria da Coréia, entidade que reúne a Associação de Empresas de Alto Potencial da Coréia, a Sociedade Coreana de Complexos Industriais, o Centro Coreano de Produtividade e diversas associações industriais (automotiva, eletrônica, máquinas, petroquímica), atua como sede da iniciativa IIM 3.0, recrutando PME e consultores e administrando o projeto em conjunto com as sub-sede localizadas em cada organização executora.
A disseminação da fábrica inteligente entre as PMEs é uma das peças-centrais da Iniciativa IIM 3.0. Algumas empresas privadas sul-coreanas de pequeno e médio porte já adotavam sistema da fábrica inteligente em suas linhas de produção e foram pioneiras no desenvolvimento de novos produtos. No entanto, a porcentagem ainda é muito baixa em comparação com outros países desenvolvidos. Com a difusão da fábrica inteligente espera-se obter significativa melhoria no nível de produtividade das PMEs, que era equivalente, em 2011, a apenas 28% do nível das grandes empresas. Um dos objetivos da IIM 3.0 é estabelecer um ecossistema industrial avançado, apoiando 2.000 fornecedores industriais de pequeno porte de segundo e terceiro nível em 2014, atingindo 10.000 fábricas inteligentes até 2020.
O MOTIE assegurou o orçamento para apoiar empresas privadas para construir um banco de provas, pesquisar e disseminar o sistema da fábrica inteligente. Para o ano de 2015, orçamento do MOTIE para a fabricação inteligente era da ordem de 33,5 bilhões de wons (US$ 30,8 milhões). Também o MSIP está apoiando atividades de pesquisa e desenvolvimento relacionadas à manufatura inteligente, com base no projeto de construção de infraestrutura de pesquisa de informação e no projeto Fábrica Inteligente Conectada (CSF, na sigla em inglês). Para 2015, o orçamento do projeto CSF foi fixado em 12,5 bilhões de wons (US$ 11,5 milhões).
Em junho de 2015, o MSIP selecionou o consórcio liderado pelo Gyeong Buk Techno Park, na cidade de Gyeongsan, para executar, ao longo do período 2015-2018, dois projetos relacionados à fábrica inteligente. Desse consórcio participam o Instituto Coreano de Tecnologia Industrial (KIIT), universidades, institutos governamentais de pesquisa, bem com os governos da província de Gyeong Buk e das cidades de Gumi e Ulsan. O primeiro projeto, denominado Instalação de teste para CSF do tipo aberto, com orçamento de 12,6 milhões, tem como objetivos produzir um motor de precisão e construir a instalação para teste (testbed), preparar testes de desempenho e processo de certificação para construção de fábricas inteligentes. O segundo projeto, Desenvolvimento de um modelo de avaliação para CSF e exemplos de aplicação, tem um orçamento de 8,1 bilhões de wons (US$ 7,5 milhões), tem como objetivo desenvolver, em cooperação com o CCEI de Gyeong Buk, modelo de avaliação para CSF e aplicá-lo a uma empresa para demonstração.
Em dezembro de 2015, a Fundação Coreana para a Fábrica Inteligente (KOSF, na sigla em inglês), que é um órgão de supervisão para o projeto CSF, assinou um acordo de projeto com os Centros de Economia Criativa e Inovação, localizados em todo o país. Esses centros desempenharão um papel de liderança no projeto Promoção da Fábrica Inteligente. Pelo acordo, os CCEI receberão um total de 30 bilhões de wons (US $ 27 milhões) e mais de 150 engenheiros da Samsung ao longo de um período de dois anos e converterão as fábricas atuais existentes de mais de 600 PMEs em fábricas inteligentes. Os engenheiros da Samsung enviados aos CCEI fornecerão assistência técnica direta por meio do processo de identificação de empresas sujeitas a suporte, construção do sistema e serviços de acompanhamento.
Os primeiros resultados da iniciativa IIM 3.0 são bastante positivos. Segundo o MOTIE, as empresas que operam fábricas inteligentes depois de receberem suporte financeiro do governo, registraram ganho de produtividade da ordem de 25%, enquanto a proporção de deficiências diminuiu em 27%. Já a OCDE (2016), salienta que, refletindo os impactos das políticas, a participação dos investimentos em P&D para as PMEs aumentou de 12,4% em 2011 para 18,0% em 2015.
Para acompanhar a rápida evolução da digitalização completa e automação na era da Quarta Revolução Industrial, os setores privado e público da Coréia do Sul concordaram, em 2017, em ampliar o projeto de fábricas domésticas inteligentes O objetivo anterior de 10.000 fábricas inteligentes até 2020 foi elevado a 30.000 de fábricas inteligentes, operando com as mais modernas tecnologias digitais e analíticas, até 2025. De acordo com o MOTIE, o governo reforçará o apoiar as pequenas e médias empresas, com o objetivo de expandir as tecnologias da fábrica inteligente para as PME locais O governo sul-coreano também fornecerá apoio para ajudar a capacitar 40 mil trabalhadores qualificados para operar sites de produção totalmente automatizados mediante de vários programas educacionais, ao mesmo tempo em que diversificará o suporte.
O governo também incentivará as empresas focadas no desenvolvimento de tecnologia relacionada às fábricas inteligentes, injetando US$ 189,3 milhões em projetos de P & D até 2020. Os projetos de pesquisa e testes serão patrocinados por fundos federais, incluindo Big Data, sistemas cibernéticos, sensores inteligentes e robôs colaborativos. Pelas previsões do governo, os dez principais setores industriais contarão com 4.500 fábricas inteligentes, cada um, até 2025.
Os Novos Motores de Crescimento Futuro
Em 2016, o Ministério da Ciência, das Tecnologias de Informação e Comunicação e do Planejamento Futuro (MSIP) e do Ministério do Comércio, Indústria e Energia (MOTIE) decidiram fortalecer a coordenação política entre os dois ministérios, unificando seus planos, respectivos, de motores de crescimento futuro (que contou com participação de 200 especialistas) e de desenvolvimento de motores industriais, lançando o Plano de Ação Integral para Motores de Crescimentos Futuro. O plano apresenta estratégias básicas para produzir novas indústrias para a economia criativa, bem como tarefas-chave para o plano de inovação econômica de três anos do governo.
O Plano de Ação se concentra nas novas indústrias representativas da economia criativa por meio de um apoio abrangente para a pesquisa conjunta internacional, o estabelecimento de infraestruturas e a melhoria do sistema de inovação, juntamente com o desenvolvimento tecnológico, para criar um ecossistema industrial de ciclo virtuoso que permita o crescimento compartilhado de indústrias, academia e institutos de pesquisa. O Plano indica 19 motores de crescimento futuro, detalhando setores, domínios, estratégias de promoção e metas.
De acordo com o KOMMA (2015), o governo pretende investir 5,6 trilhões de wons (cerca de US $ 4,7 bilhões) até 2020 nas áreas prioritárias identificas como motores de crescimento futuro. Espera-se que as novas indústrias alcancem US$ 100 bilhões em exportações até 2024. O montante de investimento previsto por domínio será: de 77,2 bilhões de wons para a IoT, 70 bilhões de won para robôs inteligentes, 98,3 bilhões de won para equipamentos inteligentes portáteis, 77,1 biliões de ganho para comunicação móvel 5G, 28,2 bilhões de won para carros inteligentes e 60,8 bilhões de wons para semicondutores inteligentes.
O Plano de Ação redefiniu os papéis do governo e do setor privado para favorecer os seus campos respectivos nos motores de crescimento. Com base no sistema de promoção recém-estabelecido, o governo pretende promover a reestruturação de empresas de acordo com o campo do motor de crescimento futuro e o investimento estratégico por meio de "escolha e concentração”.
Para o desenvolvimento estratégico das novas tecnologias, o governo irá promover tecnologias com vínculo com o software desde o estágio de desenvolvimento inicial e garantir tecnologias-chave avançadas por meio do desenvolvimento conjunto da indústria-universidades-institutos de pesquisa bem como de P& D internacional. Em particular, com intuito de obter resultados rápidos em domínios dos novos motores de crescimento futuro, serão priorizados seis projetos emblemáticos, incluindo convergência de materiais (policetona), conteúdo realista (sistema de imagem multiplanar).
Perspectivas da Quarta Revolução Industrial na Coréia do Sul
Com intuito de preparar o país para a Quarta Revolução Industrial, movimento irreversível já em curso, o governo sul coreano lançou, em dezembro de 2016, o Plano de Médio e Longo Prazo para uma Sociedade de Informação Inteligente. Esse plano foi elaborado por um comitê interministerial, criado em abril de 2016, composto por dez ministros e especialistas do setor privado.
Na avaliação dos responsáveis pela elaboração do Plano, a chamada tecnologia de informação inteligente (TI Inteligente) irá revolucionar a economia e a sociedade modernas, permitindo a mecanização de aspectos anteriormente não mecanizáveis das indústrias, maximizando assim a produtividade e transformando completamente a estrutura industrial. O conceito de TI Inteligente “refere-se a uma tecnologia que é capaz de realizar as funções altamente complexas da inteligência humana ao combinar a ‘inteligência’ da inteligência artificial com a ‘informação fornecida pelo processamento de dados e tecnologias de rede, como a Internet das coisas (IoT), computação em nuvem, análise de grandes dados (Big data) e tecnologias móveis (designadas coletivamente como ‘tecnologias ICBM’)”.
A TI inteligente possui características de tecnologias de uso geral (GPTs) que podem ser adaptadas e aplicadas em diversos campos e, portanto, são capazes de causar efeitos inovadores contínuos e de longo alcance em toda a sociedade:
• Tomada de decisão automática: as máquinas tornam-se capazes de realizar tarefas altamente complexas e inteligentes envolvidas na tomada de decisões de forma independente, acelerando assim a automação.
• Respostas em tempo real: as tecnologias ICBM (IoT, computação nas nuvens, grandes dados e tecnologias móveis) realizam uma série de tarefas relacionadas (por exemplo, coleta / análise de dados e dedução) instantaneamente para fornecer respostas e ações em tempo real.
• Evolução automática: as máquinas utilizam suas experiências de aprendizado profundo para evoluir de forma independente, conseguindo melhorias astronômicas no desempenho.
• Armazenamento de todos os tipos de dados: Mesmo os dados que eram impossíveis de armazenar e usar no passado, agora podem ser úteis (por exemplo, informações biológicas e comportamentais, dados amorfos, etc.).
Os domínios de aplicação para TI Inteligente continuam a multiplicar graças à modificação e expansão de algoritmos e diversas formas de aprendizagem profunda. Em combinação com diversas tecnologias industriais, espera-se que a TI Inteligente desempenhe um papel fundamental no aumento da produtividade e eficiência na indústria de transformação e em outros setores da atividade econômica.
A TI Inteligente também deverá ocasionar uma profunda transformação no mercado de trabalho. Por um lado, a polarização da estrutura de emprego provavelmente será intensificada, com a automatização assumindo não apenas assumindo tarefas não qualificadas e repetitivas, mas também automatizando tarefas intelectuais complexas, tarefas de escritório de níveis intermediários de dificuldade e mão-de-obra manual de precisão. Por outro lado, nas indústrias relacionadas a TI inteligente haverá aumentos na demanda de pessoal, levando à criação de empregos em novas indústrias, como tem sido o caso em todas as revoluções industriais anteriores. Os trabalhadores humanos se concentrarão cada vez mais em atividades criativas e emocionais, que as máquinas não poderão substituir tão facilmente.
O crescimento da economia compartilhada, os serviços on-line-to-offline (O2O), o trabalho de multidão e as plataformas de serviços on-line aumentarão a demanda por trabalhadores não regulares, como trabalhadores dependentes da plataforma. Em outras palavras, um número crescente de trabalhadores dependentes da plataforma se tornará freelancers independentes, em vez de trabalhadores a tempo integral, empregados por empresas. Isso exigirá reforço tanto das políticas de requalificação profissional voltadas às pessoas que perdem seus empregos devido à automação quanto o fortalecimento da rede de proteção social.
Na avaliação do governo sul-coreano, a TI inteligente abrirá novas bases para um novo crescimento. Os efeitos econômicos agregados (incluindo as novas receitas geradas, os custos economizados e o aumento do bem-estar dos consumidores, valores que não são capturados pelo PIB) deverão ascender a 460 trilhões de KRW wons até 2030. O governo coreano prevê que os serviços de saúde serão os beneficiados pela TI inteligente em termos de novas receitas geradas e custos economizados (até 109,6 trilhões de wons), seguido da indústria de transformação (até 95 trilhões de wons) e do setor de finanças (47,7 trilhões de wons).
Entre as novas receitas, as estimativas contabilizam, entre outras, aquelas decorrentes do marketing baseado em dados (até 10 trilhões de wons) e robótica (até 30 trilhões de wons), enquanto a redução de custos incluía a previsão de aumento da precisão do diagnóstico médico (até 55 trilhões de wons), otimização dos processos de produção industrial (até 15 trilhões de wons). Já os ganhos como novas fontes de bem-estar do consumidor, as projeções consideram: redução de acidentes de carro s (até 10 trilhões de wons), melhor qualidade do ar (até 7,6 trilhões de wons), redução do congestionamento do tráfego (30 trilhões de wons), redução do trabalho doméstico (até 10 trilhões de wons), melhoria da saúde pública (até 10 trilhões de wons).
O Plano de Médio e Longo Prazo para uma Sociedade de Informação Inteligente estabelece um conjunto de objetivos e metas quantitativas para o ano de 2030. Um dessas metas é completar o cachting-up tecnológico em relação às economias mais avançadas, eliminando o gap de 25% existente em 2013. Também chama atenção a meta de elevar a 17,9% do PIB os gastos com seguridade social, em flagrante contraste com a tendência observada nas economias desenvolvidas.
Fatores-chave para o sucesso. O governo sul-coreano considera que o sucesso da iniciativa depende dos seguintes fatores: melhora das capacidades de TI inteligentes da Coréia e fortalecimento de sua infraestrutura de dados; maior convergência entre a TI inteligente e as indústrias existentes; reforma do mercado de trabalho e ênfase na educação para formação de pessoal criativo.
Dado que a tecnologia, os dados e as redes são os passos para a sociedade da informação inteligente, é fundamental promover e desenvolver tecnologias inovadoras, estabelecer redes superconectadas e garantir o uso ativo de dados. Com esse propósito, o investimento em P & D deve ser aumentado para que a tecnologia sul-coreana atinja o padrão mundial, assegure o avanço sustentado da infraestrutura de rede do país e aumente a quantidade de dados de qualidade coletados e usado.
O diagnóstico é que a Coreia está atrasada em relação aos Estados Unidos em 2,4 anos em termos de TI Inteligente, devido à falta de investimento a longo prazo no desenvolvimento de TI Inteligente original e aplicada. O orçamento de P & D do governo coreano para TI Inteligente em 2016, que inclui o investimento em software inteligente, tecnologias básicas e desenvolvimento de recursos humanos, representa apenas 0,7% do orçamento nacional geral de P & D (134,8 bilhões wons em um montante total de 19 trilhões de wons).
A aplicação de TI inteligente às indústrias existentes de maneira proativa é considerada essencial para gerenciar as mudanças inevitáveis na estrutura industrial existente. É igualmente importante identificar e fomentar novas indústrias através da convergência com TI inteligente. Em particular, a TI inteligente deve ser aplicada em primeiro lugar aos serviços públicos. Os formuladores de políticas também devem conceber um regime regulatório mais flexível para lidar com tecnologias que não são abordadas pelo sistema legal e instituições existentes. Entre os 33 Estados membros da OCDE, a Coréia do Sul ocupava, em 2013, o quarto lugar em termos de indicadores de regulação do mercado de produtos.
O mercado de trabalho deve ser mais flexível (com ênfase crescente na meritocracia e na flexibilidade das horas e arranjos de trabalho), dos serviços de emprego aprimorados e da rede de segurança social, antecipando as mudanças prováveis na estrutura de emprego. Na avalição do governo, as rígidas práticas de emprego e costumes da Coréia do Sul continuam a impedir que o mercado de trabalho doméstico se torne mais eficiente (o país ficou em 53º lugar na pesquisa do IMD sobre a eficiência do mercado de trabalho em 2016).
A educação deve ser projetada para promover a criatividade e a capacidade tecnológica do público, através do aprendizado baseado em software e convergência, de modo a aumentar o número de trabalhadores competentes e capazes a nível mundial. Apenas duas ou três dúzias de especialistas qualificados com doutorado em inteligência artificial se formam anualmente na Coréia. O país ficou em 31º lugar entre 133 países no Índice de Criatividade Global. Os estudantes da escola primária na Coréia devem receber pelo menos 17 horas de ensino de software até 2019 (comparado com 70 horas na China, 180 horas no Reino Unido e 240 horas na Índia).
Tarefas de médio e longo prazo. O documento do governo sul coreano lista um conjunto de tarefas de médio e longo prazo para transformar o país em uma sociedade de informação inteligente, das quais três são particularmente pertinentes ao tema da presente resenha.
A primeira dela refere-se à criação de uma base de tecnologia de inteligência artificial (AI, na sigla em inglês). Com esse intuito, o governo da Coreia do Sul pretende: i) incentivar a pesquisa básica e aplicada em universidades e centros de pesquisa com o objetivo de desenvolver infraestrutura de classe mundial para indústrias domésticas baseadas em AI; ii) combinar as inovadoras atividades de P & D das empresas com o apoio e recursos de universidades e centros de pesquisa para permitir que as empresas sejam pioneiras ativamente em novos mercados para serviços e produtos de AI; iii) investir em projetos estratégicos de P&D para promover o rápido desenvolvimento da tecnologia de AI; iv) otimizar métodos de pesquisa e ambientes para ciências básicas, pesquisa originais e pesquisa aplicada; v) reformar instituições para maximizar a eficácia da P & D. Para promover a tecnologia de AI, o governo sul-coreano planeja investir aproximadamente 1,6 trilhão de wons (US$ 1,6 bilhões) nos próximos 10 anos.
No campo das ciências básicas, as prioridades para os investimentos em longo prazo são a ciência cerebral e a matemática industrial, que formam a base da tecnologia de AI. A ciência do cérebro é a chave para a compreensão da cognição emocional e sensorial, bem como os mecanismos cerebroneurológicos do comportamento humano, interface cérebro-máquina (IMC) e funções cognitivas complexas (processamento de linguagem, memória), etc. Já a matemática industrial é crucial para o desenvolvimento de metodologias matemáticas para superar as limitações atuais no desenvolvimento de algoritmos AI.
A Coreia do Sul pretende atingir o mesmo nível de avanço tecnológico das outras economias avançadas até 2023, em termos de tecnologias cognitivas relacionadas a línguas, visão, experiências sensoriais e cognição espacial. Como o Google (TensorFlow) e outras grandes corporações em países desenvolvidos já desenvolveram e divulgaram algoritmos avançados para aprendizagem e dedução de máquinas, o objetivo da Coreia do Sul é desenvolver alternativas de próxima geração ao invés de se esforçar para combinar os desenvolvimentos tecnológicos de outros países. Entre as alternativas está a tecnologia que permite que as máquinas aprendam com pequenas quantidades de dados, tecnologia que permite às máquinas explicar os fundamentos de suas deduções, etc.
Na área de hardware, o governo sul coreano pretende continuar promovendo a pesquisa, o desenvolvimento e a evolução das tecnologias de computação de alto desempenho e de semicondutores inteligentes e fomentar pesquisas pioneiras sobre tecnologias de próxima geração, como computação quântica e chips neuromórficos. E no domínio das tecnologias de IoT, computação nas nuvens e Big data, a prioridade será incentivar a pesquisa, o desenvolvimento e evolução do IoT inteligente capaz de coletar, aprender e processar dados por conta própria; computação em nuvem de alta velocidade; tecnologias para remover ruído e refinação de dados; e outras tecnologias que estão intimamente relacionadas com a AI.
A segunda tarefa refere-se à criação de ecossistemas da indústria de TI Inteligentes e à facilitação da inovação do setor privado. O governo pretende: i) expandir e diversificar o apoio ao empreendedorismo e ao crescimento das empresas, a fim de encorajar os empresários a experimentar livremente suas ideias de negócios; ii) reformar os regulamentos de negócios para facilitar o lançamento de novos produtos e serviços, iii) personalizar uma ampla gama de serviços (finanças, distribuição, transmissão, etc.), permitindo que os provedores de serviços compitam livremente em um ambiente de concorrência leal, sem medo de interferência de plataformas.
Para apoiar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, o governo irá patrocinar a criar bancada de teste (testbed) em grande escala, em consulta com todos os ministérios governamentais e governos locais interessados, para apoiar a inovação em serviços de cidades inteligentes, robótica inteligente, automóveis autodirigidos, etc. A ideia é estabelecer conexões entre esses laboratórios e zonas livres de regulamentação para promover indústrias locais estratégicas e melhorar com infraestrutura de TI inteligente os clusters e zonas industriais existentes, tais como, cidades inteligentes (Seoul / Gyeonggi-do, até 2019), robótica inteligente (Gyeongsang-do/Jeolla-do, até 2021), turismo inteligente (Gangwon-do, até 2023), etc. Os dados acumulados nas instalações de teste serão divulgados e compartilhar os nos bancos de teste com startups e PMEs para ajudá-los a desenvolver novos serviços e tecnologias.
Na promoção do empreendedorismo nas indústrias básicas e aplicadas da TI Inteligente, serão utilizados o Fundo de Fundos da Coreia, o Instituto de Finanças da Coréia (KIF) e outros recursos financeiros desse tipo para promover e acelerar o crescimento de startups tecnológicos e PMEs especializadas em TI e dados inteligentes. O governo pretende utilizar o KIF para criar um fundo exclusivo de 30 bilhões de KRW até 2017, e aumentar esse montante em pelo menos 100 bilhões de KRW a cada ano subsequente.
No apoio ao P & D e às atividades comerciais das start-ups, lhes será dado acesso à infraestrutura tecnológica e aos recursos das instituições públicas de pesquisa, incluindo a atribuição de direitos preferenciais ou cotas para o uso de supercomputadores. Igualmente serão apoiados o desenvolvimento de planos de parceria mutuamente benéficos das grandes corporações que visam dar acesso às start-ups de suas infraestruturas de comunicação, plataformas de serviços e similares, como forma de auxiliar suas atividades de P&D e expansão de serviços (2018 em diante).
O governo da Coreia do Sul pretende também assegurar a demanda inicial para o mercado da TI Inteligente mediante a utilização do programa de Compras Públicas de Inovação (PPI). O PPI é um programa por meio do qual o governo conclui acordos com empresas inovadoras para o desenvolvimento e fornecimento de novos produtos, serviços e soluções que ainda não existem no mercado (por exemplo, drones, equipamentos agrícolas não tripulados, etc.). As empresas do setor privado serão incentivadas a fazerem uso ativo da TI Inteligente. O uso de tais tecnologias será utilizado como parâmetro nas decisões relativas aos montantes de subsídios e incentivos financeiros que devem receber ao participar nos projetos governamentais.
A terceira tarefa diz respeito à inovação digital da indústria de transformação. Serão introduzidos sistemas de produção baseados em plataforma que coletam e analisam dados de consumidores e de mercado, e a TI inteligente será aplicada a produtos para aumentar sua qualidade e valor. O uso disseminado de robôs inteligentes, impressão em 3D e outras tecnologias avançadas aumentará a produtividade da indústria de transformação, permitindo que o setor vença suas limitações atuais e alcance novo ápice.
O governo pretende: i) promover o desenvolvimento de um sistema ciberfísico (CPS) para permitir a personalização da produção industrial em massa; ii) apoiar o desenvolvimento e distribuição de robôs, impressoras 3D e outros dispositivos necessários para inovar o processo de produção e minimizar o custo e o tempo necessários para a personalização em massa; iii) criar um ecossistema para a “servitização” (oferta de serviços) da indústria de transformação.
Um sistema ciberfísico (CPS) é um sistema que permite a otimização o processo de fabricação em tempo real com base no processamento cibernético e na análise de grandes dados coletados por meio de uma rede IoT. Para no processo de produção industrial para permitir perfeita personalização em massa dos produtos como meio de aumentar a produtividade e a competitividade das empresas, a Coreia do Sul irá:
• Encorajar os desenvolvedores e fornecedores de CPS (sensores e tecnologias IoT, comunicações e AI), apoiando o desenvolvimento de tecnologias essenciais necessárias para criar uma CPS de fabricação e designando "fábricas-mãe" para diferentes indústrias. Por exemplo: máquinas de precisão (Gumi, 2017), dispositivos médicos (Ulsan, 2017), produtos farmacêuticos e cosméticos (Ansan, 2018), etc. Com esse propósito, para 2017, o MSIP destinou às tecnologias de convergência de IoT 6,1 bilhões de wons para 2017 e o MOTIE alocou 8.0 bilhões de wons para promoção das tecnologias avançadas de manufaturas inteligentes.
• Promover o desenvolvimento de um CPS de produção como um projeto estratégico com o objetivo de assegurar simultaneamente a globalização da CPS resultante e aumentar a competitividade do setor manufatureiro coreano (a partir de 2018). Exemplos: A SK planeja desenvolver a solução "SCALA" (para a linha de montagem da impressora HP em Chongqing, China, etc.). Enquanto POSCO designou sua planta de chapa de aço pesada em Gwangyang como um laboratório de teste (para coleta e análise de dados em cada parte do processo de produção).
• Estabelecer um conselho de parceria público-privado, com a participação de grandes corporações e seus fornecedores, corporações multinacionais de TIC, empresas de software e start-ups, de modo a desenvolver, padronizar e disseminar as tecnologias envolvidas. Serão lançadas de associações de produção de CPS em cada um dos centros de economia criativa e inovação em todo o país.
No apoio ao desenvolvimento e à difusão de robôs, impressoras 3D e outros dispositivos necessários à manufatura inteligente, serão introduzidos robôs industriais avançados para fábricas inteligentes e apoiar o desenvolvimento de fabricação e logística de robôs sociais de próxima geração, capazes de tomar decisões. A ideia é começar com projetos de teste e, mais tarde, avançar para a distribuição dos dispositivos, começando com indústrias em que sua eficácia foi comprovada (até 20 indústrias até 2018). Com o intuito de apoiar os laboratórios de pesquisa de empresas de robótica como "centros de pesquisa de comercialização de robótica de ponta", serão investidos pelo menos 100 bilhões de wons (de fontes públicas e privadas) ao longo de quatro anos com o objetivo de lançar pelo menos 20 produtos inovadores de robótica até 2020.
Para estimular o desenvolvimento do segmento de serviços da indústria de transformação, a Coreia do Sul pretende desenvolver, a partir de 2018, plataformas de serviços inteligentes para diferentes empresas e indústrias e combine fabricantes com provedores de serviços de plataforma. Até 2020, serão introduzir subsídios e outros incentivos financeiros para incentivar as empresas a adotar voluntariamente tecnologias e sistemas de serviços inteligentes. O documento do governo sul-coreano aponta como exemplo o governo alemão que subsidia até 50% dos custos do desenvolvimento de produtos e software inteligentes de TI e fornece deduções fiscais de até 40% para os fabricantes que adotam essas soluções.
A Coreia do Sul também pretende fornecer suporte efetivo ao movimento de relocalização no mercado doméstico das atividades que as grandes empresas sul-coreanas executam no exterior. Segundo o governo sul coreano, esse movimento de retorno irá se acelerar com o aumento do custo da mão-de-obra nos países em desenvolvimento e a inovação do processo industrial. Com esse apoio, o governo pretende reforçar a manufatura inteligente, o P&D, desenvolvimento de marca e suporte de marketing para os fabricantes de renome e a produção de produtos de alto valor agregado no país. A ideia é conceder prioridade ao retorno das fábricas inteligentes e retomar o suporte de P & D para empresas de renome, melhorar o ambiente de negócios, produzindo pessoal mais qualificado, reduzindo as taxas de impostos e desregulando os requisitos de localização e estabelecendo uma cadeia de valor global na Coréia que permita que os fabricantes de produtos acabados e fabricantes de peças cresçam juntos.
Na Coréia do Sul, o "Ato sobre Prevenção de Divulgação e Proteção de Tecnologia Industrial" desempenha um papel central na garantia de que as principais tecnologias, desenvolvidas com financiamento governamental, permaneçam rigorosamente controladas. Como destacam STACEY e outros (2017), o objetivo dessa lei é proteger a tecnologia industrial, evitando divulgação indevida, de modo a fortalecer a competitividade das indústrias coreanas e contribuir para a segurança nacional e o desenvolvimento da economia nacional.
Essa lei estabelece que uma “tecnologia-chave nacional” tem alto valor tecnológico e econômico no mercado sul-coreano e estrangeiro ou permite um alto potencial de crescimento para as indústrias relacionadas e pode exercer um efeito adverso significativo sobre a segurança nacional e o desenvolvimento da economia nacional se for divulgado no exterior. Produtos de conteúdo tecnológico desenvolvidos com utilização de financiamento governamental de P& D só podem ser exportados ou produzidos no exterior com autorização explícita do governo deve dar permissão para exportar ou para produzir no exterior.
Em 2016, havia 61 áreas de tecnologia-chave (40 áreas em 2007). Eletroeletrônica é a área com maior número de tecnologias protegidas (11), enquanto áreas como carros / ferrovias, aço e construção naval mantiveram o número ao longo do prazo. Novas áreas de tecnologia protegida incluem máquinas / robôs e biotecnologia.