Carta IEDI
A Indústria em 2017: crescimento difundido e liderado pelos setores de maior intensidade tecnológica
A indústria voltou a crescer em 2017, dando um primeiro e ainda modesto passo para reaver toda a produção perdida nos três anos anteriores de aguda crise. A reação foi relativamente difundida entre os diferentes ramos industriais, muito embora tenham sido poucos (notadamente o ramo automobilístico) os responsáveis por fazer com que o setor como um todo tenha atingido o ritmo de crescimento de 2,5% no ano.
O dinamismo da indústria de transformação ficou um pouco abaixo da performance da indústria geral ao registrar em termos físicos alta de 2,2%. Esta Carta IEDI mostra as particularidades do desempenho manufatureiro no ano passado a partir do grupamento de seus ramos em quatro faixas de intensidade tecnológica, segundo a metodologia desenvolvida pela OCDE.
Em resumo, o quadro foi o seguinte:
• Das quatro faixas por intensidade tecnológica, três encerraram o ano com resultados positivos: alta (+2,8%), média-alta (5,8%) e baixa (+2,0%). A exceção coube à indústria de média-baixa tecnologia (-0,9%), em muito devido ao setor de combustíveis e derivados de petróleo.
• As faixas de maior intensidade foram aquelas que mais cresceram. Juntas, alta e média-alta responderam por 80% do crescimento da indústria de transformação (1,8 ponto percentual da alta de 2,2%). Isso porque congregam ramos (certos ramos de bens de capital e bens de consumo duráveis) cujos ciclos têm maior amplitude por dependerem mais do estado de expectativas e das condições de crédito da economia.
• A contar pelo último trimestre do ano passado, 2018 deve começar com o pé direito. A indústria de transformação com um todo registrou um crescimento muito mais forte em outubro-dezembro (+5,7% ante out-dez/16) do que no acumulado do ano (+2,2%), o que foi acompanhado por todas as faixas por intensidade tecnológica. Alta (+8,4%) e média-alta (+11,1%) avançaram ainda mais neste trimestre, enquanto a média-baixa conseguiu sair do negativo (+3,6%). A baixa intensidade também acelerou (+3,1%).
A recuperação da faixa de alta intensidade em 2017 teve a liderança do complexo eletrônico, cujos ramos cresceram a taxas de dois dígitos. O melhor desempenho foi registrado por equipamentos de rádio, TV e comunicação (+22,8%). Do lado negativo cabe destacar que o crescimento em 2017 (de 2,8%) teria sido mais intenso não fosse o declínio da indústria farmacêutica (-5,3%). Pelo menos, no 4º trimestre o setor farmacêutico conseguiu crescer, o que, associado à aceleração em outros ramos, como o de material de escritório e informática, contribuiu para um final de ano na alta intensidade bem melhor (+8,4%) do que o resultado de 2017 como um todo.
Já na faixa de média-alta intensidade, foi a indústria automotiva (+17,8%) quem liderou a retomada em 2017, obtendo forte incremento em todas as bases comparativas (+23,6% no 4º trim./17). O ramo químico (exceto farmacêutico) e a fabricação de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutras atividades lograram também taxas positivas. A fabricação de máquinas elétricas, no entanto, sofreu queda no acumulado de 2017 (-3,5%). É digno de registro, no entanto, que nesse caso houve significativa retomada do crescimento no último trimestre do ano (+6,0%).
O segmento de média-baixa intensidade, por sua vez, chegou em 2017 ao quarto ano consecutivo de queda na produção, ainda que a do ano passado tenha sido mais branda. Dois ramos foram responsáveis por isso: principalmente produtos de petróleo refinado, álcool e afins (-4,1%) e outros produtos minerais não-metálicos (-3,1%). Ambos sobrepujaram a expansão de 2,7% de outro ramo de grande peso dessa faixa, a fabricação de bens metálicos, inclusive siderúrgicos. A boa notícia é que a maioria dos ramos da média-baixa registrou alta no quarto trimestre e derivados de petróleo ficaram em virtual estabilidade (-0,1%), acenando com recuperação no corrente ano.
O segmento de baixa intensidade, por fim, teve assegurado seu resultado positivo em 2017 por todos os ramos que a compõem, sendo que as maiores taxas foram obtidas nos ramos cujos processos produtivos são mais intensivos em mão-de-obra: o de manufaturados não especificados noutros ramos e reciclados (+3,6%) e o agrupamento de têxteis, artigos de vestuário, couro e calçados (+3,3%). Ambos registraram desaceleração no quarto trimestre. A indústria de alimentos, bebidas e tabaco, que é a mais expressiva da indústria de transformação, cresceu 1,5% em 2017, com indicação de modesta aceleração (+2,5%) em outubro-dezembro.
Uma visão geral da indústria de transformação
A indústria de transformação cresceu em termos físicos 3,1% em dezembro de 2017 frente a novembro, pela série dessazonalizada. Em relação a dezembro de 2016, produziu 5,6% a mais, com o último trimestre do ano crescendo 5,7%. Tais resultados puxaram as variações da indústria geral: taxa de 2,8% na comparação mensal (dados dessazonalizados), de 4,3% no contraponto entre meses de dezembro e de 4,7% entre quartos trimestres.
Atendo-se à indústria de transformação, os desempenhos em dezembro e no quarto trimestre concorreram para a expansão de 2,2% no acumulado do ano, um pouco abaixo da performance da indústria geral, 2,5%, por conta do incremento de 4,6% da indústria extrativa.
A indústria de transformação por intensidade tecnológica
O comportamento da produção física da indústria de transformação pode ser visualizado mais detalhadamente mediante sua decomposição em quatro faixas de atividades por intensidade tecnológica, conforme procedimentos da OCDE: alta intensidade, media-alta, média-baixa e baixa intensidade.
Ressalve-se que, com as melhorias metodológicas da PIM-PF, utilizou-se a indústria de transformação sem considerar a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Tal ramo começou a ser discriminado na versão mais nova da Classificação Industrial Internacional Uniforme (CIIU) e, por conseguinte, na versão 2 da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Na sequência estão tabulados resultados selecionados para os segmentos de intensidade tecnológica, sujeitos à revisão.
Ao se confrontar outubro-dezembro de 2017 e igual período de 2016, todas as faixas lograram expansão, tendo boas performances no último mês. Ainda assim, no ano, o segmento de média-baixa sofreu retração, enquanto as taxas de expansão dos demais foram menos auspiciosas, asseverando o papel do quarto final de 2017 na recuperação.
A faixa de alta intensidade cresceu 8,4% em outubro-dezembro de 2017 ante igual período do ano anterior, expansão puxada pelo derradeiro mês, 9,4%. Esse desempenho permitiu ao segmento de alta intensidade registrar expansão de 2,8% em 2017, lembrando que até o terceiro trimestre, o resultado doze meses continuava negativo. A indústria farmacêutica, mesmo com a recuperação no quarto trimestre, puxou para baixo a produção física dessa faixa em 2017, com a recuperação sendo capitaneada pelo complexo eletrônico.
O segmento de média-alta intensidade, por sua vez, produziu 11,1% a mais em termos físicos no contraponto entre o último quarto de 2017 e igual trimestre do ano anterior, com dezembro crescendo 10,4%. Desse modo, o segmento de média-alta cresceu 5,8% em 2017. A indústria automotiva liderou essa expansão, obtendo forte incremento em todas essas bases comparativas. O ramo químico (exceto farmacêutico) e a fabricação de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutras atividades lograram também taxas positivas em outubro-dezembro e no ano como um todo.
A indústria de média-baixa cresceu 3,6% no quarto trimestre frente ao mesmo período de 2016, com o mês de dezembro contribuindo para tanto: 5,1%. No entanto não foi o suficiente para que essa faixa encerrasse 2017 com resultado positivo, queda de 0,9%. Tais retrocessos são em muito explicados pelos declínios da fabricação de produtos de petróleo refinado, álcool e afins. Outro ramo de grande peso dessa faixa, a fabricação de bens metálicos, inclusive siderúrgicos, cresceu nas bases comparativas consideradas, mas sem fazer frente aos recuos daquele ramo e o da indústria de minerais não-metálicos.
O segmento de baixa intensidade logrou acréscimo de 3,1% em outubro-dezembro de 2017. Em dezembro, a variação foi de 2,8%. Dessa forma, essa faixa produziu 2,0% a mais no ano frente a 2016. Todos os ramos fecharam 2017 com expansão, sendo as maiores taxas no desempenho anual ligadas àqueles cujos processos produtivos são mais intensivos em mão-de-obra: o de manufaturados não especificados noutros ramos e reciclados e o agrupamento de têxteis, artigos de vestuário, couro e calçados. Os ramos mais intensivos em recursos naturais cresceram menos, mas foram menos afetados pela crise, lembrando que a indústria de alimentos, bebidas e tabaco é a mais expressiva, por conta da produção de alimentos.
Alta intensidade tecnológica
No quarto trimestre, frente ao mesmo período de 2016, a faixa de alta intensidade ampliou sua produção física em 8,4%. Tal crescimento contou com a sustentação do próprio mês de dezembro, variação de 9,4% vis-à-vis igual mês do ano anterior. O desempenho em outubro-dezembro concorreu sobremaneira para que o ano fechasse com expansão de 2,8%, interrompendo o declínio em dois anos seguidos.
Embora a maior parte das atividades da faixa de alta intensidade produza bens complexos com várias etapas, compondo extensas cadeias globais de valor, como as da indústria aeronáutica e as do complexo eletrônico, o ramo cuja performance destoou em relação à da faixa como um todo foi a indústria farmacêutica, justamente aquele que foge dessas características. No quarto trimestre de 2017, tal atividade até cresceu, 3,6%, puxada pelo mês de dezembro, quando produziu 5,8% a mais do que em seu equivalente de 2016. Mas não só conseguiu arrefecer a retração no ano, de 5,3%.
Quanto ao complexo eletrônico, um dos mais afetados pela crise em 2015 e 2016, cresceu 18,1% no quarto trimestre, com dezembro apresentando incremento de 19,9%. Tais números contribuíram para uma expressiva recuperação no ano, de 19,6%. O maior dos três ramos do complexo no País, a fabricação de equipamentos de rádio, TV e comunicação, que encampa também partes e componentes eletrônicos empregados não só nela, mas numa gama cada vez mais ampla de ramos econômicos, produziu 18,0% a mais no quarto trimestre, sendo que, em dezembro, a taxa foi de 12,4%. Tal desempenho permitiu-lhe crescer 22,8% em 2017.
A fabricação de equipamentos médico-hospitalares, instrumentos de precisão e material ótico e fotográfico e a fabricação de material de escritório e informática cresceram a mesma taxa em 2017: 13,2%, mas com diferenças nas demais bases de comparação. A produção de material de escritório e de informática cresceu puxada com bastante vigor pelo dinamismo do último trimestre no contraponto ao mesmo período de 2016, expandindo-se 22,7%. E tal resultado decorreu bastante do incremento de 47,9% na comparação entre meses de dezembro. Já a fabricação de instrumentos médicos, de ótica e precisão cresceu 10,5% em outubro-dezembro, com o último mês crescendo 14,6%.
Média-alta intensidade tecnológica
Dentre os quatro segmentos de intensidade tecnológica, o de média-alta obteve as taxas mais altas em todas as bases de comparação em questão. No confronto entre quartos trimestres de 2017 e de 2016, a variação foi de 11,1%, com o mês de dezembro registrando acréscimo parelho, de 10,4%. Assim, em 2017, essa faixa cresceu 5,8%. Em que pese ter rompido com três anos seguidos de queda, a expansão de 2017 nem chegou a contrapor a retração de 8,2% em 2016.
A indústria química logrou ligeira expansão em 2017, de 0,7%, muito devido ao quarto trimestre quando cresceu 4,5% vis-à-vis igual período de 2016, com dezembro apresentando incremento de 2,8%.
Passando para a fabricação de veículos automotores, foi o principal responsável pela grandeza da recuperação da faixa de média-alta intensidade. No quarto trimestre, produziu 23,7% a mais do que no mesmo quarto de 20176 sendo que dezembro contribuiu para tanto: 25,19%. No ano, a expansão chegou a 17,2%. Cumpre ressalvar que tais taxas elevadas se devem ao fato dessa indústria ter sido uma dos mais impactadas pela crise, conformando uma base de comparação baixa, a exemplo do que se observou no complexo eletrônico.
Os ramos mais associados à indústria de bens de capital – fabricação de máquinas e equipamentos elétricos; e fabricação de máquinas e equipamentos mecânicos e não especificados em outras atividades – tiveram comportamento distintos. A produção de equipamentos elétricos declinou 3,5% em 2017, mesmo com as taxas positivas no quarto trimestre, de 6,0%, e em dezembro, 6,6%. Já a atividade de máquinas mecânicas ou não especificadas noutros ramos logrou produzir 2,6% a mais em 2017. O trimestre final de 2017 puxou tal resultado com incremento de 3,4%, mesmo com o dezembro tendo experimentado recuo de 1,5%.
Média-baixa intensidade tecnológica
A produção física do segmento de média-baixa intensidade cresceu 3,6% no quarto trimestre de 2017, puxada pelo mês de dezembro, com expansão de 5,1%. Entretanto o desempenho no final do ano não foi o suficiente para que as atividades dessa faixa como um todo produzisse mais do que 2016: houve retração de 0,9%. A produção de bens metálicos, que abarca a siderurgia, e a de derivados do refino de petróleo, álcool e afins são os ramos que vêm ditando em larga medida como a produção física dessa faixa se comporta.
A indústria de bens de petróleo refinado, álcool e outros combustíveis ficou praticamente estagnada no quarto trimestre, taxa de -0,1% no confronto com igual período de 2016. Em dezembro, a variação foi nula. Dados os resultados dos trimestres anteriores, 2017 terminou com uma produção física 4,1% menor do que a do ano anterior.
Quanto à fabricação de produtos metálicos, sua produção aumentou 8,3% no trimestre em pauta, com o mês de dezembro protagonizando o desempenho, 13,7%. Desse modo, a fabricação de bens metálicos logrou expansão de 2,7%, um acréscimo importante, mas não na grandeza necessária para contrabalançar os ramos que retrocederam em 2017.
Além da fabricação de produtos de petróleo refinado e afins, a indústria de produtos de minerais não-metálicos também declinou, variação de -3,1% em 2017, o quarto ano consecutivo de declínio, mesmo tendo crescido 1,1% tanto em dezembro, quanto no quarto trimestre
Já a fabricação de borracha e produtos plásticos, logrou incremento de 8,9% em outubro-dezembro, com incremento de 8,0% em dezembro. Tais taxas levaram ao crescimento de 4,5% em 2017, após três anos de retração.
Baixa intensidade tecnológica
A produção da indústria de baixa intensidade tecnológica logrou expansão de 3,1% em sua produção no quarto trimestre de 2017, com o último mês do ano apresentando incremento de 2,8%. Esses aumentos contribuíram para que 2017 presenciasse crescimento de 2,0% após três anos de declínio.
O agrupamento mais expressivo dentre os ramos desse segmento, o das indústrias de alimentos, bebidas e de fumo, cresceu 2,5% em outubro-dezembro, sendo que no último mês, a variação foi de 2,7%. Dessa forma, o mais representativo dos ramos cresceu 1,5% em 2017, interrompendo um período de cinco anos de taxas negativas em sua produção física.
A produção de conjunto dos ramos madeireiro, de papel e celulose, gráficas e afins cresceu 6,2% no trimestre, com dezembro puxando esse incremento, 7,2%. No ano, a produção física aumentou 1,8%. Também nesse ramo, o resultado positivo cessou cinco anos de retração.
Os outros dois ramos se caracterizam por usar mais intensivamente a força de trabalho que os demais de baixa intensidade. As atividades de fabricação de manufaturados não especificados noutras indústrias e de produtos reciclados lograram expansão de 1,2% no quarto trimestre do ano, com o mês de dezembro levantando o resultado, expansão de 6,1%. Em 2017, o crescimento foi de 3,6%, após três anos de queda.
O agrupamento das indústrias têxtil, de vestuário, calçados e artigos de couro cresceu 2,2% no último quarto do ano, mesmo com dezembro experimentando recuo de 4,8%. No ano, cresceu 3,3%, também depois de três anos em descenso. Esse conjunto de atividades e a fabricação de bens manufaturados não especificados e reciclados, embora não tenham sofrido uma sequência de taxas negativas como os demais dessa faixa, tiveram retrações mais fortes nesse período recessivo.