Carta IEDI
A Indústria em Março de 2018: mais um mês de estagnação
O ano de 2018 tem boas chances de conferir maior vitalidade e robustez à recuperação da indústria, já que os juros e a inflação encontram-se em patamares baixos, o crédito começa a fluir novamente, a taxa de câmbio não deve se apreciar e, no cenário externo, espera-se uma aceleração do comércio internacional. Além disso, depois de tantos anos de crise, empresas e famílias têm muita demanda reprimida para ser recomposta.
É verdade, contudo, que não faltam fatores de risco neste quadro, tanto no front externo como no interno, a exemplo das eleições, que podem vir acompanhadas de volatilidade de variáveis importantes, como prêmios de risco e taxa de câmbio. Por isso, teria sido conveniente se a indústria tivesse, desde o começo do ano, registrado um dinamismo mais forte do que efetivamente registrou.
Em março, a produção industrial ficou praticamente estável, variando -0,1% frente ao mês anterior com ajuste sazonal. Considerado o primeiro trimestre de 2018 como um tudo, por sua vez, o que houve foi rigorosamente uma estagnação em relação ao último quarto de 2017. Em outras palavras, não se avançou nada na recuperação do setor neste período. Também preocupante é que abril pode vir a ser outro mês fraco, a contar pela relativa deterioração dos indicadores de confiança neste mês e pela avaliação de estoques excessivos em março.
Frente a março do ano passado, o baixo crescimento, de 1,3%, foi muito influenciado pelo efeito calendário, já que março de 2018 contou com dois dias úteis a menos. Apesar disso, também se registra uma perda de dinamismo se tomarmos o desempenho do primeiro trimestre do ano, o que tende a diluir o efeito calendário mencionado. Neste caso, a alta de 4,9% no 4º trim/17 refluiu para 3,1% no 1º trim/18, o que se repetiu em quase todos os macrossetores industriais.
Vale observar que o crescimento da produção no início de 2018 poderia ter sido ainda mais fraco se a indústria não tivesse tido uma boa performance exportadora no primeiro trimestre. O quantum de manufaturados exportados aumentou 16,5% contra mero 1,9% no último trimestre de 2017. Em contrapartida, a importação de matérias-primas para a indústria é compatível com o menor dinamismo do período: só +0,1% em relação a jan-mar/17.
Quanto aos macrossetores, o único que não sofreu desaceleração na comparação interanual foi bens de capital (+10,8% tanto no 4º trim/17 como no 1º trim/18), mas tampouco a produção desses bens registrou avanço adicional. Muitos de seus segmentos, porém, não resistiram e perderam dinamismo, como bens de capital para indústria (de +4,8% para +1,0%) e para uso misto (de 24,9% para 18,0%), ou então para energia, que voltou ao negativo (-4,0%).
Bens de consumo duráveis continuam sendo o macrossetor com crescimento mais vigoroso, mas mesmo assim se saíram melhor no final do ano passado (+17,9% ante 4º trim/16) do que no início deste ano (+16,2% ante 1º trim/17). No geral, a queda do desempenho foi pequena, mas desacelerações importantes ocorreram na produção de automóveis (de +22,9% para +13,2%) e outros equipamentos de transportes (de +23,2% para +15,7%), que inclui motocicletas. Há também quem tenha voltado a cair, como eletrodomésticos da linha branca (-2,2% ante 1º trim/17).
No caso de intermediários, foi a primeira vez, deste que atingiu o fundo do poço no 1º trim/16, que seu resultado foi inferior ao do trimestre anterior na comparação interanual. Seu resultado de +4,0% no 4º trim/17 ante igual período do ano anterior caiu para +1,7% no 1º trim/18. O arrefecimento poderia ter sido mais intenso não fosse a presença de ramos exportadores como os intermediários de alimentos e de papel e celulose, que reforçaram suas taxas de crescimento em 2018.
Já para bens de consumo de semi e não duráveis, o ritmo de crescimento refluiu para menos de 1/3 do último trimestre de 2017 (+2,8%) para o primeiro de 2018 (+0,8%), em função de vários de seus segmentos, notadamente combustíveis e aqueles de calçados, tecidos e vestuário, cuja recuperação vem enfrentando a concorrência crescente de produtos importados.
Resultados da Indústria
Em março de 2018, a produção industrial variou -0,1% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, depois de ter registrado -2,2% em janeiro e +0,1% em fevereiro, resultando em uma performance particularmente fraca nos primeiros meses do ano: a produção ficou estagnada frente ao último trimestre de 2017. Assim, a tomar pelos últimos dados, o crescimento mais substancial de dezembro do ano passado (+2,9% frente a nov/17) foi quem fugiu à regra, não se renovando no início de 2018.
O desempenho da indústria em comparação com o mesmo período de 2017 vem apresentando variações mais expressivas, ajudadas pelas bases de comparação ainda muito baixas. Mesmo assim, o resultado de março deixou a desejar, sendo a taxa mais baixa desde junho de 2017 (+0,7%), isto é, desde que a indústria começou a registrar uma sequência de variações positivas. Vale ressaltar, porém, que muito disso é explicado pelo fato de março de 2018 ter tido dois dias úteis a menos que março de 2017.
Deste modo, o desempenho trimestral, na comparação interanual, recuou de +4,9% no final de 2017 para +3,1% em janeiro-março de 2018. Esta foi a segunda vez que, desde que o setor voltou ao terreno positivo, ocorre uma desaceleração, retirando ímpeto da recuperação industrial. A primeira vez foi no segundo trimestre de 2017, quando o ritmo de crescimento foi de apenas +0,4% contra +1,3% no primeiro trimestre.
Em relação aos macrossetores, na comparação com fevereiro, descontados os efeitos sazonais, bens de capital (+2,1%), bens de consumo duráveis (+1,0%) e bens de consumo semi e não duráveis (+0,2%) conseguiram aumentar produção. Bens intermediários, a seu turno, registraram resultado negativo (-0,7%), perfazendo já três meses consecutivos de queda nesta comparação (-2,3% em jan/18 e -1,0% em fev/18).
Os resultados de março de 2018 frente a março de 2017, por sua vez, foram positivos para dois os macrossetores. O grande destaque nesta comparação coube a bens de consumo duráveis, com alta de 15,8%, mas bens de capital (+8,3%) também apresentaram um dinamismo razoável. Houve declínio em bens de consumo semi e não duráveis (-1,7%) e bens intermediários (-0,2%). Neste último caso, foi a primeira taxa negativa desde abril de 2017.
Em março, o crescimento de 15,8% de bens de consumo duráveis – a décima sétima taxa positiva consecutiva – se deveu, em grande medida, devido ao avanço obtido fabricação de automóveis (+14,8%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (+51,2%), além de motocicletas (+14,6%), móveis (+5,5%) e outros eletrodomésticos (+5,0%). O principal impacto negativo veio de eletrodomésticos da “linha branca” (-8,3%).
O avanço em bens de capital de 8,3% ante março de 2017 – o décimo primeiro resultado positivo consecutivo – foi alavancado pela produção de equipamentos de transporte (+17,4%), impulsionado, principalmente, pela maior fabricação de caminhão-trator para reboques e semirreboques e de caminhões, além de bens de capital de uso misto (+18,8%) e para construção (+42,0%). Em contraste, registraram queda bens de capital para energia elétrica (-10,7%), para fins industriais (-1,6%) e agrícola (-2,9%).
O macrossetor de bens intermediários, por sua vez, cuja variação foi de -0,2% frente a março de 2017 – a primeira queda após uma sequência de dez meses de alta –, viu recuo principalmente em outros produtos químicos (-6,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,8%), indústrias extrativas (-1,3%) e produtos de metal (-3,8%), entre outros. Em sentido oposto, apresentaram variações positivas os intermediários de veículos automotores, reboques e carrocerias (+10,1%), metalurgia (+6,1%), celulose, papel e produtos de papel (+7,8%), produtos de borracha e de material plástico (+2,4%) e máquinas e equipamentos (+1,8%).
Já o setor de bens de consumo semi e não-duráveis, que caiu 1,7% ante março de 2017, teve seu desempenho explicado, principalmente, pela queda observada em carburantes (-12,8%), alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-2,1%) e semiduráveis (-4,9%). Por outro lado, o subsetor de não-duráveis (6,7%) apontou a única taxa positiva nessa categoria.
No acumulado do primeiro trimestre do ano frente a igual período do ano passado, todos os macrossetores registraram variações positivas: +16,2% em bens de consumo duráveis; +10,8% em bens de capital, +1,7% em bens intermediários e +0,8% em bens de consumo semi e não duráveis.
Por dentro da Indústria de Transformação
A virtual estabilidade da produção industrial geral em março de 2018 (-0,1%) foi acompanhada de variação de +0,2% na indústria de transformação e de +3,9% na indústria extrativa, já realizado o ajuste sazonal. Em relação a março de 2017, o resultado da indústria de transformação foi de +1,6%, enquanto o setor extrativista caiu 1,3%. O crescimento de 1,3% da indústria geral foi, então, produzido apenas pelo segmento manufatureiro.
Frente a fevereiro de 2018, na série com ajuste sazonal, o decréscimo de -0,1% da indústria geral foi acompanhado por: 14 dos 26 ramos pesquisados. As principais influências negativas foram assinaladas por bebidas (-3,6%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-4,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-4,2%), produtos de metal (-3,2%), produtos de madeira (-6,1%) e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-2,7%). Por outro lado, entre os doze ramos que ampliaram a produção nesse mês, os desempenhos de maior importância para a média global foram assinalados por indústrias extrativas (+3,9%) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (+4,7%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou alta de 1,3%, variações positivas marcaram o desempenho de 12 dos 26 ramos, 44 dos 79 grupos e 48,0% dos 805 produtos pesquisados. Cabe reforçar que março de 2018 (21 dias) teve dois dias úteis a menos do que igual mês do ano anterior (23). Os destaques positivos ficaram a cargo de: veículos automotores, reboques e carrocerias (+17,6%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+24,5%), metalurgia (+6,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+9,5%), celulose, papel e produtos de papel (+6,5%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (+10,7%) e máquinas e equipamentos (+3,5%), entre outros. Na direção oposta, podem ser citados: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-6,0%), outros produtos químicos (-6,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-7,8%), couro, artigos para viagem e calçados (-8,7%), produtos de metal (-4,8%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-5,7%), entre outros.
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de março de 2018 caiu 2,0% frente ao mesmo mês do ano passado, depois de também ter avançado em janeiro (+19,4%) e fevereiro (+37,4%). Com disso, o resultado no acumulado do primeiro trimestre do ano chegou a +15,6%, sensivelmente superior àquele do mesmo período de 2017 (+1,4%).
Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria declinaram 3,7% em março de 2018 frente a março de 2017, retomando a sequência de declínio de dezembro de 2017 (-0,3%) a janeiro do corrente ano (-0,6%), que havia sido interrompida em fevereiro. Houve, assim, variação de +0,1% no acumulado do trimestre bimestre de 2018.
Utilização de Capacidade
O nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, foi de 76,1% em março de 2018. O indicador ficou praticamente estável frente ao mês imediatamente anterior entre outubro de 2017 e janeiro do presente ano, antes de subir 0,9 p.p. em fevereiro e 0,5 p.p. em março. Entretanto, o atual nível de utilização continua muito inferior à média histórica do próprio indicador (80,3%).
Já o indicador da CNI ficou em 78,2% em fevereiro de 2018, já descontados os efeitos sazonais, nível muito próximo ao de janeiro (78,1%) e de fevereiro (78,0%). Vale lembrar que o indicador havia encerrado o ano de 2017 em 77,9%, o mesmo patamar registrado em novembro do mesmo ano. Assim como no caso do indicador da FGV, a utilização da capacidade estimada pela CNI manteve-se abaixo de sua média histórica de 81,1%.
A permanência da utilização da capacidade em níveis historicamente baixos e sem uma trajetória inconteste de acentuada melhora não é um indício favorável para a evolução futura do investimento, isso porque máquinas e equipamentos atualmente ociosos deverão ser postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar sua capacidade de produção. Em contrapartida, a existência de capacidade ociosa significa que existem plenas condições de oferta para garantir uma recuperação da atividade econômica sem pressões inflacionárias.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, os estoques de produtos finais da indústria em março de 2018 assinalaram índice de 49,8 pontos, isto é, em patamar semelhante ao de fevereiro (49,7 pontos). Vale lembrar que o indicador abaixo de 50 pontos indica redução dos estoques e acima, aumento deles. Este resultado em março de 2018 foi condicionado pelo segmento da indústria de transformação, cujo indicador de estoques ficou igualmente em 49,8 pontos. A indústria extrativa, por sua vez, ficou em 46,5 pontos.
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral, em março, voltaram a ficar acima do nível planejado, em 50,6 pontos, algo que não ocorria desde setembro de 2017. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 45,8 pontos e 50,7 pontos, respectivamente.
Neste último grupo industrial, isto é, na indústria de transformação, 18 dos 27 ramos acompanhados pela CNI tiveram estoques iguais ou menores do que o planejado (50 pontos) em março de 2018, como em outros equipamentos de transporte (39,7 pontos), impressão e reprodução (43,0 pontos), minerais não metálicos (45,7 pontos) e máquinas e materiais elétricos (46,0 pontos). Cabe observar que esta foi a segunda inflexão da boa trajetória recente de setores com índice igual ou abaixo de 50 pontos: 13 em set/17; 16 em out/17; 17 em nov/17, 19 em dez/17, 21 em jan/18, recuando para 19 em fevereiro e 18 em março. Em contraste, constataram estoques efetivos acima do planejado os setores de couros (59,4 pontos), móveis (53,6 pontos), têxteis (53,4 pontos) e máquinas e equipamentos (52,9 pontos), entre outros.
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI (ICEI) voltou a recuar em abril de 2018, para 57,2 pontos, depois de ter atingido em março de 2018 (59,5 pontos) a melhor marca desde março de 2011. Este desempenho de abril resultou do declínio de seu componente de expectativas para o futuro (de 62,1 pontos para 59,8 pontos), mas também da avaliação positiva das condições atuais dos negócios (de 54,3 pontos para 52,1 pontos), muito embora tenha ficado pelo oitavo mês consecutivo acima da marca dos 50 pontos.
Por sua vez, o Índice de Confiança da Indústria de Transformação da FGV, que voltou a indicar otimismo desde fevereiro de 2018 (100,4 pontos), também registrou um involução, saindo de 101,7 pontos em março para 101,0 pontos em abril, mas manteve-se acima da marca de 100 pontos. Seu componente de avaliação das condições correntes ficou acima da linha de 100 pontos pelo segundo mês consecutivo: 100,6 pontos em março e 100,5 pontos em abril. Seu componente expectacional, que vinha subindo desde janeiro, sofreu uma inflexão ao passar de 102,8 pontos em março para 101,5 pontos em abril.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Seu nível vem se mantendo acima de 50 pontos desde abril de 2017, indicando melhora das condições de negócio. Em março havia atingido sua melhor marca deste período, 53,4 pontos, mas assim como os demais indicadores de confiança refluiu em abril de 2018 para 52,3 pontos.
Depois de um primeiro trimestre relativamente fraco, com estabilidade na série com ajuste sazonal e desaceleração se considerarmos o resultado interanual, a contar pelos indicadores de confiança, abril deve ser mais um mês de desempenho pouco favorável. Componentes tanto da avaliação das condições correntes dos negócios como expectacionais mantiveram-se na faixa otimista, mas registraram inflexão neste mês.
Anexo Estatístico
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)