Carta IEDI
Quem lidera a retomada da indústria?
O ano de 2017 marcou o início da reação industrial após um período de três anos consecutivos de fortíssimos cortes na produção e no emprego. Foram fatores importantes para isso o ótimo desempenho do agronegócio no início do ano, a liberação de recursos do FGTS, o avanço das exportações de manufaturados e um maior dinamismo do mercado doméstico, decorrente do recuo da inflação e dos juros e da melhora do crédito às famílias e da confiança em geral. Ainda há, porém, muito chão pela frente para que a indústria brasileira volte a ser o que era antes da crise, mas pelo menos a tendência é de crescimento.
O aumento da produção industrial em 2017, de 2,5%, foi proporcionado por resultados positivos em todos os trimestres do ano e com direito a aceleração a partir do segundo semestre, na comparação interanual. Deste modo, no quarto trimestre de 2017, a indústria já girava em uma velocidade de 4,9%, isto é, duas vezes maior do que o agregado do ano sugere.
Muitos ramos industriais, contudo, lograram crescer mais fortemente, sobretudo aqueles mais atingidos anteriormente pela crise. Bases de comparação muito baixas são, de fato, um fator que favorece resultados positivos nesta etapa inicial de reação. Por isso, o IEDI realizou um panorama do perfil setorial da recente reação industrial. A partir dos dados mais desagregados do IBGE, foram ranqueados 93 segmentos industriais segundo o desempenho acumulado em 2017, tendo sido classificados em nove faixas segundo a vitalidade da recuperação.
Um resumo do quadro geral identificado pelo levantamento é o seguinte:
• Dos 93 segmentos, 58 voltaram a apresentar aumento de produção em 2017, isto é, 62% do total;
• Destes segmentos com crescimento, 45 conseguiram um resultado melhor do que o da indústria total, ou seja, 48% do total de segmentos cresceram mais do que 2,5% em 2017;
• Outro aspecto importante: 66 ramos ou 71% do total avançaram, no quarto trimestre, em um ritmo superior ao do acumulado de 2017, indicando um viés favorável para o início de 2018.
Este quadro é radicalmente distinto daquele de 2016, quando a produção da indústria declinou 6,4% e apenas 15 ramos, ou seja, 16% do total, completaram o ano com resultado positivo. A distinção entre 2017 e 2016 fica ainda mais evidente quando é considerado o número de ramos em cada faixa de ritmo de expansão.
Na faixa de crescimento intenso, isto é, com crescimento superior a 10%, havia em 2016 apenas um ramo industrial (celulose e outras pastas para fabricação de papel). Em 2017, esse número subiu para 16, o que representa 17% do total de segmentos industriais levantados. Estes foram os principais segmentos a puxar a retomada da indústria em 2017.
Dentre os ramos a liderar o crescimento, vários deles estão associados à indústria automobilística e à sua cadeia produtiva bem como à produção de outros bens de consumo duráveis, a exemplo de: caminhões e ônibus (+26%), automóveis, camionetas e utilitários (+19,5%), peças e acessórios para veículos (+10,8), componentes eletrônicos (+33,4%), equipamentos de comunicação (+27,9%), aparelhos de áudio e vídeo (+18,8%) e equipamentos de informática e periféricos (+13,2%). Acreditamos que se as taxas de juros dos financiamentos caírem com mais intensidade em 2018 do que cederam no ano passado e, consequentemente, o crédito evoluir a taxas maiores, esses setores líderes da reação industrial deverão repetir a dose de dinamismo neste ano.
Além desses ramos, outros segmentos vinculados à cadeia de processamento de metais registraram crescimento intenso, tais como fundição (+18,1%), ferro-gusa e ferroligas (+14,4%) e forjaria, estamparia, metalurgia do pó e serviços de tratamento de metais (+10,7%), e algumas atividades da indústria alimentícia, como conservas de frutas, legumes e outros vegetais (+19,4%) e produtos de carne (+14,2%).
No outro extremo, na faixa de crise fulminante, em que as quedas superam 20%, há apenas um ramo em 2017, o de lâmpadas e outros equipamentos de iluminação, enquanto em 2016 eram 9, muitos deles vinculados à produção de bens de capital.
Em 2017, porém, vários dos segmentos de bens de capital, principalmente aqueles associados a investimentos industriais de maior porte ou ao setor da construção, praticamente não deram nenhum sinal de recuperação, muito embora tivessem deixado o estágio de crise fulminante. Em alguns casos, 2017 foi o quarto ou o quinto ano seguido de declínio.
Encerraram o ano passado em uma crise grave (de -20% a -10%) ou intensa (de -10% a -4%) os segmentos de equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica (-4,2%), máquinas-ferramenta (-4,7%), estruturas metálicas e obras de caldeiraria pesada (-8,5%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-10,1%), geradores, transformadores e motores elétricos (-11,7%) e artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e materiais semelhantes (-12,5%).
Para muitos dos segmentos que decepcionaram em 2017, contudo, o quarto trimestre do ano passado, ao menos, acenou para uma mudança desse quadro, sinalizando que para a maioria dos ramos com desempenho negativo em 2017 como um todo, há um viés favorável para 2018. Em contrapartida, apenas uma pequena parcela dos ramos com crescimento em 2017 deu sinal de perda de dinamismo (só 13 dos 58 segmentos, isto é, 22%). Isso sugere que no corrente ano a tendência é que variações positivas continuem se disseminando entre os diferentes ramos da indústria.
O panorama de 2017 abre deste modo, boas perspectivas para o setor industrial em 2018.
Desempenho geral
O desempenho da produção industrial no acumulado de 2017 chegou a 2,5%. Variações positivas marcaram todos os trimestres do ano, sendo que, na comparação interanual, houve aceleração a partir da segunda metade do ano: +1,3% no primeiro trimestre; +0,4% no segundo trimestre; +3,2% no terceiro trimestre e +4,9% no quarto trimestre. Isto é, nos últimos três meses do ano, a indústria girava em uma velocidade de vezes maior do que o agregado do ano sugere.
Os macrossetores da indústria também apresentaram evoluções semelhantes, isto é, voltaram ao positivo e o resultado do final de 2017 sugere um dinamismo maior do que o acumulado do ano. O aumento de produção em bens de consumo duráveis em 2017 – o melhor desempenho entre os macrossetores – chegou a 13,3% e 17,8% no quarto trimestre. Em seguida, bens de capital cresceram a 6% em 2017 e 10,7% no quarto trimestre, enquanto bens intermediários obtiveram +1,6% e +3,9% e bens de consumo semi e não duráveis +0,9% e +2,8%, respectivamente.
O vigor da reação em 2017 como um todo pode não ter sido dos mais satisfatórios, mas a contar pelos resultados do último trimestre do ano há chances de uma performance superior agora em 2018. De todo modo, apesar de variações positivas bastante difundidas, as intensidades das altas de produção são muito distintas de um ramo industrial a outro. Alguns cresceram à frente da indústria geral, enquanto outros não deram sinal de recuperação.
Por essa razão, o IEDI realizou um panorama do perfil setorial da recente reação industrial. A partir dos dados mais desagregados do IBGE, foram ranqueados 93 segmentos industriais segundo o desempenho acumulado em 2017, tendo sido classificados em nove faixas segundo a vitalidade da recuperação: crescimento intenso (acima de +10%), crescimento expressivo (de +7% a +10%), crescimento moderado (de +4% a +7%), crescimento fraco (de +1% a +4%), virtual estabilidade (de -1% a +1%), crise moderada (de -4% a -1%), crise intensa (de -10% a -4%), crise grave (de -20% a -10%) e crise fulminante (abaixo de -20%).
O resumo do placar geral foi o seguinte: dos 93 segmentos, 58 voltaram a apresentar aumento de produção em 2017, isto é, 62% do total, e 45 conseguiram um resultado melhor do que o da indústria total, ou seja, 48% dos segmentos cresceram mais do que 2,5% em 2017.
O número de ramos com crescimento considerado intenso, ou seja, acima de 10%, chegou a 16 em 2017 (17,2% do total) e outros 6 com crescimento expressivo (6,5% do total). Tomados em seu conjunto, pode-se dizer que os ramos a puxar o dinamismo industrial como um todo representam quase 25% do setor. É preciso observar, contudo, que na maioria das vezes estes ramos foram aqueles que mais sofreram com a crise recente, apresentando, então, bases muito baixas de comparação para o resultado de 2017. No extremo oposto, houve apenas um ramo classificado como em crise fulminante. Até aqueles em crise grave não foram muitos: apenas 4 ramos, o que representa uma parcela de apenas 4,3% do total.
Este quadro é radicalmente distinto daquele de 2016, quando a produção da indústria geral declinou 6,4%. Neste ano, apenas 15 ramos, ou seja, 16% do total, completaram o ano com resultado positivo. Apenas 1 ramo apresentou aumento de produção acima de 10% (crescimento intenso) e outros 2 entre 7% e 10% (crescimento expressivo). Em contrapartida, 9 ramos estavam em crise fulminante e 17 em crise grave, perfazendo juntos 28% do total.
Outro aspecto importante a se mencionar é que 66 dos 93 ramos ranqueados, ou seja, 71% do total, indicaram aceleração no final de 2017. Nestes casos, o resultado do quarto trimestre do ano foi superior ao do acumulado de janeiro a dezembro de 2017. Este é um dado importante porque sugere um viés favorável para a indústria nos primeiros meses de 2018.
Os melhores de 2017
Foram 16 os ramos a apresentar, em 2017, crescimento considerado intenso, ou seja, acima de 10%, como dito anteriormente. Em praticamente todos os casos o efeito baixa base de comparação é um fator importante para explicar a intensidade das altas em 2017, mas este não é o único aspecto a caracterizá-los.
Muitos dos ramos com esse elevado nível de dinamismo pertencem à cadeia automobilística e à produção de outros bens de consumo duráveis, tais como caminhões e ônibus (+26%), automóveis, camionetas e utilitários (+19,5%), peças e acessórios para veículos (+10,8), componentes eletrônicos (+33,4%), equipamentos de comunicação (+27,9%), aparelhos de áudio e vídeo (+18,8%) e equipamentos de informática e periféricos (+13,2%).
O primeiro grupo, como sabemos, foi muito favorecido pela expansão de suas exportações e por certa recomposição da demanda doméstica. O segundo grupo, por sua vez, contou com o retorno do crédito às famílias e com a redução dos patamares das taxas de juros, além de outros fatores como a liberação dos recursos das contas inativas do FGTS e do declínio da inflação.
Além desses ramos, registraram crescimento intenso outros vinculados à cadeia de processamento de metais, tais como fundição (+18,1%), ferro-gusa e ferroligas (+14,4%) e forjaria, estamparia, metalurgia do pó e serviços de tratamento de metais (+10,7%), e algumas atividades da indústria alimentícia, como conservas de frutas, legumes e outros vegetais (+19,4%) e produtos de carne (+14,2%).
Já aqueles que não chegaram a aumentar a produção em dois dígitos, mas mesmo assim tiveram um ritmo de crescimento considerado expressivo, somaram 6 ramos. Ainda que as atividades desenvolvidas por esses ramos sejam bastante distintas umas das outras, é possível que alguns deles tenham, além de outros fatores, se favorecido do dinamismo do setor automobilístico. É o caso de cabines, carrocerias e reboques para veículos automotores (+7,4%), artefatos têxteis, exceto vestuário (+8,5%), produtos de borracha (+8,8%) e pilhas, baterias e acumuladores elétricos (+9,0%). Gases industriais (+7,4%) e máquinas e equipamentos de uso geral (+8,3%) também constam nesta faixa.
Em relação ao viés estabelecido pelo ritmo de crescimento no último trimestre de 2017, dos 22 ramos com crescimento intenso ou expressivo 14 tiveram um final de ano melhor do que o acumulado de janeiro-dezembro. Em outros termos, 64% do total dos ramos dessas faixas de crescimento apontam para uma aceleração no início de 2018.
Ainda em crise
2017 não trouxe recuperação para 35 dos 93 ramos (38% do total). Alguns ficaram praticamente estáveis, como biocombustíveis e papel, cartolina e papel-cartão, com declínio de apenas 0,1% em sua produção, ou aparelhos eletrodomésticos não especificados, com -0,2%. Outros, contudo, registraram mais um ano de fortes perdas.
A boa notícia é que na faixa de crise fulminante, em que as quedas superam 20%, há apenas um ramo em 2017, que, além do ambiente econômico geral, reflete mudanças estruturais em seu mercado. É o caso de lâmpadas e outros equipamentos de iluminação (-27,9%), cuja produção doméstica tem sido fortemente impactada pela substituição das lâmpadas incandescentes por modelos de outras tecnologias (LED).
Muitos ramos associados à produção de bens de capital, principalmente para investimentos de maior porte ou vinculados ao setor da construção, também continuaram em queda em 2017, embora tenham saído do estágio de crise fulminante, em que se encontraram em 2016, para o de crise grave ou intensa em 2017. Isso denota o ambiente ainda pouco propício à retomada do investimento pesado.
Encerraram o ano passado em uma crise grave (de -20% a -10%) ou intensa (de -10% a -4%) os ramos de equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica (-4,2%), máquinas-ferramenta (-4,7%), estruturas metálicas e obras de caldeiraria pesada (-8,5%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-10,1%), geradores, transformadores e motores elétricos (-11,7%) e artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e materiais semelhantes (-12,5%).
Para alguns destes e de outros segmentos com desempenho ainda negativo em 2017, o quarto trimestre de 2017 ao menos acenou para uma reviravolta. Dos 35 ramos com perda de produção no acumulado de janeiro a dezembro, 15 (ou 43%) registraram resultado positivo nos últimos três meses do ano. Em outros casos, o que houve foi apenas uma redução do nível de queda, ou seja, conseguiram, no máximo, terminar 2017 em uma situação menos ruim.
Se considerarmos, entre os 35 ramos com queda no acumulado de 2017, aqueles com o quarto trimestre positivo ou menos negativo teremos um viés favorável no final do ano passado em 26 ramos ou em 74% deles. Esse é mais um indicativo favorável para a indústria em 2018.