Carta IEDI
Indústria 4.0: a Indústria do Futuro e a iniciativa Nova França Industrial
A Carta IEDI de hoje faz um levantamento das iniciativas recentes de política industrial na França voltadas para a difusão das novas tecnologias associadas à Indústria 4.0. A partir dessas tecnologias o governo francês aposta na reconquista da posição de potência industrial e na reversão do quadro de aguda desindustrialização e de atraso tecnológico que tem assolado a economia francesa nas últimas duas décadas.
O trabalho faz parte de uma série de estudos realizados pelo IEDI sobre experiências internacionais a respeito da indústria 4.0, que inclui a Alemanha (Carta n. 807 “Indústria 4.0: A Política Industrial da Alemanha para o Futuro” de 29/9/17), EUA (Carta n. 820 “Indústria 4.0: O Plano Estratégico da Manufatura Avançada nos EUA” de 11/12/17), China (Carta n. 827 “Indústria 4.0: A iniciativa Made in China 2025” de 26/01/18), Coreia do Sul (Carta n. 831 “A Coreia do Sul e a Indústria do Futuro” de 16/02/18) e Japão (Carta n. 838 “Indústria 4.0: a Política Industrial no Japão face à Quarta Revolução Industrial” de 16/03/18), entre outros trabalhos, inclusive sobre o Brasil (Carta n. 797 “Indústria 4.0: Desafios e Oportunidades para o Brasil” de 21/07/17 e n. 803 “Indústria 4.0: O Futuro da Indústria” de 01/09/17)
Antes de entrar no tema da indústria 4.0 propriamente, é importante ressaltar que na França, assim como no Brasil e em contraste com alguns países como Alemanha, a indústria de transformação encolheu nas últimas décadas. Este é um aspecto de destaque porque a trajetória descendente do setor pode dificultar sua adaptação aos novos tempos. Em contrapartida, pode também significar uma oportunidade ímpar para seu refortalecimento, a partir de níveis superiores de produtividade e de competitividade.
Enquanto o setor manufatureiro alemão manteve relativamente estável sua parcela no PIB (22,6%), no caso da França seu peso recuou de 16,2% em 1995 para apenas 10% em 2015. A participação industrial também declinou em termos do emprego, passando de 15% para 10% do emprego total nos últimos 20 anos, e do saldo do comércio exterior. A balança comercial da indústria francesa tornou-se cronicamente deficitária, saindo de +2% do PIB para -2% neste período.
Embora comum a todos os principais países industrializados no mesmo período, o fenômeno da desindustrialização parece ter sido muito mais rápido e mais brutal na França do que em outros lugares. Para o professor Jean Luc Gaffard, pesquisador da SciencesPo, a especificidade da desindustrialização francesa reside no desmantelamento e a dispersão de grandes conglomerados industriais franceses na sequência da liberalização financeira do final dos anos 1980, levando a uma concentração em seu core business e ignorando a similaridade das habilidades e competências envolvidas nas diferentes áreas de atividade. Além disso, houve redução nos investimentos industriais, com consequências deletérias para a inovação e o crescimento.
Com vistas a interromper o declínio industrial em sua estrutura produtiva, promover a modernização e a competitividade do setor, foi lançado, em setembro de 2013, a iniciativa Nova França Industrial (NFI). À semelhança dos programas de política industrial executados em outros países desenvolvidos, como Alemanha, Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão, a NFI aborda três áreas: desenvolvimento de oferta de novas tecnologias, apoio à difusão dessas tecnologias junto às empresas para modernização do aparelho produtivo e desenvolvimento e adaptação das competências e habilidades dos trabalhadores exigidas por tais tecnologias.
Composta incialmente de 34 planos de reconquista industrial, a NFI mobilizou um conjunto de atores públicos e privados, da indústria, da academia e do governo, em torno de ações concretas visando aos seguintes objetivos: novas ofertas, novos avanços tecnológicos, novos investimentos e novos postos de trabalho. Dirigentes de empresas industriais e/ou digitais se tornaram responsáveis pela coordenação dos projetos individuais enquanto a direção geral da iniciativa foi atribuída a um comitê de direção que reúne atores públicos e privados, sob a autoridade do primeiro-ministro francês.
Em maio de 2015, a NFI entrou em sua segunda fase, com um expressivo plano de investimentos. Além do apoio financeiro de cerca de € 2,2 bilhões mediante empréstimos do banco público de investimento BpiFrance para ajudar não apenas as pequenas e médias empresas, mas também empresas maiores a financiar seus investimentos em tecnologia digital, robótica e eficiência energética, etc., o governo francês instituiu um benefício fiscal, em caráter excepcional, sob a forma de uma superdepreciação acelerada (suramortissement) para empresas que investissem em sua modernização produtiva no período abril de 2015 a abril de 2017. Esse benefício fiscal extraordinário foi da ordem de € 5 bilhões.
Além disso, essa segunda fase da NFI resultou em uma reorganização dos 34 planos iniciais em nove "soluções", que fornecem respostas concretas aos seus principais desafios econômicos e sociais: novos recursos, cidade sustentável, mobilidade ecológica, transporte do futuro, medicina do futuro, economia dos dados, objetos inteligentes, confiança digital, alimentação inteligentes. Em paralelo, foi estabelecido um projeto transversal intitulado Indústria do Futuro, o correspondente francês da iniciativa Indústria 4.0 da Alemanha. Seu objetivo maior está centrado na modernização e transformação do modelo industrial francês pela tecnologia digital.
O projeto transversal Indústria do Futuro foi organizado em torno de cinco pilares: desenvolvimento da oferta de tecnologias da indústria 4.0; acompanhamento das empresas rumo a essas tecnologias; formação dos trabalhadores; promoção indústria do futuro; fortalecimento da cooperação europeia e internacional. Ele apoiará os projetos estruturantes de empresas em mercados onde a França pode adquirir, dentro de um prazo de 3 a 5 anos, liderança europeia, ou mesmo mundial, tais como manufatura aditiva, virtualização da fábrica e objetos conectados e realidade aumentada.
A coordenação desse projeto ficou a cargo da associação Aliança para a Indústria do Futuro, anunciada em abril de 2015 e tornada operacional em julho de 2015. Presidida pelo presidente da empresa Arcelor Mittal France e do grupo de federações industriais, Philippe Darmayan, essa associação congrega representantes da indústria, universidades e centros de pesquisa e das regiões francesas.
Segundo Darmayan, os desafios da indústria do futuro na visão dos industriais franceses são de quatro ordens: diferenciação da oferta por uma adaptação mais fina à demanda (customização); competitividade (custos mais baixos, melhoria contínua, robotização, tratamento dos dados); redução do capital empregado (velocidade de processamento, encadeamento entre o design e a fábrica, redução de requisitos de capital de giro, manutenção preditiva); transformação de modelos de negócios.
Maiores detalhes sobre as iniciativas francesas em prol da indústria 4.0 são apresentados a seguir. O trabalho foi elaborado a partir de documentos do governo da França, de relatórios do think tank francês, La Fabrique de l’Industrie, de artigos publicados pelo Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE)/SciencesPo e pela edição de outubro de 2016 da revista Réalités industrielles, inteiramente dedicada ao tema da Indústria do Futuro. Também foram utilizadas informações extraídas do relatório OECD Science, Technology and Industry Scoreboard 2017 - The Digital Transformation: France.
A desindustrialização à francesa
Nas últimas duas décadas, a indústria de transformação francesa vem perdendo participação no PIB de forma acentuada. Enquanto em países como Alemanha, a indústria manteve relativamente estável sua parcela no PIB (22,6%), na França, o peso da indústria de transformação reduziu de 16,2% em 1995 para apenas 10% em 2015. Esta desindustrialização se expressa ainda nos números do emprego industrial que declinaram de 15% para 10% do emprego total nos últimos 20 anos, e, talvez, ainda mais, do excedente comercial que se tornou um déficit crônico, passando de 2% do PIB para -2%.
Embora comum à maioria dos principais países industrializados no mesmo período, o fenômeno da desindustrialização parece ter sido muito mais rápido e mais brutal na França do que em outros lugares. O país acumulou um significativo déficit de investimento produtivo em relação aos seus principais competidores, estimado em 100 bilhões de euros em 2010, que se traduziu em envelhecimento do aparelho produtivo e atraso tecnológico.
As causas da desindustrialização são múltiplas e se devem em sua maior parte, às estratégias de terceirização das empresas industriais e aos ganhos de produtividade. Para explicar a desindustrialização francesa, a maioria dos economistas lança mão de argumentos que vão desde o elevado custo relativo da mão-de obra em razão da rigidez do mercado de trabalho doméstico à trajetória inexorável de desenvolvimento das economias avançadas que se tornam economias de serviços, como são os casos do Reino Unido e dos Estados Unidos.
Na contramão dessa interpretação, o professor Jean-Luc Gaffard, diretor e pesquisador do Departamento Pesquisa sobre Concorrência e Inovação do Observatoire français des conjonctures économiques (OFCE) da SciencePo, destaca, no texto “L’industrie française entre déclin et renouveau”, OFCE policy brief 13, 27 mars 2017, o desmantelamento e a dispersão de grandes grupos industriais na sequência da liberalização financeira do final dos anos 1980 e crescimento da fundos de investimento no capital das empresas industriais francesas.
Segundo o professor Gaffard, o modelo industrial francês, tal como surgiu na década de 1950, fazia parte de uma tradição estatista, também verificada em outros países, tal como Alemanha, Itália e Japão. Para fazer face às exigências da criação do Mercado Comum Europeu, o Estado tornou o arquiteto de uma política industrial que consistia em consolidar ou promover a formação de grandes grupos, diversificados e multinacionais, em várias áreas-chave da indústria (siderurgia, metalurgia, produtos químicos, materiais, aeronáutica, engenharia elétrica e mecânica, energia, meio ambiente). Esses grupos se beneficiaram de um forte apoio público e acesso a financiamentos direcionados que garantiam a possibilidade de realizar investimentos de longo prazo.
A ruptura desse modelo na França ocorreu no final da década de 1980, quando se escolheu uma política de desinflação competitiva bem como a liberalização do sistema financeiro para atender exigências externas. Isso resultou em um longo período de altas taxas de juros, prejudiciais ao investimento, em um contexto de reestruturação das estruturas industriais igualmente afetadas pela privatização. Em um contexto institucional marcado pelo fim do financiamento direcionado e pelo crescente domínio dos mercados financeiros, os conglomerados industriais foram segmentados, e atividades e empresas foram postas à venda em resposta às exigências da valorização financeira dos ativos.
Os núcleos de acionistas que supostamente seriam o núcleo duro dos conglomerados formados no momento das operações de privatização, não resistiram à profunda alteração das regras de governança, nem às exigências de rentabilidade imediata dos fundos de investimento estrangeiros. O predomínio da lógica do rápido retorno aos novos acionistas levou as empresas francesas a se concentrarem no chamado negócio principal (core business), ignorando a similaridade das habilidades e competências envolvidas nas diferentes áreas de atividade. O desmantelamento dos conglomerados e as recomposições prosseguiram na década de 2000 e os fundos estrangeiros se tornaram cada vez mais importantes como investidores no capital das empresas francesas, impondo como objetivo a maximização do valor das ações em detrimento de visões estratégicas de longo prazo.
Segundo o autor, na França, a capitalização de mercado detida por empresas não financeiras caiu 29% para 16% entre 1996 e 2004, enquanto a participação das empresas financeiras domésticas aumentou de 27% para 31% e de empresas estrangeiras passou de 25% para 40%. Em contraste, na Alemanha, no mesmo período, a participação das empresas não financeiras aumentou de 37% para 43% e de empresas financeiras caiu de 21% para 15%. Nestas condições, entre 1997 e 2009, os fundos de investimento, notórios “investidores impacientes”, entraram no capital, com participação acima de 5%, de 39 das 60 maiores empresas da França contra 19 na Alemanha.
Essas mudanças afetaram negativamente o desempenho das empresas em termos de inovação e crescimento. Gaffard destaca que as relações estáveis de longo prazo que as empresas mantinham com os fornecedores de capital eram essenciais para que as empresas maduras ou estabelecidas realizassem investimentos pesados de longo prazo, portadores de inovação e crescimento. Da duração desses compromissos e, portanto, do modo de governança dependiam, de fato, o desempenho médio dessas empresas maduras, a estruturação eficiente da indústria e, finalmente, a industrialização da economia.
Segundo o autor, com o avanço da financeirização da economia, o modelo industrial francês viu sua coerência rompida, com as antigas formas de organização industrial se encontrando em desacordo com o predomínio do financiamento de mercado. Em contraste, a Alemanha soube preservar um modo de governança corporativa baseado na estabilidade das relações de financiamento, das relações de trabalho e das relações entre empresas de atividades complementares.
De acordo com Gaffard, excetuando os domínios da aeronáutica, espaço e defesa, ou luxo, de todas as grandes empresas industriais multinacionais da França, que surgiram nas décadas de 1960 e 1970, poucas permaneceram. Entre as sobreviventes estão, essencialmente, aquelas que servem mercados locais em todo o mundo, e, em última análise, contribuem pouco para as exportações francesas, aquelas que transferiram uma grande parte de suas cadeias de produção para países de baixo custo, particularmente no setor automobilístico e, finalmente, aquelas que se tornaram em grande parte prestadoras de serviços de alta qualidade para produções manufatureiras, sobretudo realizadas em países estrangeiros. Segundo o autor, protótipo desse último tipo de multinacional francesa é o que se tornou a Alstom, centrada, desde 2014, em atividades de transporte ferroviário.
Na interpretação do autor, esta evolução é uma forma constitutiva de desindustrialização, cuja principal consequência foi o enfraquecimento das capacidades de exportação da economia francesa na zona do euro e, em particular, nas suas relações com a Alemanha. A fraqueza relativa da indústria francesa em relação aos seus concorrentes europeus está, além disso, refletida nos números da produção terceirizada de grandes grupos em comparação com suas exportações, que é 2,5 vezes na França contra 1,45 em Alemanha e 1,20 na Itália, testemunhando, entre outros aspectos, as diferenças de estratégia que remetem a diferenças de desempenho.
Para o professor Gaffard, outro aspecto da desindustrialização reside na pouca capacidade das pequenas empresas em crescer e desenvolver-se para se tornarem empresas intermediárias com forte capacidade de exportação, cercadas por uma rede densa de relações contratuais com seus clientes ou diretores. Segundo o autor, embora a maior parte das despesas de P&D seja feita por um pequeno número de empresas de grande porte, que realizam inovação incremental, as rupturas tecnológicas continuam a ser prerrogativas de empresas pequenas e inovadoras. Porém, as pequenas empresas não criam mais empregos do que as grandes empresas. Apenas as empresas jovens com alto potencial de crescimento o fazem. Daí a importância da sua sobrevivência e crescimento.
Por isso, na França, as empresas de porte intermediário são cerca de 5.000, contra 16.000 na Alemanha, onde constituem o coração de um tecido industrial eficiente. Na França, muitas vezes, os proprietários de pequenas empresas optaram por mantê-las pequenas. Em outros casos, essas empresas foram absorvidas por grandes grupos, perdendo sua identidade e capacidade de inovação. Na maioria das vezes, isso decorre da existência de dificuldades de financiamento devido à falta de um número suficiente de business angels, poucos fundos de capital de risco, número reduzido de IPOs, mas também do acesso limitado a empréstimos bancários.
A esses aspectos do problema da desindustrialização que são da ordem da governança e que têm uma forte conotação financeira, se adicionam os efeitos das políticas de emprego adotadas na França, quer se trate de custos salariais ou de treinamento. Segundo o pesquisador da SciencesPo, a política sistemática de redução dos encargos que incidem sobre os salários mais baixos para conter o desemprego certamente teve o efeito desejado de preservar ou mesmo criar empregos não qualificados. Porém, também encorajaram as empresas a favorecer o trabalho não qualificado e a atrasar os esforços de investimento necessários para modernizar seu aparelho produtivo à custa de criar empregos qualificados de médio prazo.
Além disso, as deficiências na organização da formação profissional inicial e contínua resultaram em uma escassez relativa de técnicos seniores, ou mesmo de engenheiros, na prática da profissão para a qual foram treinados. Tanto porque os beneficiários de cursos vocacionais curtos optaram massivamente para a continuação dos estudos como porque uma fração significativa dos titulares de um diploma de engenharia optou por seguir carreiras de finanças, atividade muito melhor remunerada.
A financeirização da governança corporativa como a causa da dificuldade das empresas industriais francesas na definição de estratégias de longo prazo também é apontado por Michel Aglietta e por Xavier Ragot, no artigo Érosion du tissu productif en France: Causes et remèdes, publicado na Revue de l'OFCE, nº142, 2015, pg 95 à 150. Segundo esses autores, o baixo volume dos investimentos produtivos de longo prazo do setor industrial francês seria resultado do predomínio da lógica de retorno rápido ao acionista.
Comparado com outros países europeus, a França foi o único país que não registrou queda na taxa média de investimento após 1999, ocasião em que se verificou forte declínio das margens de lucro. Na indústria de transformação, margem de lucro da indústria caiu 7 pontos percentuais entre 2000 e 2009, passando de 35% para 28%. A redução do custo do crédito pela metade, desde 2000, encorajou fortemente o endividamento privado na França. Porém, o investimento adicional financiado por dívida não foi para modernização e aumento da intensidade tecnológica, mas sim uma substituição de capital existente e a compra de imóveis. De acordo com Aglietta e Rochet, “o investimento imobiliário era procurado como uma classe de ativos de autovalorização nos balanços das empresas, servindo como garantia para novos empréstimos em condições favoráveis, enquanto as taxas de investimento produtivo diminuíram na indústria de transformação”.
Para estes autores, o elevado nível dos preços dos imóveis em França influenciou as decisões de investimento das empresas em detrimento do investimento de longo prazo em máquinas e equipamentos, os quais trazem novas tecnologias. A fragilidade desse tipo de investimento se tornou um fator de atraso na difusão de novas tecnologias e na captura de ganhos de produtividade, contribuindo para a erosão do tecido industrial francês.
O resgate da política industrial
De forma similar ao que ocorreu em outros países desenvolvidos, na França, a crise de 2008 soou como um sinal de alerta e aumentou a conscientização das autoridades governamentais sobre a importância do setor industrial para a prosperidade econômica. Em 2009, com intuito de reativar a economia, o então presidente francês Nicolas Sarkozy anunciou o Programa de Investimentos do Futuro (PIA), com o objetivo aumentar a competitividade francesa, incentivando a pesquisa básica e tecnológica e a inovação. Criado efetivamente em março de 2010, pelo governo do primeiro ministro François Fillon, esse programa recebeu dotação orçamentária plurianual de 35 bilhões de euros. Os investimentos públicos do programa foram mantidos pelo presidente François Hollande, que ampliou as dotações em 2014 (PIA2) e em 2016 (PIA3).
Desde junho de 2012, o governo francês se envolveu diretamente na promoção da modernização do aparelho produtivo e na recuperação da competitividade industrial. Foram adotadas várias medidas importantes. A primeira delas foi a criação do Banco de Investimento Público (BpiFrance), com a missão de apoiar o crescimento e a internacionalização das empresas via inovação. Em seguida, foi lançado o Crédito Fiscal para a Competitividade e o Emprego (CICE, na sigla em francês) e, em 2014, o Pacto de Responsabilidade e o lançamento do PIA2, com dotação de 12 bilhões de euros e objetivo ampliado para incluir a modernização industrial e a tecnologia digital, em particular nas áreas de computação nas nuvens e Big data.
Com a Quarta Revolução Industrial em curso, processos, cadeias de valor e modelos de negócios estão em plena transformação, com a integração de tecnologias digitais nas indústrias, notadamente a internet das coisas, computação nas nuvens, análise de Big Data, realidade aumentada, manufatura aditiva, modelização e simulação numérica, etc., bem como da robotização e da inteligência artificial. Para países que sofreram um declínio acentuado na indústria, como é o caso da França, a indústria 4.0 (ou indústria do futuro, segundo a denominação francesa) representa uma oportunidade de reativação do setor industrial, que está perdendo terreno diante da concorrência de países mais competitivos.
A Iniciativa Nova França Industrial
Em setembro de 2013, o presidente francês François Hollande lançou a iniciativa Nova França Industrial, composta de 34 planos de apoio ao setor industrial, preparados pelo então ministro da Economia, Indústria e do Digital, Arnaud Montebourg. Com essa iniciativa, o governo francês procurou reunir os interessados econômicos e industriais em torno de um objetivo comum de reindustrialização da economia, colocando as ferramentas do Estado a serviço desse projeto e mobilizando ecossistemas locais para a construção de uma oferta industrial francesa, nova e competitiva internacionalmente, e, assim, criar novos empregos.
À semelhança dos programas de política industrial executados em outros países desenvolvidos, como Alemanha, Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão, a iniciativa Nova França Industrial aborda três áreas: desenvolvimento de uma oferta de novas tecnologias, apoio à difusão dessas tecnologias junto às empresas para modernização do aparelho produtivo e desenvolvimento e adaptação das competências e habilidades dos trabalhadores às novas tecnologias adotadas pelas empresas.
Os 34 planos da NFI, que cobrem projetos em diferentes setores da indústria e da economia, se baseiam na ideia de que a França é “uma grande nação industrial, sólida, produtiva, capaz de se reinventar e tornar-se pioneira na revolução industrial em curso, que se encontra na encruzilhada das transições ecológicas e energéticas, por um lado, por outro lado, informatização e digitalização”. Para cada um desses planos foi definido roteiro que estabelece calendário específico de ações concretas, públicas e privadas, e detalha os papéis respectivos dos vários atores (empresas industriais, entidades governamentais, universidades e organismos de pesquisa,) e os objetivos a serem alcançados: novas ofertas, novos avanços tecnológicos, novos investimentos e novos empregos, bem como os instrumentos de política utilizados.
Dirigentes de empresas industriais e/ou digitais se tornaram responsáveis pela coordenação dos projetos individuais enquanto a direção geral da iniciativa foi atribuída a um comitê de direção que, reúne atores públicos e privados, sob a autoridade do primeiro-ministro. Mais de 500 pessoas estiveram envolvidas nas equipes dos projetos, representando mais de 250 empresas de todos os tamanhos: grandes empresas, pequenas e médias (PME) e empresas de tamanho intermediário (ETI), que são aquelas que possuem entre 250 e 4.999 empregados e volume de negócio inferior a 1,5 bilhão de euros.
Por razões de espaço não é possível detalhar nessa Carta IEDI todos os 34 planos de reconquista da NFI, que são apresentados no Anexo 1 (Clique aqui). À título de exemplo, apresentam-se a seguir os planos mais diretamente relacionados às tecnologias associadas à Quarta Revolução Industrial.
Softwares e sistemas integrados. Esse plano centra-se no domínio das tecnologias críticas utilizadas nos softwares e sistemas integrados, tal como: processadores compostos de várias unidades de cálculo (processador multinúcleo) e simulação dos sistemas ciberfísicos. O plano, que tem como objetivo a concepção de uma oferta francesa de plataforma de execução para aplicações industriais (“Android para aplicações industriais”) no horizonte de cinco anos (2018), conta com apoio à inovação no âmbito do Fundo Nacional para a Sociedade Digital (FSN) do Programa de Investimentos para o Futuro (PIA), com uma concentração nas tecnologias dos objetos integrados e conectados.
Big Data. Esse plano foi concebido para promover o desenvolvimento do ecossistema industrial competitivo no campo de Big Data na França. Seu principal objetivo é posicionar a França como o país de referência no campo da Big Data associando os fornecedores de tecnologia - principalmente PME e startups -, os grandes grupos de usuários e também os institutos de ensino superior. Entre os instrumentos de política utilizados destacam: financiamento para startups e PMEs; facilitar o acesso das start-ups aos dados de grandes entidades públicas e privadas, bem como a infraestrutura necessária para explorar esses dados; apoio financeiro a projetos para promover a divulgação de grandes dados em vários setores industriais.
Computação em nuvem. Esse plano tem como missão encorajar o desenvolvimento de uma indústria de computação nas nuvens francesa e europeia para reforçar a soberania digital sobre dados pessoais, e ao mesmo tempo aumentar a competitividade das empresas francesas. Espera-se criar ou consolidar mais de 100 mil postos de trabalho até 2020. O governo pretende criar uma etiqueta de segurança Secure Cloud para ofertas de computação em nuvem. Igualmente, prevê ajuda às editoras de software para realizar a transição para as nuvens, suporte para inovação em computação nas nuvens, com orientação de uso e simplificação das etapas requeridas para criar centros de dados.
Telecomunicação soberana. O desenvolvimento de um ecossistema nacional de telecomunicações é considerado crucial pelo governo da França diante da globalização do intercâmbio de dados e da digitalização de muitos usos críticos. Por essa razão, o desafio desse plano é garantir, não somente, a competitividade da indústria francesa, mas também o controle nacional das infraestruturas e sua segurança. Seus objetivos específicos são: desenvolver redes de comunicação de alta velocidade e segurança para operadores de vital importância (tecnologia LTE / 4G) para preparar a banda móvel ultralarga (5G) e fornecer soluções para supervisionar e proteger as infraestruturas domésticas de telecomunicação e informação. O plano prevê o financiamento em parceria público-privada de projetos de desenvolvimento da tecnologia 5G e a promoção da participação de empresas em fase de arranque (start-ups) e PME inovadoras com potencial de crescimento em todos os projetos lançados.
Nanoeletrônica. Esse plano tem como desafio tornar a França a líder europeia nas tecnologias de produção de componentes nanoeletrônicos integrados, que irrigam a maioria dos ramos industriais. Como objetivo específico visa garantir a disponibilidade de componentes estratégicos para certos setores industriais-chave, como aeronáutica, automotiva e de defesa, dobrando a produção francesa até 2020 com ganhos significativos em termos de desempenho e consumo de energia. Várias ferramentas públicas servem de alavanca de política: o Programa Nano 2017, lançado em 2013, com orçamento de € 3,5 bilhões para aumentar a capacidade de produção da fábrica ST Microeletronics em Crolles, considerada como um centro de excelência para semicondutores na Europa, os programas de P&D ao serviço da atratividade e competitividade; bem como compras governamentais de ofertas francesas e europeias de componentes nanoeletrônicos de caráter estratégico para os setores industriais-chave.
Objetos conectados. O plano tem como missão reforçar o savoir faire da França no domínio de objetos conectados bem como sua divulgação. Seus objetivos específicos são: a criação na cidade de Angers de um espaço industrial (Cité de l’object connecté), propício ao desenvolvimento e produção na França de objetos conectados inovadores; promover a oferta industrial francesa de objetos conectados; fazer emergir campeões franceses a partir de projetos setoriais, em setores como indústrias de alimentos, luxo, energia e mecânica. Como alavancas de política, o plano prevê empréstimos para industrialização e ferramentas que facilitam o acesso ao financiamento para empresas que produzem na França e encomendas governamentais para objetos conectados.
Realidade aumentada. A realidade aumentada está revolucionando o cotidiano e abrindo para todos, em todas as áreas, novas perspectivas em termos de melhoria de serviços e processos. Para se beneficiar plenamente do crescimento deste mercado e alavancar oportunidades, a França conta com vários grandes grupos e PME inovadoras, produtores de conteúdo, fabricantes de equipamentos, desenvolvedores de software. O objetivo desse plano é acelerar a difusão da tecnologia Made in France em aplicações profissionais e de consumo. O principal instrumento de política é o suporte financeiro aos projetos pilotos de realidade aumentada concedidos por intermédio do BpiFrance.
Robótica. A França já é um dos motores da revolução robótica e tem potencial para se tornar um dos cinco líderes mundiais até 2020. O país possui excelência industrial e acadêmica para enfrentar a concorrência norte-americana e asiática, porém é pouco presente na robótica industrial e as fábricas francesas permanecem insuficientemente robotizadas. Por essa razão, esse plano tem como objetivos: promover o setor, ampliando sua influência internacional, acelerar a difusão tecnológica, apoiar e acompanhar as PME no caminho da robotização, permitir o desenvolvimento de treinamentos para a robótica contemporânea e remover os freios legais e normativos. As alavancas de política utilizadas foram: o lançamento do fundo de investimento Robolution Capital, com participação do BpiFrance, o financiamento do investimento em robôs para a Start-ups e PMEs no âmbito do programa Robot Start PME e o apoio financeiro às atividades de P&D em robótica.
Fábrica do futuro. A França precisa enfrentar o duplo desafio de modernizar sua ferramenta produtiva, projetar e desenvolver processos de produção e ferramentas do futuro. A fábrica do amanhã terá que ser mais ecológica e mais eficiente em termos de recursos, mais inteligente, com métodos de produção cada vez orientados à fabricação de produtos personalizados e/ou em série pequena. O plano Fábrica do Futuro visa acelerar a modernização do aparelho produtivo, recuperar o atraso dos investimentos do setor industrial francês, revitalizar o tecido industrial francês e tornar o território francês mais atraente para a atividade econômica. Os objetivos específicos do plano são: o desenvolvimento de novas tecnologias vitrine para a "fábrica do futuro à francesa" e desenvolvimento de liderança tecnológica nos principais temas não maduros da fábrica do futuro.
O conceito de "fábrica do futuro" traz a visão de fábricas conectadas, tornadas flexíveis e inteligentes graças à rede de máquinas, produtos e indivíduos. Ao modernizar sua ferramenta de produção, automatizando-se, as empresas substituem o trabalho pelo capital. Isso permite que elas ganhem produtividade ou elevem a qualidade, melhorando assim o volume de seus negócios e as margens de lucro. As atividades de produção menos intensivas em mão-de-obra são menos limitadas pelo custo do trabalho, especialmente porque a vantagem comparativa de certos países emergentes nesta área está começando a diminuir. Porém, o posicionamento em atividades com alto valor agregado, a complexificação das ferramentas de produção e os novos modos de organização do trabalho de que dela resultam requerem mão-de-obra qualificada e treinada.
De acordo com a Federação Francesa das Indústrias Mecânicas (FIM), no documento Guide Pratique de l´Usine du Futur: enjeux et panorama de solutions, publicado em 2015, com objeto de divulgar e promover o conceito de Fábrica do Futuro, afirma que essa é “uma resposta a várias transições simultâneas: energética, ecológica, digital, organizacional e social [...] O novo modelo da fábrica foi concebido para estar no centro do seu ecossistema e atender às novas necessidades da sociedade: uma planta inovadora, competitiva, eficiente, segura e atraente, uma fábrica [...] silenciosa, envolvida em seu ecossistema industrial econômico em matérias-primas e energia, uma fábrica focada no ser humano, para levar em conta as expectativas dos colaboradores ao longo de sua vida ativa e para atrair os talentos que necessita, uma fábrica que emancipa, graças à automação e robótica colaborativa, o homem de tarefas dolorosas ou repetitivas para colocar suas funções cognitivas ao serviço da qualidade.”
Na avaliação da FIM, todas as empresas mecânicas francesas (mais de 10 mil empresas com mais de 10 funcionários) são potenciais fábricas do futuro. Como o setor industrial líder em termos de emprego, as empresas mecânicas são o principal fornecedor de equipamentos de produção para todos os setores industriais: agroalimentar, aeronáutica, automotiva, química, energia, ferrovias, naval, farmácia / cosméticos, construção e obras públicas. Os equipamentos que projetam e fabricam terão que evoluir e trazer as inovações necessárias para atender às necessidades das fábricas do futuro de todos os setores industriais. Como setor transversal, as indústrias mecânicas são, portanto, atores centrais da Fábrica do Futuro.
A direção do projeto Fábrica do Futuro foi confiada aos presidentes do Grupo Five e do Dassault Systèmes. Participam da iniciativa inúmeras empresas industriais, de diferentes setores, tais como Airbus, Coriolis Composites, EDF, Gorgé, PSA, Renault, Schneider, Staubli, Air Liquide, Alstom, CORAC, Daher, DCNS, Essilor, GSK, Michelin, Lafarge, SEB, Safran, Sogeti, Solvay, Triballat-Noyal, Trimet, Valeo. Ao lado dos atores privados, atuam no plano Fábrica do Futuro, a Associação das Regiões da França (ARF), o Instituto de Pesquisa Tecnológica Jules Verne e o BpiFrance, responsável pelo suporte financeiro sob a forma de financiamento dos projetos de modernização.
O plano Fábrica do Futuro planejava apoiar entre 2.000 a 3.000 PMEs e ETI em três anos mediante a mobilização de regiões e federações industriais. As regiões francesas seriam as responsáveis pelo financiamento dos diagnósticos industriais. Como será visto mais a frente, com a reformulação da NFI, o objetivo do plano Fábrica do Futuro foi ampliado e rebatizado como Indústria do Futuro. Na segunda fase da NFI, esse objetivo foi elevado a 4.000 empresas até o final de 2017.
O financiamento de projetos de modernização dessas e outras empresas foi viabilizado por uma linha de empréstimos da Bpifrance, denominados como "Fábrica do futuro", acumuláveis até € 12 milhões por empresa e por meio do benefício fiscal de depreciação acelerada.
A Indústria do Futuro
A partir de maio de 2015, a NFI entrou em sua segunda fase. O atual presidente francês, Emmanuel Macron, então Ministro da Economia, da Indústria e do Digital, realizou uma revisão dos 34 planos formulados pelo seu antecessor no Ministério, procurando imprimir à NFI uma nova dinâmica e uma nova lógica. Em parceria com a indústria, foi organizada uma ampla mobilização nacional para acelerar a Indústria do Futuro na França, de modo a levar cada empresa a modernizar seu parque industrial e transformar seu modelo de negócios pela utilização da tecnologia digital.
Foi anunciado um vasto programa de apoio ao investimento industrial que visa superar o atraso das empresas francesas em robotização e encorajá-las a adotar as ferramentas digitais para se adaptarem aos novos usos dos consumidores e ganhar competitividade. Além do apoio financeiro de cerca de € 2,2 bilhões mediante empréstimos do BpiFrance para ajudar as PME e as empresas de tamanho intermediário (ETI, na sigla em francês) a financiar seus investimentos em tecnologia digital, robótica e eficiência energética, etc., o governo francês instituiu um benefício fiscal, em caráter excepcional, de € 5 bilhões sob a forma de uma superdepreciação acelerada (suramortissement) para empresas que investem em sua modernização produtiva no período abril de 2015 a abril de 2017. Igualmente, a iniciativa contou com € 3,7 bilhões ainda disponíveis do envelope de € 12 bilhões do PIA2, lançado em 2014.
Em 2016, presidente da república François Hollande anunciou a dotação de 10 bilhões de euros para um terceiro Programa de Investimentos Futuros (PIA3) para atender a três prioridades: apoiar o progresso do ensino e pesquisa, melhorar a pesquisa e acelerar modernização das empresas.
A fase 2 da Nova França Industrial buscou três objetivos principais:
• Responder mais diretamente às necessidades da sociedade e aos mercados. O novo arranjo permite sair da lógica de setores compartimentados para oferecer diretamente soluções, ofertas integradas de bens e serviços, respondendo a um número limitado de mercados prioritários.
• Adquirir uma dimensão internacional mais forte. A Agência Business France, criada em 2014 para promover a internacionalização da economia francesa e o desenvolvimento das empresas, será mobilizada para atrair novos investidores na França e promover as soluções da Nova Indústria Francesa no exterior;
• Gerenciar o dispositivo de forma mais eficaz. O agrupamento das prioridades da NFI permitirá uma direção mais direta, mais reativa e mais ágil da abordagem.
Essa segunda fase da NFI resultou em uma reorganização dos 34 planos iniciais em nove "soluções" e um projeto transversal intitulado Indústria do Futuro, centrado na modernização e transformação do modelo industrial francês pela tecnologia digital. A fase 2 da Nova França Industrial baseia-se em nove soluções industriais que fornecem respostas concretas aos principais desafios econômicos e sociais e posicionam nossas empresas nos mercados do futuro em um mundo onde a tecnologia digital está desagregando a barreira entre indústria e serviços:
Novos recursos. Desenvolver a química verde, isto é, uma química mais econômica em energia e matérias-primas, produzindo com menos desperdício e fornecendo produtos mais eficientes e respeitosos para o homem e o meio ambiente. Desenvolver novos usos dos recursos renováveis em vez de combustíveis fósseis mediante o desenvolvimento da química verde e da produção de biocombustíveis avançado. Criar instalações industriais capazes de coletar, classificar e reciclar novos materiais, em particular resíduos de plástico, de eletroeletrônicos, de construção e obras públicas, bem como fibras de carbono.
Cidade sustentável. Desenvolver as cidades inteligentes do futuro que respondam aos principais desafios ambientais, digitais e demográficos. Desenvolver uma gestão mais inteligente das redes de água e energia por meio de digitais (redes inteligentes) ou melhorando o tratamento do recurso desde o fornecimento até a reciclagem. Melhorar o desempenho energético dos edifícios e o envolvimento dos consumidores finais por meio da disseminação de técnicas industriais inovadoras e novas ferramentas digitais. Aumentar a produtividade, a qualidade e a sustentabilidade do setor de construção civil, especialmente favorecendo materiais biológicos.
Mobilidade ecológica. Os cidadãos querem poder se mover rapidamente, de forma segura, a um custo menor e com o menor impacto possível sobre o meio ambiente. A mobilidade urbana está, portanto, gradualmente mudando de forma: os veículos devem se tornar mais econômicos, mais conectados e mais autônomos, para atender a essa necessidade social.
Transporte do futuro. As indústrias de transporte são uma área de excelência industrial histórica da França, com os campeões franceses e europeus ocupando ainda um lugar de destaque. Para manter a posição de liderança francesa face à crescente concorrência dos industriais nos países emergentes é preciso reinventar os modos de transporte e propor soluções inovadoras que combinem eficiência ecológica e competitividade econômica para capturar a crescente demanda dos países emergentes.
Medicina do futuro. A França tem pontos fortes reconhecidos no setor de saúde: a reputação de excelência de sua medicina, sua pesquisa acadêmica bem posicionada, microempresas e PMEs inovadoras e grandes grupos internacionais. Uma vez mais é preciso aproveitar a revolução digital e redobrar os esforços para posicionar as empresas francesas como líderes mundiais no que será o medicamento do futuro:
• Concentrar os investimentos públicos e privados no desenvolvimento de uma oferta industrial de classe mundial de dispositivos médicos, terapias inovadoras e sequenciamento de alto desempenho para diagnóstico e terapia;
• Configurar aceleradores específicos para tecnologias médicas, apoiar fundos empresariais especializados e reunir atores em clusters;
• Apoiar a comercialização de novas biotecnologias médicas e dispositivos médicos inovadores, simplificando os procedimentos de acesso aos mercados médicos, garantindo que os contratos públicos sejam uma alavanca para o desenvolvimento de empresas inovadoras, facilitando o seu financiamento junto aos guichês do governo e tomando as medidas necessárias para acelerar os ensaios clínicos.
Economia dos dados. O desenvolvimento digital e o aumento exponencial do número de tablets, smartphones, computadores e objetos conectados geram quantidades de dados sem precedentes, cujo potencial de crescimento para as empresas que ainda está subexplorado. A sua exploração, baseada em particular em tecnologias de Big Data, computação em nuvem e supercomputadores, tornará possível prever, antecipar, prever e adaptar os produtos às necessidades de cada um: redução dos custos operacionais para as empresas (manutenção preditiva no equipamento, redução de fraude, otimização de processos-chave, etc.), criação de novos serviços inovadores (simplificação das abordagens dos cidadãos através de novas ferramentas digitais no modo nuvem, melhor compreensão dos problemas dos clientes através de análise comportamental, etc.). As soluções para melhor gerenciar e aprimorar o valor dos dados em empresas e serviços públicos são:
• Apoiar o domínio das tecnologias básicas, especialmente para computação intensiva e, assim, manter a indústria francesa entre as quatro primeiras potências mundiais em cálculo computacional;
• Desenvolver uma oferta inovadora impulsionada pelas PME e startups, especialmente no campo do Big Data, garantindo lhes suporte técnico e financeiro;
• Apoiar iniciativas setoriais para apropriação da computação de alto desempenho, nuvem e dados importantes por atores públicos e privados;
• Adaptar o quadro regulatório para facilitar o acesso e a exploração dos dados, com respeito às liberdades individuais, estabelecendo um procedimento de certificação de processos industriais pela Comissão Nacional de Computação e Liberdades (CNIL).
Em abril de 2016, foi inaugurado oficialmente, na França, o primeiro computador da geração exascale, capaz de um quintilhão de operações por segundo. Com um consumo de energia 10 vezes menor energia que as máquinas atuais, o supercomputador Bull Sequana foi instalado no Comissariado de Energia Atômica e Energias Alternativas (CEA).
Objetos inteligentes. Sejam eles objetos conectados, ferramentas e serviços sem contato, robôs ou têxteis inteligentes, e tecnologias relacionadas como a realidade virtual, a realidade aumentada ou a inteligência artificial, os objetos inteligentes, estão transformando o cotidiano. A França quer se posicionar como líder em objetos inteligentes e melhorar a vida diária dos franceses mediante o desenvolvimento de novos usos. As soluções para estruturar o fornecimento de robôs e objetos inteligentes incluem:
• Apoiar o ecossistema de inovação, especialmente as startups, através de concursos, convites para projetos, mobilização de fundos de investimento temáticos;
• Acelerar os ciclos de inovação criando recursos compartilhados para facilitar a concepção e a produção de objetos inovadores;
• Promover a oferta francesa por grandes varejistas e por meio de eventos globais, como a Feira de Tecnologia de Las Vegas.
Confiança digital. O desenvolvimento de usos digitais não pode ser alcançado sem o desenvolvimento de redes de comunicação, terrestres ou por satélites, o controle de componentes eletrônicos e software integrado e o estabelecimento de um ambiente de segurança para garantir a confiança. A solução "Confiança Digital" destina-se a promover o desenvolvimento de tecnologias digitais chave em todas as escalas, tanto em termos de micro e nano-eletrônica, software integrado embutido ou no nível sistêmico (infraestruturas de segurança, terrestres e satélites), para garantir a sua difusão junto às empresas e às infraestruturas francesas, e preservar a soberania tecnológica da França para setores estratégicos (componentes eletrônicos, satélites de propulsão elétrica).
Alimentação inteligente. A indústria agroalimentar é uma força tradicional na economia francesa. A concorrência global, aumentada pelo progresso de outros países e a liberalização do comércio, forçou o setor a fazer mudanças significativas para aumentar sua competitividade. A solução “Alimentação inteligente” mobiliza duas alavancas para reposicionar as indústrias agroalimentares francesas na liderança em mercados existentes e emergentes (alimentação funcional): reduzir custos e aumentar a qualidade social e ambiental, com o trabalho de refrigeração ou a modernização dos matadouros, mobilização coordenada de capacidades de inovação em produtos fermentados (vinhos, produtos lácteos, embutidos, etc.) e novas fontes de proteína. O setor agroalimentar, 97% do qual é composto por PMEs, deve realizar uma transformação digital criadora de valor para melhorar sua competitividade (cadeia de suprimentos, automação) e atender às expectativas dos consumidores (rastreabilidade, fácil contato com o produtor).
Tal como na fase anterior, os projetos em cada uma das nove soluções são chefiados por representantes das empresas industriais e/ou de empresas tecnologia digital. Um total de 37 dirigentes de empresas atua como gerentes dos projetos da NFI, dos quais participam 500 empresas. Foram fixados objetivos específicos a serem alcançados até 2020 para uma das soluções da NFI.
Indústria do Futuro. Como já mencionado a segunda fase da NFI resultou no lançamento de um projeto transversal, a Indústria do Futuro. Além da modernização da ferramenta produtiva, o projeto tem como objetivo “apoiar as empresas na transformação de seus modelos de negócios, suas organizações, seus modos de design e marketing, em um mundo onde as ferramentas digitais fazem romper a barreira entre indústria e serviços”.
Do design ao serviço pós-venda, passando pela produção e pela logística, o projeto Indústria do Futuro abrange todas as etapas da cadeia de valor e todos os players, de todos os tamanhos e setores. Esses atores se mobilizam com o apoio das autoridades públicas (Estado e Regiões) para superar o atraso no investimento produtivo verificado na França durante a última década e colocar a indústria francesa em melhor posição mundial.
O projeto Indústria do Futuro apoiará os projetos estruturantes de empresas em mercados onde a França pode adquirir, dentro de um prazo de 3 a 5 anos, liderança europeia, ou mesmo mundial. Esses são os casos da:
• Manufatura aditiva, tecnologia na qual a França conta com as seguintes vantagens: forte pesquisa em materiais e processos digitais, produtores de impressoras 3D de rápido crescimento, grandes solicitantes dispostos a se lançar na aeronáutica.
• Virtualização da fábrica e objetos conectados, onde a França se encontra em uma posição importante em software relacionado à digitalização de projetos e processos de produção com campeões como Dassault Systèmes ou ESI Group.
• Realidade Aumentada, cujo ponto forte da França é o desenvolvimento de vários campeões tecnológicos, com o apoio de grandes compradores industriais dessas soluções, à exemplo de Artefacto, Diotasoft, Laster Technologies ou Optinvent.
O projeto também previa o desenvolvimento de uma rede de plataformas regionais aberta a empresas industriais, para testar e validar tecnologias avançadas de robótica e produção digital e capacitar seus funcionários nessas novas ferramentas. No âmbito do PIA, € 305 milhões em bolsas e adiantamentos reembolsáveis para os Projetos industriais do futuro (PIAVE, na sigla em francês) e € 425 milhões do fundo “Sociedades de Projeto Industrial” (SPI) financiariam, em parte, esta ambição.
A coordenação do projeto transversal Indústria do Futuro ficou a cargo da associação Aliança para a Indústria do Futuro, anunciada em abril de 2015 e tornada operacional em julho de 2015. Como será visto mais a frente, essa associação congrega representantes da indústria, universidades e centros de pesquisa e das regiões francesas.
Também foi criado um comitê de gerenciamento do projeto Indústria do Futuro, presidido pelo ministro da Economia, da Indústria e do Digital, o qual se reúne a cada dois meses. Participam desse comitê, os representantes da Aliança para a Indústria do Futuro, o Conselho Nacional da Indústria, as cinco organizações sindicais representativas dos trabalhadores, a Associação das Regiões da França (ARF), os representantes dos operadores do Estado (Comissariado Geral de Investimento – CGI e Banco Público de Investimento – BpiFrance), dirigentes de ETI e de empresas estrangeiras localizadas em França.
O projeto Indústria do Futuro foi organizado em torno de cinco pilares: desenvolvimento da oferta tecnológica para indústria do futuro; acompanhamento das empresas rumo à indústria do futuro; formação dos trabalhadores; promoção indústria do futuro; fortalecimento da cooperação europeia e internacional. Para cada um desses pilares foram definidos objetivos específicos e prioridades de ação.
Os dois primeiros pilares do projeto são os pilares históricos do projeto Fábrica do Futuro: atividades de P&D nas tecnologias prioritárias e implantação regional, em conexão com os programas implantados pelos Conselhos Regionais. Os outros três pilares _ formação de recursos humanos, comunicação e cooperação internacional _ não estavam integrados na iniciativa Fábrica do Futuro de 2013, ainda que não estivessem ausentes do dispositivo, e aumentaram muito em escala e ressonância ao serem formalmente registrados na segunda fase da NFI.
No final de 2016, segundo o governo francês, 240 projetos de P&D para a Indústria do Futuro já haviam sido lançados nas sete áreas de prioridade de ação para desenvolvimento da oferta em tecnologias de produção (Pilar 1). Cerca de € 100 milhões foram dedicados à convocação de projetos de P&D para a Indústria do Futuro, que ficou aberta até 30 de junho de 2016. Essa convocação visava apoiar projetos avançados de P&D e investimentos (linhas piloto, demonstradores) para acelerar a implantação das tecnologias da Indústria do Futuro. Igualmente, estava aberta a projetos de pelo menos € 1,5 milhão, que tinham como objetivo lançar ao mercado produtos, processos e serviços com alto valor agregado e alto potencial de crescimento.
O projeto Indústria do Futuro incorporou, em abril de 2015, o programa “Robot Start PME”, lançado em outubro de 2013, com intuito de incentivar as empresas de menor porte a se equiparem com um primeiro robô. Além de financiar 10% do investimento da primeira célula robótica das PME, o programa fornecia suporte especializado para diagnóstico, definição do projeto, escolha do integrador, monitoramento, etc.
Depois de ter esgotado seu orçamento em março de 2015, esse programa foi renovado até 2017. Cerca de 250 empresas se beneficiaram deste dispositivo executado pelo Sindicato dos Fabricantes de Máquinas, Soluções Industriais e Tecnologias de Produção Industrial (Symop, na sigla em francês), Centro Técnico das Indústrias Mecânicas (Cetim) e o laboratório de pesquisa CEA List, especializado em sistemas digitais inteligentes.
Entre maio de 2015 e o final de 2016, 2.000 PMEs e ETIs em todas as regiões da França se beneficiaram de diagnósticos personalizados feitos por especialistas da Indústria do Futuro e receberam acompanhamento (Pilar 2). Esse apoio permitiu aos líderes empresariais: compreender melhor as tecnologias disponíveis, identificar os bloqueios (humanos, organizacionais) limitantes acesso a essas inovações, integrar novos conceitos em uma visão de "cadeia de valor" e reinventar seu modelo de negócios.
O suporte financeiro à modernização das pequenas e médias empresas é fornecido pelo BipFrance, que opera a linha de empréstimos “Indústria do Futuro”. Nessa linha, são concedidos empréstimos com um período de carência de 2 anos, que permitem financiar, com um forte efeito de alavanca no financiamento privado, os investimentos inovadores e eficientes do tecido produtivo. Do orçamento total da linha no montante de € 1,2 bilhão, no final de final de 2016, já havia sido concedidos 851 empréstimos “Indústria do Futuro”, no montante de € 719 milhões. Essas empresas contavam também com os esquemas fiscais de apoio ao investimento (sobre depreciação acelerada), que vigorou até abril de 2017.
Ampliar as habilidades dos trabalhadores da indústria e formar gerações futuras para novas ocupações é a primeira condição para o sucesso da Indústria do Futuro. O treinamento da mão-de-obra deve acompanhar o aumento da presença de digitalização e robotização na fábrica, essencial para a competitividade das fábricas em muitos setores e, em última instância, para a criação de empregos na França. Por essa razão, as organizações sindicais de trabalhadores, que são participantes ativas do Conselho Nacional da Indústria (CNI), foram totalmente integradas no projeto de desenvolvimento da Indústria do Futuro, em particular em seu pilar de formação dos trabalhadores, por meio de dois componentes. Um componente prospectivo com o lançamento de programas de pesquisa multidisciplinar e cátedras sobre Indústria do Futuro e o lugar do homem neste projeto. E um componente operacional com a concepção e execução de treinamentos iniciais e contínuos adaptados aos desafios da Indústria do Futuro.
Ainda no que se refere à formação dos trabalhadores (Pilar 3), em março de 2016, o CNI e a Aliança para a Indústria do Futuro lançaram o projeto “Ousemos Indústria”, que tem como objetivo criar um portal na Internet para informar os estudantes sobre as exigências de emprego, treinamento e recrutamento da Indústria do Futuro, em conjunto com as empresas. Esse projeto conta financiamento no âmbito do PIA.
No âmbito do projeto de certificação de “Vitrines da Indústria do Futuro", uma das ações prioritárias do Pilar 4, cujo objetivo é dar visibilidade a soluções tecnológicas francesas inovadoras e compartilhar as melhores práticas com o ecossistema nacional e internacional, seis vitrines da Indústria de Futuro foram lançadas até o final de 2016, em total previsto de quinze:
• Air Liquide: com o projeto Connect, a Air Liquide criou um centro operacional na França capaz de controlar remotamente a produção, eficiência energética e confiabilidade de sites industriais, além de realizar ações de manutenção preditiva, com utilização de novas tecnologias como cobótica (robótica colaborativa e/ou interativa) e humano aumentado (extensão das capacidades humanas por tecnologias integradas em sua anatomia ou por interfaces de percepção) e tecnologias imersivas;
• Fábrica da Bosch em Rodez: o uso da biomassa local para limitar as emissões de CO2;
• Centro Tecnológico Industrial da SNCF: serviços digitais para manutenção industrial;
• Unidade do Grupo Daher Aerospace em Saint-Aignan-Grandlieu: uma linha de alta velocidade de peças termoplásticas;
• Engenharia mecânica da Normandia (Cherbourg): o estaleiro do futuro
• Fábrica-modela da Sew-Usocome em Brumath: integração de robótica e novos conceitos de mobilidade intralogística;
Com objetivo de criar alianças estratégicas sobre temas de padronização e de melhor representar os interesses franceses nas iniciativas europeias ou globais em torno da integração das novas tecnologias na indústria, o governo francês realizou em 2016 diversas iniciativas de cooperação internacional (Pilar 5):
• Formalização de uma parceria entre as plataformas "Indústria do futuro" (em França) e "Indústria 4.0" (na Alemanha). Foi elaborado um plano de ação conjunto, incluindo uma estratégia comum de normalização e tecnologias.
• Lançamento de um diálogo França-China e criação de uma plataforma de intercâmbio entre empresas sobre o tema da Indústria do futuro. O objetivo desta iniciativa é realizar projetos piloto conjuntos baseados em conhecimentos franceses.
• Nomeação de embaixadores da indústria futuro nos Estados Unidos, China, Reino Unido e Alemanha. Esses embaixadores das empresas francesas da Aliança para a Indústria do Futuro serão responsáveis pela promoção e coordenação do trabalho bilateral na Indústria do Futuro.
• Formalização de uma estratégia de padronização francesa em torno de quatro tecnologias (fabricação de aditivos, continuidade digital, robótica, montagem multimateriais) para unificar o posicionamento junto aos organismos internacionais.
Aliança para a Indústria do Futuro. Presidida por Philippe Darmayan, presidente da ArcelorMittal France e do grupo de federações industriais, a Aliança foi criada por federações, associações e sindicatos da indústria e do setor digital, que representam mais de 33 mil empresas e 1,1 milhão de empregos. Igualmente, participam da Aliança, organizações públicas e instituições de pesquisa, como os laboratórios do Comissariado de Energia Atômica e Energia Alternativas (CEA), o Centro Tecnológico das Indústrias Mecânicas (CETIM), Arts et Métiers ParisTech, Centro de Estudos Superiores Industriais (CESI) e o Institut Mines Telecom, que reúne as escolas de engenharia da França.
Além de coordenar o projeto transversal Indústria do Futuro, como já mencionado, a Aliança garante a difusão das inovações resultantes da revolução digital no tecido industrial francês. Em seu primeiro ano de existência, a Aliança acompanhou 1.500 PME em sua modernização. Para apoiar as PME industriais mais próximas do local onde estão instaladas, as ações da Aliança são retransmitida nos diversos territórios administrativos da França por equipes regionais, compostas por membros da Aliança, comunidades, Diretórios regionais de negócios, concorrência, consumo, trabalho e emprego (DIRECCTE) e os polos de competitividade.
A Aliança também tem como missão promover a cooperação internacional, particularmente com a Alemanha, e ajudar a projetar a imagem do setor criativo francês internacionalmente por meio da iniciativa Business France. Finalmente, a Aliança assumiu a missão de acompanhar as mudanças no mundo do trabalho, “onde o imperativo da criatividade se tornará mais forte e onde os empresários e os trabalhadores terão que progredir continuamente para lidar com uma onda contínua de progresso tecnológico”.
De acordo com o presidente da Aliança para a Indústria do Futuro, Philippe Darmayan, em um artigo em coautoria com Pascal Faure, Le plan français “Industrie du futur”, publicado na revista Réalités industrielles, nº 4/2016, “as iniciativas da Aliança de promoção da Indústria do Futuro na França e no exterior visam divulgar o trabalho realizado nos quatro primeiros pilares do projeto e a excelência da Indústria do Futuro à moda francesa. O interesse da Aliança é, portanto, óbvio: unir forças para ampliar a reputação da marca francesa no exterior e trazer uma comunicação coerente”.
As Tecnologias-chave da NFI. Em maio de 2016, foi divulgada a 5ª edição do estudo Tecnologias-Chave, realizado entre o outono de 2014 e início de 2016, por encomenda do Ministério da Economia, Indústria e Digital: Technologies clés: Préparer l'industrie du futur 2020. Paris: Direction Générale des Entreprises, Mai 2016. Esse estudo procurou identificar as tecnologias estratégicas para a competitividade das empresas francesas no médio prazo. Foram identificadas 47 tecnologias-chave em nove áreas de aplicação: alimentação, ambiente, habitação, segurança, saúde e bem-estar, mobilidade, energia, digital, lazer e cultura. Essas tecnologias-chave oferecem orientação no médio prazo para o desenvolvimento de soluções industriais da Nova França Industrial.
Das 47 tecnologias-chave identificadas, mais de metade são transversais e sete envolvem pelo menos sete dos nove domínios de aplicação, como valorização e inteligência dos grandes dados, objetos conectados ou materiais avançados e ativos. Cinco tecnologias-chave, que constituem um núcleo tecnológico com forte domínio digital, dizem respeito praticamente a todas as nove soluções da NFI: sensores; valorização e inteligência de dados maciços; modelagem, simulação e engenharia digital; internet das coisas; novas integrações de hardware e software.
Para cada uma das 47 tecnologias-chave nas quais as empresas francesas devem se posicionar em um período de 5 a 10 anos para garantir vantagem de competitividade e de atratividade para a França em mercados em crescimento, o estudo apontou as vantagens da França, bem como as debilidades e ameaças. Igualmente, indicou a posição das empresas industriais e atores acadêmicos franceses na competição mundial: liderança, na média ou em atraso (ver Anexo 2 - clique aqui).
De acordo com o estudo, os players franceses – empresas industriais, empresas de serviços de alto valor agregado e instituições acadêmicas – têm potencial real em diversas das tecnologias-chave. As empresas francesas lideram ou co-lideram em 1/3 das principais tecnologias. Nas tecnologias ambientais e alimentares em particular, os players franceses estão em uma posição líder ou co-líder em 40% das principais tecnologias identificadas. Quanto aos atores acadêmicos franceses, eles se posicionam como co-líderes de mais da metade das principais tecnologias identificadas e são, nos campos da alimentação e da saúde, líderes ou co-líderes em 70% dentre elas.
A Visão dos Industriais Franceses sobre a Indústria do Futuro
Segundo Philippe Darmayan, presidente da Aliança Indústria do Futuro, Grupo das Federações Industriais (GFI) e da Arcelor-Mittal France, os desafios da indústria do futuro vistos pelos industriais franceses são de quatro ordens:
• Diferenciação da oferta por uma adaptação mais fina à demanda (customização);
• Competitividade (custos mais baixos, melhoria contínua, robotização, tratamento dos dados);
• Redução do capital empregado (velocidade de processamento, encadeamento entre o design e a fábrica, redução de requisitos de capital de giro, manutenção preditiva);
• Transformação de modelos de negócios.
Os industriais devem estar envolvidos em grandes questões transversais, como a gestão de empregos e habilidades orientadas para o futuro e a padronização. Muitas vezes, as empresas europeias deixam com outros agentes a tarefa de estabelecer normas e padrões. Nesse ponto, a liderança americana é indiscutível. Questões como a infraestrutura europeia de nuvens, o mercado doméstico digital e seu quadro jurídico europeu são de suma importância, sob pena de a Europa se tornar um “Terceiro Mundo Digital”.
Para Philippe Crouzet, presidente do Conselho Executiva da Vallourec (empresa do setor siderúrgico), a fábrica do futuro abre três áreas de oportunidade:
• melhor controle dos processos de produção (inclusive nas indústrias muito antigas, como a do aço), o que permite ganhos de produtividade ao reduzir a falta de qualidade (em particular, graças aos sensores e aos novos recursos de análise de dados);
• melhor uso de ativos (redução do capital de giro, nova juventude para equipamentos antigos, desaparecimento de estoques intermediários)
• uma melhoria significativa na oferta aos clientes (serviços e produtos).
Os tubos que a Vallourec fabrica para o setor de petróleo e gás, por exemplo, possuem uma ficha de identificação técnica muito detalhada graças ao uso de dados de produção, que permite aos clientes gerenciar seus estoques de forma diferente e utilizar os tubos de acordo com suas próprias necessidades. Isso, segundo Crouzet, abriu uma nova área para a Vallourec para ajudar os clientes a otimizar a ordem em que colocam os tubos no solo. As novas tecnologias permitem assim gerar um novo valor agregado para os clientes, sem a questão dos robôs e da redução de efetivo (downsizing). Para Crouzet, substituir homens por robôs não é o objetivo da Indústria 4.0.
Para Phillipe Varin, presidente do conselho de administração da AREVA (empresa do ramo de energia nuclear e de energia renovável, foi renomeada em jan/18 para ORANO) e administrador de Saint-Gobain, em artigo publicado em 2016 _ Qu’attendre des mutations en cours en matière de compétitivité, condition clé de la survie de l’industrie en France? Réalités industrielles, no. 4 _ , as nove soluções da Nova França industrial e o projeto transversal francês “Indústria do futuro” têm o potencial de conter a dinâmica intrínseca da desindustrialização que atingiu a França tão severamente há várias décadas e de acelerar a transição para a indústria do futuro. No entanto, o sucesso nesta passagem exige, segundo ele, avançar em várias linhas de ação no que se refere ao investimento e inovação, transformação de negócios e construção europeia. Também é preciso criar um quadro legislativo e regulamentar competitivo e atraente, propício à inovação e ao investimento empresarial na indústria do futuro.
A modernização e digitalização da indústria se baseiam em inovações revolucionárias que exigirão investimentos maciços, particularmente no nível de start-up, pequenas e médias empresas e empresas de porte intermediário (ETI). Todavia, a França não oferece um quadro regulatório, fiscal e social que conduza à implantação de investimentos produtivos e ao estabelecimento sustentável de atividades industriais, particularmente inovadoras, em seu território. Esta situação resultou no subinvestimento industrial, que foi estimado em 40 bilhões de euros na última década. O nível de contribuições obrigatórias, significativamente maior na França do que na Europa (44,6% do PIB contra 33,2%, 35,3 e 39,6% do PIB, respectivamente, em Espanha, Reino Unido e Alemanha em 2015), tem pesado de forma significativa e duradoura nas margens das empresas industriais e, portanto, em sua capacidade de investir e se modernizar.
De acordo com Varin, para além do restabelecimento de condições favoráveis ao investimento, seria preciso propor um quadro favorável ao desenvolvimento de talentos e empreendedorismo, capitalizando e reforçando a vantagem francesa em termos de inovação e pesquisa e desenvolvimento (P&D). Não obstante as iniciativas positivas adotadas pelo governo e a excelência do sistema de formação, a França está lutando para atrair, apoiar e reter seus jovens talentos, em particular seus talentos internacionais de alto nível e suas empresas com alto potencial de crescimento. Para remediar esta situação, é preciso garantir um ambiente propício à inovação e à tomada de riscos, o que implica assegurar uma aplicação racional do princípio da precaução, mediante a implementação de um direito genuíno à experimentação.
Paralelamente ao estabelecimento de um quadro global favorável à inovação e aos investimentos, Varin sustenta que também será necessário compreender e apoiar as diversas transformações que afetarão os negócios e as habilidades, bem como os empregos e o trabalho, que serão redefinidos pelo digital. Será preciso investir fortemente na formação inicial e na formação profissional contínua, a fim de lidar de maneira efetiva com a tensão sobre empregos e habilidades.
Também sugere que a organização do trabalho seja adaptada à economia digital. Segundo ele, a revolução digital torna as organizações mais horizontais e libertam funcionários das restrições hierárquicas, temporais e geográficas que poderiam ter um impacto negativo sobre o seu envolvimento e, em última análise, sobre a competitividade das empresas. O surgimento de práticas novas e mais flexíveis deve ser, portanto, acompanhado pelo fortalecimento da livre gestão das horas de trabalho e do relaxamento da legislação social e fiscal em relação ao teletrabalho e ao nomadismo que atualmente está dificultando a implantação de tais dispositivos na França.
Desafios e Vantagens da Indústria Francesa
Para Thibaut Bidet-Mayer, pesquisador do think tank francês La Fabrique de l’industrie, no estudo L’industrie du futur: une compétition mondiale de 2016, o principal desafio para a indústria francesa é a modernização do seu sistema de produção, a fim de acelerar o seu aumento de qualidade e de intensidade tecnológica e melhorar de forma sustentável sua competitividade. Há mais de uma década, a indústria francesa enfrenta um círculo vicioso: as margens de lucro das empresas são muito baixas para sustentar o investimento, o envelhecimento dos equipamentos se acelera, a capacidade de inovar se reduz. Em resultado, as empresas francesas estão muito aquém dos seus concorrentes e sofrem de subinvestimento crónico.
O atraso tecnológico da indústria francesa está evidenciado no número de robôs industriais. Em 2014, as empresas industriais francesas utilizavam apenas 32.233 robôs, em contraste com os 59.823 da Itália e os 175.768 da Alemanha. Em termos de densidade, ou seja, a relação entre o estoque de robôs industriais em serviço e o número de trabalhadores, em 2013, a França contava com apenas 125 robôs por 10 mil trabalhadores ante os 282 da Alemanha e os 437 da Coreia do Sul, líder mundial da classificação elaborada pela Federação Internacional de Robótica.
Ademais, a despeito de uma pesquisa básica de qualidade na área, cobrindo amplo espectro de aplicação, a França não produz robôs industriais, setor dominado pelo Japão, Alemanha e outros países. A Renault, que contribuiu para o surgimento da pesquisa em robótica na França nos anos 1970, interrompeu a produção de robôs industriais no final da década de 1980.
Além do baixo desempenho em robotização, a indústria francesa também registra atraso no que se refere à incorporação das tecnologias digitais, em particular dos usos mais avançados permitidos pela computação nas nuvens e pela Internet das coisas. De acordo com o autor, o uso do digital nas empresas industriais francês é muitas vezes limitado ao básico (e-mails, website como vitrine, etc.) enquanto os usos mais avançados são restritos a um número reduzido de empresas, entre as quais se destacam os grandes grupos.
As empresas industriais francesas também registram lacunas no desenvolvimento de habilidades-chave dos seus empregados. Em 2014, 17% das empresas francesas empregaram um especialista em tecnologias de informação e comunicação e 20% organizaram treinamento nesta área, respectivamente, 7 e 14 pontos percentuais menos do que na Alemanha.
Outro importante desafio a ser enfrentado pela indústria francesa diz respeito à elevação da qualidade e da intensidade tecnológica da produção. Para Bidet-Mayer, “a integração de novas tecnologias de produção, automação e digitalização de processos deve ser parte de um movimento de elevar a qualidade do produto, sem o qual qualquer estratégia de reconquista industrial seria inútil”.
Segundo ele, desde 2008, diversos estudos e relatórios têm destacado a necessidade de a indústria francesa desenvolver uma oferta diferenciada e de alta qualidade capaz de se impor no mercado mundial ou de introduzir processos de produção mais eficientes, mediante uma melhoria contínua dos equipamentos e das condições de trabalho, que liberem a criatividade dos empregos em prol da inovação. A modernização industrial deve ser, portanto, entendida, no sentido amplo, que inclui não apenas tecnologias e equipamentos, mas também design e marketing.
Várias empresas ainda estabelecidas na França fornecem excelentes exemplos deste tipo de posicionamento necessário. Ao se concentrar no desenvolvimento de produtos inovadores com alto conteúdo tecnológico, empresas como Thuasne em têxteis técnicos ou Axon 'Cable, Eolane ou Actia em sistemas eletrônicos, conseguiram resistir ao colapso dos setores sujeitos à concorrência em preços exercidos pelos países emergentes.
Todavia, tal estratégia de upscaling representa um desafio significativo para as empresas e só pode ser sustentado ao longo do tempo, pois exige a mobilização de recursos financeiros expressivos e desafia muitas outras dimensões: inovação, qualidade, serviços, organização da produção, nível de qualificação dos funcionários, etc. A indústria do futuro representa uma oportunidade única para unir todas as partes interessadas em torno desta questão.
Segundo Bidet-Mayer, a visão tecnológica da Industrie 4.0 estabeleceu no discurso coletivo a imagem das fábricas automatizadas e digitalizadas ao extremo, onde as linhas de produção seriam flexíveis graças às máquinas-ferramentas conectadas de alto nível, obviamente produzidas pelos campeões da indústria mecânica alemã. Por essa visão, os fornecedores franceses parecerem estar atrasados em relação a esses líderes e ter perdido a revolução da tecnologia 4.0. Portanto é crucial que a França explore seus pontos fortes nas principais tecnologias da indústria do futuro.
Ainda que certamente não consigam competir com líderes alemães ou coreanos em robótica industrial, as empresas francesas possuem inúmeras vantagens em tecnologias digitais, tais como os sistemas integrados e a realidade aumentada, entre outras. A mobilização em torno da indústria do futuro pode ser uma oportunidade para unir todas as partes interessadas em torno desses objetivos, colocar a França no caminho da reindustrialização.
A cibersegurança é um exemplo dessas muitas áreas em que a oferta francesa se destaca e cujas perspectivas de crescimento são promissoras. A difusão de máquinas-ferramentas e objetos conectados à rede ou a integração da cadeia de valor através de ferramentas digitais aumentam os volumes, mas também o número de canais de troca de dados e, portanto, as possibilidades de penetração de hackers nos sistemas das instalações industriais ou de redes de energia.
Grandes grupos franceses como Airbus ou Thales ocupam hoje posição de liderança no mercado de segurança cibernética. O desafio para eles é transpor suas tecnologias avançadas, desenvolvidas para aplicações militares ou sensíveis, para um mercado muito maior. Ao seu lado, empresas de serviços como a Atos ou a Orange também oferecem esse tipo de serviço em pacotes de suporte global para a transformação digital das empresas. Finalmente, existem muitas PME e ETI especialistas em na publicação e integração de soluções avançadas de segurança cibernética.
Nos últimos anos, a França conseguiu desenvolver um grupo de startups e PME especializadas no mundo digital: internet de coisas, dados importantes, etc. Entre outros, Bidet-Mayer menciona o caso de sucesso da Sigfox que levantou, no início de 2015, 100 milhões de euros junto a investidores europeus, norte-americanos e asiáticos, para acelerar seu desenvolvimento internacional. Essa startup desenvolveu uma rede de banda ultra estreita dedicada à internet das coisas, que abrange áreas muito grandes com economia de infraestrutura.
A questão central dessas tecnologias digitais - e para as tecnologias da indústria do futuro em geral - é o estabelecimento de padrões que permitem a interoperabilidade de sistemas. As relações entre grupos grandes e startups ainda são ambíguas, alternando entre fascinação e desconfiança mútua. No entanto, a multiplicação de incubadoras em grandes grupos industriais é um sinal desse desejo de aproveitar as vantagens e qualidades de cada um: o poder econômico e comercial dos grandes grupos, por um lado, agilidade e capacidade de inovação específica das pequenas estruturas, por outro.
Na opinião de Bidet-Mayer, do sucesso dessas cooperações dependerá, em grande parte, a capacidade da França de impor seus produtos e padrões, contra concorrentes norte-americanos que, capitaneados por AT&T, Cisco, General Electric, IBM e Intel, lançaram em 2015, o Consórcio Internacional da Internet (IIC, na sigla em inglês), reunindo mais de 200 atores da internet das coisas (IoT). Nesse sentido, o plano de ação comum estabelecido entre Alemanha e a França em abril de 2016 será importante para estabelecer um quadro de referências comum para a arquitetura do modelo indústria 4.0 (RAMI 4).
A qualidade da pesquisa pública representa outra grande vantagem para a França. No país, há diversos laboratórios de primeira linha, como os do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), do Instituto Nacional de Pesquisas em Informática e Automação (INRIA) e do CEA. Além disso, as estruturas de spin-off de alguns desses organismos comprovaram sua eficácia. O INRA, por exemplo, é um dos pioneiros neste campo. Por trinta anos, esse instituto tem participado da criação e desenvolvimento de mais de 120 empresas tecnológicas inovadoras, oferecendo produtos e serviços em setores tão diversos como defesa, transporte, energia, educação, etc. Este apoio consiste não só em fornecer assistência financeira para facilitar a iniciação das sementes, mas também em aconselhar os pesquisadores a definir e formalizar seu empreendimento. Este sistema de suporte permite vincular o conhecimento dos pesquisadores e as necessidades do mercado e ajuda-os a adquirir uma cultura empresarial necessária neste tipo de enfoque.
Porém, no geral, a França continua a ser um país “seguidor” para a inovação, que luta para transformar os resultados de sua pesquisa em aplicações comercializáveis, criando riqueza. Para ilustrar a especificidade da França no tema, Bidet-Mayer menciona o caso da manufatura aditiva, uma das tecnologias centrais da indústria do futuro. Segundo ele, em 1984, duas patentes que descrevem a técnica de estereolitografia foram registradas por franceses. A subsidiária da Alcatel que possuía as patentes não considerou apropriado mantê-las, ainda que um laboratório do CNRS tenha mostrado a viabilidade do processo. Na mesma ocasião, um estudante norte-americano registrou patente descrevendo técnica semelhante. Menos de dois anos mais tarde, esse norte-americano criou start-up que rapidamente se tornou o líder mundial nesta tecnologia.
Desde o final dos anos 1990, inúmeras iniciativas foram adotadas na França para melhorar a interface entre organizações de pesquisa e empresas, tais como a ampliação do crédito fiscal para a pesquisa (CIR, na sigla em francês), a criação dos polos de competitividade em 2005, a rede dos Institutos de Carnot em 2006, os Institutos de Pesquisa Tecnológica (IRT), as Empresas de Aceleração de Transferência de Tecnologia (SATT), criadas em 2014, com a missão de simplificar e profissionalizar a transferência de inovações da pesquisa acadêmica francesa para as empresas etc. Esta política teve efeitos positivos. Embora o gasto público em pesquisa e desenvolvimento, expresso em porcentagem de PIB, tenha permanecido estável, o esforço de pesquisa das empresas aumentou consideravelmente, sobretudo a partir de 2009. Em 2015, a intensidade do BERD na França atingiu 1,4% do PIB (ante 1,27% em 2005), de acordo com os dados da OCDE.
Em termos comparativos, não obstante o crescimento no período recente, o volume dos gastos domésticos brutos das empresas francesas com P&D corresponde apenas à metade do gasto das empresas alemãs. Considerando somente as dez maiores empresas em volume de BERD, a diferença de desempenho das empresas francesas frente às alemãs é ainda mais significativa: 17,5 bilhões de euros ante 45,4 bilhões, ou seja, os gastos das empresas francesas equivalem a menos de um terço das congêneres alemãs. Entre as top 100 mundial, há apenas seis empresas francesas.
Porém, segundo a OCDE, a França tem uma alta taxa de apoio às atividades de P&D empresariais em relação a países com intensidades similares do BERD. Em 2015, o apoio do governo francês ao P&D das empresas era de 0,39% do PIB, o maior entre todos os países membros da OCDE. Nesse ano, volume corrente de suporte fiscal ao P&D empresarial concedido pelo governo francês foi de US$ 7,4 bilhões em PPP, atrás apenas dos Estados Unidos (US$ 11 bilhões) e da China (US$ 9,4 bilhões). Na França, as políticas de apoio ao P&D e inovação envolvem apoio direto (bolsas, financiamentos para projetos de pesquisa, etc.) e indireto (essencialmente créditos tributários).
A excelência das escolas de engenharia francesas é outra vantagem que precisa ser mobilizada, na avaliação de Bidet-Mayer. Os engenheiros são peça-chave para uma transição bem-sucedida em direção à indústria do futuro. Por essa razão, a qualidade da educação de engenharia na França é um bem valioso.
A transformação aprofundada de funções terciárias, como marketing, logística ou gerenciamento comercial digital, exigirá muitos especialistas em desenvolvimento informático, em big data, mas também arquitetos de sistemas de rede de equipamentos informáticos, sites, máquinas e objetos conectados. Porém, de modo geral, as dificuldades de recrutamento em empregos de engenharia são, em parte, devido à falta de atratividade do setor industrial. A isso se soma, a exigência elevada das empresas no que se refere o perfil ideal do engenheiro: conhecimentos técnicos combinados com habilidades gerenciais, para ter uma visão global de todos os aspectos do negócio, a capacidade de trabalhar internacionalmente, as qualidades para integrar em estruturas e métodos de trabalho sempre em mudança, etc.
No final, são as pequenas empresas inovadoras que estão sofrendo mais com essa escassez. Colocadas em nichos tecnológicos, as PME de base tecnológica precisam de engenheiros qualificados para se desenvolver, e sua dificuldade em atrair graduados limita seu crescimento. O programa "Engenheiro, pense PME", lançado em 2013 por três escolas de engenharia localizadas entre Aix-en-Provence e Marselha, por exemplo, consiste em organizar durante todo o ano visitas a empresas, conferências e encontros entre estudantes e PMEs da região. Em três anos, a proporção de estudantes nessas escolas que concluíram seu estágio em PMEs aumentou de 5% para 20%. Alguns grandes grupos industriais também estão começando a enfrentar esse problema de acesso a habilidades e estão intensificando a cooperação interempresarial com as PMEs em seu setor.
Em resumo para o autor, a indústria do futuro representa uma questão de competitividade para todas as empresas industriais. A França pode se beneficiar da experiência de seus principais grupos e da vivacidade de seu tecido corporativo no mundo digital. Também pode contar com a boa qualidade da pesquisa pública em pesquisa e da formação de engenharia, especialmente se souberem melhorar a qualidade de seus intercâmbios com as PMEs e a ETI industrial.