Carta IEDI
Aceleração das economias avançadas e perspectivas para o crescimento global em 2018
O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou nos últimos dias seu cenário para o desempenho econômico global no Panorama da Economia Mundial (World Economic Outlook - WEO) de abril, que é mais otimista do que o divulgado em outubro de 2017. A perspectiva agora é de uma pequena aceleração de 3,8% em 2017 (dado ainda preliminar) para 3,9% em 2018 (contra 3,7% em outubro), ritmo que deve se manter em 2019. Esses mesmos percentuais são previstos pela OCDE no seu Panorama Econômico (Economic Outlook) de março. Já as estimativas do Banco Mundial no seu relatório Perspectivas para a Economia Global (Global Economy Prospects), divulgado em janeiro, são bem inferiores: crescimento de 3,1% em 2018 e 3,0% em 2019.
Essas perspectivas divergentes decorrem de diferentes hipóteses e modelos utilizados, bem como da incorporação nas projeções do FMI e da OCDE de novas informações sobre a atividade econômica global divulgadas após o fechamento do cenário do Banco Mundial. Para o Brasil, a perspectiva de manutenção do dinamismo da economia mundial deve contribuir para aliviar os efeitos negativos do quadro eleitoral especialmente incerto sobre a economia doméstica.
Também vale destacar que, além do crescimento em 2017 ter sido o mais elevado desde 2011, ele foi bastante disseminado: dois-terços dos países, responsáveis por três-quartos do PIB global, registraram maior crescimento em relação à 2016, a proporção mais elevada desde 2010. Além disso, se essas projeções se confirmarem, o triênio 2017-2019 apresentará o maior e mais estável patamar de expansão após a crise financeira global e a grande recessão (2010-2011), mas ainda inferior ao registrado no boom que precedeu essa crise.
A melhora da projeção do FMI para a atividade econômica global em 2018 relativamente ao cenário de outubro decorreu do aumento da previsão de crescimento das economias avançadas de 2,0% para 2,3% em janeiro e 2,5% em abril. A projeção para 2019 também foi revista para cima: de 1,8% em outubro para 2,2% em janeiro, percentual mantido em abril.
Além do crescimento mais expressivo do que o previsto em 2017, a principal hipótese de política econômica subjacente a essa revisão do crescimento esperado para os países avançados refere-se a uma orientação mais expansionista no âmbito fiscal devido, sobretudo, às mudanças adotadas pelo governo Donald Trump (corte de impostos e aumento de gastos). Com isso, o crescimento estimado para os Estados Unidos passou de 2,3% em outubro para 2,7% em janeiro e 2,9% em abril, que significará um avanço de 0,6 p.p. frente ao ano anterior (2,3%). Isto quer dizer que o estímulo fiscal será mais do que suficiente para contrabalançar o ritmo mais rápido da normalização da política monetária pelo Federal Reserve (Fed) suposto agora pelo Fundo.
As perspectivas para as outras importantes economias avançadas em 2018 também melhoraram em função das hipóteses de manutenção da orientação expansionista das políticas fiscal (mais amena que nos Estados Unidos) e monetária. Embora a aceleração prevista para a área do Euro em 2018 (para 2,4%) seja menos intensa do que a registrada em 2017, a região da moeda única europeia continuará crescendo num ritmo superior ao Reino Unido e ao Japão no cenário atual do FMI. Para a economia britânica, projeta-se uma desaceleração de 1,8% em 2017 para 1,6% em 2018 diante dos efeitos negativos do Brexit sobre as expectativas empresariais e da normalização da política monetária em curso. Já a economia nipônica seguirá sendo a “lanterninha” desse grupo, posição que ocupa desde 2014, com uma perda de ritmo de 0,5 p.p na passagem de 2017 para 2018 (de 1,7% para 1,2%).
No âmbito das economias de mercado emergente e em desenvolvimento, na passagem de 2016 para 2017 o crescimento acelerou de 4,3% para 4,8% (0,5 p.p., ritmo ligeiramente inferior ao registrado nas economias avançadas). Para 2018, a projeção atual do FMI é de um crescimento de 4,9% em 2018 e 5,1% em 2019. Ou seja, a aceleração será menos intensa no presente ano do que a prevista para os países desenvolvidos, mas ganhará impulso na passagem de 2018 para 2019.
Além do patamar de crescimento, outra diferença entre os dois grupos de economias diz respeito à maior assimetria entre as taxas de expansão das principais regiões emergentes do que nos países avançados. Espera-se, porém, que essa assimetria diminua em 2018 e, sobretudo, em 2019. A Ásia emergente e em desenvolvimento seguirá como a principal responsável pelo ritmo de expansão das economias emergentes, ancorada no dinamismo das economias chinesa e indiana. As perspectivas favoráveis refletem, igualmente, a retomada das economias exportadoras de commodities no ano passado, que deve ganhar impulso em 2018 num contexto de recuperação dos preços desses produtos que sofreram deflação no biênio 2015-16.
O volume do comércio internacional, que havia reagido em 2017, com um crescimento de 4,9% - isto é, mais que o dobro da taxa observada em 2016 -, deve registrar uma nova aceleração em 2018, porém bem mais modesta: 5,1%, arrefecendo 4,7% em 2019.
O maior dinamismo do comércio internacional, um dos pilares da atual retomada cíclica da economia global, beneficiou a América Latina e Caribe, cujo PIB cresceu ao ritmo modesto de 1,3% em 2017 após dois anos de recessão, mas que deve acelerar para 2,0% em 2018 e 2,8% em 2019. O desempenho da economia brasileira constitui o principal determinante dessa melhora de trajetória. A estimativa do Fundo para o Brasil é de aceleração do crescimento de 1,0% em 2017 para 2,3% em 2018 (frente aos percentuais de 1,5% e 1,9% previstos em outubro e janeiro, respectivamente), ancorado no dinamismo da demanda interna (consumo e investimento privados).
Quanto aos riscos no curto prazo, o cenário básico do FMI em abril de 2018 continua contando com um balanço equilibrado. Do lado favorável, o crescimento global pode surpreender positivamente, já que os índices de confiança dos consumidores e empresários seguiram em patamares elevados até meados de fevereiro e indicadores antecedentes sugerem sustentação do dinamismo nos próximos meses. Do lado desfavorável, se destaca o risco de acirramento das iniciativas protecionistas e, assim, das tensões geopolíticas.
Outra fonte potencial de risco encontra-se nos mercados financeiros globais. As condições financeiras mantiveram-se favoráveis apesar da alta da taxa de juros básica nos Estados Unidos, mas os investidores passaram a buscar alternativas de aplicações de maior retorno e, consequentemente, maior risco. Além disso, a dívida corporativa em alguns mercados emergentes permanece em patamares elevados. O FMI alerta que o risco de crédito pode se manter controlado durante a atual fase de expansão da economia global, mas pode se manifestar no médio prazo.
Uma situação de fragilidade financeira pode emergir em função de vários fatores, dentre os quais uma reavaliação dos riscos provocada por um repique inflacionário na economia americana. Com isso, a normalização em curso da política monetária pode ocorrer num ritmo mais rápido, resultando em alta dos prêmios de risco e dos custos do endividamento. Também são apontadas como fontes potenciais de tensão financeira um eventual relaxamento da regulação e supervisão financeiras e a crescente especulação nos mercados de criptomoedas.
Introdução
O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou recentemente seu cenário atual para o desempenho econômico global no Panorama da Economia Mundial (World Economic Outlook - WEO) de abril, que é mais otimista do que o divulgado em outubro de 2017. A perspectiva agora é de uma ligeira aceleração da atividade econômica global para 3,9% em 2018 frente aos 3,8% (dado ainda preliminar) registrados em 2017, que deve contribuir para aliviar os efeitos negativos do quadro eleitoral especialmente incerto sobre a economia brasileira.
Essa carta IEDI apresenta o cenário atual do FMI e, a título de comparação, as projeções para a economia global de outras duas instituições multilaterais: do Banco Mundial e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgadas em janeiro e março, respectivamente. A primeira seção apresenta os três cenários e detalha as projeções do FMI. A segunda seção dessa carta sintetiza as informações sobre o desempenho da economia global em 2017 e no primeiro trimestre de 2018 subjacentes a esse cenário.
Cenários para a economia global
A nova projeção do FMI prevê uma expansão de 3,9% da economia mundial em 2018 e 2019, mesma cifra divulgada na atualização do cenário em janeiro, mas 0,2 pontos percentuais (p.p) superior à divulgada em outubro (3,7%). Esse mesmo ritmo de crescimento para 2018 e 2019 é previsto pela OCDE no seu Panorama Econômico (Economic Outlook) de março. Já as estimativas do Banco Mundial no seu relatório Perspectivas para a Economia Global (Global Economy Prospects) divulgado em janeiro são bem inferiores: crescimento de 3,1% em 2018 e 3,0% em 2019. Essas perspectivas divergentes decorrem das diferentes hipóteses e modelos utilizados, bem como da incorporação nas projeções do FMI e da OCDE de novas informações sobre a atividade econômica global disponibilizadas após o fechamento do cenário do Banco Mundial.
Assim, diante da convergência das projeções e da incorporação de informações mais recentes, os cenários básicos do FMI e da OCDE revelam-se mais prováveis. De acordo com essas instituições, a atividade econômica global ganhará um pequeno impulso frente a 2017, quando o crescimento foi de 3,8% (dado ainda preliminar), 0,1 p.p. acima da estimativa de outubro. Ou seja, a aceleração em 2018 será bem mais suave do que a observada na passagem de 2016 para 2017 (0,2 p.p. contra 0,6 p.p), quando foi registrado o maior crescimento desde 2011. Vale destacar que, se essas projeções se confirmarem, o triênio 2017-2019 apresentará o maior e mais estável patamar de expansão após a crise financeira global e a grande recessão (2010-2011), embora ainda inferior ao registrado no boom que precedeu essa crise.
A melhora da projeção do FMI para a atividade econômica global em 2018 relativamente ao cenário de outubro decorreu do aumento da previsão de crescimento das economias avançadas de 2,0% para 2,3% em janeiro e 2,5% em abril. A projeção para 2019 também foi revista para cima (de 1,8% em outubro para 2,2% em janeiro, percentual mantido em abril). Além do crescimento mais expressivo do que o previsto em 2017, a principal hipótese de política econômica subjacente a essa revisão é de uma orientação mais expansionista no âmbito fiscal devido, sobretudo, às mudanças adotadas pelo governo Donald Trump e sancionadas pelo congresso de maioria republicana no final de 2017 (corte de impostos e aumento de gastos). Com isso, o crescimento estimado para os Estados Unidos passou de 2,3% em outubro para 2,7% em janeiro e 2,9% em abril, que significará um avanço de 0,6 p.p. frente ao ano anterior (2,3%). Isto quer dizer que o estímulo fiscal será mais do que suficiente para contrabalançar o ritmo mais rápido da normalização da política monetária pelo Federal Reserve (Fed) suposto agora pelo Fundo, exatamente em função do aumento da demanda e das maiores pressões inflacionárias associadas a esse estímulo. No âmbito monetário, a hipótese é de alta da taxa de juros básica americana (Fed fund rate) para 2,5% no final de 2018 e para 3,5% no final de 2019.
As perspectivas para as outras importantes economias avançadas em 2018 também melhoraram em função das hipóteses de manutenção da orientação expansionista das políticas fiscal (menos intensa que nos Estados Unidos) e monetária. Na área do Euro, estima-se que a taxa de juros básica seguirá negativa até meados de 2019. A expansão dessa região atingiu o mesmo patamar verificado nos Estados Unidos (2,3%) em 2017, num contexto de expansão da demanda doméstica beneficiada pelas condições monetárias e financeiras acomodatícias, pela redução dos riscos políticos e pelo dinamismo das exportações. Essas fontes de dinamismo beneficiaram as quatro principais economias da região (Alemanha, França, Itália e Espanha), que tiveram suas taxas de crescimento revisadas para cima nos cenários de janeiro e abril. Contudo, somente a economia francesa registrará aceleração (de 1,8% para 2,1%) sob o estímulo (esperado pelo FMI) das reformas do governo Macron voltadas para a flexibilização do mercado de trabalho e para a desregulação de vários setores econômicos. As economias alemã e italiana sustentarão o mesmo ritmo de expansão, enquanto a espanhola desacelerará de 3,1% para 2,8%, mas seguirá como líder em termos de dinamismo.
Embora a aceleração prevista para a área do Euro em 2018 (para 2,4%) seja menos intensa do que a registrada em 2017 (bem como à estimada para os Estados Unidos), a região da moeda única europeia continuará crescendo num ritmo superior ao Reino Unido e ao Japão no cenário atual do FMI (mesmo desacelerando para 2,0% em 2019). Para a economia britânica, projeta-se uma desaceleração de 1,8% em 2017 para 1,6% em 2018 (0,1 p.p. superior ao estimado em outubro) diante dos efeitos negativos do Brexit sobre as expectativas empresariais e da normalização em curso da política monetária. Já a economia nipônica seguirá sendo a “lanterninha” desse grupo, posição que ocupa desde 2014, com uma perda de ritmo de 0,5 p.p na passagem de 2017 para 2018 (de 1,7% para 1,2%) e para 2019 (0,9%). Contudo, o cenário de outubro apontava para uma perda de ritmo ainda maior (0,7% em 2018 e 0,8% em 2019). A revisão para cima na atualização das projeções em janeiro (mantidas em abril) decorreram das perspectivas mais favoráveis para a demanda externa, do aumento do investimento privado e do orçamento fiscal suplementar para 2018. No âmbito da política monetária, a hipótese é de manutenção da taxa de juros básica na zero lower band (ou seja, em torno de zero).
Assim, 2017 foi um ano especialmente favorável no âmbito das economias avançadas, com aceleração do crescimento nos Estados Unidos, área do Euro e Japão, e estabilidade no Reino Unido. Em contrapartida, em 2018 somente os dois primeiros sustentarão a trajetória expansionista e em 2019 haverá novamente uma convergência, mas na direção contrária, o que resultará numa desaceleração do crescimento para 2,2% contra 2,5% no ano anterior.
No âmbito das economias de mercado emergente e em desenvolvimento (EMEDs), na passagem de 2016 para 2017 o crescimento acelerou de 4,3% para 4,8% (ou seja, 0, 5 p.p contra 0,6 p.p. nas economias avançadas). Para 2018, a projeção atual do FMI é de um crescimento de 4,9% em 2018 e 5,1% em 2019. Ou seja, a aceleração será menos intensa esse ano do que a prevista para os países desenvolvidos, mas ganhará impulso na passagem de 2018 para 2019, enquanto nesses países haverá uma pequena desaceleração. Além do patamar de crescimento, outra diferença entre os dois grupos de economias diz respeito à maior assimetria entre as taxas de expansão das principais regiões das EMEDs do que nos países avançados. Todavia, essa assimetria diminuirá em 2018 e, sobretudo, em 2019 no cenário atual do FMI. A Ásia emergente e em desenvolvimento seguirá como a principal responsável pelo ritmo de expansão das EMEDs, mas as perspectivas favoráveis também refletem a retomada das economias exportadoras de commodities impulsionada, por sua vez, pela melhora do desempenho do comércio internacional. Como destaca o FMI, foi interrompida a trajetória de divergência das taxas de crescimento das economias exportadoras e importadoras de commodities registrada desde 2011 em função da queda dos preços desses bens (sobretudo metais e petróleo).
O desempenho do comércio internacional foi um dos pilares da retomada cíclica de economia global em 2017 (ver próxima seção), quando o volume das transações comerciais globais cresceu 4,9%, percentual mais que duas vezes superior ao observado em 2016. Para 2018, a previsão é de uma suave aceleração para 5,1%, com uma perda de ritmo para 4,7% em 2019. Os preços das commodities também reagiram após três anos de deflação, com destaque para o petróleo. Em 2018, projeta-se uma alta um pouco menos expressiva da cotação dessa commodity energética do que em 2017 (18% contra 23,3%), bem como das commodities metálicas e agrícolas (6,8% contra 5,6%).
A retomada dos preços das commodities e da demanda externa beneficiou as economias da América Latina e Caribe. Após dois anos de recessão, a região cresceu a um ritmo ainda modesto em 2017 (1,3%), mas deve acelerar para 2,0% em 2018 e 2,8% em 2019 de acordo com as projeções atuais do FMI. A retomada do crescimento da economia brasileira constitui o principal determinante dessa trajetória. A estimativa do Fundo para esse crescimento em 2018 foi revista de 1,5% em outubro para 1,9% em janeiro e 2,3% no cenário de abril (contra 1,0% em 2017). As hipóteses subjacentes são de manutenção do dinamismo da demanda interna (consumo e investimento privados) e manutenção de condições de financiamento externo favoráveis. Apesar da orientação menos expansionista da política monetária nos Estados Unidos e no Reino Unido, o FMI prevê a manutenção de um elevado apetite por riscos dos investidores globais. A economia mexicana, segunda principal da região, deve crescer no mesmo ritmo que a brasileira em 2018, mas a uma velocidade mais intensa em 2019 (3,0%). Os impactos positivos esperados do crescimento robusto nos Estados Unidos resultaram na melhora da perspectiva para o México no biênio 2018-2019 em comparação ao cenário de outubro.
Se as projeções do FMI se confirmarem, a região da América Latina e Caribe crescerá menos que a CEI em 2018 (2,0% contra 2,2%), mas ultrapassará essa região em 2019, deixando a posição de “lanterninha” no grupo das EMEDs. A CEI, beneficiada pela alta das exportações de petróleo, deve acelerar seu ritmo de expansão de 0,4% em 2017 para 2,1% em 2018. Esse mesmo percentual é previsto para 2019 devido à queda projetada na cotação dessa commodity e o efeito negativo de sanções externas sobre o investimento, que deve comprometer o crescimento na Rússia, principal país da região. Assim, após a aceleração de 1,5% em 2017 para 1,7% em 2018, também estimulada por uma política monetária expansionista e expectativas empresariais favoráveis, o ritmo de expansão da economia russa deve recuar para 1,5% em 2019.
O desempenho da Europa emergente e em desenvolvimento foi impulsionado pelo dinamismo da demanda externa, sobretudo dos parceiros comerciais da área do Euro, bem como pelas condições financeiras internacionais favoráveis, já que a maioria dos países são deficitários em conta corrente. Nas duas maiores economias da região, fatores adicionais também têm contribuído para o maior dinamismo: na Polônia, o consumo privado aquecido, a maior absorção de fundos da União Monetária Europeia e políticas macroeconômicas favoráveis; na Turquia, a orientação expansionista das políticas monetária e fiscal. Essa região registrou a maior aceleração no âmbito das EMEDs, de 3,2% em 2016 para 5,8% em 2017, mas deve desacelerar para 4,3% em 2018 e 3,7% em 2019. Apesar do menor dinamismo no biênio 2018-2019, ela seguirá em segundo lugar no ranking de dinamismo desse grupo de países.
O primeiro lugar no ranking continua sendo ocupado pela Ásia emergente e em desenvolvimento, que também constitui a principal alavanca do crescimento da economia global. Ao contrário das demais regiões do grupo de EMEDs, nas quais o destaque foi a aceleração frente a 2016, nessa região o que chama atenção é manutenção de um elevado ritmo de ritmo de expansão em torno de 6,5% desde 2012, patamar que deve se manter em 2018 e 2019. As principais responsáveis por esse desempenho são as duas economias líderes da região. Na China, projeta-se uma ligeira perda de ritmo de 6,9% em 2017 para 6,6% em 2018 e 6,4% em 2019. Nos dois anos, os percentuais são 0,1 p.p maiores relativamente aos previstos em outubro devido ao dinamismo maior que esperado da demanda externa. Já o desempenho previsto para a economia indiana, a segunda maior da região, não sofreu revisão na atualização do cenário do Fundo em janeiro e abril. A projeção é de uma aceleração de 6,7% em 2017 para 7,4% em 2018 e 7,8% em 2019. Isto que dizer que, se essas projeções forem confirmadas, a Índia passará a crescer num ritmo superior ao da China no biênio 2018-2019 impulsionada pelo dinamismo do consumo privado. Outra hipótese subjacente é a dissipação dos efeitos negativos da reforma monetária de novembro de 2016 e da adoção de um imposto nacional sobre bens e serviços em julho de 2017(ver Cartas Iedi n. 786 e n.811).
O balanço de riscos no curto prazo no cenário básico do FMI continua equilibrado como na edição de outubro do WEO (ao contrário das duas edições anteriores, nas quais o viés era negativo). Do lado favorável, crescimento global pode surpreender positivamente em 2018. Os índices de confiança dos consumidores e empresários seguiram em patamares elevados até meados de fevereiro e indicadores antecedentes sugerem que o dinamismo se manterá nos próximos meses (ver próxima seção). Neste contexto, expectativas favoráveis em relação à rentabilidade futura podem induzir as empresas a aumentar seus investimentos e contratações, com efeitos positivos sobre a produtividade e, assim, sobre o crescimento potencial.
Do lado desfavorável, se destaca o risco de acirramento das iniciativas protecionistas e, assim, das tensões geopolíticas. Além dos efeitos diretos negativos sobre o comércio mundial, esse acirramento também pode repercutir adversamente sobre os mercados financeiros internacionais, repetindo em dose ampliada o episódio de fevereiro e março de 2018, quando esses mercados registraram alta volatilidade e queda dos preços das ações como reflexo da elevação das tarifas sobre o aço, alumínio e vários produtos chineses impostas pelo governo Trump, seguida pela retaliação contra essas medidas protecionistas adotada pela China. Outra fonte potencial de risco encontra-se nos mercados financeiros globais. As condições financeiras mantiveram-se favoráveis apesar da alta da taxa de juros básica da economia global (a Fed Fund Rate), mas os investidores passaram a buscar alternativas de aplicações de maior retorno (ou seja, ações e títulos de empresas de maior risco). Além disso, a dívida corporativa em alguns mercados emergentes permanece em patamares elevados. O FMI alerta que o risco de crédito pode se manter controlado durante a atual expansão cíclica da economia global na qual as taxas de juros ainda estão baixas, mas pode se manifestar no médio prazo. Uma situação de fragilidade financeira pode emergir em função de vários fatores, dentre os quais uma reavaliação dos riscos provocada por um repique inflacionário na economia americana, que já crescia a taxas elevadas e ganhou impulso com o corte recente nos impostos. Com isso, a normalização em curso da política monetária pode ocorrer num ritmo mais rápido, resultando em alta dos prêmios de risco e dos custos do endividamento. Também são apontadas como potenciais fontes de tensão financeira um eventual relaxamento da regulação e supervisão financeira e a especulação crescente nos mercados de criptomoedas.
Desempenho recente da economia mundial
A aceleração da economia mundial, que se iniciou em 2016, ganhou impulso em 2017. O dado preliminar já divulgado indica um crescimento de 3,8% no ano passado, o mais elevado desde 2011. Além disso, esse percentual é 0,2 p.p. superior ao estimado pelo FMI em outubro, já que o desempenho tanto das economias avançadas como das EMEDs foi melhor do que o então previsto pelo Fundo. Também chama a atenção a disseminação do dinamismo: dois-terços dos países, responsáveis por três-quartos do produto global, registraram maior crescimento em 2017 em relação à 2016, a proporção mais elevada desde 2010. O dinamismo do investimento nas economias avançadas e a interrupção da trajetória de declínio do investimento nos países exportadores de commodities foram importantes fatores de impulso da atividade manufatureira global. Os índices de gerentes de compra e de confiança dos consumidores indicam que o dinamismo da economia mundial teve continuidade no primeiro trimestre de 2018.
Nas economias avançadas, o crescimento acelerou 0,6 p.p. em 2017 frente a 2016 (de 1,7% para 2,3%) em função, quase que integralmente, do aumento dos investimentos, que estavam deprimidos desde a crise financeira global de 2008. A reação desse componente-chave da demanda agregada ancorou-se tanto no crescimento dos gastos em formação do capital fixo como da maior acumulação de estoques num contexto de política monetária acomodatícia e balanços patrimoniais mais sólidos.
Já no âmbito das EMEDs, a aceleração em 2017 na comparação com 2016 foi um pouco menos intensa do que nas suas congêneres avançadas (4,4% para 4,8%, ou seja, 0,4 p.p.) e decorreu, fundamentalmente, da aceleração do consumo privado. Contudo, o comportamento dos demais componentes da demanda agregada foi heterogêneo. Nas duas economias de maior crescimento, China e Índia, o crescimento também se ancorou no aumento das exportações líquidas, mas o investimento em capital fixo desacelerou, contribuindo negativamente para o crescimento real do PIB global. Em contrapartida, considerando as demais EMEDs, esse investimento contribuiu positivamente para esse crescimento em função, sobretudo, do comportamento desse componente da demanda agregada nas economias exportadoras de commodities, que interrompeu sua trajetória de contração associada à deflação dos preços das commodities em 2015-2016 (com destaque para Brasil, Rússia, Angola, Equador e Nigéria).
O dinamismo do investimento, por sua vez, impulsionou o comércio global, que cresceu a um ritmo de 4,9% em 2017 após dois anos de baixo dinamismo. A retomada foi mais expressiva nas EMEDs (+ 6,4% contra 2,2% em 2016) como reflexo do aumento do investimento nas economias exportadoras de commodities e do crescimento da demanda nas economias avançadas. Nesse grupo, o crescimento das vendas externas foi mais expressivo nas maiores economias exportadoras, como Alemanha, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, enquanto a retomada das importações foi mais generalizada, com exceção do Reino Unido. Já nas EMEDs, o crescimento das importações também foi disseminado, abrangendo os países exportadores de commodities selecionados (que inclui o Brasil), onde as compras internas recuaram no biênio 2015-2016 (como reflexo da queda dos investimentos associada à deflação dos preços desses bens no biênio 2015-16). Já o dinamismo das exportações foi particularmente intenso na Ásia emergente e em desenvolvimento, com destaque para a China.
Assim, a retomada dos preços das commodities teve um importante papel na recuperação da economia e do comércio mundiais em 2017, ao ampliar a capacidade de importar das economias exportadoras desses bens. O índice de preços de commodities primárias do FMI aumentou 16,9% entre agosto de 2017 e fevereiro de 2018 como reflexo, sobretudo, da alta das cotações dos metais e das commodities energéticas (petróleo e gás natural), que sofreram quedas expressivas no biênio 2015-16. No âmbito dessas últimas, o preço do barril de petróleo atingiu US$ 65 - o maior patamar desde 2015 e cerca de 30% superior ao registrado em agosto - como reflexo de interrupções não-planejadas na produção em vários países e da extensão até o final de 2018 do acordo de controle da produção da OPEP. A alta do preço do gás natural foi ainda mais significativa (47% no mesmo período) como reflexo de fatores sazonais e da maior demanda da China em função das restrições impostas pelo governo ao uso do carvão com o objetivo de reduzir a poluição do ar. No caso das commodities metálicas, nas quais a correlação com o desempenho do PIB global é maior, o índice aumentou 8,3% na mesma base de comparação, impulsionadas pelo dinamismo das principais economias. Já o índice das commodities agrícolas, que se manteve relativamente estável naquele biênio, registrou alta, embora mais modesta, entre agosto de 2017 e fevereiro de 2018 (+4,1%) em função das condições climáticas adversas que devem comprometer as safras de vários grãos e oleaginosas.
A alta do preço do petróleo pressionou a inflação ao consumidor nos dois grupos de economias. No âmbito das economias avançadas, a persistência da inflação em patamares inferiores aos observados antes da crise financeira global, decorre, sobretudo, do comportamento dos preços nos setores de serviços não-comercializáveis, como saúde e educação, que registraram deflação. Já os preços dos bens comercializáveis mantiveram-se baixos, mas não recuaram. O núcleo da inflação (que exclui os preços dos alimentos e combustíveis), embora continue abaixo da meta nos Estados Unidos, área do Euro e Japão, tem dado sinais de elevação como reflexo da demanda aquecida. Esse movimento tem sido mais pronunciado nos Estados Unidos, onde o desemprego está próximo do piso registrado no final dos anos 1960. Em contrapartida, no Reino Unido, o núcleo de inflação está em torno de 2,4%, acima da meta do Banco de Inglaterra (2,0%), mas inferior ao pico registrado após a depreciação cambial provocada pela vitória do Brexit no referendo realizado em junho de 2016.
O FMI destaca que um dos determinantes desse comportamento da inflação nas economias avançadas é o baixo crescimento dos salários, que têm se movido em linha com a produtividade do trabalho quando medido em termos reais, resultando num aumento também limitado dos custos unitários do trabalho. Duas explicações, não excludentes, para a virtual estagnação dos salários são apresentadas. Por um lado, a folga existente nos mercados de trabalho, associada à proporção ainda elevada de mulheres trabalhando involuntariamente em tempo parcial. Por outro lado, a redução do nível médio dos salários devido à mudança na composição da força de trabalho (substituição de trabalhadores mais experientes com remuneração mais elevada por novos contratados com salários menores).
Nas EMEDs, a apreciação das moedas frente ao dólar contribuiu para a queda dos núcleos de inflação. No Brasil e na Rússia, além do comportamento favorável das taxas de câmbio, o recuo na atividade econômica no biênio 2015-16 também contribuiu para conduzir os respectivos núcleos para seus patamares históricos mínimos. Na China, esse indicador também seguiu estável, em torno de 2,0%. Em contrapartida, economias da CEI, África e oriente médio continuam enfrentando inflações elevadas decorrentes de depreciações cambiais precedentes.
No âmbito dos mercados monetários e financeiros nas economias avançadas, as condições continuam favoráveis, apesar da turbulência ocorrida em fevereiro e março nos mercados acionários, como reflexo das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. A normalização da política monetária nos Estados Unidos foi absorvida tranquilamente pelos mercados, que apostavam em março em duas altas da Fed Fund Rate em 2018 (ou seja, um ritmo maior que o esperado em 2017). No Reino Unido, o Banco da Inglaterra também iniciou a fase de alta da sua taxa de juros básica em novembro (em 50 pontos básicos). Já o Banco Central Europeu anunciou em janeiro que reduzirá pela metade sua compra mensal de ativos até setembro (prazo que pode ser estendido se necessário). As taxas de juros de longo prazo reagiram diante da combinação de políticas monetárias menos acomodatícias e maior crescimento, registrando altas nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Contudo, esse movimento ainda não pressionou o custo dos empréstimos corporativos.
A despeito do aumento do diferencial de juros a favor dos Estados Unidos, o dólar depreciou modestamente em termos efetivos entre agosto de 2017 e março de 2018. O iene manteve-se estável, enquanto o euro e a libra apreciaram no mesmo período. No caso da moeda britânica, a alta foi mais pronunciada como reflexo do aumento da taxa de juros básica e das expectativas de fechamento do acordo relativo ao Brexit. Nas EMEDs, o comportamento das taxas de câmbio efetivas também foi heterogêneo. A moeda chinesa apreciou, mas numa intensidade bem menor que as moedas sul-africana (favorecida pela redução das incertezas políticas) e malaia (num contexto de forte crescimento e alta dos preços das commodities). Movimento oposto foi observado no caso da lira turca, que sofreu forte depreciação como reflexo do aumento das pressões inflacionárias. Na América Latina, o real brasileiro e o peso mexicano também depreciaram em termos reais, enquanto as moedas chilena e colombiana apreciaram.
A depreciação de algumas moedas das EMDEs ocorreu a despeito do comportamento favorável dos fluxos líquidos de capitais ao longo de 2017 e no primeiro trimestre de 2018. Enquanto os ingressos de recursos de não-residentes mantiveram-se positivos, a saída líquida de recursos de residentes diminuiu. Com isso, essas economias voltaram a acumular reservas após dois anos de redução desse colchão de segurança em moeda estrangeira. O apetito por risco dos investidores globais também transparece na trajetória descendente dos spreads soberanos e contribuiu para sustentar a valorização das bolsas de valores dessas economias. Nos mercados monetários, o ano de 2017 foi marcado pela expressiva queda das taxas de juros básicas na América Latina e na Europa emergente, possibilitada pelo comportamento benigno da inflação. Já os rendimentos dos títulos de 10 anos iniciaram um movimento ascendente nas economias da Ásia e Europa emergentes que têm registrado altas taxas de crescimento.
Bibliografia
IMF (2018) World Economic Outlook, april. Washington D.C.: International Monetary Fund. Disponível em: http://www.imf.org.
OECD (2018) Economic Outlook. Paris: Organization for Economic Cooperation and Development. Disponível em: http://www.oecd.org.
World Bank (2018) Global Economic Prospects. Washington D.C.: World Bank Group. Disponível em : http://www.worldbank.org