Carta IEDI
PIB em 2017: Crescimento, mas ainda com baixo investimento
Após dois anos de retração, o PIB voltou a crescer em 2017 ainda que modestamente: 1,0%. Mas não foi só isso. O PIB per capita, depois de três anos de retração, ao menos parou de cair, registrando resultado 0,2%. Mesmo assim, estes resultados favoráveis ainda contrastam fortemente com o desempenho mundial, tanto das economias avançadas como, principalmente, dos países em desenvolvimento, mormente os asiáticos.
O último trimestre de 2017, por usa vez, deu sinais de um dinamismo um pouco mais acentuado. Em comparação com um ano anterior, o avanço do PIB chegou a 2,1%, trazendo alguma perspectiva de uma recuperação mais substantiva ao longo de 2018. A trajetória com ajuste sazonal, contudo, ainda sugere a existência de fragilidades, já que o ritmo de crescimento ante o trimestre imediatamente anterior foi perdendo força no decorrer de 2017 até atingir 0,1% no quarto trimestre.
Pela ótica da produção, em 2017, o valor adicionado cresceu 0,9%. Diferentemente de 2016, nenhum dos três grandes setores se retraíram:
• A agropecuária foi o grande destaque, com expansão de 13% no ano, em boa medida devido ao desempenho no primeiro trimestre;
• Os serviços evoluíram somente 0,3%, com destaque maior para o terceiro e quarto trimestres;
• A estabilidade da indústria em 2017 é explicada, de um lado, pela expansão da extração mineral, de 4,3%, seguida pela indústria de transformação, 1,7%, e pelos serviços industriais de utilidade pública (SIUP), 0,9%, e, de outro lado, pela construção civil que se manteve em crise, registrando queda de 5,0%;
• Ainda com relação à indústria, a melhora no decorrer do ano se deveu principalmente à indústria de transformação, com taxas de 1,5% na passagem de julho-setembro para outubro-dezembro (dados livres de influências sazonais) e de 6,0% na comparação entre o quarto trimestre e mesmo período de 2016.
Pela ótica da despesa, os destaques positivos ficaram sobretudo com as exportações de bens e serviços, devido à elevada variação, e o consumo das famílias, por conta de seu peso combinado com uma taxa positiva. Entre os principais aspectos, podem ser destacados os seguintes:
• O consumo das famílias cresceu 1,0%, em 2017 registrando dinamismo maior à medida que o ano foi passando, conforme a comparação entre trimestre e o mesmo período do ano anterior, resultado que se alinha com a recuperação industrial, especialmente da indústria de transformação;
• O consumo do governo sofreu retração de 0,6%, maior do que a experimentada em 2016, quando retrocedeu 0,1%;
• Apesar da queda no quarto trimestre frente a julho-setembro pela série dessazonalizada, as exportações de bens e serviços cresceram 5,2% em 2017, o que foi acompanhado pelo crescimento quase parelho das importações no ano, 5,0%;
• Por fim, mas não menos importante, a formação bruta de capital fixo (FBCF) voltou a encolher no ano passado, -1,8%, tendo como atenuante o fato de outubro-dezembro trazer uma performance positiva: incremento de 2,0% na passagem do terceiro para o quarto trimestre (série dessazonalizada), e de 3,8% vis-à-vis igual período de 2016;
Frisa-se que a taxa de investimento retrocedeu ininterruptamente de 2014 a 2017, saindo de 20,9% do PIB em 2013 para 15,6% do PIB no ano passado. A recuperação da economia começa, assim, revivendo um padrão muito conhecido por nós: consumo na frente, investimento atrás. Poderia ter sido diferente se alguns traços da política econômica não tivessem jogado contra.
Alguns desses aspectos contrários a uma reação efetiva dos investimentos: o ajuste das despesas públicas ficou praticamente restrito a cortes do investimento público; o encarecimento do crédito de longo prazo e as restrições às operações do BNDES não ajudaram; e o quadro bastante difícil do setor de construção – tanto no segmento residencial como no de construção pesada – sem que o governo tivesse tomado medidas mais efetivas para sua reversão ou amenização.
Ou seja, os sinais de recuperação vêm se acumulando, porém a continuidade desse processo está longe de ser trivial, exigindo o retorno dos investimentos e a aceleração da expansão industrial. A retração em janeiro de 2018 da produção física da indústria serve de alerta, em especial com a atuação modesta do governo no sentido de sinalizar oportunidades de produção e investimento.
Visão geral do PIB
A economia brasileira cresceu 1,0% em 2017, puxada pela expansão trimestre a trimestre, interrompendo dois anos seguidos de retração. Desse modo, o PIB per capita do Brasil ficou estável, com variação de 0,2%, após três anos consecutivos de declínio. Mais amiúde:
• Pelos dados dessazonalizados, no quarto trimestre de 2017, o PIB aumentou apenas 0,1% frente a julho-setembro, porém significando o quarto trimestre seguido de ampliação nessa base comparativa;
• Na comparação entre outubro-dezembro último com igual período de 2016, a expansão atingiu 2,1%, representando o quarto trimestre seguido sem retrocesso – ficou estável no primeiro trimestre e cresceu nos demais;
• A expansão de 1,0% em 2017 decorreu da ampliação de 0,9% no valor adicionado e de 1,3% nos impostos líquidos sobre produtos.
O consumo das famílias e as exportações em alta
Pela série dessazonalizada, trimestre a trimestre, o Brasil fechou 2017 com expansão nos quatro períodos, após oito trimestres de retração sem interrupções, afora o declínio observado em abril-junho de 2014. Na passagem de julho-setembro para outubro-dezembro, o PIB cresceu comedidamente, 0,1%. Embora modesta, a expansão contou não só com incremento do consumo das famílias e consumo do governo, 0,1% e 0,2%, mas principalmente com o incremento de 2,0% do investimento fixo. Foi o terceiro período de expansão seguido da formação bruta de capital fixo (FBCF) nessa base comparativa, após três trimestres de quedas expressivas. Por outro lado, em outubro-dezembro, as exportações de bens e serviços recuaram 0,9%, enquanto as importações cresceram 1,6%.
No contraponto entre quartos trimestres de 2017 e 2016, a expansão de 2,1% do PIB só não contou com incremento nos gastos do governo: queda de 0,4%. O consumo das famílias cresceu 2,6%. Já a FBCF logrou expansão de 3,8%, interrompendo um longo período de taxas negativas. Já as exportações de bens e serviços cresceram 9,1%, completando quatro períodos seguidos em crescimento. As importações também aumentaram, 8,1%.
Tais números de outubro-dezembro concorreram para a expansão de 1,0% em 2017. No ano como um todo, os componentes da demanda que lideraram esse aumento foram o consumo das famílias, 1,0%, e as exportações, 5,2%. As importações cresceram 5,0%, arrefecendo tais desempenhos. O consumo do governo retrocedeu 0,6%, enquanto a inversão fixa declinou 1,8%, mesmo com a performance no último quarto do ano.
Desse modo, as exportações permanecem como destaque, com o consumo privado se recuperando. A FBCF, embora retrocedendo no ano, tem se recuperado ao longo do ano, mas em ritmo ainda insuficiente para puxar a economia.
Assim a taxa de investimento fixo tem caído, o que continuou em 2017, asseverando o tamanho do desafio da recuperação em curso, com riscos de intermitência. Após alcançar 20,9% do PIB em 2013, caiu para 19,9% em 2014. Em 2015, declinou para 18,1%, chegando em 2016 no patamar de 16,4%. Em 2017 ficou em 15,6%, o menor patamar na série iniciada em 2000. Menos mal que, além das taxas positivas do último quarto de 2017, a poupança bruta cresceu de 13,9% em 2016 para 14,8%.
Ou seja, os sinais de recuperação vêm se mostrando, porém a continuidade desse processo está longe de ser trivial. A retração em janeiro da produção física da indústria já serve de alerta nessa direção, em especial com a atuação modesta do governo no sentido de sinalizar oportunidades de produção e investimento.
O desempenho por setor
Em 2017, a expansão de 1,0% do PIB a preços de mercado foi puxada tanto pelo incremento de 0,9% no valor adicionado (VA), quanto pelo aumento de 1,3% nos impostos líquidos sobre produtos. O crescimento do VA foi capitaneado pelo desempenho da agropecuária, que inclui pesca, aquicultura, extração vegetal.
Focando na série livre de sazonalidade, o crescimento em outubro-dezembro vis-à-vis o trimestre imediatamente anterior, o discreto incremento do PIB e do VA (ambos em 0,1%) teve à frente o setor industrial, 0,5%, tendo já crescido 1,0% no período anterior. Os serviços cresceram 0,2% e, com isso, registrou incremento nos quatro trimestres do ano. Já a agropecuária ficou estável no quarto derradeiro, após dois trimestres com taxas negativas, mas antecedidas por uma expansão de dois dígitos em janeiro-março.
No contraste entre o último trimestre de 2017 e igual período do ano anterior, o valor adicionado cresceu 1,9%. Nessa base comparativa, a agropecuária capitaneou o resultado, crescendo 6,1. Já a indústria e os serviços cresceram 2,7% e 1,7%, respectivamente.
Na comparação entre 2017 e 2016, o papel da agropecuária salta aos olhos, aumentando 13%, propiciando o incremento de 0,9% do valor adicionado. Os serviços cresceram 0,3%, enquanto o VA da indústria ficou estável.
A indústria em detalhe
Atendo-se à indústria, suas quatro seções de atividade podem ser apreendidas em separado. Na passagem de julho-setembro para outubro-dezembro pelos dados dessazonalizados, o incremento de 0,5% em seu valor adicionado decorreu principalmente do avanço de 1,5% da indústria de transformação, o quarto trimestre seguido de crescimento. A produção e distribuição de eletricidade, gás e água (serviços industriais de utilidade pública – SIUP) também contribuiu para tanto, com variação de 0,3%. A construção civil ficou estável. Já a extração mineral retrocedeu 1,2%, terceiro período consecutivo se retraindo, depois de ter crescido 1,7% em janeiro-março.
Comparando último quarto de 2017 e igual período de 2016, a expansão de 2,7% em seu VA também decorreu do desempenho da indústria de transformação que cresceu 6,0%. Nessa base de comparação, os SIUP ficaram estáveis. A indústria extrativa e a construção retrocederam 0,1% e 1,6%, respectivamente.
No acumulado do ano, como antes visto, o setor industrial ficou estável, sendo que a indústria extrativa, a de transformação e os SIUP cresceram 4,3%, 1,7% e 0,9%, respectivamente. Já a performance da construção civil, com queda de 5,0%, contrabalançou o desempenho positivo dos demais.
O Brasil frente a outras economias – o desempenho no trimestre
Pelas estimativas do FMI, o mundo cresceu 3,7% em 2017, taxa maior do que a observada em 2016 e em 2015. O discreto crescimento do Brasil em 2017, não só contrasta com o dinamismo mundial, como também se mostra assaz insuficiente frente a contração do biênio 2015-2016, descolando do desempenho mundial. Desse modo, vale contrapor o comportamento do produto agregado brasileiro com o de outros países.
O contraponto frente a países membros da OCDE pela variação trimestre contra trimestre imediatamente anterior (dados dessazonalizados) pode até dar a impressão que a economia brasileira vai bem: cresceu em todos os períodos de 2017. Como visto, o PIB brasileiro registrou taxa de 0,1%, tendo crescido 0,2% em julho-setembro, 0,6% em abril-junho e 1,2% no primeiro trimestre. Todavia isso foi antecedido por oito trimestres de retração. Todos os países americanos da OCDE apresentados no gráfico – Canadá, EUA, México e Chile – ou tiveram taxas positivas ou ficaram estagnados em outubro-dezembro. Aliás, somente a Coreia do Sul experimentou taxa negativa no quarto final de 2017.
Passando para o investimento fixo, o Brasil logrou alta de 2,0% em outubro-dezembro, conquistando o terceiro intervalo com variação positiva. A Coreia do Sul novamente apresentou retração, de 2,0%. Os demais países com dados para a FBCF no período ou ficaram estagnados ou cresceram sem alcançar taxa maior que a brasileira. Os EUA lograram uma taxa equivalente à brasileira. Alemanha e França tiveram desempenho consistente ao longo de 2017 sem se retrair em nenhum dos intervalos.
O Brasil frente a outras economias – projeções
As expectativas de mercado, apuradas no relatório Focus do Banco Central em 02/03/2017, foram de incremento de 2,9% em 2018 e de 3,0% em 2019. As expectativas constantes do relatório Focus se apresentam mais otimistas que as projeções divulgadas ou atualizadas no começo do ano não só pela OCDE em seu OECD Economic Outlook e pela ONU conforme a World Economic Situation e Prospects quanto pelo FMI, na atualização do World Economic Outlook. Segundo o Fundo, as taxas ficariam em 1,9% em 2018 e 2,1% em 2019. A OCDE projetou a mesma taxa para 2018, mas um incremento maior em 2019, de 2,3%2018. O WESP da ONU, divulgado em janeiro, projetou expansão de 2,0% em 2018 e de 2,5% em 2019, menos distante das expectativas de mercado levantadas pelo Focus.
No caso da atualização de janeiro último do World Economic Outlook do FMI, estas trazem também projeções para outros países. Assim, embora anteriores à divulgação dos dados mais recentes do Brasil, permitem um comparativo entre taxas de crescimento projetadas de vários países para 2017 e 2018.
Se, de um lado, o desempenho recente do Brasil tem destoado negativamente no cenário internacional, de outro, as projeções até melhoraram para 2018 levando-se em conta as projeções do próprio Fundo feitas um ano antes. Ainda assim, as projeções mais recentes colocam o Brasil distante de recuperar o tempo perdido.
O hiato entre o Brasil e o mundo pode ser viso na expansão projetada para este de 3,9% tanto para 2018 quanto para 2019, variações acima não só da que o FMI projeta para o Brasil, como acima mesmo das expectativas levantadas no Relatório Focus. As Economias Avançadas deverão crescer 2,3% e 2,2%, com o subgrupo das Outras Economias Avançadas devendo apresentar taxa média de 2,6%. respectivamente. Tal subconjunto das economias avançadas engloba as novas economias avançadas asiáticas. Quanto aos países emergentes e em desenvolvimento, as taxas projetadas do PIB são ainda maiores, de 4,9% e 5,0%, respectivamente, puxadas principalmente pelas economias em desenvolvimento da Ásia (exclusive Oriente Médio), com taxas projetadas de 6,5% em 2018 e de 6,6% no ano subsequente. A África Subsaariana possui taxas projetadas de 2,8% e de 3,7%, respectivamente. O Fundo projetou para a América Latina & Caribe incremento de 1,9% em 2018 e de 2,6% no ano seguinte. A Comunidade dos Estados Independentes, a seu turno, tem projetadas variações de 2,2% em 2018 e de 2,1% em 2019.
O contraste maior se encontra na comparação entre as projeções para o Brasil vis-à-vis as da China e Índia. Para o primeiro, o Fundo projetou incremento de 6,6% e de 6,4%, ratificando o fôlego do País, porém com desaceleração, ensejando dificuldades para as commodities brasileiras. Para a Índia, as taxas projetadas também chamam a atenção: 7,4% e 7,8% para 2018 e 2019, respectivamente. No âmbito dos BRICS, a Rússia é o país com desempenho mais próximo ao do Brasil, devendo crescer menos: 1,7% em 2018 e 1,5% em 2019. Já para a África do Sul, é projetado incremento 0,9% tanto para 2018 quanto para 2019. Saindo dos BRICS, o México tem expansão projetada de 2,3% para o ano em curso e de 3,0% para o próximo.