Carta IEDI
A Indústria em Janeiro de 2018: uma pedra no caminho da recuperação
O ano de 2018 começou mostrando que o percurso da recuperação industrial não está livre de obstáculos. O declínio acentuado de janeiro, já descontados eventuais efeitos sazonais, rompeu com uma sequência de resultados quase sempre positivos desde o início do ano anterior, sendo as únicas exceções os meses de março e de agosto, quando a produção ficou em virtual estabilidade.
Em janeiro do corrente ano o tombo chegou a 2,4%, sentido pela maioria dos setores (19 dos 26) e das localidades (8 das 14) acompanhados pelo IBGE. Funciona como atenuante o fato de dezembro ter registrado uma taxa de crescimento expressiva, de +3,1% ante novembro com ajuste sazonal, isto é, um patamar que destoa da sucessão de variações positivas, mas muito baixas, que marcou 2017.
O que chama atenção na passagem do ano, então, foi a acentuada volatilidade, sintoma de um processo ainda frágil de recuperação de um setor que, por ora, não restabeleceu um padrão de crescimento mais regular, de modo que toda alta mais expressiva na margem não vê continuidade.
Apesar do começo desfavorável, as perspectivas para 2018 continuam positivas. Os indicadores de confiança do empresário industrial encontram-se em níveis superiores do vigente em 2017, apontando não mais para um cenário menos adverso, como vinha ocorrendo, mas para certo otimismo com a evolução dos negócios. Os estoques permanecem ajustados e as exportações de manufaturados, em ascensão.
Se este quadro tiver continuidade, sobre o qual pesam os riscos de potencial instabilidade derivada do processo político-eleitoral, é provável que 2018 seja melhor do que 2017. Vale observar, contudo, que aspectos favoráveis que foram importantes no ano passado, como a liberação do FGTS e PIS-Pasep, acentuado declínio da inflação e uma safra agrícola excepcional, não darão contribuições na mesma magnitude para o resultado da industrial em 2018. É fundamental, então, que fatores mais sistêmicos ganhem força, como a melhora das condições de crédito, sobretudo às empresas, com os juros dos empréstimos refletindo mais fielmente a diminuição da taxa do Banco Central, a Selic.
A contar pelo desempenho industrial em uma perspectiva mais longa, isto é, tomando um ano antes como referência, parece que estamos em bom caminho. Como já enfatizamos em outras oportunidades, na comparação interanual, a indústria girava, no final de 2017, em uma velocidade superior ao que o resultado acumulado no ano como um todo sugeria: +4,9% no 4º trimestre contra +2,5% em 2017. Em janeiro de 2018, o movimento se manteve ao registrar crescimento de +5,7%.
Este padrão se repetiu em todos os macrossetores, em maior ou menor intensidade. A melhor evolução coube à produção de bens de capital que, depois de acumular expansão de 6,0% em 2017, registrou alta de 10,7% no 4º trimestre do ano passado e de 18,3% em janeiro de 2018. No caso de bens de consumo duráveis, cujo resultado foi o mais expressivo em 2017 (+13,3%), o avanço em out-dez/17 e janeiro de 2018 chegou a +17,8% e +20,0%. Tanto para bens de capital como para bens de consumo duráveis, o ritmo de crescimento mais recente se mostra mais adequado para reverter as pesadas perdas acumuladas no período de crise (2014-2016): -39% e -37%, respectivamente.
Já nos macrossetores de bens intermediários e de bens de consumo semi e não duráveis, a aceleração foi mais modesta, o que pode estar refletindo a natureza menos cíclica dos setores que os compõem. No caso de intermediários, o resultado de 2017 foi de +1,6%, mas de +3,9% no último trimestre. Agora em janeiro de 2018 atingiu +4,2%. A progressão para bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, foi a seguinte: +0,9%; +2,8% e +3,0%, nas mesmas comparações. Cabe observar que o declínio no período 2014-2016 chegou a -13% e -10%, respectivamente.
Resultados da Indústria
Em janeiro de 2018, a produção industrial variou -2,4% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, depois de ter atingindo um avanço de +3,1% em dezembro de 2017. A virada do ano foi, assim, marcada por acentuada volatilidade, rompendo uma sequência de resultados muito baixos, porém majoritariamente positivos na segunda metade do ano passado.
O desempenho da indústria em comparação com o mesmo período de 2017 vem apresentando variações mais expressivas, ajudadas pelas bases de comparação ainda muito baixas. Vale lembrar que embora o ano de 2017 como um todo tenha obtido um resultado de +2,5%, o que compreende um patamar muito insuficiente frente à perda de algo como 17% nos três anos de crise industrial (2014-2016), o último trimestre do ano apontava para um dinamismo maior: +4,9% na comparação interanual. Agora em janeiro de 2018 a tendência se manteve e a alta chegou a 5,7%, isto é, um ritmo que já começa a compensar as quedas anteriores.
Deste modo, a média móvel trimestral, na comparação interanual, saiu de apenas +0,4% em junho de 2017 para atingir +4,9% em janeiro de 2018, o mesmo patamar registrado no último mês de 2017, mostrando que o ritmo de crescimento, ao menos na comparação interanual, foi se intensificando, a partir da segunda metade do ano passado.
Em relação aos macrossetores, na comparação com dezembro, descontados os efeitos sazonais, apenas semi e não duráveis (+0,5%) conseguiram evitar o terreno negativo. Todos os demais voltaram ao vermelho, com uma intensidade não desprezível para os bens intermediários (-2,4%) e bens de consumo duráveis (-7,1%). O macrossetor de bens de capital também caiu: -0,3%.
Os resultados de janeiro de 2018 frente a janeiro de 2017, a seu turno, foram positivos para todos os macrossetores. O grande destaque nesta comparação coube a bens de consumo duráveis, com alta de 20%, mas bens de capital (+18,3%) e bens intermediários (+4,2%) também apresentaram um dinamismo razoável. A menor expansão ficou por conta de bens de consumo semi e não duráveis (+3,0%).
Em janeiro, o crescimento de 20% de bens de consumo duráveis – a décima quinta taxa positiva consecutiva – se deveu, em grande medida, ao avanço obtido fabricação de automóveis (+17,3%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (+50,4%), seguido pelas expansões assinaladas por eletrodomésticos da “linha branca” (+4,7%), motocicletas (+8,8%) e móveis (+13,9%). O principal impacto negativo foi verificado no grupamento de outros eletrodomésticos (-0,6%).
O avanço em bens de capital de 18,3% ante janeiro de 2017 – o nono resultado positivo consecutivo – foi alavancado pela produção de equipamentos de transporte (+30,7%), seguido por bens de capital para construção (+81,4%), de uso misto (+20,3%), para fins industriais (+6,7%), agrícola (+19,3%) e para energia elétrica (+3,4%).
O macrossetor de bens intermediários, por sua vez, cuja alta foi de 4,2% frente a janeiro de 2017 – a nona taxa positiva consecutiva –, viu avanços principalmente nos produtos associados às atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias (+22,9%), de metalurgia (+10,0%), de produtos alimentícios (+7,0%), de máquinas e equipamentos (+24,2%) e de produtos de metal (+6,6%), entre outros. As pressões negativas vieram de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis
(-5,4%), de outros produtos químicos (-0,6%) e das indústrias extrativas (-0,1%).
Já o setor de bens de consumo semi e não-duráveis, que cresceu 3,0% ante janeiro de 2017, teve seu desempenho explicado, principalmente, pela alta observada nos grupamentos de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+3,1%) e de não-duráveis (+6,8%). O subsetor de semiduráveis (+2,3%) também assinalou resultado positivo, enquanto o grupamento de carburantes (-4,5%) mostrou a única taxa negativa nessa categoria.
Por dentro da Indústria de Transformação
O declínio da produção industrial geral em janeiro de 2018 (-2,4%) foi resultado do recuo de 2,8% da indústria de transformação, frente a dezembro de 2017, com ajuste sazonal. A indústria extrativa, nesta mesma comparação, apresentou crescimento de 2,2%. Em relação a janeiro de 2017, o resultado da indústria de transformação foi de +6,7%, enquanto o setor extrativista permaneceu estável. O crescimento de 5,7% da indústria geral foi, então, produzido apenas pelo segmento manufatureiro.
Frente a dezembro de 2017, na série com ajuste sazonal, a queda de 2,4% da indústria geral foi acompanhado por: 19 dos 24 ramos pesquisados. A principal influência negativa foi assinalada por veículos automotores, reboques e carrocerias (-7,6%). Outros setores com contribuições negativas foram: metalurgia (-4,1%), produtos de borracha e material plástico (-5,4%), produtos alimentícios (-1,1%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,4%), outros equipamentos de transporte (-12,1%), produtos de metal (-4,9%), produtos diversos (-11,2%), celulose, papel e produtos de papel (-3,3%), entre outros. Dentre os cinco ramos que ampliaram a produção destacam-se: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+21,0%), indústrias extrativas (+2,2%) e bebidas (+5,0%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou alta de 5,7%, variações positivas marcaram o desempenho de 20 dos 26 ramos, 58 dos 79 grupos e 60,0% dos 805 produtos pesquisados. Os destaques positivos ficaram a cargo de: veículos automotores, reboques e carrocerias (+27,4%), máquinas e equipamentos (+15,6%), produtos alimentícios (+4,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+32,0%), metalurgia (+10,0%), bebidas (+11,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+15,2%), produtos de borracha e de material plástico (+5,7%), celulose, papel e produtos de papel (+5,3%), entre outros. Em sentido oposto, registraram queda couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-4,3%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-5,2%) e outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-5,9%), etc.
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de janeiro de 2018 aumentou 19,4% frente ao mesmo mês do ano passado, depois de ter ficado estável em dezembro de 2017. Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria caíram 0,6% em janeiro de 2018 frente a janeiro de 2017. Apesar de pequena, esta foi a segunda queda consecutiva (-0,3% em dezembro de 2017).
Utilização de Capacidade
O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, foi de 74,7% em janeiro de 2018, o mesmo patamar registrado em dezembro de 2017. O indicador tem ficado praticamente estável frente ao mês imediatamente anterior desde outubro de 2017, passando de 74,5% para 74,7%. O atual nível de utilização continua inferior à média histórica do próprio indicador (80,4%).
Já o indicador da CNI ficou em 78,1% em janeiro de 2018, já descontados os efeitos sazonais. O indicador havia encerrado o ano de 2017 em 77,9%, o mesmo patamar registrado em novembro do mesmo ano. Assim como no caso do indicador da FGV, a utilização da capacidade estimada pela CNI manteve-se abaixo de sua média histórica de 80,4%.
A permanência da utilização da capacidade em níveis historicamente baixos e sem uma trajetória inconteste de acentuada melhora não é um indício favorável para a evolução futura do investimento, isso porque máquinas e equipamentos atualmente ociosos deverão ser postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar sua capacidade de produção. Em contrapartida, a existência de capacidade ociosa significa que existem plenas condições de oferta para garantir uma recuperação da atividade econômica sem pressões inflacionárias.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, os estoques de produtos finais da indústria em janeiro de 2018 assinalaram índice de 49,2 pontos, depois de ter atingido em julho o patamar mais elevado desde junho de 2015 (51,1 pontos). Vale lembrar que o indicador abaixo de 50 pontos indica redução dos estoques e acima, aumento deles.
Este resultado em janeiro de 2018 foi condicionado pelo segmento da indústria de transformação, cujo indicador de estoques ficou muito próximo da marca dos 50 pontos, em 49,1 pontos, depois de ter chegado a 46,2 pontos em dezembro de 2017. A indústria extrativa, por sua vez, ficou em 49,3 pontos (52 pontos em dez/17).
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral, em janeiro, ficaram próximos do nível planejado, porém, um pouco abaixo da marca de 50 pontos, em 49,2 pontos. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 49,3 pontos e 49,2 pontos, respectivamente.
Neste último grupo industrial, isto é, na indústria de transformação, 21 dos 27 ramos acompanhados pela CNI tiveram estoques iguais ou menores do que o planejado (50 pontos) em janeiro de 2018, como em outros equipamentos de transporte (37,5 pontos), veículos automotores (43,6 pontos), produtos de metal (44,3 pontos) e metalurgia (45,2 pontos), entre outros. Cabe observar a boa evolução recente de setores com índice igual ou abaixo de 50 pontos: 13 em set/17; 16 em out/17; 17 em nov/17, 19 em dez/17 e agora 21 em jan/18. Em contraste, constataram estoques efetivos acima do planejado os setores calçados (52,9 pontos), máquinas e equipamentos (52,9 pontos) e couros (60,4 pontos), entre outros.
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI (ICEI) atingiu em janeiro de 2018 a melhor marca desde março de 2011: 59,3 pontos, atingindo 59,4 pontos em fevereiro. Este desempenho de fevereiro de 2018 resultou do seu componente de expectativas para o futuro, que ficou praticamente estável frente ao mês anterior (62,0 pontos), mas também de uma avaliação positiva das condições atuais dos negócios, que pelo sexto mês consecutivo ficou acima da marca dos 50 pontos em dezembro de 2017 (54,1 pontos).
Por sua vez, o Índice de Confiança da Indústria de Transformação da FGV voltou a indicar otimismo em fevereiro de 2018, ficando acima da marca de 100 pontos, algo que não ocorria desde janeiro de 2014. O nível de 100,4 pontos antigo em fevereiro foi, então, o mais elevado desde que a crise se revelou no setor industrial. Porém, seu componente de avaliação das condições correntes, que havia ultrapassado a linha de 100 pontos pela primeira vez depois de janeiro de 2014 em janeiro de 2017 (100,9 pontos) regrediu para 99,4 pontos. Seu componente expectacional, contudo, voltou a subir e ficou em 101,4 pontos.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Seu nível vem se mantendo acima de 50 pontos desde abril de 2017, indicando melhora das condições de negócio, e atingiu 53,2 pontos em fevereiro de 2018 – o primeiro avanço depois de dois meses consecutivos de declínio.
Anexo Estatístico
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)